Praia de Santo André, em Cabrália, extremo-sul da Bahia || Foto Reprodução
Tempo de leitura: 2 minutos

Uma festa de Réveillon com público estimado em 600 pessoas está no centro de protestos dos moradores do povoado de Santo André, em Santa Cruz Cabrália, no sul da Bahia.

Nas margens do rio João de Tiba, o povoado tem cerca de 800 moradores e 13 km de praias e fica dentro uma área de proteção ambiental. Ganhou notoriedade em 2014 ao abrigar o Centro de Treinamento da Alemanha durante a Copa do Mundo de futebol.

A principal preocupação da comunidade é que uma festa deste porte desencadeie um surto do novo coronavírus —até segunda-feira (9), o povoado registrou apenas cinco casos de Covid-19, todos eles sem sintomas graves.

A festa, batizada de Réveillon da Vila, começou a ser a anunciada em setembro. A programação prevê seis dias de atividades, entre 27 de dezembro de 02 de janeiro, com a participação de artistas de música pop e eletrônica.

Os eventos devem acontecer no Beach Club da Vila, uma espécie de bar boutique em área de 4.000 m2 montada em frente à praia. O passaporte para os seis dias de programação está sendo vendido por R$ 1.600.

A expectativa é receber um público de 600 pessoas por dia, número que vai de encontro ao decreto do governo da Bahia, que autoriza a realização de eventos para no máximo 200 pessoas.

Um dos produtores do evento, Marcelo Campos, afirma que a concretização da meta de público de 600 pessoas dependerá da autorização das autoridades. E diz que a festa tem condições de ser realizada mesmo com um limite de público de 200 pessoas por dia.

“Vamos seguir todas as recomendações e protocolos. A gente não fará nada fora do determinado pelos órgãos competentes”, afirma o produtor.

A organização ainda informou que se compromete a realizar testes de Covid-19 em todo o público das festas e que disponibilizará assistência médica com acompanhamento da vigilância sanitária local.

O jornal Folha de São Paulo apurou que a secretaria de Saúde da Bahia não deve flexibilizar neste ano o limite de público para eventos no estado, que deve permanecer em no máximo 200 pessoas. A Prefeitura informou que qualquer evento no município deverá respeitar decreto estadual. Confira a íntegra.

Tempo de leitura: 7 minutos

Gerson Marques artigosGerson Marques

 

O desespero já tomava conta de todos, sem verem uma saída para tamanha tormenta, quando um garoto de pouco mais de 12 anos, de nome Catussadas, fez uma singela pergunta, tão simples e inteligente, que nela mesmo continha a resposta e a solução.

 

 

Quando o castelhano Filipe de Guillen chegou aqui, fazia três anos que tinha começado a praga dos sapos. Nestes tempos, viviam em Ilhéus umas oitenta almas – índios e negros não contavam – em umas doze moradias, quase todas no Outeiro de São Sebastião e em três engenhos de cana de açúcar. Eram habitações muito rústicas, feitas de madeira, pedra, barro e palhas.

A pequena igreja de Nossa Senhora e a Casa dos Padres eram as edificação mais importante da Vila, feitas em adobe ajuntado por uma espécie de cimento com areia, pó de conchas e óleo de baleia. Não existia nem um padre morando por aqui, já que não restou um vivo na cidade depois que começou a praga dos sapos. O último, Manoel de Andrade, havia morrido queimado na Santa Fogueira da Inquisição, depois de enlouquecer atormentado com a invasão dos anfíbios batráquios, como explicou Tertulino Alvarenga, o coroinha da Paróquia, que naqueles tempos era única autoridade eclesial da comunidade.

Segundo o relatado na missiva mandada ao Rei D. João III, em 1539, por Filipe Guillen, a Vila era o lugar mais parecido com o inferno que ele podia imaginar, se não fosse aqui o próprio Hades. Ilhéus nesta época vivia uma desolação completa, tomada por uma praga de sapos que invadiu todos os lugares, casas, ruas, igreja, plantações e todo espaço possível. A perturbação era potencializada pelo enorme barulho do coaxar incessante, dia e noite, capaz de enlouquecer até um monge tibetano. O único lugar da cidade que não tinha sapos era a praia.

