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AndirleiAndirlei Nascimento | andirleiadvogado@hotmail.com

 

A Justiça do Trabalho também sempre está sendo alvo de ataques injustos e covardes com o objetivo de sucateá-la ainda mais. São manobras que visam enfraquecê-la, principalmente com a falta de investimentos necessários.

 

 

Encontram-se em tramitação no Congresso Nacional inúmeras alterações dos direitos trabalhista, estabelecidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e assegurados pela nossa Constituição Federal e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Essas alterações vêm em nome de uma suposta modernização da CLT, que foi promulgada em 1º de maio de 1942, por meio do decreto-lei 5.453.

O governo de Getúlio Vargas, com o objetivo de evitar a manutenção da exploração do trabalhador brasileiro, catalogou em torno da Consolidação das Leis do Trabalho leis específicas de proteção. Mais tarde, a Constituição de 1988 procurou assegurar todas as conquistas do trabalhador: tanto aquelas individuais quanto as coletivas, por meio do seu artigo sétimo.

Nas discussões que vêm sendo travadas, surgem grandes riscos de supressão de direitos do trabalhador que, historicamente, é explorado e oprimido. Dentre as alterações propostas, estão a terceirização sem limite, o impedimento do empregado demitido de reclamar na Justiça do Trabalho, a suspensão de contrato de trabalho e a prevalência do negociado entre empregado e empregador sobre o legislado na Justiça do Trabalho. Propõe-se, também, a prevalência das convenções coletivas do trabalho sobre as instruções Normativas do Ministério do Trabalho.

O cenário é preocupante e requer a mobilização de todos os trabalhadores brasileiros. Isto, porque outras alterações estão sendo propostas, dentre elas a instituição do acordo extrajudicial de trabalho, permitindo a negociação direta entre empregado e empregador.

E mais: a livre estimulação das relações trabalhistas entre trabalhador e empregadores sem a participação do Sindicato de classe, a flexibilização do trabalho intermitente por dia e hora, a chamada flexibilização das jornadas de trabalho, e a redução da jornada com a redução do salário, dentre tantas outras.

Além disso, encontra-se já em estudo bem avançado a redução da prescrição bienal, estabelecida pela Constituição Federal, para que o trabalhador, após a sua demissão, ingresse com a ação na Justiça do Trabalho, em busca de seus direitos, para apenas três meses. Outra alteração é a flexibilização dos períodos aquisitivos de férias para serem pagas pelo empregador em até três vezes.

São manobras e ataques aos direitos adquiridos que surgem a todo momento nessas iniciativas que partem dos nossos parlamentares e que, na sua grande maioria, vêm defendendo o capital e violando o interesse da classe trabalhadora brasileira.

A Justiça do Trabalho também sempre está sendo alvo de ataques injustos e covardes com o objetivo de sucateá-la ainda mais. São manobras que visam enfraquecê-la, principalmente com a falta de investimentos necessários para que a mesma continue cumprindo a sua importante e indelegável missão, que sempre foi a de reconhecer o direito do trabalhador que não foi devidamente reconhecido pelo empregador, ou seja: dar a César o que é de César.

Verifica-se, portanto, que em nome de um suposta modernização das leis que regem o direito do trabalhador brasileiro, estão por trás o ataque e a supressão dos direitos do trabalhador e os direitos consolidados na CLT, pilares que devem ser sempre preservados.

Em síntese: a chamada Reforma Trabalhista traz, no seu bojo, grandes prejuízos aos trabalhadores brasileiros. Além de negar os direitos adquiridos, propõe a supressão das conquistas de anos e anos de luta.

Andirlei Nascimento é advogado formado pela Fespi (Uesc), especialista em Direito do Trabalho e ex-presidente da OAB Itabuna.

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AndirleiAndirlei Nascimento | andirleiadvogado@hotmail.com

 

A união, portanto, deve ser de todos os brasileiros, especialmente dos trabalhadores e nós advogados. E que Deus nos livre dos maus governantes!

 

 

Em 1941 foi instalada no nosso país a Justiça do Trabalho e, em 1º de maio de 1943, por meio do decreto-lei número 5.452, foi criada a CLT-Consolidação das Leis do Trabalho, em pleno conflito da Segunda Guerra Mundial, pelo visionário Getúlio Vargas. Tinha o objetivo protecionista e apaziguador dos conflitos entre capital e trabalho.

