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Apesar de o governador e a atmosfera política nacional à época dificultarem até o último minuto, todas essas pessoas da nossa comunidade conseguiram fazer a pressão necessária.

 

Mariana Ferreira | marianaferreirajornalista@gmail.com

A nossa Uesc completa hoje 30 anos de estadualização. Ela é a prova cabal de que, quando unida em prol do coletivo, uma sociedade pode mudar seu destino. O marco das três décadas da universidade sul-baiana inevitavelmente traz à luz toda a luta travada pela comunidade regional para que ela fosse, enfim, tornada pública, gratuita, acessível a todos que tivessem o sonho do ensino superior, o que, para orgulho da nossa história, foi concretizado naquele 5 de dezembro de 1991: a Fespi – Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna tornava-se, enfim, a Universidade Estadual de Santa Cruz.

A persistência dos alunos, professores, servidores, setores econômicos, poderes públicos, da imprensa e uma gama de outros segmentos, que começou na segunda metade da década de 1980, conquistou a democratização do ensino superior num contexto no qual não mais cabia aquela escola particular, que era mantida por um “tripé” econômico formado por Ceplac, governo do estado e mensalidades pagas pelos alunos, sendo que estas se tornaram exorbitantes em função da crise que cercava a nossa região.

Esse cenário, agravado por uma paralisação geral na Fespi, já sinalizava a necessidade de torná-la pública, como descrito no documentário A Contrapartida, que produzi para contar um pouco dos bastidores dessa história. O documentário está disponível no Youtube e traz entrevistas, vários recortes da época e algumas revelações.

Nesses 30 anos de Uesc, é imperativo aplaudir a sociedade responsável por essa vitória e reverenciar cada indivíduo engajado nessa luta. Essas centenas de pessoas jogaram para escanteio diferenças históricas, disputas partidárias e mostraram a força que aquela união traduzia. Apesar de o governador e a atmosfera política nacional à época dificultarem até o último minuto, todas essas pessoas da nossa comunidade conseguiram fazer a pressão necessária. Portanto, deixo aqui a minha reverência a quem se empenhou e se empenha pela valorização da nossa Uesc, que ano após ano colhe a honra de estar em destaque em alguns dos principais rankings universitários internacionais. A luta valeu a pena.

Mariana Ferreira é comunicóloga e autora do documentário A Contrapartida.

Clique no play e assista ao documentário.

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Ninguém sabe melhor do seu negócio, produto ou trabalho do que você mesmo, e é por isso que precisa estar muito ciente do que produz e do trabalho empregado para elaborá-lo antes de sentar à mesa de negociação.

Mariana Ferreira | marianaferreirajornalista@gmail.com

Você já se sentou com um investidor ou cliente que tentou reduzir a credibilidade do seu produto para controlar a mesa de negociação? Provavelmente, sim. Embora muitas vezes não percebida, essa é uma tática muito comum, de se construir a sensação de “desagrado” com o objetivo de baixar o preço que você está cobrando ou melhorar a margem de ganho de quem está investindo. Vale ressaltar que essa estratégia pode acontecer em todo espaço de negociação em que se disputa algum tipo de poder e influência.

O fato é que ninguém sabe melhor do seu negócio, produto ou trabalho do que você mesmo, e é por isso que precisa estar muito ciente do que produz e do trabalho empregado para elaborá-lo antes de sentar à mesa de negociação. Suas potencialidades, qualidades e tudo mais embutido, as competências e capacidades, suas conquistas e ajustes de rotas. Enfim, todo o know how alcançado nesse processo. Tudo isso está agregado no valor do seu produto, mesmo que no nosso país acabe sendo uma regra desvalorizar esse capital agregado para maximização do lucro, o que afeta diretamente a autoestima do brasileiro.

Você pode estar negociando com o presidente da República – não necessariamente Bolsonaro, pois sabemos que ele não tem lá essas vontades ou capacidade de dialogar (eu sei, não perco a oportunidade, mas é que é impossível você ser razoável e se sentir confortável com as atitudes ignóbeis dele). Continuando… Você pode estar dialogando com a autoridade máxima do país ou com alguém que você admira, mas se você estiver indo encontrá-lo para uma negociação, você não pode aceitar as afirmações construídas como tática de barganha e, por causa disso, dizer amém a tudo por medo de desagradá-lo (temos disso também, é aquela história da autoestima). Se a sua mente não estiver preparada, é isso o que acontecerá e você verá seu valor ser depreciado. Você não será visto em pé de igualdade, mas como inferior. Será subestimado juntamente com o seu produto, já que você tem potencial, tem um produto diferenciado, mas não soube defendê-lo.

