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cameraDa Agência Brasil
Representantes de organizações ligadas à comunicação defenderam mais rigor na apuração de crimes contra jornalistas, durante a primeira reunião do Grupo de Trabalho (GT) sobre Direitos Humanos dos Profissionais de Jornalismo no Brasil realizada nessa terça-feira (19). A federalização da investigação desses crimes foi apontada como possível solução para o problema.
“A federalização da apuração de crimes contra jornalistas vai diminuir a impunidade,” disse a representante da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) Maria José Braga. A mesma opinião foi expressa pelo representante da Federação Interestadual dos Trabalhadores de Radiodifusão e Televisão (Fitert), José Antônio Jesus da Silva. Ele defendeu que a medida seja estendida aos radialistas e comunicadores. “Nos últimos anos, pelo menos dez radialistas foram assassinados por conta da atividade”, lembrou.
As organizações também citaram o Projeto de Lei (PL) 1.078/2011, que transfere à esfera federal a responsabilidade de apurar os crimes cometidos contra jornalistas no exercício da atividade. Desde 2011, o projeto está parado na Câmara dos Deputados, aguardando parecer da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado.
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QUEM ESCREVE PERDE E PROCURA PALAVRAS

Ousarme Citoaian | ousarmecitoaian@yahoo.com.br

A pergunta pode parecer ociosa, mas não é (as aparências, às vezes, enganam!): a gentil leitora alguma vez perdeu uma palavra? Claro que senhoras descuidadas perdem brincos, bolsas, documentos, talão de cheques, além de peças íntimas de vestuário e (ai meu Deus!) o caminho de casa. Mas, palavras? Pois saibam quantos e quantas (é assim que falam agora) destas linhas tomarem conhecimento que quem escreve perde e procura palavras. E, pior, não pode valer-se das seções de achados e perdidos para localizar a desaparecida: “Perdeu-se uma palavra azul-turquesa, vestida de minissaia e blusa, com 135 anos de uso, mas ainda em bom estado…” – não pode. Há de buscar-se a fujona nos escaninhos da memória.

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Puxar pela memória também não resolve

Dia desses, perdi a palavra “contrafação”. Aqui, pouco importa seu significado, importa é, digamos, o nome. Consultar o dicionário seria equivalente a procurar numa grande cidade uma pessoa que você não conhece nem sabe como se chama. Puxar pela memória não resolve (se ela fosse boa não perdia palavras). Da minha experiência de escrever todos os dias e todos os dias perder palavras, nasceu um truque infalível: esqueça. Como, minha senhora? A memória já vasqueira e eu receitando mais esquecimento? Pois é, minha amiga: faça-se de tola, diga pra si mesma que não precisa daquela palavra e, quando menos você esperar, ela ressurge, desconfiada feito cachorro que quebrou o jarro.

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AFRODITE E SUA RELAÇÃO COM O AMENDOIM

Eu ia escrever “almanaque antigo”, mas correria o risco de ser redundante – creio que não há almanaques novos. O que é uma pena, pois eles são a tábua de salvação deste e de outros colunistas “de cultura”. Ai de mim se não fosse a “cultura de almanaque” (o Google quase o substitui) que dizem para nada servir, mas que a mim me diverte, e isto já não é pouco. Pois li num deles que a palavra afrodisíaco (a tal vitamina do amendoim!) vem, quem diria, de Afrodite, deusa grega (a Vênus dos romanos). É a deusa do amor, da beleza e da fertilidade, o que explica um pouco as lendas em torno da questão.

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O Monte Olimpo não era o Jardim do Éden

Afrodite nasceu da espuma das ondas, depois de Cronos ter castrado o pai dela e jogado as genitais no mar (os deuses do Olimpo pegavam pesado!). Ela saiu da água numa concha de ostra – e essa confusão deu na crença de que os frutos do mar são afrodisíacos, sendo a ostra a verdadeira joia da coroa, se vocês me creem. E se não creem, culpem o Dicionário dos afrodisíacos, de H. E. Wedeck, pesquisador de estranhas coisas (publicou livros sobre feitiçaria, astrologia, o diabo e delícias assemelhadas). Os detalhes sobre o culto a Afrodite, nos bons tempos da Grécia (hoje estão péssimos), não publico, pois traumatizariam as mentes mais sensíveis.

