Cacau, da amêndoa ao chocolate || Foto Águido Ferreira/Ceplac
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Os tempos mudaram e a cacauicultura não sobrevive mais do choro por preços melhores nos mercados interno e internacional, tampouco de financiamentos subsidiados e dívidas perdoadas.

 

 

Walmir Rosário

Por muitos e longos anos o cacau produzido na Amazônia era visto como de qualidade inferior. E realmente foi. Mas essa realidade faz parte do passado e a cada dia a lavoura cacaueira amazonense nos surpreende, principalmente nos estados do Pará e Rondônia. E o chocolate produzido lá pelas bandas do norte brasileiro vem ganhando prêmios e mais prêmios nos eventos internacionais.

E essa mudança não surpreende os que veem a cacauicultura brasileira com um olho no padre e outro na missa, como se diz. É verdade que ainda existe aquele cacau nativo e de qualidade inferior, cercado de vassoura de bruxa por todos os lados, mas estamos falando das novas plantações, incentivadas pela Ceplac e tão combatida pelos cacauicultores do Sul da Bahia.

Pra começo de conversa, o pé de cacau plantado na ponta do facão hoje só pode ser visto nos livros do conterrâneo Jorge Amado e essa nova cultura é cercada de conhecimento científico. A genética foi revirada pelo avesso, a clonagem é o assunto do momento, a produtividade é a marca a ser batida. Porém, a qualidade do produto final, o chocolate, é a galinha dos ovos de ouro dos bons produtores.

Quem é do negócio chocolate não se surpreendeu quando a revista Forbes estampou que Rondônia produz o melhor e mais espetacular cacau especial do Brasil. E o anúncio foi feito justamente em Ilhéus, por ocasião do Concurso Nacional de Cacau Especial do Brasil – Sustentabilidade e Qualidade, nesta sexta-feira (24). Na terra do maior concorrente.

Um dos prêmios foi concedido ao produtor Robson Tomaz de Castro Calandrelli, do sítio Três Irmãos, no município de Nova União, em Rondônia, vencedor na categoria mistura. Já na categoria varietal (única variedade genética de cacau), o vencedor foi Deoclides Pires da Silva, da Chácara Tiengo, em Jaru, em Rondônia, cuja lavoura foi implantada pelos seus pais em 1970.

Outros produtores de Rondônia e do Pará também foram premiados. Da Bahia, especificamente, Ilhéus, subiu ao pódio, como disse a Forbes, a produtora Marina Paraíso. Ao que parece, na cacauicultura, o sol já nasce para todos, desde que o produtor busque o seu lugar com os conhecimentos científicos disponíveis e os que ainda estão por vir.

Não encaro esse concurso como uma derrota dos cacauicultores baianos, mas como um alerta de que não basta cair, anualmente, cerca de mil e quinhentos milímetros de chuvas bem distribuídas; a sombra da Mata Atlântica; os solos excepcionais do Sul da Bahia; a melhor fermentação e os notáveis barcaceiros. Há anos o cacau está sendo produzido a pleno sol, com irrigação e o conhecimento dos produtores do cerrado, tudo isso sem os inimigos naturais.

Além da pretendida alta produtividade, como chegar a mil arrobas por hectare, é preciso que o cacauicultor tenha em vista produzir cacau de qualidade, como muitos vêm fazendo com “os cacaus finos” no sul da Bahia. Para o cacauicultor, a premiação não é um afago ao ego, mas o consequente sobrepreço no seu produto, em amêndoas ou em chocolate pronto. Mais dinheiro no bolso.

Por se tratar a cacauicultura iniciativa privada, sem gozar das antigos benesses dos subsídios governamentais, poderemos assistir a uma disputa mais acirrada no próximo ano. E garanto que será páreo cada vez mais duríssimo com a entrada do cacau do cerrado. Essa competição nos mostra, ainda, a especialização dos produtores de cacau in natura (amêndoas) e em produto final, o chocolate.

