Com seu estilo que desencobre belezas e dramas da cotidianidade, o escritor Rodrigo Melo nos transporta para um fim de tarde qualquer em 1976, em pleno 2021
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Um dia, de frente pro espelho, do nada dei de procurar o sujeito que eu achava que era. Meia hora ali, em uma extenuante busca, e ele não estava lá. Em seu lugar, um quase estranho, feio e esquisito, desses que a gente sempre vê de relance e que nunca chega a saber verdadeiramente quem é.

Rodrigo Melo

Uruçuca é um remanso. Não há turistas com camisas floridas e protetores solar andando por suas ruas, muito menos hipsters com tatuagens e barbas cultivadas, nem surfistas, skatistas ou alpinistas, e acho que também nunca vi um policial em patrulha. Na verdade, lembro desse único que frequentava o dominó dos velhotes na praça, mas ele não usava arma nem colete e passava os dias por ali, fechando uma partida após a outra. Outro fato curioso é que uma boa parte da população, feito em várias outras cidades, não usa máscaras: os pontos cheios, o carrinho do pastel rodeado de gente, e todo mundo naquele esquema de conversar e soltar perdigotos sem parar. É como se a cidade tivesse parado em algum dia em 1976 e ainda continuasse lá, preservada em um tipo de inocência que não serve pra muita coisa, a não ser que o sujeito seja um enviado de Deus, tenha desistido ou esteja prestes a desistir. E era justamente desse jeito que eu andava, não como um enviado de Deus, mas parecido com um quase desistente, e até continuaria assim, não fosse essa ventura que veio através do que lá fora chamam de wake up cool ever – acho que é isso -, que significa, basicamente, uma chamada de consciência absoluta. Um dia, de frente pro espelho, do nada dei de procurar o sujeito que eu achava que era. Meia hora ali, em uma extenuante busca, e ele não estava lá. Em seu lugar, um quase estranho, feio e esquisito, desses que a gente sempre vê de relance e que nunca chega a saber verdadeiramente quem é.

Mas então eu estava com algumas sacolas de mercado nas mãos, caminhando até a banca de cigarros, quando, ao passar pela porta de um estabelecimento, alguém me chamou.

– ei – a mulher disse. – vem beber um copo comigo.

Devia ter uns trinta e poucos anos, cabelos castanhos escorridos, unhas pintadas, o vestido florido com uma das alças caindo. Tinha o rosto bonito. Estava sentada em uma das mesas, com um copo de cerveja à sua frente. Na fachada do bar, em cimento, o nome do supermercado Iguatemi.

– agora não posso – respondi. – Preciso resolver umas coisas.
– resolve depois.
– são urgentes.
– vou esperar você voltar – ela falou, dando um gole.

Não encontrei Hollywood na banquinha. Comprei um Broadway, que me deixa com um pigarro do caralho, e esperei o homem trocar o dinheiro. Depois fui até o carro, guardei as sacolas cheias de verduras, peguei a sanduicheira que quebrou com uma semana de uso e segui até a loja em que a havia comprado. O atendente disse que a garantia deles tinha expirado, mas que a empresa talvez trocasse por uma nova. Deixei a sanduicheira com ele e voltei para o carro. Bastava ligar o motor e voltar pra casa. Era simples, meia hora de estrada. Eu colocaria uma música boa e a viagem seria ainda mais rápida. Antes de ligar, no entanto, pensei na mulher. Era bonita. Estava mal cuidada, como muita gente, inclusive eu, mas manteve o sorriso largo e um brilho diferente nos olhos, feito esperança, embora também houvesse um tanto de desespero e de solidão. É isso o que os dias fazem com a gente, imaginei ela dizendo para alguém, ajeitando o cabelo castanho que caía sobre os olhos. Veio alguma coisa naquele momento, mas eu não sabia o que era. Nem tesão, nem simpatia. Acho que curiosidade. Saltei do carro, tranquei a porta e voltei.

Ela estava na mesma mesa, agora acompanhada de uma amiga, uma morena grande e larga que falava sem parar. As duas colocaram as máscaras, que estavam no queixo, quando entrei.
– sabia que ia voltar – ela disse.

Fui até a mesa ao lado da delas e me sentei.

– fiquei pensando na cerveja.
– Daiane, pega uma cerveja – ela disse pra amiga. – o homem aqui está com sede.
– isso aqui era um supermercado antes? – perguntei.
– parece que sim.
– e, agora, é um bar.
– um puteiro também.
– não tinha imaginado.
– tá na cara. quer ir lá atrás? Tenho um quarto.
– hoje não. vou ficar só com a cerveja.
– tá com medo de morrer…
– se estivesse, não me sentaria aqui.
– eu já me vacinei. Tenho pressão alta.
– não é isso. só quero beber a cerveja e ir pra casa.

Daiane voltou e colocou a cerveja nos copos, primeiro no delas e depois no meu. E nós começamos a conversar: sobre o calor da tarde, sobre uma amiga delas que estava intubada, sobre uma das músicas que tocavam na caixa de som. Eu às vezes fechava os olhos e me imaginava cantando a música, o efeito da segunda e terceira cervejas já batendo na porta, um náufrago se deixando levar pela corrente em busca de algo pra se segurar. Uma hora Daiane me encarou e disse:

– parece que você tá com a cabeça longe.
– Passei por um Wake up cool ever – disse -, e estava pensando no que tenho que fazer.
– que merda é isso?
– é quando a gente leva um susto, Daiane. E, depois desse susto, volta a se achar.
– levou susto, foi?
– alguns. Mas com todo mundo é assim.
– com todo mundo é assim – ela respondeu.

Daiane fez um brinde, vindo até a minha mesa e levantando o copo no ar. A outra, que se chamava Rosália, fez o mesmo e eu automaticamente fiquei de pé e levantei o meu. Todos com a porra da máscara no queixo. E, naquele momento, um pouco porque eu já estava meio bêbado, aqueles copos passaram a ser a extensão dos nossos corpos e eles se encontraram e permaneceram por alguns segundos juntos, o barulho do vidro a tilintar naquela comunhão, em plena pandemia, em um puteiro com o nome de supermercado iguatemi. Olhei para a rua e, de onde estava, pude ver o sol começar a se pôr, o sol de Uruçuca, uma panela de ouro a reluzir sobre o teto das casas, e permaneci por um instante em silêncio, observando o céu mudar de cor, ficando abóbora e cor de rosa, depois roxo e azul, até que enfim o sol se transformou em uma pequena curva branca no horizonte e o céu ficou escuro e a noite chegou. Eu nunca as tinha visto, mas não importava. Era como se estivesse entre amigos, gente que se entendia porque se conhecia há muito tempo, mesmo sem lembrar, e eu só precisasse ficar mais um pouco ali. Ou, foi o que pensei na hora, era também como se nós três, eu, Rosália e Daiane, tivéssemos de alguma forma burlado o tempo e de repente voltado a qualquer fim de tarde em 1976.

