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Informa o Radar que “na sua semana de estreia, O Livro de Eli foi o filme mais visto do Brasil entre sexta-feira e ontem com 211 588 espectadores. Bateu Ilha do Medo, primeira do ranking na semana passada, que teve público de 149 037. Outra estreia do fim de semana, Um Sonho Possível, também alcançou bons números. Ficou em terceiro lugar com 137 898 espectadores”.

Os três filmes são comentados por Leandro Afonso, que assina a coluna 70 mm, no Pimenta. Confira clicando aqui.

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Leandro Afonso | www.ohomemsemnome.blogspot.com

Desde a apresentação do logo da Paramount em Ilha do Medo (Shutter Island – EUA, 2010), embora flerte com o clichê, a soturna trilha sonora se distancia o suficiente do óbvio para trazer uma convincente agonia que parece não ter fim. E apesar do roteiro ser tão pouco crível (a ponto de nem se encaixar com a certa dose de exagero proposta), Ilha do Medo é também, enquanto combinação de som e imagem, um dos resultados mais potentes obtidos por Scorsese nos últimos anos – ainda que essa mesma potência termine por escancarar os contras do filme.

A paranoia – e praticamente tudo ligado a ela, o que não é pouca coisa – é sentida por Teddy Daniels (Di Caprio soberbo), detetive cujo passado tem o hábito de atormentá-lo, desde a passagem pela guerra a problemas familiares. Essas sequências são mostradas em cenas com expressividade e (em alguns casos) estilização que se juntam a uma leveza para a criação de uma violenta empatia com o atormentado Daniels. Obcecado por questões obscuras não só no seu passado como na inóspita, hostil e aterrorizante ilha-manicômio onde se encontra, ele mergulha cada vez mais em um mundo cheio de perguntas sem resposta.

O porém é quando essas perguntas, e outras que não eram feitas, ganham resposta – não li o livro e não sabia da reviravolta. É inevitável lembrar de detalhes e momentos marcantes do filme que, quando colocados juntos à sua mudança de rumo, fazem essa virada tão surpreendente quanto tola. Assim como boa parte da penúltima cena, que investe um bom tempo em uma explicação – quase tão irritante quanto detalhada – do que aconteceu. O fim da tensão aflitiva é a queda de um precipício de qualidade, é o término do que o filme tem de excelente.

É natural pensar que muito do que incomoda em Ilha do Medo vem justamente do poder de Scorsese em potencializar esse contraste. O brilhantismo na construção da atmosfera ressalta o esquematismo e a confusão do (mesmo assim interessante) roteiro. O que se nos deixa a sensação de ainda estarmos diante de um mestre (há algum tempo) no apogeu de seus domínios, também nos deixa a certeza de que ele já escolheu – ou escreveu – filmes mais bem resolvidos.

Visto em cabine de imprensa no Multiplex Iguatemi– Salvador, março de 2010.

Ilha do Medo (Shutter Island – EUA, 2010)

Direção: Martin Scorsese

Elenco: Leonardo Di Caprio,Mark Ruffalo, Bem Kingsley, Max Von Sydow, Michelle Williams, Emilly Mortimer

Duração: 1388min

Projeção: 2.35:1

8mm

Mãe – A busca pela verdade

Em Mãe – A busca pela verdade (Madeo – Coréia do Sul, 2009), de Joon-ho Bong, tudo é bem calculado, o mistério é cuidadosamente mantido, e o final é algo surpreendente. Sua mecânica, contudo, varia entre o completo domínio do meio e do público (é provável que em mais de uma vez você acredite estar certo quando não está), e uma necessidade – que me incomodou – de justificar a inserção de cada mínimo detalhe, de se assumir milimetricamente dominador e excessivo, pela potencialização da reviravolta. O que ele já tinha sido em O Hospedeiro (2006), é verdade, mas (talvez pelo fato de se tratar de um filme de gênero), o “deixar claro que tenho o controle”, pelo menos ali, parecia fluir mais naturalmente. Ainda assim, também como em O Hospedeiro, estamos diante de um entretenimento de altíssimo nível. Agora com um filme cujo gênero é menor que a mensagem. Aqui, ele faz uma defesa da cegueira do amor – e do viver bem isso. Bonito.

Filmes da semana:

1. O Medo do Goleiro diante do Pênalti (1972), de Wim Wenders (VHSRip) (**1/2)

2. Separações (2002), de Domingos de Oliveira (DVDRip) (***)

3. Mãe – A Busca Pela Verdade (2009), de Joon-ho Bong (Cinema da Ufba) (***1/2)

4. A Faca na Água (1962), de Roman Polanski (DVDRip) (***)

5. Intriga Internacional (1959), de Alfred Hitchcock (DVDRip) (****)

6. Ilha do Medo (2010), de Martin Scorsese (Cabine de imprensa – Multiplex Iguatemi) (****)

7. A Câmara da Morte (2007), de Alfred Lot (DVDRip) (**1/2)

8. Onde Vivem os Monstros (2009), de Spike Jonze (Cinema do Museu) (***)

9. Quanto Dura o Amor (2009), de Roberto Moreira (Cinemark) (***1/2)

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Leandro Afonso é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”