Não poderia deixar de dar um testemunho sobre a melhoria da qualidade da cacauicultura da Amazônia, desde os anos 1990, quando assistimos aos mais diversos experimentos. E eles sempre visavam um produto de qualidade e mais dinheiro na sua conta bancária, a exemplo do sombreamento de cacaueiros com mogno e outras espécies de madeira de lei. Um consórcio que unia o útil ao agradável.

E registramos esse incremento da cacauicultura nos estados de Rondônia e no Pará, especialmente às margens da rodovia Transamazônica, locais que estão recebendo os “louros” pelo excelente tipo de investimento e administração. E mais, os cacauicultores da Amazônia, de cerca de 40 anos pra cá, somente foram conhecer o cacau assim que chegaram do sul do país à Amazônia.

Lembro-me, que nesta época, os bancos do sul da Bahia queriam distância dos produtores de cacau, enquanto os da Amazônia visitavam os cacauicultores com tentadoras propostas de financiamento à lavoura. As agências bancárias disputavam as exposições da Ceplac como forma de atrair os agricultores, o que chamou a nossa atenção (eu, que editava a revista Ceplac, um bom caminho, o jornalista Odilon Pinto, e o fotógrafo Águido Ferreira).

O certo é que os tempos mudaram e a cacauicultura não sobrevive mais do choro por preços melhores nos mercados interno e internacional, tampouco de financiamentos subsidiados e dívidas perdoadas. A realidade atual é oferecer ao exigente mercado cacau em amêndoas e/ou chocolate de qualidade superior. Quem oferece o melhor produto recebe, em troca, preços especiais.

São as leis do mercado.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e autor d´Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

O professor e comunicador Odilon Pinto e dois de seus filhos
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Aos 72 anos, com a diabetes aperreando, morreu vítima de infarto, deixando um legado importante para a comunicação e a educação do Sul da Bahia. Mais um exemplo de vida que nos deixa fora do combinado.

 

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Até parece que foi combinado: Na terça-feira (12) o jornalista Tyrone Perrucho nos deixa aqui neste mundo, e na quarta-feira (13), sem qualquer aviso-prévio, toma o mesmo caminho o radialista, jornalista e professor Odilon Pinto. Além da tristeza e saudade, passo a me considerar um estranho obituarista – função que existe numa redação – essencial para informar os que partem.

Mas como dizia Odilon Pinto: “Rosário, o jornalista é o grande secretário da sociedade, o encarregado de lavrar a ata dos feitos deste mundo, sejam eles bons ou ruins, não importam, têm que ser anotados”. Há alguns anos que não via e nem tinha notícia de Odilon, que há muito se transformou numa pessoa caseira, com o ofício de cuidar da diabetes que lhe acometia e da Língua Portuguesa.

Odilon Pinto era uma artista nato, um homem show, que dedilhava o violão, tocava “sanfona” ou outro tipo de instrumento, amparado por sua voz a cantar músicas de todos gêneros, como já fizera em bandas regionais. A partir dos anos 70, se dedicou às músicas para o homem do campo, como uma extensão do programa De Fazenda em Fazenda, produzido pela Divisão de Comunicação da Ceplac (Dicom).

Narrar, em poucas palavras, a que se prestava o De Fazenda em Fazenda é essencial para conhecermos mais Odilon e sua atuação para agregar todo o pacote tecnológico da Ceplac às fazendas de cacau, convencendo produtores e trabalhadores rurais. Era a comunicação de apoio dos extensionistas, com uma linguagem apropriada para que as práticas agrícolas fossem feitas em sua plenitude. Esse era o nosso mister.

E Odilon chegou à Ceplac com uma bagagem importante: saber se comunicar de forma simples, direta, de igual para igual com os homens que permaneciam no campo e aqueles que se mudaram para a cidade. Esse traquejo vinha da sua larga militância no PCdoB, o que lhe rendeu, além de um grande conhecimento sociológico e antropológico, alguns dissabores, a exemplo do convívio no xadrez por ordem das autoridades militares.