Rodrigo Melo é escritor; publicou Jogando dardos sem mirar no alvo (Mondrongo, 2016), O sangue que corre nas veias (Mondrongo, 2013), Enquanto o mundo dorme (Penalux, 2016) e Riviera (Mondrongo, 2020). 

Cyro de Mattos lança "Canto até Hoje" em live no dia 8
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O escritor e poeta Cyro de Mattos fará uma live, às 19h do próximo dia 8, para o lançamento e sua mais nova obra, Canto até Hoje. A publicação marca os 60 anos da carreira literária do itabunense que tem legado de 56 livros editados em 14 idiomas no Brasil e no exterior.

Canto até Hoje tem 800 páginas e vem em edição impressa e para download, com capa assinada pelo artista plástico Juarez Paraiso, que ganhou em sua homenagem a poesia que dá nome à publicação.

O autor teve seus primeiros textos lidos e reconhecidos pelo escritor João Ubaldo Ribeiro e ganhou muitas resenhas e indicação para a Academia Brasileira de Letras pelas mãos do conterrâneo Jorge Amado.

As suas obras, editadas em 14 idiomas, foram publicadas em países como França, Alemanha, Itália, Portugal, Espanha, Dinamarca e Estados Unidos.

O lançamento, no próximo dia 8, será ancorada no canal do YouTube da Fundação Casa Jorge Amado, mediada pela jornalista Mira Silva. O evento terá entre os convidados especiais a escritora e psicóloga Lilia Gramacho, o romancista e poeta Aramis Ribeiro Costa, o jornalista Oscar D’Ambrosio, o poeta e ensaísta Cid Seixas e Ângela Fraga, presidente da Fundação Casa de Jorge Amado.

O professor e comunicador Odilon Pinto e dois de seus filhos
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Aos 72 anos, com a diabetes aperreando, morreu vítima de infarto, deixando um legado importante para a comunicação e a educação do Sul da Bahia. Mais um exemplo de vida que nos deixa fora do combinado.

 

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Até parece que foi combinado: Na terça-feira (12) o jornalista Tyrone Perrucho nos deixa aqui neste mundo, e na quarta-feira (13), sem qualquer aviso-prévio, toma o mesmo caminho o radialista, jornalista e professor Odilon Pinto. Além da tristeza e saudade, passo a me considerar um estranho obituarista – função que existe numa redação – essencial para informar os que partem.

Mas como dizia Odilon Pinto: “Rosário, o jornalista é o grande secretário da sociedade, o encarregado de lavrar a ata dos feitos deste mundo, sejam eles bons ou ruins, não importam, têm que ser anotados”. Há alguns anos que não via e nem tinha notícia de Odilon, que há muito se transformou numa pessoa caseira, com o ofício de cuidar da diabetes que lhe acometia e da Língua Portuguesa.

Odilon Pinto era uma artista nato, um homem show, que dedilhava o violão, tocava “sanfona” ou outro tipo de instrumento, amparado por sua voz a cantar músicas de todos gêneros, como já fizera em bandas regionais. A partir dos anos 70, se dedicou às músicas para o homem do campo, como uma extensão do programa De Fazenda em Fazenda, produzido pela Divisão de Comunicação da Ceplac (Dicom).

Narrar, em poucas palavras, a que se prestava o De Fazenda em Fazenda é essencial para conhecermos mais Odilon e sua atuação para agregar todo o pacote tecnológico da Ceplac às fazendas de cacau, convencendo produtores e trabalhadores rurais. Era a comunicação de apoio dos extensionistas, com uma linguagem apropriada para que as práticas agrícolas fossem feitas em sua plenitude. Esse era o nosso mister.

E Odilon chegou à Ceplac com uma bagagem importante: saber se comunicar de forma simples, direta, de igual para igual com os homens que permaneciam no campo e aqueles que se mudaram para a cidade. Esse traquejo vinha da sua larga militância no PCdoB, o que lhe rendeu, além de um grande conhecimento sociológico e antropológico, alguns dissabores, a exemplo do convívio no xadrez por ordem das autoridades militares.

E a necessidade da Ceplac – ainda nos anos de chumbo – e o cabedal de conhecimento de Odilon casaram-se perfeitamente. Com o programa radiofônico em alta, foram aparecendo seus subprodutos, como o “Forró do Mata o Veio” e o programa radiofônico Namoro no Rádio, que encantava a todos. Lembro bem que recebíamos até 700 cartas por semana, correspondências estas enviadas das roças por pessoas pouco alfabetizadas.

E a finalização do De Fazenda em Fazenda era a apoteose com o quadro “Vida na Roça”, tirado das singelas cartas, com toda a verve de Odilon, fazendo com que muitos chorassem. Chegaram as mudanças políticas em nível nacional, eis que a nova direção da Ceplac resolve trocar a veiculação do programa, tirando-o da Rádio Jornal de Itabuna e levando-o para a Rádio Difusora de Itabuna.

Nadando contra a correnteza, Odilon se nega a apresentar o programa na nova emissora e cria o programa Na Fazenda do Odilon, continuando na Rádio Jornal, apesar da ameaça do desemprego. Enquanto isso, continua dando suas aulas de português em diversos colégios de Itabuna, na atual Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc). Odilon era diplomado em Letras e mestre e doutor em Literatura e Linguística.

Sem perder a simplicidade, continuou apresentando seu programa das 4 às 6h40min, dando aulas nos colégios e universidade, por muitas vezes fazendo esse périplo a pé e de ônibus, numa demonstração de como administrar seu tempo. Volta e meia a diabetes lhe consumia, e ele resolvia tocar o barco pra frente, com mais uma atividade, a exemplo de uma assessoria de comunicação e até ingressar na política.

Esse seu conceito e densidade eleitoral chega aos ouvidos do então candidato a governador Pedro Irujo, que o filia ao PRN e o faz candidato a deputado estadual, com a possibilidade de estar entre os mais votados, conforme as pesquisas. Como não poderia apresentar seus dois programas, substituo-o, mantendo o mesmo estilo, enquanto ele viajava dia e noite para manter o contato com os eleitores.