Os avanços para o trabalhador, inegavelmente, são inúmeros, uma vez que o Estado se colocou à disposição para mediar, reconhecer o estabelecido na CLT, acordos e convenções coletivas, os direitos e efetivá-los. Porém, a Justiça do Trabalho nunca foi bem vista ao olhar do poder econômico.

Ao longo do tempo, a Justiça do Trabalho vem se modernizando. Hoje é um dos órgãos mais importantes do país e, até pouco tempo, era reconhecida como uma das justiças mais estruturadas.

No entanto, como verdadeiro paradoxo, no decorrer desse período surgem boatos de investidas para acabar com a Justiça do Trabalho. Esse desmonte, porém já vem ocorrendo. O exemplo é o arrocho salarial imposto aos servidores que há doze anos não têm repostas sobre as perdas salariais. Isso causa verdadeira falta de estímulo àqueles profissionais.

Semana passada, o desembargador Ives Gandra Martins Filho, presidente do Tribunal Superior do Trabalho, afirmou em entrevista aos meios de Comunicação, que provavelmente a Justiça do Trabalho somente funcionará até agosto deste ano. É que ocorreu corte de 30% no orçamento e 90% dos investimentos, comprometendo o funcionamento daquele Judiciário especializado.

Se isso ocorrer, será um caos e a destruição da nossa estabilidade social. Sonho e luta de longos anos, desfeitos por termos confiados nos nossos representantes. Mas devemos continuar unidos e vigilantes. Lutar para que tal desastre não aconteça.

A luta deve continuar. Se o poder emana do povo, este deve se manifestar. E a voz do povo deve ecoar por todos os rincões do nosso país, em defesa da Justiça do Trabalho, a última trincheira que o trabalhador tem para reivindicar e efetivar os direitos assegurados pela Constituição Federal, pela CLT, acordos e convenções coletivas.

A união, portanto, deve ser de todos os brasileiros, especialmente dos trabalhadores e nós advogados.

E que Deus nos livre dos maus governantes!

Andirlei Nascimento é advogado, especialista em Direito do Trabalho com pós-graduação em Processo do Trabalho; e ex-presidente da subseção de Itabuna da OAB.

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marivalguedesMarival Guedes | marivalguedes@gmail.com

No programa especial Entre Páginas, um dos melhores da Bahia, coordenado por Mário kertész, o escritor Lira Neto, autor da trilogia Getúlio, conta a primeira decisão/lição política do ex-presidente Vargas.

Quando criança Getúlio, filho do general Vargas, brincando com um amigo dentro de casa, quebrou acidentalmente um quadro de um ídolo do pai. Temendo o castigo fugiram e se esconderam em cima de uma árvore.

Furioso, o general mandou os capangas da fazenda buscarem os garotos. Com o passar das horas, a mãe começou caminhar de um lado para outro demonstrando preocupação. Depois tensão. Da árvore, os garotos acompanham tudo. Ao anoitecer o amigo sugere que é hora de retornar. Getúlio diz: “não, vamos aguardar o desespero.”

Na manhã do dia seguinte vendo o desespero total, ele fala ao amigo: “agora sim, é hora de descer”. Voltam e são recebidos com festa pelos pais e amigos. O general nem se lembrou do quadro quebrado.

Segundo Lira Neto, o próprio Getúlio contava esta história dizendo que foi a sua primeira lição política: “Jamais descer do umbuzeiro antes da hora”.

No dia 24 de agosto de 1954, acuado por grupos de direita liderados por Carlos Lacerda, Getúlio definitivamente decidiu descer de outra árvore, a árvore da vida.

Marival Guedes é jornalista e escreve crônicas semanais no Pimenta.

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Gerson MarquesGerson Marques | gersonilheus@gmail.com

Quem planta ventos colhe tempestades. São ovos de serpente que estão colocando no centro do debate político. Não haverá vencedores.