E a necessidade da Ceplac – ainda nos anos de chumbo – e o cabedal de conhecimento de Odilon casaram-se perfeitamente. Com o programa radiofônico em alta, foram aparecendo seus subprodutos, como o “Forró do Mata o Veio” e o programa radiofônico Namoro no Rádio, que encantava a todos. Lembro bem que recebíamos até 700 cartas por semana, correspondências estas enviadas das roças por pessoas pouco alfabetizadas.

E a finalização do De Fazenda em Fazenda era a apoteose com o quadro “Vida na Roça”, tirado das singelas cartas, com toda a verve de Odilon, fazendo com que muitos chorassem. Chegaram as mudanças políticas em nível nacional, eis que a nova direção da Ceplac resolve trocar a veiculação do programa, tirando-o da Rádio Jornal de Itabuna e levando-o para a Rádio Difusora de Itabuna.

Nadando contra a correnteza, Odilon se nega a apresentar o programa na nova emissora e cria o programa Na Fazenda do Odilon, continuando na Rádio Jornal, apesar da ameaça do desemprego. Enquanto isso, continua dando suas aulas de português em diversos colégios de Itabuna, na atual Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc). Odilon era diplomado em Letras e mestre e doutor em Literatura e Linguística.

Sem perder a simplicidade, continuou apresentando seu programa das 4 às 6h40min, dando aulas nos colégios e universidade, por muitas vezes fazendo esse périplo a pé e de ônibus, numa demonstração de como administrar seu tempo. Volta e meia a diabetes lhe consumia, e ele resolvia tocar o barco pra frente, com mais uma atividade, a exemplo de uma assessoria de comunicação e até ingressar na política.

Esse seu conceito e densidade eleitoral chega aos ouvidos do então candidato a governador Pedro Irujo, que o filia ao PRN e o faz candidato a deputado estadual, com a possibilidade de estar entre os mais votados, conforme as pesquisas. Como não poderia apresentar seus dois programas, substituo-o, mantendo o mesmo estilo, enquanto ele viajava dia e noite para manter o contato com os eleitores.

Disparado nas pesquisas, Odilon comete o pecado de não planejar a famosa boca de urna, e no dia da eleição sai de casa apenas para votar e aguardar a apuração. O resultado não poderia ser dos piores, todas as suas intenções de voto foram providencialmente trocadas nas entradas das cidades, comandadas pelos prefeitos e seus cabos eleitorais, com polpudas ofertas em dinheiro ou outros bens de consumo.

A fragorosa derrota não abalou Odilon, que continuou seu labor no rádio e nas salas de aula. Anos depois, retorna ao seu antigo partido, o PCdoB, porém não se aventura a outra candidatura. E assim esse piauiense tocava sua vida, sem reclamar da sorte, nem mesmo dos períodos em que passou fugitivo trabalhando na zona rural, ou na prisão, onde sofreu todos os tipos de tortura.

Assim como o colega Tyrone Perrucho, Odilon Pinto de Mesquita Filho era agnóstico, mas convivia com as crenças. Sonhava com o delta do Parnaíba, no qual passou parte de sua vida, que levava na esportiva. Numa das nossas muitas viagens, uma delas à Amazônia, não perdia a fleuma em nos acompanhar – a mim e ao fotógrafo Águido Ferreira – nas incursões aos bares e restaurantes, mesmo que tivesse de tomar duas doses de insulina.

Com o tempo, passou a apresentação do programa na Fazenda do Odilon para o filho Rivamar e se dedicou exclusivamente à educação, aos livros e aos artigos que escrevia para o Diário Bahia. Aos 72 anos, com a diabetes aperreando, morreu vítima de infarto, deixando um legado importante para a comunicação e a educação do Sul da Bahia. Mais um exemplo de vida que nos deixa fora do combinado.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado e mantém o blog walmirrosario.blogspot.com.br

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Odilon, eu fiquei na roça. De teimoso, porque aqui é meu chão. Virei meeiro, trabalho muito e divido os ganhos com o dono da fazenda. Pra você eu posso contar; dois filhos meus foram pra Itabuna. Um trabalha no comércio,  casou, leva uma vida simples, mas é uma pessoa de bem.