Disparado nas pesquisas, Odilon comete o pecado de não planejar a famosa boca de urna, e no dia da eleição sai de casa apenas para votar e aguardar a apuração. O resultado não poderia ser dos piores, todas as suas intenções de voto foram providencialmente trocadas nas entradas das cidades, comandadas pelos prefeitos e seus cabos eleitorais, com polpudas ofertas em dinheiro ou outros bens de consumo.

A fragorosa derrota não abalou Odilon, que continuou seu labor no rádio e nas salas de aula. Anos depois, retorna ao seu antigo partido, o PCdoB, porém não se aventura a outra candidatura. E assim esse piauiense tocava sua vida, sem reclamar da sorte, nem mesmo dos períodos em que passou fugitivo trabalhando na zona rural, ou na prisão, onde sofreu todos os tipos de tortura.

Assim como o colega Tyrone Perrucho, Odilon Pinto de Mesquita Filho era agnóstico, mas convivia com as crenças. Sonhava com o delta do Parnaíba, no qual passou parte de sua vida, que levava na esportiva. Numa das nossas muitas viagens, uma delas à Amazônia, não perdia a fleuma em nos acompanhar – a mim e ao fotógrafo Águido Ferreira – nas incursões aos bares e restaurantes, mesmo que tivesse de tomar duas doses de insulina.

Com o tempo, passou a apresentação do programa na Fazenda do Odilon para o filho Rivamar e se dedicou exclusivamente à educação, aos livros e aos artigos que escrevia para o Diário Bahia. Aos 72 anos, com a diabetes aperreando, morreu vítima de infarto, deixando um legado importante para a comunicação e a educação do Sul da Bahia. Mais um exemplo de vida que nos deixa fora do combinado.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado e mantém o blog walmirrosario.blogspot.com.br

Renata lança obra poética neste domingo || Foto Diego Orge
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Lu Amâncio

Convidar o leitor para um mergulho em silêncios que proporcionam a descoberta e autonomia de uma voz. Um grito palpável. Palavra que pulsa na página e se faz poesia. Essa é a essência de GRITO – silêncios ecoando em minha voz, novo livro da escritora baiana Renata Ettinger que traz 45 poemasem uma sequência temática que funciona como guia para o processo de desenvolvimento da arte de se expressar buscada pela autora. O lançamento oficial da obra acontece no próximo domingo, dia 06, às 18h, com um bate-papo online – pela plataforma Zoom – com a escritora e leitura de poemas.

GRITO é meu segundo livro de poesia, que nasceu depois de um silêncio de quase 20 anos e de um último poema que dizia “Não vou mais cantar”. Foi preciso tempo para maturar minha palavra. Para “ser corpo/ e casa/ e melhor morada/ para minha própria/palavra”. Para me entender uma voz. Uma voz que não tem medo de ser ouvida. Por isso, GRITO”, explica a autora, em tom de poesia.

As pessoas interessadas em adquirir a obra ou saber mais informações devem visitar o site www.renataettinger.com.br. O link para participar do evento será disponibilizado no dia do lançamento, no Instagram @renataettinger.

A AUTORA

Baiana de Itabuna, Renata Ettinger é poeta e dizedora de versos, publicitária e arteterapeuta junguiana. Seu primeiro livro, Um eu in verso, foi publicado em 2002 e, há dois anos, participou da coletânea “Oito Polegadas”, junto com Mário Garcia Jr., Nalini Vasconcelos e Ricardo Guedeville.

Durante o período de isolamento social, realizou o projeto Quarentena com Poema (QCP)”, quando compartilhou diariamente poemas em áudio com amigos e interessados em poesia. Foram 215 dias consecutivos de poesia para ouvir e sentir, com mais de 70 autores contemplados. O projeto, inclusive, já pode ser conferido nas principais plataformas de streaming (Spotify, Deezer, Google Podcasts, entre outras), assim como o “Trago Poemas”, sua mais nova empreitada que tem um formato semelhante ao QCP, mas com uma periodicidade menor (2 ou 3 vezes por semana). Além disso, a escritora também compartilha seus poemas através do https://complexodefenix.wordpress.com/https://complexodefenix.wordpress.com/ .

Cyro, no destaque, e o autor da homenagem, Edvaldo Brito
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O escritor itabunense Cyro de Mattos foi agraciado ontem à noite (3) com a medalha Zumbi dos Palmares pelo conjunto da sua obra, que destaca a cultura negra e a luta contra os preconceitos. Proposta do vereador Edvaldo Brito (PSD) e aprovada por unanimidade, pela primeira vez na Câmara Municipal, a entrega da comenda foi feita durante sessão solene virtual. O evento reuniu dezenas de convidados numa plataforma de videoconferência, entre eles o desembargador João Augusto Pinto, representando o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), o reitor da UFBA, João Carlos Salles e colegas do homenageado das Academias de Letras da Bahia, Ilhéus e Itabuna.

A saudação foi feita pelo vereador Everaldo Brito, que destacou que “o afetivo é o efetivo da vida” e abordou a carreira do escritor e advogado com mais de 50 livros publicados no Brasil e em vários países. “Pela grande importância no mundo das letras e cultura, ao longo de mais de sessenta anos, pelos relevantes serviços produzidos para a valorização do negro afrodescendente, por seu discurso literário que contribui para ampliar uma visão mais justa sobre esse valoroso elemento formador do Brasil, para o qual temos uma dívida impagável, é justo que se conceda a Medalha Zumbi dos Palmares a Cyro de Mattos, um dos autores mais traduzido e publicado no exterior, entre os escritores vivos da Bahia”.

Emocionado, Cyro agradeceu a homenagem ao seu colega de turma na Faculdade de Direito e também agora na Academia de Letras da Bahia, e leu um poema onde a tônica foi o sofrimento dos escravos e a luta pela liberdade: “Muito obrigado a você, Brito, e a todos os que me incentivaram nesta minha caminhada de escritor, principalmente à minha esposa Mariza e meus familiares, e é uma honra ser lembrado com a medalha que neste mês destaca um dos maiores heróis nacionais”.