O clima contaminado pelo ano eleitoral está transformando  em uma guerra de mentiras e ódio o que deveria ser um debate construtivo de um país em busca de si mesmo. Nossas elites e seus veículos de comunicação estão plantando uma safra que será terrivelmente difícil colher, todos saíram perdendo. No afã de ganhar uma eleição, estão transformando  massas difusas, sem lideranças e sem causas articuladas em bombas relógios que fatalmente explodirão em seus colos.
Qualquer observador mais atento, que consiga concatenar ideias simples de sociologia, história e cultura, concluirá que esse clima de ódio insuflado terá que ser desaguado em algum lugar. As eleições passarão, têm data para acontecer, mas o plantado não será colhido nela. Ficará para depois, não se dissipará fácil seja vencedor o projeto atual ou o de oposição. Pior  ainda para a oposição, que terá somado contra si os insuflados de agora, com os movimentos tradicionais que se sentiram órfãos das urnas.
Chegaremos a um momento, em futuro próximo, que veremos os mesmos que agora aplaudem a queima de ônibus, as greves sem lideranças, o caos no centro das grandes cidades,  implorarem por uma repressão violenta, como forma de retomar a ordem. É de uma irresponsabilidade inigualável o que estão fazendo com o Brasil para se ganhar uma eleição. Lembra a história de envenenar o  boi para matar os carrapatos…
É bobagem achar que isso terminará em golpe militar. Esqueça. Nem os militares querem, nem existe clima para isso no mundo. O que sustenta uma ditadura é o controle das comunicações. Isso se tornou impossível hoje em dia, com o advento da internet e outras mídias.
Quem planta ventos colhe tempestades. São ovos de serpente que estão colocando no centro do debate político. Não haverá vencedores. Já o caos, sim, esse interessa a muitos, aos grandes esquemas de corrupção, aos grandes bandidos do trafego de drogas, armas, contrabando, aos políticos inescrupulosos, a certo tipo de mídia que acha que vende mais quanto pior for a notícia.
Querem tocar fogo na lona do circo sem parar para pensar que é debaixo dessa lona que vivemos e ganhamos nosso pão, mas sempre tem aqueles que poderão ir morar em Miami…
Neste sentido, a história se repete. Sempre que o Brasil avança, cria-se este clima para inviabilizá-lo, foi assim com Getúlio, no segundo governo, com João Goulart e com JK. Seria tão bom se nos déssemos ao trabalho de conhecer nossa própria história. Quem sabe assim não seríamos vitimas de nossa própria ignorância.
Gerson Marques é empresário e consultor de turismo.

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MC DONALD´S COMO SÍMBOLO DA DECADÊNCIA

Ousarme Citoaian
Em viagem recente, conversei com uma senhora parisiense sobre a decadência da cultura francesa, que influenciou o Brasil e o mundo (até o início do século XX, pelo menos). Acordamos em que o espaço da língua culta foi muito reduzido – salvo na área diplomática, em que ainda é exigida. Mas tínhamos preocupações diferentes: eu, perfunctório, o geral (língua, música, cinema, literatura); ela, de olhar profundo, incluía a mesa. Enquanto eu lamento que já pouco se estude francês (língua “irmã” do português) ou se ouçam canções francesas, a gentil senhora deplorava a presença do Mc Donald´s a popularizar hambúrgueres malcheirosos – uma agressão à cuisine (pouco importa se nouvelle ou classique). É a obesidade chegando.

AO LADO DE ROBESPIERRE, MARAT E DANTON

Sou dos tempos em que Hugo, Flaubert, La Fontaine e Voltaire eram traduzidos na escola. Cantava-se, mesmo desafinado, La marseilleise (lá fui pescar este grito de Aux armes, citoyens!), ouvia-se Bécaud, Piaf, Aznavour, Mireille Mathieu,Yves Montand e Juliette Gréco. No cinema, Alain Resnais, Clouzot, Simone Signoret, Alain Delon, Louis Malle, Charles Vanel e Anouk  Aimée-Jean-Louis Trintignant (na foto). Certo menino, durante a aula de história, muitas vezes atravessou a velha Paris do fim do século XVIII em companhia de Robespierre, Danton e Marat. Derrubei bastilhas e monarquias, nenhuma piedade pelas cabeças coroadas que rolavam. Na França ensanguentada, imaginei a reação no meu País – e ainda imagino: às urnas, cidadãos!

O NOVO SEMPRE VEM, QUEIRAMOS OU NÃO

As coisas mudam, o novo sempre vem. Mas nem todo velho é ruim, nem todo novo é bom, nem tudo que parece novo é novo. Com a companheira de viagem fiz apreensões da realidade e externei preocupações com a expansão do império norte-americano – entendendo que tal império outrora foi francês, e que La mère África sofre com isso até hoje. C´est la vie, dissemos em coro. E, para comemorar, comemos talvez nossa última refeição ritual: um pavê de morue à l´huile d´olive, et ratatouille, que vem a ser (se acaso o vinho e aqueles olhos insondáveis não me embotaram a memória) um lombo de bacalhau nadando em azeite, cercado de legumes por todos os lados, menos o de cima. Não era uma sessão de saudosismo. Se saudade tive foi do menino que já teima em não mais habitar em mim.