Daniel Thame (para Odilon Pinto)

“Querido Odilon,   essa carta chega até você molhada pelas lágrimas de saudade, mas também de gratidão.

Ah, Odilon. Você nem imagina quantas e quantas vezes nós sentava em torno do rádio, tomando o café,  pra ouvir seu programa e

principalmente o quadro Vida na Roça.

Eram histórias de amor, de tristeza, da vida dura no campo, mas também de momentos felizes que só você sabia contar. Porque você era um de nós, Odilon.

Nós só ia pras roças de cacau depois que seu programa terminava  e já ficava esperando o dia seguinte.

A vida na roça nunca foi fácil para o trabalhador,  mas nós vivia com dignidade, fome ninguém passava. E tinha as festas, de Reis, de São João, de Natal, o povo todo das fazendas se reunia e era uma alegria de dar gosto…

Uma vez no Natal eu levei um leitãozinho pra você lá na Rádio Jornal, você me recebeu na maior simplicidade e ainda me agradeceu na rádio.

E todo mundo ouviu, Odilon, porque não tinha fazenda nesse mundão de Deus que não tivesse um rádio só pra ouvir você.

Ah Odilon, que saudade desse tempo.

Depois veio essa desgraçada da vassoura de bruxa e tudo mudou pra pior. O cacau praticamente acabou, nós ficou perdido porque pra nós o cacau nunca iria acabar.

Odilon, muitos companheiros perderam o emprego, famílias inteiras ficaram sem rumo. Teve até Tonho, pai de cinco filhos, trabalhador retado, que mergulhou na cachaça e um dia se atirou no Rio Pardo, pra nunca mais voltar.

Teve Zeca, que pegou a família e foi pra São Paulo com quase nenhum dinheiro e não mandou mais notícias. Teve Maria, que foi abandonada pelo marido, se trancou em casa com os três filhos pequenos e passou a viver do pouco que nós conseguia levar.

Tanta gente que partiu, Odilon.

Odilon, eu fiquei na roça. De teimoso, porque aqui é meu chão. Virei meeiro, trabalho muito e divido os ganhos com o dono da fazenda. Pra você eu posso contar; dois filhos meus foram pra Itabuna. Um trabalha no comércio,  casou, leva uma vida simples, mas é uma pessoa de bem.

O outro, Odilon, se meteu com uma tal de droga, já foi preso, vive  em confusão e só de falar dá um aperto no coração. Minha véia é só que chora e ora o tempo todo pra Deus tirar ele desse caminho.

Odilon, acho que tô me alongando demais.

Quero encerrar essa carta dizendo uma coisa do coração.

Você nos deixou, a vida na roça tá em silêncio, mas nós tem certeza de que a partir de agora os anjos, santos e até Deus vão parar todas as manhãs pra ouvir  você contando causos da  Vida no Céu.

Daniel Thame é jornalista.

Sul da Bahia perde Odilon Pinto|| Foto Celina Santos/Diário Bahia
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Itabuna perdeu, nesta quarta-feira (13), um dos seus maiores comunicadores. Muito conhecido no sul da Bahia, principalmente pelos moradores mais velhos da zona rural, o radialista, escritor e professor Odilon Pinto faleceu aos 72 anos. Ele foi vítima de infarto.

Odilon Pinto Mesquita Filho era uma das pessoas mais queridas do rádio regional, tendo comandado, durante décadas, o programa de Fazenda em Fazenda, líder absoluto nas madrugadas e manhãs da Rádio Jornal. Mas também será sempre lembrado na área educacional. Ele lecionou em escolas públicas e faculdades de Itabuna, além da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).

Formado em Letras, doutor em Linguística, Odilon Pinto era de uma simplicidade impressionante. “Enquanto tem muita gente sem o título exigindo ser tratado como doutor, o mestre Odilon nunca teve essa vaidade. Em uma das aulas, eu tive a ousadia de falar: doutor, professor Odilon Pinto. Ele, educadamente, respondeu: só professor, Ailton”, recorda-se o jornalista Ailton Silva.