Reunião para discutir planejamento do concurso literário organizado pelo Rotary Club Itabuna
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O Rotary Club de Itabuna realizou a primeira reunião presencial de planejamento do Concurso Literário Adelindo Kfoury Silveira, evento que conta com o apoio da Secretaria de Educação do Município. Com a participação da secretária de Educação, Nilmecy Santos Gonçalves, da assessora de Direção, Shirlene Silva Alves, e dos representantes do Rotary Club de Itabuna, Elias Veloso, coordenador da Comissão de Projetos Humanitários, e Gersolita Dagorete, coordenadora responsável pela Comissão da Juventude, o encontro ocorreu na Prefeitura de Itabuna.

Em virtude da suspensão das aulas devido à pandemia da Covid-19, houve atraso no calendário e a realização do concurso foi adiada. Essa semana, com o retorno das aulas para os alunos do 9º ano, público que participa do concurso, foi retomado o planejamento do projeto, cujo lançamento será feito em breve.

Segundo a rotariana Gersolita Dagorete, o encontro presencial teve o objetivo de verificar qual a melhor forma, diante do atual cenário, de realizar todo o projeto. “Estamos discutindo como será feito o lançamento, as orientações que serão passadas aos jovens e qual será o formato do projeto, tendo que se adaptar ao novo contexto, para que possamos em breve publicar o regulamento e revelar o tema das redações”, explicou.

De acordo com o calendário rotário, setembro é o mês que simboliza a educação básica e alfabetização, e o projeto, que tem o objetivo de estimular a leitura e produção literária entre o público jovem, consiste na elaboração de redações por estudantes do ensino público municipal, que são escolhidas por uma comissão e as três melhores são premiadas em noite festiva com participação das famílias e professores dos alunos que se destacam.

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Começa no próximo dia 24 o Festival Literário Sul-Bahia (Flisba), com o tema Primavera Literária e totalmente online. O evento, que se propõe a ser um espaço de intercâmbio para a promoção da literatura e dos processos criativos dos escritores regionais do sul da Bahia, é uma ação cultural que busca a difusão das artes literárias a partir de uma homenagem a Clarisse Lispector e João Cabral de Melo Neto pelo centenários de nascimento, além de resgate das obras Jorge Amado e Adonias Filho, pilares da literatura cacaueira.

“O Flisba busca vistas a estimular a leitura, difundir os escritores regionais, desenvolver a aproximação dos agentes culturais do campo da literatura e promover atividades que exercitem reflexões sobre a cultura, questões ambientais, questões ligadas à à diversidade de gênero, uso das redes sociais e tecnologias”, afirma Efson Lima.

As mesas literárias vão ocorrer pelas tardes e noites. A transmissão das mesas do evento será pelo Youtube, que será retransmitida para o Facebook. Já as Oficinas Literárias vão ocorrer no turno da manhã pela plataforma Zoom e terão suas inscrições realizadas de forma antecipada pelo Sympla com datas a serem divulgadas nas redes sociais do evento.

As pessoas que vão acompanhar as mesas online e possuem interesse em receber certificação poderão fazer a inscrição pela plataforma Sympla pelo link https://www.sympla.com.br/festival-literario-sul-bahia—-flisba__969831

O Festival Literário Sul-Bahia terá um Slam, Slam Sul Bahia, que também vai receber inscrições. O Edital e o link para as inscrições podem ser conferidos na página https://www.sympla.com.br/slam-sul-bahia—flisba__969859. Os vencedores vão receber brindes. As inscrições são gratuitas. Os participantes serão certificados pela participação no Slam.Leia Mais

"Um poema pra cada dor" será lançado durante live neste final de semana
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Um poema pra cada dor é o livro que será lançado na Dinamarca, neste final de semana, pela comunicóloga Amanda Maron. Ilheense de nascimento, formada em Comunicação Social pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e com MBA em Marketing Digital, Amanda mora há quatro anos na Dinamarca, onde faz mestrado em Cognição e Comunicação, na Universidade de Copenhague.

A publicação é independente e pode ser adquirida pelo valor promocional de R$47,90 (frete incluído) até domingo, através de pedidos pelo email amandamaron@gmail.com. Numa live neste domingo (21), às 14 horas (horário de Brasília), a autora falará sobre a obra, com apresentação de poemas, todos musicados pela artista baiana Lígia Callaz. A transmissão ocorrerá pelo instagram da autora.

O prefácio do livro é assinado pelo professor Luiz Felipe Souza Coelho, Doutor em Física, professor do IF-URFJ, poeta e historiador. O professor escreve: “O fato é que açúcar dos sonhos corre nas veias da poeta, a menina que cria universos onde o infinito brilha no olhar. (Brilhará também no olhar do outro, do amor que talvez tenha sido em parte criado por ela mesma? Será relevante para um Deus saber se as criaturas do Mundo que criou o amam? Quem sabe?)”.

“Escrevi meu primeiro poema aos 13 anos. Nessa fase difícil, em que eu descobria o amor e suas dores, minha poesia era a minha forma de me curar. Esse livro é uma coletânea de dores e amores e amantes. E com minhas rimas eu divido com o público um pouco de mim”, destaca a autora. “Desde pequena, desde aqueles dias em que eu passava por fachadas dentro do carro e tentava ler todas elas em voz alta enquanto descobria o sentido das sílabas, desde os dias em que, nervosa para entender, tentava ler os artigos do meu pai no jornal, eu sonhava em palavras”, completa. Amanda é filha do jornalista Maurício Maron.

ESCRITA CRIATIVA

Paralelamente ao lançamento da obra, a comunicóloga também está apresentando o site da sua nova empresa de escrita criativa (www.amandamaron.com) na Dinamarca, com tradução em português e inglês. “Escrever é a minha paixão e eu faço disso o meu trabalho e o meu hobby. Criar essa empresa é a realização de finalmente trabalhar com aquilo que eu amo e não sentir que estou trabalhando”, define o novo projeto.

Com mais de cinco anos de experiência em escrita criativa, edição de livros, direito autoral, e mídias sociais, Amanda também é autora e vende títulos neste site. Em ‘Serviços’, você vai encontrar uma seleção de serviços de comunicação, revisão de textos, edição e criação de texto, assim como voiceover, narração, storytelling e outros.

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Padura fala de romances e Brasil em entrevista na TVE

Romancista, roteirista de cinema e jornalista, Leonardo Padura é o convidado de Bob Fernandes no TVE Entrevista Especial desta quarta-feira (4), às 21h30min, na TVE Bahia. Reconhecido internacionalmente, o escritor é autor da série de romances Estações em Havana, publicada em mais de 15 países. Em conversa descontraída, Padura fala de literatura, dupla nacionalidade e seu olhar sobre o Brasil.