COISA É MACONHA E MUITAS OUTRAS COISAS

Circulam na internet curiosidades sobre a palavra “coisa”, entre elas que pode ser substantivo, adjetivo, advérbio e, como derivado, o verbo “coisar” – usado em substituição a verbo esquecido. No Nordeste (e em Portugal) significa praticar o ato sexual, enquanto “coisas” seriam os órgãos genitais. Tirem as crianças da sala que lá vai José Lins do Rego, num trechinho didático de Riacho doce: “E deixava-se possuir pelo amante, que lhe beijava os pés, as coisas, os seios”. Fred Navarro (Dicionário do Nordeste) informa que, na região, “coisa” é um dos nomes da maconha, hoje coisa de passeata. O abono vem de um time que sabe das coisas: Bráulio Tavares, Zé Vicente da Paraíba e Passarinho do Norte, num martelo agalopado.

“VIAGEM” COM SUOR, VERTIGEM E FRAQUEZA

“Tem um verso que fala da maconha/Uma erva que dá no meio do mato/Se fumada provoca o tal barato/A maior emoção que a gente sonha/A viagem às vezes é medonha/Dá suor, dá vertigem, dá fraqueza/Porém quase sempre é uma beleza/Eu por mim experimento todo dia/Se tivesse um agora eu bem queria/Pois a coisa é da santa natureza”. Pausa para dizer uma coisa: martelo agalopado é uma dentre as muitas modalidades da composição poética popular, conforme o modelo acima: dez versos de dez sílabas poéticas, com rimas do tipo ABBAACCDDC, isto é, o primeiro verso rima com o quarto e o quinto, o segundo com o terceiro, o sexto com o sétimo etc. Já se vê que produzir esse pacote de rimas de improviso não é coisa para amador.

CARNAVAL: SEGURA A COISA E A COISINHA!

Caetano Veloso usou a palavra em Qualquer coisa (“esse papo seu tá qualquer coisa” e em Sampa (“Alguma coisa acontece no meu coração”). Noel disse que o samba, a malandragem, a mulata e outras bossas “são coisas nossas”. O carnaval de Olinda tem o bloco adulto Segura a coisa (no estandarte, um baseado tamanho família) e o infantil Segura a coisinha. O grito de Alceu Valença ecoa pelas ladeiras seculares: “Segura a coisa, que eu estou chegando”. A MPB, às vezes, trata a coisa com certo exagero: Gonzaguinha fala em “coisinhas miúdas” e Jorge Aragão-Almir Guineto-Luís Carlos criaram a tatibitate “coisinha tão bonitinha do pai”, que virou trilha sonora da Nasa. Do maestro Moacir Santos (e seu Coisas) falaremos depois.

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FILME QUE NÃO CHEIRA A NOVELA DAS OITO

Sem esperar muito da Globo Filmes e suas produções com cheiro de novela das oito, fui ver Tempos de paz (Daniel Filho/2009) e tive uma surpresa agradável. É abril de 1945. Após muita tortura pelo Estado Novo de Getúlio Vargas, vários presos políticos ganham a liberdade, devido à pressão externa decorrente do fim da segunda guerra mundial. Um ex-torturador (Tony Ramos), agora chefe da seção de imigração na Alfândega do Rio de Janeiro, teme que suas vítimas resolvam se vingar. Em meio a essa paranóia, surge um imigrante polonês (Dan Stulbach) que se diz agricultor, mas tem mãos finas e recita Drummond (“Não serei o poeta de um mundo caduco”). Isto é muito suspeito.

ATORES VIVEM “DUELO” DE INTERPRETAÇÃO

O ex-torturador é chamado a investigar o caso, com poder de decidir se o polonês entra no Brasil. A alternativa é a volta, pelo mesmo navio em que chegara, e que já apita no cais, anunciando a saída. O fugitivo da Polônia tem contra ele, além da má vontade, o tempo. O que se vê aqui é uma espécie de duelo de interpretação de dois grandes artistas: Tony Ramos, consagrado pelo público, e Dan Stulbach, um bicho de teatro, com raras aparições na tevê. Depois de esgotar todos as justificativas para seu ingresso no Brasil, o polonês não dissipa as suspeitas do ex-policial. Este, como se espera, é um homem frio, capaz de contar detalhes do seu “trabalho”, sem mostrar emoção.

