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Equipe da LGE pesquisa as causas da vassoura-de-bruxa há 20 anos || Antonio Scarpinetti

Manuel Alves Filho || JUnicamp
No final da década de 1980, o Brasil era o segundo maior produtor mundial de cacau. O país colhia cerca de 400 mil toneladas do fruto ao ano. O excelente desempenho da cacauicultura brasileira, porém, foi duramente afetado nos anos seguintes por causa da ação de uma doença denominada vassoura-de-bruxa, causada pelo fungo de nome Moniliophtora perniciosa, que devastou inúmeras plantações. Atualmente, a safra nacional do produto gira em torno de 180 mil toneladas anuais, sendo que chegou a 120 mil toneladas no final dos anos 1990.
Desde que a vassoura-de-bruxa foi identificada, pesquisadores do Laboratório de Genômica e Expressão (LGE) do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp vêm desenvolvendo diversos estudos para tentar descobrir como o fungo atua, com o objetivo de combatê-lo. Recentemente, os cientistas deram um importante passo nessa direção. Eles descobriram um mecanismo usado pelo micro-organismo para “driblar” o sistema imune de planta, e assim infectá-la. O trabalho rendeu artigo que acaba de ser publicado pela prestigiada revista Current Biology, um selo da editora Cell Press da Elsevier.
De acordo com o professor Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, coordenador do LGE, a descoberta é resultado de quase 20 anos de pesquisas e da dedicação de centenas de alunos ao longo desse período, desde a iniciação científica até o pós-doutorado. “Tivemos um grande sucesso nessa empreitada. Descrevemos a vassoura-de-bruxa em detalhes e identificamos as vias metabólicas envolvidas na estratégia de ação do fungo. Também desenvolvemos métodos de manejo das plantas, em parceria com os produtores. Apesar desses avanços, ainda não conseguimos chegar a um produto ou processo que possa eliminar o micro-organismo. A partir de agora, com a identificação do mecanismo de ação do patógeno, estou convencido de que poderemos obter novos progressos”, considera o docente.
O que os pesquisadores do LGE descobriram é que o Moniliophtora perniciosa é bastante astuto e insidioso. Ele se vale de uma estratégia incomum para enganar o sistema imune da planta, como explica o biólogo Paulo José Pereira Lima Teixeira, que pesquisou o assunto em sua tese de doutorado. Atualmente, ele é pesquisador do Howard Hughes Medical Institute (HHMI), da Universidade da Carolina do Norte (EUA), e no próximo ano vai assumir a posição de professor assistente na ESALQ-USP. Dito de maneira simplificada, o mecanismo de ação do fungo funciona da seguinte forma. Micro-organismo e a planta estabelecem o que os especialistas qualificam de “frente de batalha”.Leia Mais