Premiado escritor cubano, Padura é autor do livro O homem que amava os cachorros, considerada sua obra máxima, em 2013. Questionado sobre seu processo de escrita, ele diz ser um mistério, entretanto fala sobre os caminhos de criação dos seus romances. Na entrevista, ele comenta da importância da comunicação com os leitores. “Não acredito na literatura que se auto consome ou que escreva para si mesmo”, opina.

Convidado a falar sobre o Brasil, Leonardo destaca a cultura literária, musical e do futebol. Diz acompanhar com interesse as notícias do país e comenta o cancelamento do programa Mais Médicos que, na sua opinião, prejudicou pessoas muito pobres e marginalizadas. “Tiveram, graças aos médicos cubanos, uma atenção em saúde de primeiro nível”, ressalta.

O TVE Entrevista Especial com Leonardo Padura será exibido em horário alternativo no sábado (7), às 15h, e no domingo (8), às 19h. Além da TV, a entrevista poderá ser acompanhada também no Portal www.tve.ba.gov.br/tveonline.

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Efson lançará Textos Particulares em sessão de autógrafos nesta sexta (4) || Foto Divulgação

Com sessão de autógrafos, o escritor, professor e advogado Efson Lima lançará a obra Textos Particulares na próxima sexta-feira (4), às 18h, na Livraria LDM, do Glauber Rocha, na Praça Castro Alves, em Salvador. O evento terá pocket show e recital de poemas do livro.

O livro Textos Particulares está sendo lançado pela Editora Cogito e conta com apresentação do doutorando em Ciência da Informação Bruno Almeida e prefácio do vice-presidente da Academia de Letras da Bahia (ALB), Nelson Cerqueira, além de posfácio do poeta Geraldo Lavigne de Lemos, da Academia de Letras de Ilhéus. O texto de orelha é do escritor e membro da ALB, Marcos Vinicius Rodrigues.

A OBRA

O livro tangencia a vida do autor, mas se engana quem o toma numa perspectiva individualista. Os poemas refletem o cotidiano das pessoas, da sociedade e das circunstâncias do nosso tempo e das questões que afligem o caminhar humano. São problemas concretos que o autor reclama solução e insiste em denunciar.

Os textos refletem as vivências do interior da Bahia, especialmente, das cidades de Itapé e Ilhéus, respectivamente, a cidade natal do autor e sua cidade adotiva, onde chegou aos 11 anos de idade. Ambas nutrem o sujeito e oferecem predicados. A civilização grapiúna, o chão de cacau e as vivências universitárias em Salvador são apresentados em poemas curtos, mas com certa intensidade.

O AUTOR

Doutor em Direito pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Efson Lima é mestre e graduado em Direito (UFBA), além de professor e coordenador geral da Pós-graduação, Pesquisa e Extensão da Faculdade 2 de Julho (F2J). Foi um dos criadores do Projeto Conviver e um dos membros organizadores, publicando seis livros. Três destes literários. Ele também é coordenador de Assistência Técnica e Inclusão Sócioprodutiva na Setre-BA, acompanhando os Centros Públicos de Economia Solidária (Cesol) do Estado da Bahia.

SERVIÇO
Lançamento do livro Textos Particulares
Quando: 4 de outubro de 2019, às 18h
Onde: Livraria Leitura LDM do Glauber Rocha – Praça Castro Alves
Valor do Livro: R$ 25,00

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Fernando Vita lança nova obra nesta quinta, em Salvador || Foto Divulgação

Demóstenes Teixeira

República dos Mentecaptos, uma hilariante história de mandriões, cortesãs, espertalhões e certos valdevinos de modo geral é o mais novo livro do jornalista,  escritor e conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios, Fernando Vita. A obra será lançada, nesta quinta-feira (12), na Livraria Saraiva do Shopping Salvador.

Assim como em suas duas últimas obras, Cartas Anônimas (2011) e O Avião de Noé (2016), também lançados pela Geração Editorial, a história se passa em Todavia, cidade imaginária situada no recôncavo baiano, e conta as aventuras do prefeito Augusto Magalhães Braga, o AMB, um devotado “carlista” que quer fazer seu ídolo, o então governador Antonio Carlos Magalhães, “Presidente da República da Bahia”, e ele próprio, de quebra, governador de Todavia – seu município – agora transformado em estado

Desta vez, o livro conta com elementos de uma autoficção, já que o autor-personagem conduz a narrativa e conta a história do transloucado prefeito – de quem acabou sendo nomeado assessor, por recomendação de Antonio Carlos Magalhães, que providenciou a sinecura para mantê-lo fora da Cidade da Bahia nos anos mais duros da “gloriosa revolução democrática de 1964”. Isto para evitar que levasse uns tabefes dos milicos depois que o dito cujo foi acusado de ter um viés comunista.

Refugiado em Todavia, passa a conviver com malucos, malandros, espertalhões e mulheres – da vida ou não -, entre outros personagens da província, e a viver os dramas do cotidiano do poder municipal, das disputas políticas, das traições, dos conchavos. Participa e tenta até mesmo consolar o prefeito atingido por um infausto episódio de traição conjugal – não por parte da mulher, mas da amante, o que é pior.

Para ajudar a polir os cornos, por recomendação de ACM, guia o prefeito AMB por um tour no Primeiro Mundo, por Paris, Roma e Lisboa  em busca de experiências administrativas exitosas a serem implementadas em sua Todavia e até mesmo, falsamente justifica, de recursos  fartos de organismos financeiros internacionais para custeá-las.

O problema é que o prefeito AMB não tira da cabeça o plano maluco de transformar a Bahia numa República, para que seu líder, ACM, possa exibir a faixa de presidente no peito. E ele próprio, o título de governador, já que todos os muitos municípios seriam transformados em estados, distritos em municípios, vilas em distritos, paróquias em dioceses e por aí vai, numa louca revolução sem outra arma que não a caneta do poderoso caudilho baiano e que não deixaria de atingir nem mesmo a justiça, com simples comarcas virando tribunais de justiça e tribunais de todas as bitolas ganhando estágio bem superior, de supremos seriam chamados.