Era dedicado no que fazia e sabia transmitir conhecimento. “Eu tive a sorte grande de ter sido aluno dele no antigo Colégio Polivalente de Itabuna, no Curso de Técnico em Redator e, anos depois, no Curso de Jornalismo, na faculdade. Sempre tive um respeito enorme e a minha admiração será eterna”, afirma Silva.

Odilon não era apenas um comunicador espetacular e excelente professor, mas resenhista de primeira. “Certa vez, numa aula de Língua Portuguesa, focado em passar bem o conteúdo, Odilon lançou várias perguntas para a turma. Uma das indagações foi sobre a perda do trema, na palavra sequestro, quando o Acordo Ortográfico entrasse em vigor. A turma inteira e professor deram muitas gargalhadas quando uma colega, na resenha, disse que o sinal gráfico cometeria o próprio sequestro. Essa é só uma das muitas resenhas na aula dele”, conta o jornalista.

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Joselito Reis lança livro de poesias
Joselito Reis lança livro de poesias

Com prefácio do professor Raimundo Galvão e apresentação do jornalista Nilson Andrade, ambos já não mais entre nós, o poeta e jornalista Joselito dos Reis lança o seu primeiro livro de pensamentos e poesias, Grito Sem Eco, nesta quinta (27), às 19h, no Centro de Cultura Adonias Filho, em Itabuna.

O livro conta com as participações dos jornalistas Rosi Barreto, Waldyr Montenegro, Odilon Pinto e Paulo Lima e da professora Zélia Possidônio, que também é poeta e atriz, aparecendo com uma reflexão e um grito existencial num mundo perdido pelo individualismo e pelo consumismo.

O poeta diz que o livro tem esse título – Grito Sem Eco, porque, no passado, cada pessoa no campo ouvia o eco do seu próprio grito transpirando nos vales e montanhas, “o que não acontece nos dias de hoje devido à poluição que impregnou nossas ruas ou até mesmo o nosso espaço sideral infestado de gadgets e equipamentos dos mais diversos”.

“Ao leitor, cabe adquirir o livro e descobrir muitos outros conceitos que transcendem aos limites de uma poesia lírica, romântica, social, sempre numa linguagem clara e direta, que perpassa de forma transversal o campo das metáforas, para, com certeza, sensibilizar mais ainda aqueles que buscam a essência das coisas e são sensíveis ao universo que nos cerca”, diz o jornalista e poeta.

APOIO

Com tiragem de mil exemplares, numa produção independente, o poeta que esperou 36 anos para lançá-lo, diz que a publicação do livro só foi possível devido à sensibilidade e à colaboração direta do empresário Delson Mesquita, da Editora e Gráfica Mesquita. Delson ofereceu o apoio decisivo e embarcou de cabeça no projeto editorial, cuidando dos detalhes e da arte final.

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Vily Modesto e Odilon Pinto, ícones do jornalismo baiano.
Vily Modesto e Odilon Pinto.

Vily Modesto, marcou época na Rádio Jornal de Itabuna, com o programa matinal das 7 às 9 da manhã, que levava seu nome. Músicas (com destaque para seu ídolo e amigo Roberto Carlos), notícias e entretenimento, em duas horas diárias do melhor que o rádio podia oferecer em termos de qualidade.

Odilon Pinto fez história,  também na Rádio Jornal, com um programa voltado para o homem do campo. Das 5 as 7 da manhã, a voz de Odilon ressoava por todo o Sul da Bahia, tendo como ponto alto o quadro “Vida na Roça”,  cartas dos ouvintes contando experiências de vida, que Odilon dramatizava e que depois se transformam em livro editado pela Via Litterarum e numa coluna fixa, Coisas da Vida,  no Diário Bahia.

Vily e Odilon, dois marcos e mestres da comunicação regional, se afastaram dos microfones e vivem, por opção ou necessidade, períodos de reclusão.

