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Mariana Benedito | mari.benedito@outlook.com
 

Um mecanismo de defesa para que não enfrentemos a dor, para que coloquemos máscaras e disfarces. Entretanto, o pote um dia enche. Quanto mais tempo passamos omitindo, escondendo, camuflando o que verdadeiramente sentimos por meio de uma realidade virtual, plastificada, mais a sensação de vazio se instaura.

 
É fato que estamos vivendo em uma era de exposição. Para onde vamos, o que fazemos, o que comemos, com quem estamos tudo é virtualmente compartilhado num piscar de olhos, à base de um toque na tela do celular. Esquecemos cada vez mais de vivenciar, de fato, os momentos, as companhias, as conversas; tudo porque existe uma necessidade inerente de mostrar, expor, postar. É uma busca incessante pela aceitação e valorização do outro; isso é nato do ser humano.
Desde o ‘Homo Sapiens’, o homem sente a necessidade de se agrupar, de se sentir pertencente a um meio, de ser amado, de ser aceito. É isso que nos move! O nosso maior anseio e desejo é ser amado. Todas as defesas que usamos, todas as couraças que foram construídas ao longo de nossas vidas serviram – e servem – para nos proteger da dor da separação, do não se sentir acolhido, aceito, inserido, da dor do aniquilamento. Todas as histórias terminam falando de amor, já diria Julia Kristeva, psicanalista francesa.
Porém, existe outro lado da moeda que precisa também de atenção especial. Essa mesma necessidade de exposição e aceitação muitas vezes pode buscar disfarçar um vazio, uma lacuna, uma dor.
Pesquisas apontam que as Redes Sociais são altamente nocivas à nossa saúde psíquica, já que existe uma felicidade, uma adequação, um estilo de vida ali compartilhado que muitas vezes não é o vivenciado pela maioria esmagadora. É uma cobrança velada por estar bem, por mostrar-se bem, muito embora – algumas vezes – estejamos em algum momento de tristeza, angústia, recolhimento.
Observa-se que é justamente quando mais precisamos deste recolhimento, quando mais estamos tristes, quando mais necessitamos de um olhar para dentro de nossos vazios e dores, é que mais compartilhamos fotos, vídeos, ‘stories’ exalando uma felicidade e um bem-estar ‘fakeados’.
Precisamos estar atentos a isso! Porque essa busca por omitir a dor, por se mostrar feliz, satisfeito, pleno – quando de fato não o estamos – caracteriza uma fuga de nós mesmos. Um mecanismo de defesa para que não enfrentemos a dor, para que coloquemos máscaras e disfarces. Entretanto, o pote um dia enche. Quanto mais tempo passamos omitindo, escondendo, camuflando o que verdadeiramente sentimos por meio de uma realidade virtual, plastificada, mais a sensação de vazio se instaura.
Afinal, estamos escondendo o que de quem? Já que “o Mundo” não precisa saber de nossas dores, já que – no íntimo – sabemos que estamos mascarando sentimentos, sendo mentirosos com nós mesmos. O que nos leva a mostrar uma felicidade que, em determinado momento, não existe? Por que precisamos mentir e deturpar o que sentimos?
Precisamos mostrar o que, para quem?
Mariana Benedito é psicanalista em formação, MBA Executivo em Negócios, pós-graduada em Administração Mercadológica e consultora de projetos da AM3 Consultoria e Assessoria.