É sua obrigação saber seus pontos fortes e também possíveis debilidades, demonstrando objetivamente o quanto você conhece sobre seu produto/projeto, o quanto do seu esforço e suor estão empregados e impregnados nele, bem como a sua utilidade e diferenciação dos demais concorrentes. Não deixe esses pontos sem respostas. Lembre-se que temos um país com ambiente hostil para empreender, que estamos vivendo um recorde de desempregados – 14,4 milhões – e temos um salário mínimo que não acompanha a alta dos preços nos supermercados, nas contas, na moradia e no combustível. Esse conjunto faz do Brasil o segundo país no ranking do índice de mal-estar entre 38 países (levantamento divulgado no sábado, 19, pelo pesquisador Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas).

Então, informe, argumente, proponha, estude, aprenda, ouça, esclareça, mas não se cale diante do que não está completamente calçado na verdade, diante do pensamento e do argumento simplistas, desprovidos do conhecimento prático. Tenha humildade, mas não seja omisso. Não vale a pena. Defenda o que é unicamente seu, fale o que é preciso ser dito e da melhor forma possível, afinal, boa parte do que compreendemos de uma mensagem se baseia no tom de voz e na linguagem corporal, para além das palavras que são ditas. Tenha identidade e terá autoridade. Tenha autoridade e terá muito mais poder de negociação, sem ser presa fácil nessa prática predatória.

Mariana Ferreira é comunicóloga.

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Mariana Ferreira
 

Quanto ao médico, fui informada pela ouvidoria do hospital, no período da tarde, de que foi afastado dos plantões e está sendo investigado. Aqui me posicionei e espero que minha voz convide outras mulheres a não se curvarem diante de um assédio, seja ele qual for.
 

 
“… Que eu não ando só”. A frase, entoada na poderosa voz de Maria Bethânia, serve bem como lema da luta feminina. São inúmeras as experiências ruins, deflagradas por invasões masculinas, na vida de qualquer mulher em qualquer etapa de sua existência. Basta nascer com esse sexo. Não é preciso ser representante de nenhum movimento para afirmar em alto e bom som que esse mau é real.
Relatar um assédio sexual ainda é um dilema na atualidade: para muitas mulheres, por medo da reação do agressor, e para outras muitas, pelo medo da exposição e do estigma de uma sociedade que tem a cultura de se voltar contra a vítima. Mas como diz Maria Bethânia, “não ando no breu, nem ando na treva”, e por isso não serei eu que me calarei.
Sempre fui bem tratada na Santa Casa de Misericórdia de Itabuna, local que sempre considerei um dos mais seguros da cidade para um cidadão buscar atenção à saúde. Não imaginava que seria lá que sofreria desrespeito e teria o meu pior Dia Internacional da Mulher. Justo numa instituição que tem 101 anos de fundação, mais de 70% do seu quadro funcional formado por mulheres e que presta relevantes serviços à sociedade, como o 1º Mutirão da Mulher no próximo dia 10. Em atendimento por causa de uma dificuldade respiratória pela manhã, o médico plantonista Luiz Duarte mostrou sua forma de agir num procedimento de ausculta respiratória, tocando de forma invasora uma paciente.
A primeira reação de uma mulher nessa circunstância infelizmente é tentar fazer a “ficha cair”, porque, apesar de todo o preparo que buscamos ao longo da vida – psicológico, emocional e físico, nunca imaginamos que isso vá acontecer conosco. A atitude foi flagrante, e era o meu dever reagir, pois algumas coisas que vêm à mente são: “eu pertenço a mim, ele não tem esse direito” e “não fui a primeira e não serei a última se eu permitir que continue às escuras”.
É preciso calar o medo da exposição para dar voz a um basta. Acredito que nada seja por acaso, e talvez por isso Deus tenha usado alguém com senso de cidadania e responsabilidade para não permitir que esses fatos se perpetuassem, para zelo das pacientes e da própria instituição.
É importante que prestem atenção que nós não queremos, nem precisamos, de piedade. Nós precisamos de apoio com atitude – de homens, mulheres e instituições competentes, e exigimos respeito de todo indivíduo e de sua representação máxima, a sociedade. O problema é que romantizar uma data como o Dia da Mulher só camufla uma realidade emergente.
Flores são bonitas e muitas mulheres, como eu, gostam, mas precisam ser símbolo de respeito praticado cotidianamente, e não banalizadas como têm sido. Assim como os discursos bonitos que são cheios de panos quentes para disfarçar a violência contra a mulher. Quantos assediadores notórios não vemos passarem mel em suas palavras no Dia da Mulher para se mostrarem de acordo com os bons costumes, mas que agem como predadores, não importando o dia, a hora, o local? É repulsivo, é vergonhoso!
Finalizo esse artigo fazendo alguns pleitos à Secretaria de Segurança Pública e à Secretaria de Políticas para as Mulheres da Bahia. Não se pode falar em respeitar as minas sem olhar para suas estruturas de apoio a elas. A Delegacia da Mulher em Itabuna reúne tudo o que não pode acontecer: endereço num local deserto, com várias ocorrências de assaltos no entorno, a necessidade de subir ladeira para chegar à unidade, um sistema de registro de queixas que demora mais de uma hora para concluir o processo (no meu caso foi 1h15min) e em um cômodo abafado e sem um ventilador sequer para esse momento penoso da denúncia, sem falar na falta de privacidade da denunciante. Passou da hora de melhorar!
Quanto ao médico, fui informada pela ouvidoria do hospital, no período da tarde, de que foi afastado dos plantões e está sendo investigado. Aqui me posicionei e espero que minha voz convide outras mulheres a não se curvarem diante de um assédio, seja ele qual for. Já disse Maria, a Bethânia: “O que é teu já tá guardado, não sou eu que vou lhe dar”. É a Justiça quem vai. O tempo é chegado.
Mariana Ferreira é jornalista.