O TEATRO JAMAIS GANHOU HOMENAGEM MAIOR

E é em cima dessa frieza que o imigrante é chamado a defender sua permanência no Brasil ou ser repatriado (no porto, o navio apita mais uma vez).  Com um estranho senso de humor (talvez próprio dos torturadores), é proposto ao imigrante um desafio: se este contar algo que faça o agente chorar, poderá entrar no País; se não, embarcará no navio que zarpa em poucos minutos. É o ápice do filme. O polonês (que não é lavrador, mas ator) declama Monólogo de Segismundo – da peça A vida é sonho (Calderón de la Barca/1635). Tempos de paz é a maior homenagem que o teatro já recebeu do cinema.  Ah, sim. O torturador chorou – e eu também. Clique e veja que só o bom texto nos redime.

(O.C.)

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ESSES CRIATIVOS CONSULTORES DE EMPRESAS

Ousarme Citoaian
O professor gaúcho Ricardo Mallet (foto, em ação) exerce uma atividade que está em moda há alguns anos no Brasil – consultor de empresas. Graduado em gestão empresarial, ele ganha a vida honestamente em andanças pela vastidão medida entre o Chuí e o Caburaí, fazendo palestras de incentivo às iniciativas de negócios. Não sei se participou de algum dos seminários de marketing que ocorrem há séculos em Itabuna, o que, aliás, não vem ao caso. Vem ao caso sua “descoberta” de que os grandes e principais vícios dos brasileiros (não digo “da humanidade” devido às diferentes línguas do planeta) começam com c.

COCAÍNA, CRACK E MACONHA COMEÇAM COM C

Diz o palestrante em seu blog que, durante uma viagem de ônibus, começou a pensar no assunto e chegou a conclusões que agora passo a quem aprecie inutilidades. “De drogas leves a pesadas, bebidas, comidas ou diversões, percebi que todo vício curiosamente começava com c”. E aí vai a lista: cigarro (“que causa mais dependência que muita droga pesada”) começa com c”, cocaína, crack e maconha, também. Maconha? Sim, pois “maconha é apenas o apelido da cannabis sativa”. Entre as bebidas, cachaça, cerveja e café. Este, “muitos gaúchos trocaram pelo chimarrão e não adiantou: também tem inicial c”.

“SEM TER NADA INTERESSANTE PARA FAZER”

O consultor diz que se envolveu em tais lucubrações num momento em que estava “sem nada interessante para fazer”, o que parece óbvio. Talvez por semelhante motivação, vou adiante nessa curiosidade. Citemos o chocolate e as comidinhas carregadas no sal ou no açúcar. E daí? Daí que sal é cloreto de sódio (olha o c aí!) e o açúcar vem da cana do mesmo nome. Para arrematar, o professor nos impõe uma conclusão um pouquinho forçada: “Coca-Cola vicia e Pepsi, não”. Por que? Fácil: a primeira tem dois cês; a segunda, nenhum! Faltou lembrar que consultor (em que algumas pessoas se viciam) também começa com c.

QUATRO PALAVRAS E LUGAR NA HISTÓRIA

Uma frase não deve ter, em benefício de sua clareza, muitas palavras. Esta tem 12. Getúlio Vargas, num palanque em Ilhéus, usou 15: “Façam-me a ponte para o Catete e eu vos farei a ponte para o Pontal”; com os dez termos de “O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever” o almirante Barroso entrou para a história; Gagarin (quase um século depois) foi fazer companhia ao velho comandante, com apenas quatro: “A terra é azul”… Quantas palavras devemos usar numa frase? Não há regra. Mas Dad Squarisi (foto), musa desta coluna, dá uma dica valiosa: “Use sentenças de, no máximo, uma linha e meia”. Logo, modestamente concluo: ao contar vinte termos, cuidado (nenhuma das citações feitas acima chegou a tanto).

FRASE LONGA E UNIÃO DE FRASES CURTAS

Tal qual Freud, a musa explica: “a pessoa só consegue dominar determinado número de palavras, antes que os olhos peçam uma pausa. A frase muito longa dá trabalho, confunde”. Finalizando, diz a mestra que “uma frase longa nada mais é do que duas curtas”. E aí entro eu, de novo, com minha colher de pau: tenho visto sentenças tão longas que precisariam ser divididas não em duas, mas em três ou quatro. “Não quis Deus que os meus cinquenta anos de consagração ao direito viessem receber, no templo do seu ensino, em São Paulo, o selo de uma grande benção, associando-se hoje com a vossa admissão ao nosso sacerdócio, na solenidade imponente dos votos que o ides esposar” – é frase de Rui Barbosa (foto), com 46 palavras.