Fizeram história e fossemos mais cuidadosos em homenagear quem efetivamente merece, deveriam ser reverenciados inclusive pelos cursos de comunicação, tão desleixados que são quando se trata de olhar para o passado, de assimilar experiências extraordinárias.

No Dia do Jornalista, o Blog do Thame celebra Vily e Odilon, dois grandes jornalistas que fazem falta, muita falta.

Viva Vily. Viva Odilon.

Vivam ambos, protagonistas e não meros figurantes nessa vida que a gente vive uma vez só.

Do Blog do Thame

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O professor, radialista e jornalista Odilon Pinto emocionou – e surpreendeu- leitores e colegas de profissão ao retratar em sua coluna, no Diário Bahia, a luta pela vida.
Doutor em Linguística, professor de redação, radialista e jornalista, o profissional que lançou o Namoro no Rádio, na Rádio Jornal, sofre de diabetes, pressão alta e catarata, ele escreve: “Odilon ainda não se rendeu! Ainda estou vivo!”. Confira a íntegra da coluna:
AINDA VIVO… E STALINGRADO AINDA NÃO SE RENDEU…
Odilon PintoNa Segunda Guerra, o poderoso exército de Hitler cercou a cidade russa de Stalingrado. O mundo inteiro ficou aguardando a manchete inevitável da iminente vitória nazista. No entanto, os dias foram se passando e, ao final de cada boletim de notícias, ouvia-se a teimosa repetição: “E Stalingrado ainda não se rendeu!” Os russos lutavam desesperadamente por sua pátria e por suas vidas. Os alemães resolveram manter o cerco e o bombardeio à cidade, deixando que a fome dizimasse sua população. Mas os dias continuaram passando, enquanto os rádios bradavam ao mundo: “E Stalingrado ainda não se rendeu!” Homens, mulheres e crianças comiam pedaços de pano, folhas de árvores, solas de sapato, pedaços de madeira e tudo o mais que pudessem cozinhar, mantendo-se abraçados aos seus poucos fuzis de combate. Finalmente, após alguns meses, o povo derrotou o exército nazista. Estou lembrando esse fato histórico porque estou vivendo situação parecida, em meus 66 anos de idade. O exército nazista da Morte avança sobre meu corpo, cercando-o com diabetes, pressão alta, neuropatia nas pernas e catarata nos olhos. Resisto como posso, mas não tenho sequer o último direito à esperança: sei que minha batalha será definitivamente perdida. De nada adiantarão os remédios, as dietas nem os exames: nunca terei a glória de um final feliz. O único sonho que ainda posso ter é o de um fim rápido e sem dor. Não serei um herói, nem receberei honras, Serei despachado da vida sem indenização, apenas com o recibo de óbito. Por isso, a notícia de mim mesmo que posso dar por este jornal é repetir, enquanto posso: “Odilon ainda não se rendeu! Ainda estou vivo!”

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Manuela Berbert

Nunca imaginei ter um vizinho ladrão de jornal. Mas, pasmem, acontece nos melhores bairros.

Minha mãe descobriu os prazeres da internet. Passa horas navegando e lendo as notícias do mundo afora. E, claro, como em toda família em que existe jornalista, vem comentar comigo. Essa semana me contou de um caso interessante, que leu num site nacional: uma mulher foi encontrada morta, na Europa, dentro do seu próprio apartamento, quase nove anos depois. Sentiram falta dela, mas não fizeram muita coisa diante de tal desaparecimento.

Fiquei me perguntando: que família seria a dela, que vizinhos ela teria, que vida essa mulher levava. Procurei a matéria e, mesmo lendo a descrição dos mais próximos de que ela seria uma pessoa isolada, fechada, fiquei estarrecida com a situação. Que triste fim!

Lembrei do meu vizinho, um senhor inconveniente que, vez ou outra, bebe e faz gracinhas. Nada que venha a tirar o sono de todos, já que geralmente ele denigre a própria imagem, gritando, falando alto, discutindo com sua sombra. Sequer sei o seu nome, tamanha a minha aproximação com ele. Mas sentiria sua falta.