Essa tragédia teria começado quando o fidalgo português João de Tiba aportou na Vila vindo de Portugal em uma nau muito avariada depois de quatros meses e doze dias de navegação, errante pelo Atlântico. Seu destino era a Capitania de Porto Seguro, onde o donatário Pedro Tourinho teria lhe ofertado uma enorme sesmaria. Trazia na bagagem, entre as coisas que pôde salvar – já que metade dos pertences foram jogados ao mar para aliviar o peso e evitar naufrágio certo -, uma gaiola onde mantinha um rebanho de sapos, trinta fêmeas e seis machos, que, segundo João de Tiba, seria muito útil para comer besouros e todo tipo de inseto que infestavam as terras ainda virgens do Brasil.

Deixando sua carga mal arrumada no improvisado porto da Vila de São Jorge dos Ilhéus, enquanto consertava sua nau, João de Tiba teve sua gaiola de sapos surrupiada pelos moleques que viviam de mariscarem pelo cais. Desta galhofa, terminou que os sapos fugiram e passaram a habitar um brejo mal cheiroso que existia na altura de onde hoje é a Praça Cairu, no centro da cidade. Deste brejo infestado de mosquitos, os sapos se proliferaram de tal maneira que apenas um ano após a malfadada passagem de João de Tiba, a pequena Vila foi tomada por uma sapaiada dos infernos, tornando a vida aqui um suplício.

Um ano antes de sua trágica morte, o padre Manoel Andrade fechou a igreja, entregando-a em definitivo aos sapos, principalmente depois que, no Domingo de Páscoa, os fiéis foram servidos com vinho de um barril infestado de anfíbios, causando febre e dores intestinais em todos. Dizem até que, deste acontecimento, nasceu a expressão “engolindo sapos”.

O padre Manoel de Andrade foi o último de um grupo de cinco padres jesuítas que chegaram a Ilhéus por volta de 1536. Destes, dois foram comidos por Botocudos quando catequizavam na região do Gongogi. Outro morreu afogado em um naufrágio com a canoa que viajava afundando em uma tormenta na foz do Itaípe. Do quarto, corre a história de que teria se achamegado com uma índia e sumido para dentro da floresta, e de quem nunca mais se teve notícias.

Assim, só restou Manoel de Andrade, lusitano de nascimento, da cidade de Aviedo. Ordenado padre no famoso Seminário Nossa Senhora da Conceição na cidade do Porto, chegou ao Brasil ainda novo. Aqui, três anos depois teria sido acometido da loucura dos sapos para uns. Ou possuído pelo diabo, para outros – no caso, os inquisidores da Igreja.

Fato é que o padre Manoel estava cada vez mais esquisito nos últimos tempos, atormentado pelo coaxar incessante de milhares de sapos, dia e noite. Sem conseguir dormir nem comer, foi definhando a cada dia, passava a vida trancado em um minúsculo quarto, em rezas e penitências. Tinha certeza de que sua vida de pastor em Ilhéus era um castigo divino, por ter na infância cometido, de forma excessiva, o pecado da masturbação.

Os sinais da loucura, porém foram se apresentando aos poucos. Quando rezava uma missa, foi tomado por uma súbita crise, agarrando um sapo que repousava sobre a imagem de Nossa Senhora e o devorando vivo, para horror dos fiéis. Tempos depois, criou uma campanha para coletar sapos em troca de bênçãos que, acumuladas em certa quantidade, permitiriam ao fiel, em sua morte, ascender diretamente aos céus sem a necessária passagem pelo purgatório. Chegou a fazer uns escritos: “Duzentos sapos, morte tranquila,; trezentos sapos, morte assistida por anjos; mais de quatrocentos, passagem direta para o céu ao lado de Deus”.

O caso entrou para história da Igreja como a venda de indulgência por sapos. Assim, foi denunciado ao Conselho da Inquisição. Terminou condenado, por heresia, à pena de perder a batina e morrer queimado em uma fogueira. Levado em maio para Portugal, em um galeão da Marinha Real, foi queimado em dezembro de 1539.

Clique no link para ler a íntegraLeia Mais