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Maurício Bacelar foto divulgaçãoMaurício Bacelar assumiu o comando do Detran baiano na semana passada, após o PTN deixar a base do prefeito ACM Neto, de Salvador, e firmar aliança com o governo petista de Rui Costa. Numa entrevista ao PIMENTA, Bacelar justificou a saída do grupo carlista como reação às traições, em sequência, do prefeito soteropolitano.

Sinais de que a aliança com Neto não caminhava bem foram emitidos, segundo Bacelar, pelo próprio prefeito em 2014, quando o DEM lançou candidaturas em Itabuna e Camaçari, minando o PTN.  A estratégia, diz, acabou por tirar o mandato de Coronel Santana, que tentava a reeleição. Maurício, também conhecido como Maurício de Tude, disputava vaga na Assembleia Legislativa e se sentiu prejudicado pelo próprio grupo.

Na entrevista a seguir, Bacelar também fala dos desafios à frente do Detran e como se sente em um governo petista, após 17 anos de carlismo. Confira abaixo.

BLOG PIMENTA – O que levou o PTN a dar essa guinada, deixando a base carlista?

MAURÍCIO BACELAR – Por 17 anos, fomos aliados do PFL e do DEM. De uns tempos para cá, após em 2012 [ACM] Neto dizer, publicamente, que devia a eleição ao PTN, houve uma mudança, parece ter esquecido tudo isso em 2014.

PIMENTA – Como assim?

BACELAR – A gota d´água foi a eleição da Câmara de Vereadores em Salvador. Mas, primeiro, o DEM lançou candidatura na base do Coronel Santana, em Itabuna, com o nome de Capitão Azevedo, mesmo sabendo que o registro de candidatura do ex-prefeito seria negado pela justiça. Perdeu Itabuna, perdeu o sul da Bahia, que enfrenta uma crise há quase três décadas. Neto fez o mesmo em Camaçari, onde o PTN também tinha candidato. Essas coisas foram se juntando. Já em 2013, deveríamos ter a presidência da Câmara de Salvador, mas Neto pediu que abríssemos mão. Abrimos, e em 2015 ele nos traiu.

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[ACM Neto] nos traiu. Não poderíamos ficar em um grupo de um homem sem palavra.

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PIMENTA – Isso levou ao rompimento?

BACELAR – Não poderíamos ficar em um grupo de um homem sem palavra. Já em 2 de janeiro, informamos que não dava mais [para ficar na base do prefeito]. Após isso, Rui Costa nos convidou para o governo do Estado e nos sentimos estimulados a participar.

PIMENTA – Carlista histórico, o senhor se sente à vontade no cargo em um governo do PT, o PTN está à vontade na nova casa?

BACELAR – Estou muito estimulado pela forma como fui recebido e estou sendo tratado pelos secretários e pelo governador Rui Costa. O ambiente é muito bom.

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Correia era o nosso candidato [à presidência da Câmara] e foi traído por ACM Neto, mas respeitamos seu momento de reflexão.

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PIMENTA – O partido enfrenta resistências internas à essa nova orientação política, principalmente em Salvador, com o Tiago Correa, e em Feira de Santana, com o deputado Carlos Geilson. Há como contorná-las?

BACELAR – Recorreremos à arte da política, que é a conversa. [Carlos] Geilson é uma questão localizada. Ele tem como adversário o também deputado Zé Neto. Ele foi comunicado de todos os passos [do partido]. Tiago Correia é uma questão especial, mas ele votou a favor da aproximação [com o governo do estado]. A situação dele é especial, pois é contraparente de Neto. Correia era o nosso candidato [à presidência da Câmara] e foi traído por ACM Neto, mas respeitamos seu momento de reflexão.

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A situação de Neto não é essa “coca-cola toda”. Paulo Souto teve o apoio dele e foi derrotado em Salvador. Aécio Neves também foi apoiado por Neto e perdeu na capital.

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PIMENTA – Como o senhor avalia o cenário em Salvador em 2016? ACM Neto é bem avaliado. Seria imbatível?

BACELAR – Considero que há uma margem pequena. Ele aparece em primeiro lugar entre os prefeitos do país, com 68% de aprovação, mas Imbassahy tinha 92% [quando saiu da prefeitura, em 2004] e, mesmo assim, perdeu a eleição para João Henrique [em 2008]. As eleições passadas mostraram que a situação de Neto não é essa “coca-cola toda”. Paulo Souto teve o apoio de Neto e foi derrotado em Salvador. Aécio Neves também foi apoiado por Neto e perdeu. Há ainda outra situação. O PTN teve 170 mil votos nominais para vereador em 2012. Em 2014, João Bacelar foi o 4º mais votado para deputado federal em Salvador, com mais de 40 mil votos. Ainda tivemos as excelentes votações de Alan Castro e Anderson Muniz na capital. Isso mostra a força do PTN. O prefeito também enfrentará situação de desequilíbrio na Câmara, com quatro vereadores a menos. Então, Neto é o favorito hoje, mas a eleição é daqui a dois anos.

PIMENTA – A sua gestão no Detran baiano será de continuidade ou haverá mudanças?

BACELAR – Vamos desenvolver ação educativa no trânsito. Os estudos mostram que, de cada família brasileira, uma será vítima de acidente de trânsito. Orientado pelo governador, fazendo ações educativas, queremos reverter isso, ver se podemos conseguir. Esse é o novo desafio.

PIMENTA – A equipe já está montada?

BACELAR – Nós conseguimos com o secretário da Fazenda, Manoel Vitorino, a liberação de Joaquim Bahia, que já está atuando conosco antes mesmo de ser nomeado. Queremos aumentar as receitas sem onerar o cidadão. Como é um órgão que desenvolve ações policiais, de segurança no trânsito e fiscalização, teremos também conosco o ex-comandante-geral da PM, Alfredo Castro. Vamos ter aqui, também, nossos jovens técnicos para, juntos, desenvolvermos políticas públicas de segurança no trânsito. Eu estou me afastando da presidência do PTN para desenvolver nosso trabalho no Detran.

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Não seria de bom tom fazer mudanças de forma apressada. Se for o caso, trocaremos peças ou iremos prestigiá-las [mantendo-as em seus cargos].

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PIMENTA – Haverá mudanças nos comandos das Ciretrans?

BACELAR – Tenho três dias à frente do Detran. Ainda estou fazendo levantamento. Não seria de bom tom fazer mudanças de forma apressada. Se for o caso, trocaremos peças ou iremos prestigiá-las [mantendo-as em seus cargos].

PIMENTA – O nome do ex-deputado Coronel Santana foi rejeitado em sua equipe?

BACELAR – Bom, em primeiro lugar, Rui [Costa] não veta pessoas. O Coronel Santana nos honra e teve mandato brilhante. Ele foi convidado para a equipe, mas disse que gostaria de alguns dias para avaliar se entraria na administração ou trabalhará em ações políticas em Itabuna. Ele é um policial correto e saiu da corporação no auge da carreira.