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Mariana FerreiraMariana Ferreira

Quem disparou o tiro?
O tiro que nos cala, o tiro que nos para.
Quem disparou a palavra?
A palavra que ecoa, a palavra que alastra.
Quem do chão tirou teus pés?
O policial corrompido ou a poetisa da audácia?

Quem te desonra?
O silêncio violento ou o orgulho vão?
Quem em ti manda?
A tua consciência ou a tua obrigação?
Quem a ti salva?
Tua indignação ou tua ilusão?

De onde vem o zumbido?
Do toque recolhido, do policial acuado.
Quem é essa vítima?
Esse é o João, ontem foi o soldado.
Quem fez isso?
Não sei, juro, não foi meu palavreado!

Nas ruas, o governo tem parte;
Nestas linhas, nem te metas! Destas cuido eu!
Nos liberte, não nos cale;
Nos dê voz nesse breu.

Tens razão, alguém tem que falar!
Não tens razão, não queres enxergar.
Tens razão, nem de longe és igual!
Não tens razão, não viu o erro mau…

Não tens culpa, és vítima também;
Essa não é a guerra que a palavra contém;
Alivia a dor que tua alma tem;
Não foi pra você, foi pra quem não nos quer bem.

Mariana Ferreira é poetisa, jornalista e autora do documentário A contrapartida.

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Mariana FerreiraMariana Ferreira | marianaferreirajornalista@gmail.com

Os únicos favorecidos por esse furacão chamado PL 4330 são os empresários, especialmente os que bancam os partidos favoráveis.

Na década de 1990, os empresários pediam ao Congresso a legalidade da terceirização das atividades-meio das suas empresas sob o pretexto de aumentar o investimento em suas atividades-fim, lembra o procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT) Helder Amorim, em audiência na Comissão de Direitos Humanos do Senado. Hoje, atendendo a uma demanda de 2004, a Câmara do peemedebista Eduardo Cunha vota a ampliação da terceirização às atividades finalísticas. Mas com que fundamento agora?

Segundo a Câmara de Cunha (faço essa referência para evidenciar quem realmente defende esse projeto), a crise econômica do país torna de “grande relevância” a discussão da matéria e, por que não, de urgência sua votação. Não à toa o presidente foi duramente rechaçado e vasculhado em sua vida particular – numa dessas descobriu-se que sua esposa, uma vez jornalista terceirizada, reclamou na Justiça sua contratação direta pela Rede Globo (e ganhou).

Os advogados do PL 4330 bancam que a ampliação da terceirização irá criar mais postos de trabalho e, esticando ao máximo o elástico, “beneficiar negros, mulheres e jovens”. Os acusadores, por sua vez, sustentam que o PL irá explorar as “zonas de fragilidade da terceirização”. E, ainda, irá tornar papel picado a CLT-Consolidação das Leis do Trabalho e a própria Constituição Federal de 1988, que determina a função social do trabalho.

Com a clareza didática do procurador Amorim é preciso dizer que constitucionalizar a terceirização da atividade-fim é permitir que uma empresa mire tão somente o lucro, esvaziando, portanto, completamente a sua função social. “Atinge direitos fundamentais dos trabalhadores, como o direito à greve, acordos e convenções coletivas, reduz a remuneração e as contribuições para a Previdência”, disse o representante do MPT.

O problema se mostra ainda mais grave quando passamos a incorporar à discussão os dados do Dieese-Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos para os anos 2010-2013: nas 10 maiores operações de resgate de trabalhadores em situação análoga à escravidão, em quase 3 mil, entre 3.553 casos, estavam terceirizados. Mais: no setor elétrico, 61 terceirizados perderam a vida em 2013, contra 18 empregados diretos. Na construção civil, 75 das 135 mortes foram de terceirizados. Em obras de acabamento, 18 entre 20; nas de terraplanagem, 18 entre 19; e, nos serviços especializados, 30 de 34 mortos. Ou seja, os únicos favorecidos por esse furacão chamado PL 4330 são os empresários, especialmente os que bancam os partidos favoráveis.

Mariana Ferreira é jornalista.