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Fogo morto em tragédia de Shakespeare

É prudente parar por aqui, antes que minha gentil leitora e o criativo leitor comecem a pensar bobagem e por isso me culpem. Mas não resisto a uma citação de Shakespeare, especialmente indicada para o fim de semana (toda vida quis citar Shakespeare, para parecer “erudito”, e nunca tive oportunidade). Então, vamos: em Macbeth, creio ser logo na cena II, o tragediógrafo inglês destaca que o álcool “provoca o desejo, mas liquida o desempenho” e explica que “muita bebida equivoca a luxúria, a ajuda e a estraga, empurra para cima e empurra para baixo”. Shakespeare sabia dos falsos afrodisíacos.

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JORNALISTA É SINÔNIMO DE PALPITEIRO

Longe de mim a intenção de que isto aqui seja visto como aula de português (ou de qualquer outra coisa igualmente explosiva), já o tenho dito. São apenas comentários de alguém que trabalha com a linguagem, escrevendo ganha o leite e o uísque. Sou jornalista, embora já tropeçando na idade e pressionado pelo frenesi “diplomático” da Fenaj. Jornalista é também sinônimo de palpiteiro – somos (a maioria, na qual me situo) pessoas capazes de abordar os mais variados assuntos, sempre de forma perfunctória, superficial, tangencial. Se aprofundam a discussão, saio de fininho e vou procurar minha turma.

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O mar de gente balança o chão da praça

Tais prolegômenos servem para dizer que tenho o lugar-comum como a pior doença das tantas que acometem a língua escrita e falada. É um vício comparável às drogas pesadas, que nos fazem sentir bem e nos destroem a longo prazo. E com que frequência esse fenômeno ocorre, até em meios ditos “cultos”! Quem não ouviu recentemente um “para se ter uma ideia”, ou “faz a diferença” – isto para não falar nos clássicos “ver a luz no fim do túnel”, “poupar o precioso líquido”,  “mar de gente” e, particularmente no Carnaval, “ninguém ficar parado”, “tirar os pés do chão” e “balançar o chão da praça”. Argh! Acabou o espaço – e o assunto há de voltar outra hora.

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NO MEU RIO NÃO NAVEGARAM AS CARAVELAS

Onde eu nasci passa um rio. É o rio Macuco, que me lembra o poema de Fernando Pessoa (musicado por Tom Jobim): não é rio tão rio quanto o Tejo, famoso e amplo. Por ele não navegaram caravelas tendo-o por caminho, por ele ninguém alcançou importantes novas terras. Na verdade, é um rio chocho, um riacho, um fio d´água que desce da serra, mas para mim ele é o melhor rio do mundo, porque é o rio da minha aldeia e da minha meninice, é o meu rio, o rio em que me banhei. O rio corre como o homem. Um morre a caminho do mar, outro a caminho do nada. Meu rio morre um pouco a cada dia, na vã tentativa de chegar ao mar de Ilhéus (talvez melhor do que eu, que por não ter destino prévio, nem sei para onde vou). Quem sabe, por isso somos um tanto magros, desidratados, tímidos e tristes.

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Enquanto o rio corre, o homem caminha

Ao ouvi-lo resmungar baixinho, intimidado, penso no destino de suas águas antigas. E concluo que apreendi a essência da filosofia de Heráclito (sec. V a. C.), antes mesmo de saber de sua existência. Heráclito para iniciantes é o da conhecida afirmação de que “não nos banhamos duas vezes no mesmo rio”, pois no instante seguinte ao banho nós e o rio já não somos os mesmos. O pensamento dele é mais complexo – e não possuo engenho e arte para tal dissertação. Portanto, me tirem da peleja físico-metafísica, do vir a ser, do sim e do não, do é e do não é. Entendamos que gente e rio estariam em constante mutação, em ritmos diferentes: enquanto um caminha, o outro corre. Mas como correu o meu rio, e como me dói tudo isso. As águas se foram, ficou o menino e sua saudade.

(O.C.)

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ESCREVER NÃO É TRABALHO, É PASSATEMPO

Ousarme Citoaian

Milton Rosário, integrante de qualquer lista, por menor que seja, dos melhores jornalistas de sua geração (além de ser gente de excepcional qualidade), me contou esta. Certa vez, o pai do poeta Telmo Padilha (foto) virou-se para o autor de Girassol do espanto e, olho no olho, o chamou à terra: “Meu filho, deixe esse negócio de escrever e arranje um trabalho decente, pois literatura não dá camisa a ninguém”. Telmo persistiu e obteve reconhecimento nacional, o que não invalida a lição de que intelectual, para ganhar uma camisa nova, precisa suar (e muito!) a antiga. Não temos tabela de preços nem sindicato como proteção – e escrever, diz o senso comum, não é trabalho, é passatempo.