A história é contada por Fernando Vita em seu estilo único na literatura brasileira, já consolidado nas obras anteriores, como Tirem a doidinha da sala que vai começar a novela (Casa de Palavras, Fundação Casa de Jorge Amado, 2006), Cartas Anônimas – Uma hilariante história de intrigas, paixão e morte (Geração Editorial, 2011) e O avião de Noé – Uma hilariante história de inventores, impostores, escritores e outros malucos de modo geral (Geração Editorial, 2016). Isto é, num texto falado, cujo ritmo envolve o leitor na trama e o faz “se embolar de rir” – como se diz na Bahia.Leia Mais

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Efson Lima || efsonlima@gmail.com

 

 

 

O escritor pertence ao mundo. É símbolo de nossa terra, nascido em Ferradas, em Itabuna, não só se imortalizou, mas imortalizou-nos na literatura universal.

 

O nosso autor sul-baiano mais destacado da literatura nacional completou 107 anos em 10 de agosto de 2019. Imortalizado na Academia de Letras de Ilhéus, Academia de Letras da Bahia e Academia Brasileira de Letras permanece vivo. Certamente continuará povoando nossas cabeças, nosso imaginário e seduzindo milhares de pessoas para a literatura, assim como eu fui atraído por Capitães da Areia e Gabriela, Cravo e Canela, entre outros clássicos. Em Ilhéus. Somou-se a Abel Pereira e a Nelson Schaun, Wilde Oliveira Lima e Plínio de Almeida, os quatro últimos membros da Comissão de Iniciativa, para fundar a Academia de Letras de Ilhéus, em 1959, que vivencia o ano diamante.

Na Academia de Letras de Ilhéus pertenceu a cadeira de n° 13, cujo patrono, Castro Alves, o influenciou na produção de suas obras. Por sinal, neste ano, a Literária Internacional do Pelourinho homenageou o poeta abolicionista, cuja FliPelô, organizada pela Fundação Jorge Amado, presta homenagem ao escritor das terras do cacau, terras essas que conferem identidade à Nação Grapiúna e ao seu povo. A cadeira de n° 13 acolheu sua esposa, Zélia Gattai, e, agora, acolhe nosso escritor Pawlo Cidade, que tem prestado significativos serviços ao campo da gestão cultural no Estado da Bahia, assim como tem construído significativamente uma vasta obra literária, cuja preocupação ambiental aparece em seus livros. Tema que se tornou hodiernamente tão emblemático, especialmente com a atual gestão federal no país, que parece não ter preocupação com as gerações do presente e muito menos com as futuras.

Na Academia Brasileira de Letras, foi eleito, em 6 de abril de 1961, para a cadeira n° 23, que tem como patrono José de Alencar e por primeiro ocupante, Machado de Assis. Jorge Amado, um crítico das academias, na fase adulta, reverá seus posicionamentos, como assinalou em seu discurso de posse na ABL: “Chego à vossa ilustre companhia com a tranquila satisfação de ter sido intransigente adversário dessa instituição, naquela fase da vida, um que devemos ser, necessária e obrigatoriamente, contra o assentado e o definitivo, quando a nossa ânsia de construir encontra sua melhor aplicação na tentativa de liquidar, sem dó nem piedade, o que as gerações anteriores conceberam e construíram.” O tempo é senhor de nossas razões. E como é!

No início deste texto, disse “nosso autor”, só mesmo para ressaltar a origem. O escritor pertence ao mundo. É símbolo de nossa terra, nascido em Ferradas, em Itabuna, não só se imortalizou, mas imortalizou-nos na literatura universal. As suas obras de cunho regionalista conseguiram ter sentido no Chile, na França, em Portugal, na Itália, na antiga URSS. Conseguiu-nos orgulhar. Jorge Amado, que recebeu diversas críticas, marginalizado pela crítica do sul, continua vivo em nossas memórias e provocando críticas de diversos movimentos. Sempre que posso, pergunto-me: será que o escritor deve agradar ao seu leitor? Eu, como sou aprendiz, ainda não consigo ter clareza, mas o tempo será senhor das futuras razões.

Efson Lima é doutor em Direito pela UFBA, coordenador-geral da Pós-graduação, Pesquisa e Extensão da Faculdade 2 de Julho, das terras de Itapé (BA) e eterno ilheense adotivo.

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Efson Lima

 

Nordeste é um complexo de múltiplas identidades. De múltiplos sonhos. Nordeste – tu, você, cê, oxente, continua sendo uma terra abençoada. Compreendê-lo é um desafio para nós, que aqui nascemos e/ou moramos e o mundo. Oxalá!

 

O mês de junho de 2019 chegou ao fim. Para nós baianos e nordestinos é um dos meses – para não ser taxativo – que as tradições ganham fôlego e mostram o quanto temos de identidade. Na, quinta-feira última (04), no almoço com colegas de trabalho e à noite, após encontro de grupos de pesquisa sobre Direito e Literatura, o tema Nordeste voltou à mesa.  E tinha que voltar, afinal, o povo do sertão com o povo da capital juntos reascendem a fogueira. Na mesa havia um gaúcho. Assim, melhor ficou evidenciado o ser nordeste para os baianos. Não é o debate do pior e/ou melhor, apenas discorrendo sobre o sujeito cultural.

De início, a expressão “cabra da peste” marcante e ligada a nossa gente possui mais de uma versão. Há quem considere que a expressão é usada referendar o sujeito destemido, mas também pode ser dita em situação de ofensa. Será que no primeiro caso seria a confirmação do registro de Euclides da Cunha em Os Sertões, onde “o sertanejo antes de tudo é um forte”?

No Dicionário do Folclore Brasileiro, Luiz da Câmara Cascudo afirma que “cabra” era como os navegadores portugueses referendavam os índios que “ruminavam o bétel” planta com folhas de mascar. Ao longo do tempo, o animal pode ter sido visto como sinônimo de homem forte em decorrência do leite – percebido mais denso e nutritivo que o da vaca.  Há indicativo que a conotação com “peste” surgiu em virtude da má fama da cabra, identificada como sendo simpática ao diabo na tradição nordestina. Lembro que quando criança, falar o termo “peste” merecia uma tapa da minha mãe, pai, tio, irmãos…

Na Bahia, quem ainda não ouviu Raiz de Todo Bem, do compositor Saulo Fernandes, cantada na voz do mesmo, que parece um hino para Salvador, identifica a expressão facilmente: “Oxente, ‘cê num ‘tá vendo que a gente é nordeste?/Cabra da peste Sai daí batucador”? Mais que um conjunto de palavras, é a representação da nossa identidade, dos nossos sentidos e signos. Sou eu e você! Somos nós!

