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Psicólogo Fernando Berbert, do Núcleo de Atendimento em Psicologia da Unime || Foto Pimenta
Psicólogo Fernando Berbert, do Núcleo de Atendimento em Psicologia da Unime || Foto Pimenta

Setembro é o mês de intensificação de atividades de prevenção ao suicídio em todo o país. As ações no mundo foram iniciadas pela Associação Internacional para Prevenção do Suicídio (Iasp). No Brasil, Associação Brasileira de Psiquiatria, Conselho Federal de Medicina (CFM) e Centro de Valorização da Vida (CVV) coordenam as atividades neste mês.

De acordo com o coordenador de estágio em Psicologia da Unime, professor Fernando Berbert,  a campanha Setembro Amarelo é um passo para enfrentar um tema complexo e que envolve fatores biológicos, genéticos, psicológicos, sociais e culturais. O professor critica a falta de atendimento gratuito para as pessoas que perderam o interesse pela vida e reclama da insuficiência de profissionais especializados em Itabuna.

Fernando Berbert diz que tabus e mitos sobre o assunto suicídio só fazem agravar uma situação que já é crítica. Ele alerta familiares para ficarem atentos às mudanças de comportamento, principalmente quando a pessoa apresentar desinteresse pelas coisas que sempre foram prazerosas, sentimento de inutilidade, cansaço extremo e despreocupação com a falta de higiene.

A seguir, trechos da entrevista concedida por Berbert ao PIMENTA.

Blog Pimenta – Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil registra média de 12 mil suicídios por ano. É uma taxa alta?

Fernando Berbert – Quando analisado a quantidade de ocorrências, principalmente as envolvendo pessoas com idade na faixa de 14 a 29 anos, o número parece pequeno, mas não é, porque existe uma subnotificação de casos.

Pimenta – Por que ocorre essa subnotificação?

Fernando – Enfrentamos um  grande tabu quando o assunto é suicídio. Pesquisas apontam que, historicamente, as famílias sentem vergonha, quando um dos seus membros comete o ato.  Por isso, acabam não notificando a causa mortis corretamente às secretarias de Saúde dos municípios. Muitas vezes, até solicitam aos médicos que coloquem em seus relatórios algum tipo de doença que justifique a morte.

Pimenta – O assunto é complexo e pouco abordado, não?

Fernando – Existem alguns quadros sobre mitos e verdades. Há quem acredite, por exemplo, que falar sobre o assunto é uma forma de propagação e incentivo à prática do suicídio. Isso é uma inverdade. Os estudos mostram que, quanto mais se fala e se debate sobre o assunto, a população fica mais ciente e, consequentemente, aumenta as chances de redução das taxas.

Pimenta – Há um aumento do número de brasileiros que abrem mão da própria a vida?

Fernando – A taxa de suicídios entre os jovens aumentou em torno de 10% ao ano no Brasil. De 2004 a 2012 foi verificado aumento substancial de ocorrências, principalmente entre os homens. E temos um ponto a ser esclarecido: embora o índice de suicídio seja maior entre as pessoas do sexo masculino, as mulheres fazem mais tentativas. As mulheres quase sempre tentam usando medicamentos; enquanto os homens recorrem, na maioria das vezes, a arma de fogo.

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As mulheres conseguem participar de redes sociais, vão mais ao médico para falar sobre o assunto e fazem o tratamento. Já o homem não tem essa iniciativa. A cultura nos coloca que temos que ser fortes.

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Pimenta – Essa seria a única justificativa?

Fernando – Não. As mulheres conseguem participar de redes sociais, vão mais ao médico para falar sobre o assunto e fazem o tratamento. Já o homem não tem essa iniciativa. A cultura nos coloca que temos que ser fortes. A pessoa do sexo masculino já faz a tentativa e comete o ato em um estágio bem avançado de algum transtorno. Por isso, a taxa de suicídios entre homens é maior.

Pimenta – Há como descobrir que a pessoa desistiu de viver?

Fernando – Nem a medicina nem a psicologia têm como determinar e antecipar que uma determinada pessoa vai cometer suicídio. O que sabemos é que quem tentou uma vez e não conseguiu tem 50% de chance de fazer uma nova investida. Mas, infelizmente, as pessoas não dão a devida atenção porque se apegam ao mito de que uma nova tentativa não será feita. A segunda tentativa acaba sendo concretizada em 50% dos casos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Pimenta – O que leva a pessoa desistir do mundo?

Fernando – Mais de 90% dos casos de suicídio têm relação com transtornos mentais. As ocorrências estão relacionadas com a depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia e uso substâncias psicoativas, que vão potencializar para que a pessoa cometa o suicídio.Leia Mais