JORNALISTA É QUEM VIVE DO JORNALISMO

Aqui, uma questão semântica. Para a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) –  que anda pelas redações ameaçando prender e arrebentar quem por lá se encontre que não seja diplomado – é jornalista profissional quem tem o curso superior específico (aos demais, considerados no exercício ilegal da profissão, cadeia). Já o conceito “clássico” é diferente: jornalista é quem atende aos dois requisitos de 1) trabalhar regularmente na atividade e 2) ser remunerado por esse trabalho. Com ou sem diploma, é profissional o indivíduo que exerce o jornalismo periodicamente e é pago para fazê-lo. Fora dessa fórmula simples e clara, não há salvação, pouco importa o que pense a Fenaj.

“GANHARÁS O PÃO COM O SUOR DO TEXTO”

A região tem muitos (e bons) jornalistas não diplomados, e me arrisco a citar apenas um, na tentativa de síntese do que quero dizer. Refiro-me a Eduardo Anunciação (foto), um “bicho de jornal”, com mais tempo de redação do que urubu de vôo (às vezes penso que ele, por essa escrita em linhas tortas próprias dos deuses, teria nascido num ambiente de jornal – e, para completar a quimera, bebeu tinta de impressão, em vez de leite materno). Nunca foi balconista de loja, não trabalhou em banco, não sabe botar meia-sola em sapato, não é pedreiro nem médico. É jornalista. Daqueles que lutam com as palavras todos os dias, mal rompe a manhã – e pagam o supermercado com o suor do seu texto.

JORNALISMO DO DIFUSO E DO IMPALPÁVEL

O Sul da Bahia é terreno fértil para  colunistas de todos os jaezes, com amplo espectro de textos dirigidos a leitores interessados em confetes, serpentinas, lantejoulas, plumas, paetês ou temas difusos e impalpáveis. Temo-los também de amenidades, política, economia e do que mais lhes der na telha e for suportado pela “democracia” dos donos de veículos. Esse banquete de vaidades e tolices (exemplo típíco na foto) nada de bom acrescenta ao pensamento regional, mas é incentivado pelos jornais: são colunas e artigos que nada custam para aspergir ideias de segunda mão, enquanto tomam espaço dos profissionais. Jornalistas como Eduardo correm perigo: se escaparem da Fenaj, serão desempregados pelos diletantes.

PARA O BEM OU PARA O MAL, EIS O HÍFEN

Não há dúvida: a maior armadilha de nossa ortografia é o hífen. A depender do caso, ele é bem-vindo e bem-visto. É o hífen é do bem, digamos. Mas quando surge sem ser “convidado”, causa mal-estar e mau humor, deixa o leitor mal-humorado, faz o texto mal-amado, sugere que quem o escreve é mal-educado (mal-afortunado, em termos de língua culta). Aí, é o hífen do mal. Às vezes, ele é bendito, bem-visto, benquisto, benfeitor e bem-querido; noutras, é malnascido, malcuidado, malcriado, mal-ajambrado, mal-afamado, malvisto e, portanto, contra-indicado. É o contra-exemplo da boa construção.

GOVERNO MUDA GRAMÁTICA PORTUGUESA

O governo estadual houve por bem abolir, por sua inteira conta e risco, o hífen de “Bem-Vindos”. A CLMH (Comunidade dos Linguistas Mal-Humorados) há de dizer que isto não tem importância, pois todos os leitores vão entender que a placa indica a gentileza e a cortesia com que a autoridade recebe quem visita a Direc de Ilhéus. Mas peço licença para manifestar meu estranhamento com mais este descaso oficial com a língua portuguesa. Afinal, se nem num local feito por e para professores as regras gramaticais são obedecidas, onde mais vamos obedecê-las?

O VEÍCULO DÁ SUA OPINIÃO NO EDITORIAL

Era o fim do ano, numa redação de jornal. O redator-chefe vira-se para o editorialista e lhe encomenda, para o dia seguinte, um editorial sobre Jesus Cristo. “Contra ou a favor?” – pergunta candidamente o articulista… A história é conhecida por todo jornalista, ou quem trabalhou numa redação – seja como estagiário, servindo cafezinho ou dobrando jornal. Ela pretende ilustrar que o editorial não é a opinião de quem o escreve, mas a do veículo que o publica. Teoricamente, o autor de editoriais é alguém com isenção bastante para, como na historieta acima, escrever contra ou favor de Jesus, com a mesma desenvoltura.

