Flávio, Marcelo, Patrícia e Cíntia cobram resposta do poder público || Foto Pimenta
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Thiago Dias

A zona sul é das regiões mais valorizadas de Ilhéus. Com a maré baixa, a extensa faixa de areia fina é convidativa para caminhadas ou para o tradicional baba de domingo. O terreno plano também é ideal para outros esportes ou para reunir os amigos em volta de uma mesa de tira-gostos e bebidas.

No entanto, nenhuma dessas atividades será agradável se realizada perto dos canais pluviais que desembocam na praia. É que, junto com as águas da chuva e dos córregos, eles levam ao mar o esgoto de ligações clandestinas de casas ou estabelecimentos comerciais, como uma mácula fétida da incivilidade no paraíso.

Água poluída de um dos canais pluviais da Praia do Sul, em Ilhéus

O problema é facilmente driblado por quem vai à zona sul a passeio, mas, para quem investiu alto para morar ali, o mau cheiro de esgoto se tornou uma presença incontornável. É o caso de Cíntia Freire Sá, que mora há cinco anos no Costa Azul, residencial próximo da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB). Um dos canais da rede pluvial deságua na praia ao fundo do condomínio.

“[Me sinto] feliz pela natureza bela e triste pelo esgoto a céu aberto”, disse Cíntia, ao sugerir que o PIMENTA enfatizasse, no texto desta reportagem, o contraste das belezas naturais de Ilhéus com os modos irregulares de habitação comuns na cidade.

Os dias ensolarados reforçam o contraste. O mesmo calor que convida para o banho de mar aquece a água do canal, acentuando o odor exalado na evaporação. O fenômeno é especialmente insuportável na hora do almoço, lamenta Patrícia Bustamante, também moradora do Costa Azul. O apartamento dela fica a menos de 50 metros da desembocadura do canal.

Marido de Patrícia, Marcelo Frange avalia que o problema é tratado com descaso, inclusive pelos ambientalistas. “É uma agressão ao meio ambiente. Ninguém vê? Ninguém se mobiliza?”, questionou.

Moradores do Costa Azul pedem socorro contra esgoto que deságua na praia ao fundo do condomínio || Foto Pimenta

Os moradores do Costa Azul, que receberam o PIMENTA no condomínio, dizem evitar o banho naquela praia. Segundo eles, algumas pessoas já adoeceram após tomar banho ali. A associação desses relatos com a água poluída lhes parece inevitável.

EMBASA E PREFEITURA SE MANIFESTAM

O site levou a reclamação dos moradores ao secretário de Meio Ambiente de Ilhéus, Diego Messias. Ele confirmou que o problema é originado por ligações clandestinas de esgoto e afirmou que enviará equipe de fiscalização ao local, com o objetivo de identificar a origem das ligações e autuar os responsáveis. Segundo o secretário, a inspeção costuma ser feita em conjunto com a Embasa.

O PIMENTA também buscou posicionamento da Embasa. O gerente do escritório local da concessionária em Ilhéus, José Lavigne, explicou, em nota, que a fiscalização da rede pluvial cabe à Prefeitura, segundo o Código Ambiental.

O canal é questão, conforme Lavigne, “é alvo do lançamento de ligações clandestinas de esgoto na rede de drenagem nos bairros Hernani Sá, Barreira, Nelson Costa e adjacências”.

“Todos esses bairros têm Sistema de Esgotamento Sanitário (SES) com moderno tratamento, devendo cada morador entroncar o esgoto doméstico na rede coletora da Embasa, conforme a lei estadual 7307/1998”, concluiu o gerente.

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Embasa alerta para risco de racionamento de água em Ilhéus (Reprodução).
Embasa alerta para risco de racionamento de água em Ilhéus (Reprodução).

Ilhéus poderá viver novo racionamento de água, segundo alerta emitido pela Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa). De acordo com relatório, o nível de água da represa do Iguape já está 80 centímetros abaixo do ponto máximo de acumulação. No sul da Bahia, Itabuna já vive sob racionamento de água há uma semana.

– Caso atinja dois metros, defenderemos uma nova redução do volume de água distribuído à população até que a barragem volte a níveis seguros – informou o gerente do escritório local da Embasa em Ilhéus, José Lavigne.

Segundo Lavigne, o volume médio atualmente distribuído para os subsistemas centro e norte é de 20 mil metros cúbicos, por dia.  O nível da barragem vem caindo por causa da estiagem no sul da Bahia e o aumento de consumo de água no verão. O município viveu racionamento d´água em 2016, por causa da forte estiagem que atingiu a região.

O alerta de possível racionamento foi emitido pela empresa estadual durante encontro de dirigentes da Embasa com representantes da prefeitura e do Ministério Público Estadual (MP-BA). A barragem do Iguape é o principal manancial do sistema de abastecimento do município sul-baiano.

COLAPSO HÍDRICO

Secretário de Planejamento e Desenvolvimento Sustentável de Ilhéus, o vice-prefeito José Nazal disse que a implantação de novo sistema de racionamento “passa por uma situação de emergência, que pode ser decretada pela prefeitura caso se esgotem todas as possibilidades em curto prazo”. Nazal afirma que a ação será preventiva. “Agiremos antes da iminência de um colapso hídrico”, autor da convocação da reunião.

Os investimentos realizados pela Embasa em 2016 para aumentar a distribuição de água captada na barragem do Rio Santana, que atende a zona sul de Ilhéus, já estão reforçando o abastecimento da porção central da cidade em 3 mil metros cúbicos por dia, segundo a Embasa. A medida evita a retirada deste mesmo volume do Iguape.

BARRAGEM DA ESPERANÇA 

 

A promotora regional de Meio Ambiente em Ilhéus, Aline Salvador, informou que vai requerer do Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) informações sobre a situação de todas as outorgas de exploração da bacia hidrográfica do Iguape.

– De nada adiantam medidas protetivas se não houver estudos sobre a real capacidade de suporte e adoção de critérios claros para o uso da água – ressaltou.

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Moradores do Nelson Costa, zona sul de Ilhéus, reclamam da constante falta d´água no bairro. As vítimas da Embasa, dizem, já estiveram várias vezes no escritório da companhia para reclamar, mas o problema até agora não foi resolvido.

A “seca” atinge mais de uma centena de residências situadas em vias próximas (avenida Lótus e ruas Gardênia, Hortência, Jasmim, Orquídea, Eucário Bastos e Mangueira).

A pouca sensibilidade da empresa prejudica consumidores residenciais e comerciais da localidade. A água chega sem pressão suficiente para alcançar os reservatórios. Aí, relatam as vítimas, é um corre-corre para encher pequenos vasilhames e esperar que o milagre se repita em qualquer outro dia da semana.

Indignados, os moradores ameaçam fazer protesto com baldes (vazios, logicamente!) e vassoura em frente ao escritório da empresa – onde, garantem, prestarão as devidas homenagens ao chefe da Embasa em Ilhéus, José Lavigne.

A turma tá braba, Zé!