NOSSA MÍDIA GANHA ATÉ DE RUI BARBOSA

A sentença ruibarbosiana (Oração aos moços/1920) não é recorde de gigantismo – e, afinal, Rui é Rui. Vejam esta, de lavratura regional: “Assim, foi que, em 5 de junho de 1972, na primeira conferencia das Nações Unidas sobre o meio ambiente, nasceu a nível internacional as primeiras ações chamando atenção do mundo para temas como poluição e degradação ambiental, trazendo no item 6 da declaração, a necessidade de ´defender e melhorar o ambiente humano para as atuais e futuras gerações´, mas que sozinhas não seriam suficientes e por isso mesmo, foi objetivado ser alcançado com a paz, o desenvolvimento econômico e social”. Ufa! Um tijolaço de 80 palavras (transcrito da exata forma como saiu no blog).

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SOBRE RACISMO E DISCRIMINAÇÃO SOCIAL

O filme se passa em 1959. Um viúvo, compositor de jingles, branco, tem problemas com a filha de sete anos, por isso precisa urgentemente de uma babá. Entrevista várias candidatas, até encontrar uma recém-formada, que não consegue arrumar trabalho, por ser negra. A esta altura, a menina (Molly/Lina Majorino), de birra, parara até de falar. E ele (Manny/Ray Liotta) não parara de fumar, o que, segundo Molly “descobriu”, vai levá-lo à morte. Pior: a babá (Corina/Whoopi Goldberg) também é fumante. Falamos de Corina, uma babá perfeita/1994. Por trás da fórmula água com açúcar, Uma babá… trata de racismo e discriminação social, embora de forma sutil, por isso discordo de que se trata apenas uma história romântica xaroposa.

UM PAINEL DO JAZZ POUCAS VEZES VISTO

Corina é babá por necessidade, pois tem sólida formação em literatura e música, o que a leva a aportar comentários pertinentes sobre jazz e e publicidade. Aliás, Uma babá…  oferece um dos melhores painéis do jazz já visto no cinema (com Billie Holiday, Duke Ellington, Dinah Washington, Sarah Vaughan, Armstrong & Oscar Peterson, além de valiosas citações. Por exemplo, num bar noturno, Jevetta Steele canta os primeiros versos de Over the rainbow (aquela de O mágico de Oz), com o sax tenor de Rickey Woodard ao fundo (que eu não conhecia), me deixando com ganas de sair correndo e comprar o  CD, ou Dinah Washington, com What a diffrerence a day makes, standard que sempre ouço com satisfação. Mas o melhor só vem no final.

NO FIM, UM CLÁSSICO DA CANÇÃO GOSPEL

Para encerrar, a menina Molly tenta fazer a avó (Eva/Erika Yohn), dilacerada pela morte do marido, solfejar This little light of mine (um clássico da canção gospel), conseguindo arrancar-lhe um canto rouco e triste, em seguida coberto pelas vozes poderosas do grupo vocal The Steeles (Billy, Fred, JD, Jearlyn e Jevetta). Infelizmente, já não tenho o DVD (e também não o encontro em nenhuma loja da internet), o que dificultou a edição deste vídeo. Mas, modéstia à parte, o material aqui mostrado (com um pouco da última cena de Uma babá… e 48 segundos de Jevetta  Steele a cappella) é suficiente para ouriçar todos os pelos do corpo e ainda umedecer os olhos – desde que não haja nada errado com sua sensibilidade. Se duvida, clique.

O.C.

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HÉLIO PÓLVORA E A ESCOLHA DO SIMPLES

Ousarme Citoaian

O título do primeiro romance de Hélio Pólvora (foto), Inúteis luas obscenas, é um achado, mas não surpreende: jornalista de batente (além de contista, ensaísta, cronista, tradutor e crítico de cinema) ele sabe a importância de bem titular (até procurou, em vão, convencer disso seu compadre Euclides Neto, que criou títulos não muito inteligíveis, como Machombongo). Mas o melhor de Inúteis luas obscenas não é o título, é o próprio livro, um retorno ao bom e velho estilo de contar histórias com começo, meio e fim. Senhor de erudição suficiente para atingir o esnobismo (poucos brasileiros leram tanto quanto ele), Hélio fugiu dos experimentos estéreis, em privilégio do simples.