Do ponto de vista das regiões do Brasil, no ano de 1940, o país tinha as seguintes regiões: Norte, Nordeste, Este, Centro e Sul. No ano de 1950, os Estados do Maranhão e Piauí passaram a compor a Região Nordeste (antes estavam relacionadas ao Norte). O Estado da Bahia só foi incorporado ao Nordeste a partir de 1970.  Antes, estávamos de mãos dadas com os Estados de Sergipe e Espírito Santo na denominada região “ESTE”. Sudeste nem existia.  Registra-se que essas divisões foram sendo sistematizadas a partir de 1913. Geográfico o parágrafo, mas nos oferece uma dimensão política e como foi processada a construção das identidades regionais. A forma do mapinha atual tem sua divisão estabelecida em 1970 pelo IBGE. Aí, sim, caba da peste, somos Nordeste? Não, já nutríamos esse sentimento. Foi um redesenhar.

Abordar Nordeste é muito mais que tomá-lo simplesmente como um espaço geográfico, é recorrer aos povos originários, às tradições orais, à História do Brasil, às invasões, à lavoura da cana de açúcar, falar do mar e das praias, da mata atlântica, do cacau. É enfrentar o problema da desigualdade socioeconômica e da concentração de terras. Euclides Neto, que pertenceu o quadro de membros da Academia de Letras de Ilhéus, já tratou deste assunto. É relembrar literatura e compreender um sentido de território muito mais amplo que um mero signo geográfico, como sinaliza Milton Santos, baiano e com circulação em Ilhéus, professor do IME e também pertenceu a Academia de Letras de Ilhéus.  Símbolo maior da geografia nacional e uma das estrelas da geografia no mundo. Pena que pessoas como ele  têm sido maltratadas na quadra atual.

O obscurantismo parece ser o caminho. Graças que estamos protegidos pelos nordestinos, que ousam não ser seduzidos pelos caminhos fáceis. Nordeste é tratar da proposta educacional de Paulo Freire, Anísio Teixeira… propostas emancipadoras e que apresentam sentidos mais humano e problematizador.

Nordeste é terra de Ariana Suassuna, que aulas mágicas sobre cultura foram proferidas. Encantador. O “oxente” tão bem defendido. De José Lins do Rego, dos engenhos de açúcar e as pontadas do regionalismo.  Do nosso eterno Jorge, o nosso Amado. De Rachel de Queiroz, saudade do Quinze.

Falar de nordeste é tocar na literatura de cordel. É ver a magia de Janete Lainha pelas ruas de Ilhéus e nas praias. De nossos cantores e compositores como Dorival Caymmi. É terra de Lampião e de Maria Bonita. Das lendas e dos mitos. Da Terra onde padre tem muler. É encontro de religiões… É terra de Padim Cícero e de Mãe Menininha, de Mãe Stella de Oxóssi. É ter suas histórias e estórias contadas por escolas de samba do Rio e de São Paulo. Por sinal, Mangueira já sambou o sertão, que enredo arrebatador.  É ver São Paulo com a ajuda de mãos nordestinas subir.  Nordeste é terra – mãe.

É terra de juristas: Teixeira de Freitas, de Rui Barbosa, de Orlando Gomes. É terra do nosso grande tributarista, a maior autoridade viva do direito na Bahia; um de nossos símbolos no Brasil, professor Edvaldo Brito, vivíssimo e atuante. A mim, mais que um advogado, um gigante na docência. Exemplo a ser seguido de comprometimento e dedicação à docência.

Recorri aos personagens recentes, que viveram no século XX ou alcançaram esse século. Muitos outros, que descansam na infinitude, poderiam ser convidados a falar, mas optei por deixá-los lá, quietos.  Com a vênia, como ainda estamos no clima do 2 de Julho, com carinho mencionamos Maria Quitéria, nossa heroína da Independência brasileira. Afinal, caso os portugueses não tivessem sido expulsos, imagino que Bahia não seria Brasil. Oh, céus! Perdoe-me. Isto é Nordeste. Isto é vida.

Nordeste é um complexo de múltiplas identidades. De múltiplos sonhos. Nordeste – tu, você, cê, oxente, continua sendo uma terra abençoada. Compreendê-lo é um desafio para nós, que aqui nascemos e/ou moramos e o mundo. Oxalá!

Efson Lima é advogado, coordenador-geral da Pós-graduação, Pesquisa e Extensão da Faculdade 2 de Julho, coordena o Laboratório de Empreendedorismo, Criatividade e Inovação e é doutorando, mestre e bacharel em Direito pela UFBA.

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Gasparetto, da Via Litterarum, e o escritor Waldeny Andrade || Foto Luiz Conceição

Luiz Conceição

Noite no Vale do Cotia é a mais nova incursão pelo mundo da ficção literária do escritor, jornalista e radialista aposentado Waldeny Andrade na luta pela preservação do que ainda resta da cobertura nativa no Sul da Bahia. A obra, baseada em fatos reais e que será lançada na Semana do Meio Ambiente, em junho, narra uma história de mistérios, usura, perseverança, crimes e traições tendo o homem como foco.

Neste seu quarto livro editado pela Via Litterarum, o irrequieto escritor narra história de uma família, proveniente do Nordeste brasileiro, que foge da seca e aporta em Itabuna, atraída pela fama do cacau numa época em que a economia cacaueira passa por mais uma de suas renitentes crises econômico-financeiras.

A saga dessa gente leva a construir uma fazenda de cacau, onde pretende manter em pé a densa floresta nativa, seus corpos d’água, a fauna e flora então abundantes. Contudo, tem contra si o desafio imposto por grandes fazendeiros com a alternativa pecuária avançando sobre a região de predominância cacaueira e a consequente a devastação da Mata Atlântica.

O thriller se passa na área rural de Palestina, hoje Ibicaraí, município de onde corre o imaginário Ribeirão Cotia, um dos tributários do Rio Salgado que, com o Rio Colônia, forma mais adiante o Rio Cachoeira. Este, atualmente recebe, do mesmo modo que nas cidades da bacia do Rio Almada, quase todo o esgotamento sanitário por falta de infraestrutura e omissão dos governos.

É certo que depois do sucesso editorial do seu terceiro livro, Serra do Padeiro – A saga dos Tupinambás, o escritor Waldeny Andrade tenha amadurecido ainda mais na arte de contar estórias e histórias, aprimorado a técnica literária e se apossado de uma narrativa rápida e eletrizante.

Na contracapa, embora o ficcionista diga que Noite no Vale do Cotia seja um painel real sobre a Região Cacaueira e que qualquer associação de nomes citados seja simples coincidência, o leitor certamente vai tirar suas próprias deduções pela riqueza de elementos trazidos nesta obra.

