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YASUYOSHI CHIBA
Iniesta e Casillas deixam campo desolados (Reprodução Yasuyoshi Chiba/Fifa).

José Sámano | El País

O futebol é amnésico, e amanhã é ontem. Quatro anos depois de Johanesburgo, e apenas dois depois da Eurocopa de Kiev, a Copa do Brasil foi o Titanic espanhol.

A Espanha que mais merecia um adeus honroso encerrou seu conto de fadas de forma espantosa, com uma decepção mundial. Um torneio que ficará gravado para sempre como um pesadelo, assim como seus triunfos também prevalecerão. Contra o Chile, o campeão continuou na lona, completamente atordoado depois do desabamento monumental perante a Holanda.
Não houve gongo que a salvasse, e o borrão é de tal calibre que a Roja, rota e desbotada, se tornou a primeira seleção a ser eliminada no Brasil, junto com a irrelevante Austrália. Desde a França-98, a seleção não deixava uma Copa pela porta de trás, na primeira fase. Naquela ocasião, a Espanha havia metabolizado o pessimismo crônico até a medula. Agora, parecia impensável uma pancada semelhante, mas o futebol é amnésico, e amanhã é ontem. Quatro anos depois de Johanesburgo, e apenas dois depois da Eurocopa de Kiev, a Copa do Brasil foi o Titanic espanhol.
Como o futebol não tem alma, para desgraça espanhola precisou ser o Maracanã o palco escolhido para que a seleção virasse a página sem consolo algum. Um desengano absoluto para uma geração que pôs a Espanha no topo, de onde caiu de forma sísmica. Uma casta para a lembrança infinita, e uma Copa para o esquecimento. A essa geração o futebol espanhol deve a conquista não só dos seus melhores troféus, mas também de um legado único, o pensamento próprio em um país onde o futebol só era definido pela diversidade dos clubes.
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Além da queda da Espanha, ontem (18), a Copa do Mundo no Brasil registrou a goleada aplicada pela Croácia. Bateu Camarões por 4 a 0. Antes, a Holanda venceu a Austrália, com dificuldades: 3 a 2.
Jogos de hoje (19)
Colômbia x Costa do Marfim, às 13h, em Brasília (DF).
Uruguai x Inglaterra, às 16h, em São Paulo (SP).
Japão x Grécia, às 19h, em Natal (RN).

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Ramiro AquinoRamiro Aquino | aquino05@uol.com.br

Não vou cometer a hipocrisia de dizer “que vença o melhor”, pois o que quero dizer mesmo é “que vença o Brasil, vamos baixar a crista dessa fúria”, com todo respeito, é claro, ao time de Casillas, Xavi e Iniesta.

 
1982. Copa do Mundo na Espanha. Estávamos lá, numa loucura arquitetada por mim e pelo José Adervan, representando a Rádio Clube de Itabuna, fazendo parte, como repórter, da equipe do pool formado pelas rádios Jornal do Comercio (PE), Clube (BA) e Sociedade (Feira). Foi a maior experiência de minha vida como comunicador.
A Espanha é um país notável para receber turistas e no ano anterior tinha recebido 45 milhões de visitantes, quase o dobro de sua população de 25 milhões de almas à época.
Primeiro Sevilha, cidade tradicional, católica, cheia de igrejas, mulheres pudicas andando de vespa com os vestidos amarrados, sem mostrar sequer um pedacinho de coxa. Passamos bem, dando show de bola. Depois veio a cosmopolita Barcelona. Bairrista ao extremo, pois o Catalão só olha para o próprio umbigo. Um companheiro nosso foi dizer a um motorista de táxi que catalão, basco, andaluz, era tudo uma “mierda” só e quase dá morte. Não havia em Barcelona nenhuma seta ou sinal de trânsito que indicasse a saída para a cidade vizinha (e para Madrid, nem pensar). Passada a fronteira, 50 metros adiante tinha uma seta indicando Girona.
Mas o que tinham de bairristas eram fantásticos para receber bem o visitante. Diferentemente de Sevilha, no Hotel Expo, onde ficamos, a piscina no terraço expunha a beleza de europeias, asiáticas, africanas, fazendo topless. Mas elas perderam o charme quando chegaram duas mulatas da Beija-Flor de Nilópolis. Peitinhos empinados para a alegria dos fotógrafos estrangeiros. Mas não foi por isso que perdemos a Copa para a Itália depois da lavada de alma contra a Argentina. Tínhamos a melhor seleção do planeta, mas não soubemos jogar uma decisão.
Em Barcelona escolhemos um restaurante que ficava perto do hotel para fazer as nossas refeições. De propriedade de uma família catalã, todos os garçons, cozinheiros e auxiliares eram aparentados. Quando o nosso grupo chegava, era uma festa. Entrávamos na cozinha, preparávamos comida brasileira para servir a outros fregueses e tivemos a ousadia de preparar uma sangria (bebida típica espanhola) que virou opção da casa como a melhor sangria que eles já tinham bebido.
Após a nossa derrota para a Itália cheguei sozinho ao restaurante, praticamente vazio àquela hora. Fui cercado e consolado pelos novos amigos, que tinham passado a torcer por nós após a desclassificação da Espanha. Chorei de emoção com tanto carinho e aconchego. Fizeram uma comida especial para mim e jantamos juntos umas seis pessoas (garçons, auxiliares e eu). Ao me despedir outra surpresa: o jantar era cortesia da casa.
Escrevo tudo isso, a pedidos dos amigos do Pimenta, nos momentos que antecedem a nossa partida contra os espanhóis, hoje a melhor seleção do mundo (embora não seja imbatível), decidindo a Copa das Confederações. Não há nenhum conflito de consciência. Torcerei ardentemente pelo Brasil, mas não posso deixar de lembrar de momentos tão gratificantes dos meus 50 anos de comunicação.
Não vou cometer a hipocrisia de dizer “que vença o melhor”, pois o que quero dizer mesmo é “que vença o Brasil, vamos baixar a crista dessa fúria”, com todo respeito, é claro, ao time de Casillas, Xavi e Iniesta.
Ramiro Aquino é jornalista.