O LEITOR ESCOLHE O FINAL “MELHOR”

Surdo é personagem recorrente em contos do autor. De tanto perturbar o sono do contista foi parar no romance – um romance que se lê de uma sentada, tal a qualidade da narrativa, que pega o leitor pelo colarinho e o leva, subjugado, à última página – quando, surpreso, será chamado a decidir entre dois epílogos. Inúteis luas obscenas é um tratado sobre a solidão humana, estampada em anti-heróis condenados à vida miserável, sem perspectiva de romper seu círculo de pequenez, empurrados para um final em que nenhum tipo de libertação é possível. Nesse ambiente, duas mulheres fortes (“Somos duas cobras venenosas”, diz uma delas) se destacam: Celina e Regina.

AROMAS, CORES E SABORES DE CACAU

Surdo (que talvez nem seja surdo) é dado a leituras e filosofias, pensa, medita e dá mostras de ter visitado os bons autores. “Os maus têm uma felicidade negra”, cita Victor Hugo (foto). Envolvido com luas azuis, vermelhas e obscenas, e um amor não convencional, Surdo é um homem incompreendido e portador de certa carga de amargura – na grande sabedoria há grande pesar, ensina o Eclesiastes. Resta dizer que Hélio Pólvora é um escritor da zona cacaueira (“Sou um pobre homem de Itabuna”, diz ele, parodiando Eça), e seu romance tem cheiros, cores e sabores de teobroma, ainda que seja universal, na medida em que trata do sofrimento do ser humano, presente em todas as latitudes.

TEXTO PRAZEROSO, INOVADOR E ECONÔMICO

O clima de tragédia é acentuado por um prólogo em cada capítulo, à moda do coro do teatro grego, e referências a entes mitológicos (na gravura, Édipo). O romancista esparge constantes pitadas de lirismo sobre seus embrutecidos personagens, o que enriquece e “humaniza” a história. No entanto, esse olhar, que às vezes parece cúmplice e protetor, não subtrai a Inúteis luas obscenas seu conteúdo de tragicidade. Há de ressaltar-se (afora essa leitura pessoal), o texto prazeroso, econômico (sem chegar à mesquinharia de Dalton Trevisan), conciso, sem sobras nem faltas. A sensação é de que valeu (muito) a pena esperar pelo primeiro romance de Hélio Pólvora.

O QUE NOS IRRITA TAMBÉM NOS MELHORA

Teria sido o velho e suíço Gustav Jung (foto) quem disse: “Tudo o que nos irrita nos outros pode nos levar a um conhecimento de nós mesmos”. Assim, coisas que a gente combate, como ingratidão, injustiça, traição, inveja, ciúme, medo ou impaciência e, no meu caso, a má concordância, a regência pífia e os lugares-comuns, pode significar que nós próprios somos portadores desses defeitos. Entendo ser imperativo que eu, crítico iconoclasta da obra alheia, exerça essa mesma exigência em relação a meus textos. E eu a exerço, embora considere normal não ter a isenção suficiente e ainda deixar contaminar minhas opiniões pela excessiva carga de autocompaixão.

NO INESPERADO, O EROTISMO VOCABULAR

Em maré de citações (hei de ter cuidado, pois Newton disse que quem cita muito não tem idéias próprias) ponho em campo o pensador francês Roland Barthes (foto), para quem as palavras se tornam eróticas pela excessiva repetição. Confesso que sinto esse erotismo vocabular (parece que inventei isto agora!) no inverso da repetição, que é o inesperado. O texto novo e simples tem uma força estranha que me agride (no melhor sentido), me pega pelo colarinho e me transporta a mundos distantes. Arrisco-me a perder os leitores exigentes, pois acabo (ai de mim!) de me pôr em posição contrária a Barthes (se vivo, não creio que ele ficasse muito preocupado com minha opinião…).

TEXTO QUE NOS EMBALA E TRANSPORTA

A verdade é que experimento um prazer muito grande com frases corretas, desde que despidas de pedantismo. Elas mexem em minha alma, me embalam e me transportam, como esta, um verso de sete sílabas: “Onde eu nasci passa um rio…”. A partir desta frase de Caetano Veloso é possível escrever romance, novela, crônica, conto… ou não escrever coisa nenhuma, mas será impossível não pensar e não sentir. “Onde eu nasci passa um rio” é texto a um só tempo refinado e simples. Uma das melhores frases da MPB, provocativa, por isso nova e boa, digna de ser tema de redação de vestibular para qualquer curso. Em prosa ou verso.

LIVRARIA ENTRE NÓS, NEM PRA REMÉDIO

Há variadas formas de medir o desenvolvimento cultural de uma comunidade: universidades, livrarias, editoras, cinemas, teatros e outras. Itabuna e Ilhéus (principais cidades da região) não têm, a rigor, nem uma livraria para remédio (temos casas que vendem, dentre outros itens, livros). Quanto aos outros padrões citados, estamos também em grande déficit – e é deplorável dizer que já estivemos em melhores condições do que hoje. Quer dizer: no que respeita a esses valores, andamos para trás. Ou, no máximo, de banda, no melhor estilo Ucides cordatus, também chamado caranguejo-uçá.