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Efson Lima || efsonlima@gmail.com

Ilhéus deve perseguir o título de Cidade Literária da Unesco. Ainda não há cidade brasileira na área de literatura. Assim como Florianópolis foi a primeira cidade brasileira a conquistar seu espaço na rede Unesco de Cidades Criativas pela área de gastronomia, em 2014, a Princesa do Sul merece que seu povo se reúna e a confirme como CIDADE LITERÁRIA.

A cidade de São Jorge de Ilhéus é conhecida internacionalmente pelas belezas naturais e pela História, mas não somente essas características demarcam a cidade. A Princesa do Sul chama a nossa atenção, a dos visitantes e de diversos interessados também pela literatura. Não nos resta dúvida que o campo literário é construtor do imaginário da cidade de Ilhéus. Vários são os espaços físicos, as ruas e os alimentos que nos tocam pela literatura. A literatura oriunda das terras de Ilhéus até pode ser considerada de cunho regionalista, mas foi universalizada e alcança o mundo.

Aproveito, com a devida vênia, para sensibilizar alguns, que Ilhéus pode aproveitar a qualidade de cidade literária para fazer parte do projeto da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) batizado de Rede de Cidades Criativas. Salvador integra no campo da música. Ilhéus pode fazer parte do clube pela via da literatura. Certamente fará bem à Princesa do Sul e à literatura regional. Certa vez, o escritor Adonias Filho perguntado sobre o que Ilhéus produzia, além de cacau. Ele respondeu: escritores.

A Rede de Cidades Criativas foi criada pela Unesco em 2004, cujo objetivo é promover a cooperação com e entre as cidades que identificaram a criatividade como um fator estratégico para o desenvolvimento urbano sustentável. A rede também está comprometida com o desenvolvimento da Agenda para o Desenvolvimento Sustentável 2030 e estão entre seus objetivos o estímulo e o reforço às iniciativas lideradas pelas cidades-membros para tornar a criatividade um componente essencial do desenvolvimento urbano por meio de parcerias entre os setores público e privado e a sociedade civil.

É transformador para os apaixonados por livros caminhar por cenários de obras e lugares onde viveram escritores. Pode se vislumbrar uma experiência romântica, alvissareira, transformadora ou até mesmo alfabetizadora… os sentimentos são os mais diferentes. Afinal, a literatura nos leva a diferentes lugares, deixa-nos curiosos para conhecer e Ilhéus desperta esse fascínio internacionalmente.

A literatura pode ser instrumento de emancipação. Lembro até hoje da minha primeira obra lida – Capitães da Areia, de Jorge Amado. Como não agradecer à professora Ana Maria, do IME. Nunca mais fui o mesmo. Obrigado!

Para uma cidade ser considerada literária, a Unesco impõe algumas exigências: que ocorram eventos literários, como festivais, a existência de bibliotecas, livrarias e centros culturais, públicos ou privados e que tenham por fim último a promoção da literatura.

A cidade de Ilhéus é também uma urbis literária pelos aspectos tão comuns ao campo literário. A cidade pertence a grandes escritores, como Jorge Amado, Adonias Filho, Sosígenes Costa, Hélio Pólvora. A cidade foi parar nos livros e se transformou em cenário e enredo. É a cidade também dos hai-kais de Abel Pereira. É a terra de coração do historiador Arléo Barbosa, personagem vivo e encantador, com seu best-seller regional Notícia Histórica de Ilhéus.

A cidade também é celeiro de jovens escritores como Fabrício Brandão, Gustavo Cunha, Marcus Vinicius Rodrigues, Carlos Roberto Santos Araujo, Geraldo Lavigne, do paulista Gustavo Felicíssimo, às vezes, alguns deles com origem extra Ilhéus, mas que burilam os textos a partir deste lugar. A cidade também é lugar privilegiado para a literatura popular. Aqui merecem registros os cordéis da Mestra Janete Lainha e a sua xilogravura que tanto abrilhanta o mundo da literatura e nos insere neste lugar de destaque.

A cidade é palco do Festival Literário de Ilhéus (FLIOS), que alcança a quarta edição em 2019. Vida longa! É lugar da Mostra Jorge Amado de Arte & Cultura. Esses eventos demarcam o lugar da literatura. A cidade é cenário para diversas obras literárias. É cidade de novela – isto soma e enriquece o aspecto literário.

A cidade possui a Academia de Letras de Ilhéus, que completa 60 anos em março de 2019, cujo lema de “Servir à pátria cultuando as letras”, e não deixa dúvida da qualidade destes abnegados que insistem e nos alimentam com a chama literária (André, Rosas, Pawlo Cidade, Maria Schaun, Maria Luiza Heine, Ruy Póvoas e tantos outros, que injustamente vou deixando de citar). Este é locus importante para a formação e promoção da cultura regional. A UESC pode contribuir para o projeto. Em seu seio está a Editus, que muito tem contribuído para as obras de escritores regionais. A própria Universidade tem desenvolvido seminários e inserido os estudos da literatura regional em seus cursos.

Não obstante, o Programa Estratégico da Cultura – Cultura 500, da Secretaria de Cultura de Ilhéus, traça um cenário para a cidade nos próximos 15 anos e lança as estratégias para Ilhéus chegar aos seus 500 anos, sendo um município referência na área da Cultura, portanto, Ilhéus, Cidade Literária é um caminho.

Por tudo isto, Ilhéus deve perseguir o título de Cidade Literária da Unesco. Ainda não há cidade brasileira na área de literatura. Assim como Florianópolis foi a primeira cidade brasileira a conquistar seu espaço na rede Unesco de Cidades Criativas pela área de gastronomia, em 2014, a Princesa do Sul merece que seu povo se reúna e a confirme como CIDADE LITERÁRIA. De fato, ela já é. Mais que um título, é a confirmação de sua contribuição para a literatura e mais uma porta para a consolidação do turismo e da cultura local. A literatura, a História de Ilhéus com suas estórias e as belezas naturais da Terra de São Jorge encantam a todos.

Efson Lima é advogado, coordenador-geral da Pós-graduação, Pesquisa e Extensão da Faculdade 2 de Julho, coordena o Laboratório de Empreendedorismo, Criatividade e Inovação. Organizador do Projeto Conviver – atividade responsável pela produção de livros/UFBA, além de ser doutorando, mestre e bacharel em Direito pela UFBA.