CAVALO COM CHIFRES E COBRA COM ASAS

Se o prezado leitor (ou a prezada leitora!) concluiu que não se assina editorial, parabéns. Não se assina porque, se assinado, vira artigo “comum”, a espelhar a opinião do signatário, não mais do veículo. Editorial “assinado” se define com uma palavra de nossa língua culta pouco utilizada por nós, mas corriqueira em Portugal: contrafação – que vem a ser fraude, disfarce, fingimento, imitação, falsificação, e por aí vai. Editorial “assinado” é tudo isso (e mais alguma coisa), mas editorial não é. Será, mudando da língua erudita lusitana para a popular brasileira, um cavalo com chifres. Ou uma cobra com asas.

ROBERTO MARINHO E O EDITORIAL ASSINADO

Há tempos, o Jornal Nacional costumava, numa noite sim e na outra idem, antecipar o que O Globo publicaria no dia seguinte, como “o editorial do jornalista Roberto Marinho” – na foto, à direita do general Figueiredo. No afã de agradar ao chefe (ou, quem sabe, por ordem do mesmo), violentavam-se as regras e se desserviam as novas gerações de redatores. Essa contrafação (!) durou até quando apareceu no JN alguém com juízo e pôs cobro  à farsa – ou Doutor Roberto se cansou da brincadeira. O fato é que este morreu e, para nosso alívio, resolveu, em definitivo, o problema. “Editorial do jornalista Roberto Marinho”: nunca mais.

A LEI DE MURPHY EM VISITA ÀS REDAÇÕES

Morre o homem, ficam-lhe os defeitos. Em pleno 2010, há veículos por aí que identificam seus editoriais com a palavra “Editorial” no alto da página (o que é uma informação supérflua, ociosa, mas aceita por alguns grandes veículos) e ainda os assinam, numa prova irretocável de que não sabem o que fazem. Mas, como diz o muito citado Murphy (creio que esta é a Lei nº 81, do seu elenco de 100), “nada está tão ruim que não possa ficar pior”: pois acaba de surgir entre nós o editorial com foto. Isso mesmo: editorial assinado e com foto de quem o assina. Aí, pego meu boné e caio fora, pois a discussão já adentrou a órbita da insensatez .
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NOEL E A FÁBRICA QUE NÃO ERA DE TECIDOS

A imortal Três Apitos foi composta em 1933 para uma das paixões de Noel Rosa, Josefina (a Fina), que ele julgava trabalhar numa fábrica de tecidos (a Confiança) mas que, na verdade, era empregada numa pequena fábrica de botões.  Esse engano o levou a criar a famosa rima de pano/piano.  Ao descobrir o equívoco, ele manteve os versos. Coisa de poeta: sacrificou a verdade, em benefício da rima: “Mas você não sabe/ Que enquanto você faz pano/ Faço junto do piano/ Esses versos pra você”. E aqui há outra pequena fraude, pois Noel nunca foi pianista. Vejam o contraste desses dois operários em construção: a moça tece pano, ele tece poesia.

A POESIA RESISTINDO À INDUSTRIALIZAÇÃO

Aliás, contraste é o que não falta nesta bela canção de Noel (foto). O mundo, com seu pragmatismo, parece conspirar contra o amor e outras cardiopatias, da mesma forma que a fábrica, símbolo do progresso, contrapõe-se ao piano – que o poeta usa para dirigir-se à amada. Três apitos mostra o mundos dividido em dois: de um lado, o artista e sua carga de sensibilidade, claramente à margem da sociedade de consumo; do outro, o capitalismo, o progresso industrial, a busca do lucro. “Quando o apito da fábrica de tecidos/ Vem ferir os meus ouvidos/ Eu me lembro de você”. O chamado ao trabalho é, para o poeta, a invocação para o amor.

APESAR DOS ERROS, UM MOMENTO MÁGICO

Noel Rosa foi listado aqui entre pessoas e efemérides que completavam, ao lado de Itabuna, um século em 2010. De repente, vejo que mais um ano se passou, sem nenhuma homenagem ao Poeta da Vila – logo eu, que tenho predileção pela sua arte, e até, se posso ser imodesto, razoável conhecimento de sua lavoura. Caso esta coluna se mantenha, vamos postar ainda uns dois vídeos sobre este grande nome da cultura brasileira. Hoje, um grande momento da MPB, reunindo Elizeth Cardoso e Jacob do Bandolim. Mesmo com a grande intérprete, ao vivo, errando a letra de forma deplorável, penso que vale a pena ouvir.

(O.C.)