XADREZ POR AQUI SÓ A CADEIA PÚBLICA

Um leitor indignado nos ofereceu outro metro comparativo (igualmente empírico, é verdade) do nosso nível cultural: quase a ponto de nos confundir com o Procon, ele reclama que vasculhou Ilhéus e Itabuna para, surpreso, descobrir que é impossível, em cidades tão culturalmente ”avançadas”, comprar um jogo de peças de xadrez, com o mínimo de qualidade. Ora, vejam só. O chamado nobre jogo é mesmo um padrão interessante para o caso. O leitor diz que Vitória da Conquista, por exemplo, tem o xadrez na escola fundamental, como prática educativa. Aqui, xadrez é apenas a super-povoada cadeia pública.

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LUIZ GONZAGA E O INCÔMODO “VOZES DA SECA”

Dia desses, falamos aqui no médico Zé Dantas, um dos dois maiores parceiros de Luiz Gonzaga – o outro foi o advogado Humberto Teixeira (foto) – quando listamos “Vozes da seca” entre os clássicos do médico pernambucano. Luiz Gonzaga, na minha modesta opinião, foi o maior músico pop do Brasil (com a morte dele, creio que o lugar é de Gilberto Gil), mas é preciso lembrar, nem que seja apenas em favor da fria verdade histórica, que o Rei do Baião foi um conservador exacerbado, apoiou o golpe de 1964, chegou a dizer que não havia tortura no Brasil – e “Vozes da seca” o incomodava. Sei de um show em que ele, ao pedirem esta música, se recusou a cantá-la, com uma frase marota: “Não me lembro da letra”.

O CONSTRANGIMENTO DOS JOVENS COLEGAS

Gonzaga sempre teve horror a políticos de esquerda. Passou nove anos no Exército, quando aprendeu a admirar os militares, sendo amigo do presidente general Dutra, de quem animou muitos saraus palacianos – e, mais tarde, de Marco Maciel. Talvez não por acaso, “Boiadeiro”, a toada com que costumava iniciar suas apresentações, é de dois ex-militares (Armando Cavalcante e Clécius Caldas) que conhecera na caserna.  Já no governo Médici (o mais sanguinário dos generais da ditadura) ele decepcionou os colegas engajados na luta política, a exemplo de Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Geraldo Vandré (foto).  E o mais constrangido de todos com esse comportamento era Gonzaguinha, filho do Rei.

POR BURRICE, “ASA BRANCA” FOI CENSURADA

A ditadura, que nunca respeitou nem mesmo os que apoiaram o golpe, também não poupou Luiz Gonzaga, proibindo-o de cantar (era o governo Médici) “Vozes da seca”, “Paulo Afonso” e “Asa branca” (as duas primeiras com letra de Zé Dantas, a segunda de Humberto Teixeira). As razões da censura: “Vozes da seca”, por ser música de protesto, e “Paulo Afonso”, por ciúmes – exalta os presidentes Getúlio, Dutra e Café Filho; já “Asa branca” foi censurada devido à burrice que grassava no governo – a ditadura era um monstro sem cabeça e, logo, sem juízo. Em 1980 (sob o general Figueiredo), Luiz Gonzaga gravou “Caminhando”, o “hino” de Geraldo Vandré; em 1981 fez as pazes com Gonzaguinha.
</span><strong><span style=”color: #ffffff;”> </span></strong></div> <h3 style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>E FRED JORGE CRIOU CELLY CAMPELLO!</span></h3> <div style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>No auge do sucesso, em 1965, a música teve uma versão no Brasil, gravada por Agnaldo Timóteo. Como costuma ocorrer com as

UMA EDIÇÃO COM MUITAS LÁGRIMAS

Este vídeo foi editado com lágrimas, especialmente para a coluna. As imagens mostram o sertão nordestino torturado pela seca, aquele ambiente de intenso sofrimento (físico e, por consequência, psicológica) que inspirou o ginecologista e compositor José de Souza Dantas Filho, o Zé Dantas (1921-1962). O ano é 1953. Algumas cenas são de Vidas secas (1963), filme de Nelson Pereira dos Santos (foto), que também merece nossa homenagem menos tardia do que sincera. Clique.
(O.C.)