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Manuela Berbert

E só então, do alto do seu scarpin preto, como uma personagem dos contos de Nelson Rodrigues, gritou: “Socorro! Meu marido morreu!”.

A feminilidade se refere às características e comportamentos associados ou apropriados a mulheres. A alegria, a delicadeza e a sutileza nos gestos, nas atitudes, nas palavras, por exemplo, distinguem as mulheres de sucesso. É uma qualidade positiva que, se usada de maneira correta, abre portas, sejam elas profissionais ou pessoais. Ou alguém vai dizer que não?

Desculpe se desaponto alguns, mas como telespectadora do BBB (sim, eu assisto ao Big Brother Brasil), acho que está faltando glamour e vaidade naquele recinto. Tenho a leve impressão de que as mulheres ali confinadas esqueceram-se das câmeras. Perderam o entusiasmo pela maquiagem, pelos penteados, pelo figurino extravagante e até, em alguns casos, pelo amor próprio.

Gosto de gente, de observar o comportamento alheio e diagnosticar traços da personalidade do ser humano. E esse tipo de programa, assim como a vida em sociedade, é um excelente laboratório.

Feliz é aquela mulher que sabe usufruir dos seus atributos sem tornar-se vulgar. Aquela que sabe ser elegante de minissaia, que sabe olhar nos olhos sem se oferecer e, principalmente, aquela que sabe as medidas exatas do perfume e da maquiagem para cada ocasião.

Nunca vi, por exemplo, a face de tia Dalva em seu tom natural. Cresci com essa curiosidade, já que ela mantém-se vaidosa e maquiada até hoje, no auge dos seus 83 anos. Reza a lenda familiar que, residindo em São Paulo, na companhia do seu segundo marido, teve um momento crítico: numa noite fria de julho, aprontando-se para dormir, percebeu que Dito, como era carinhosamente chamado por ela, sentia-se mal, vindo a enfartar em alguns minutos.

Extremamente vaidosa, tia Dalva deitou o defunto em sua cama e partiu para o banho. Vestiu seu longo preto de cetim, cobriu o pescoço com uma echarpe italiana, maquiou-se, penteou-se, abusou do perfume francês e rumou para o quintal de sua residência, onde um muro de altura mediana a separava dos vizinhos. E só então, do alto do seu scarpin preto, como uma personagem dos contos de Nelson Rodrigues, gritou: “Socorro! Meu marido morreu!”.

Manuela Berbert é jornalista, estudante de Direito e colunista da Contudo.