Dia desses, aconteceu um fato interessante: meu irmão, ao acordar muito cedo para ir trabalhar, o viu, com um cano de PVC nas mãos, furtando pela grade os nossos jornais, entregues ainda na madrugada. Entendeu porque, muitas vezes, sentia falta dos periódicos. Eu achava que Marcelo, por sair sempre cedo, levava as edições com ele. Ele achava que muitas vezes a entrega era tardia, e que eu lia e ‘dava fim’.

Nunca imaginei ter um vizinho ladrão de jornal. Mas, pasmem, acontece nos melhores bairros. Daria uma crônica interessante, se contada ao mestre Odilon Pinto, já que meu irmão se sentiu constrangido com o episódio e ficou quieto, com vergonha de ser flagrado. Acontece que, ao passar na porta da residência do ‘cabra’, o viu sentado, na companhia do vigia da rua, de jornal em punho, lendo. Parou o carro e disse: “quando terminar de ler, devolva!”

Manuela Berbert é jornalista, estudante de Direito e colunista da Contudo.

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ENTERRAMOS O SÍMBOLO DE UMA GERAÇÃO

Ousarme Citoaian
A última edição do UP estava sendo blogada quando Nelito Carvalho era enterrado (e eu, vítima do mecanismo da repetição, quase escrevi “o corpo de Nelito Carvalho”) no cemitério da Santa Casa de Itabuna. “Foi-se uma era, o marco de uma geração” –  recitei para o jornalista Marival Guedes, nós dois ao lado do caixão aberto. Minutos depois, admiti que se Nelito pudesse pular dali, viria, de dedo em riste, me chamar de piegas ou, pior ainda, esgrimir seu adjetivo preferido: imbecil (que ele estenderia aos circunstantes, pelo pecado de me ouvirem). Nelito era assim: pão, pão; queijo, queijo – e mesmo com os amigos seu nível de hipocrisia era zero.

UM HOMEM QUE ERA BOM E NÃO SABIA

Nelito era bom e não sabia, talvez porque seu credo de comunista nunca teve como ponto focal a bondade, mas a justiça. No entanto, que homem bom ele foi! O seu SB – Informações e Negócios (antes, fez o Jornal de Notícias, com Manuel Leal) foi laboratório que projetou muita gente no jornalismo regional. Por ali passaram Paulo Afonso, Jorge Araujo, Kleber Torres, Cyro de Mattos, Mário de Queiroz, Alberto Nunes, Plínio Aguiar, Raimundo Galvão, Marival Guedes, Eduardo Anunciação, Chiquinho Briglia, Pedro Ivo, Antônio Lopes, Helena Mendes, Roberto Junquilho, Manuel Lins e vários e outros. Mesmo que dela retiremos os ingratos, os que chutaram o prato em que comeram, ainda assim a relação está longe de ficar completa.

RICO, TEVE A GENEROSIDADE EXPLORADA

Se alguém afirmar que Nelito foi um mecenas ele não resistirá à ofensa: ressurgirá dos mortos para protestar contra a infâmia (de dedo na cara do difamador “imbecil”, é claro). Mas, me dói dizer, ele estaria sendo injusto: quando rico (teve lá sua fase de pobreza intensa, criada pelo romantismo), custeou todo tipo de maluquice que lhe foi apresentada, na exploração de sua generosidade, a todos deu a mão. Este registro é feito na suposição de que muitos “alunos” de Nelito gostariam de fazê-lo, mas não encontram espaço. E com a certeza de que, em vida dele, este texto jamais poderia ser publicado. Ele me chamaria de piegas, no mínimo.

A LÓGICA EM OPOSIÇÃO AO ROMANTISMO

Restou dizer que chamá-lo de “romântico” seria outro motivo para uma fulminante resposta desaforada: comunista confesso, perseguido, mas nunca renunciante da doutrina que abraçou desde cedo, Nelito Carvalho – como é próprio dos marxista – cultivava a lógica, em detrimento do romantismo, e o materialismo em oposição ao idealismo. Creio ser mais justo retirar o termo anterior e afirmar que se ele não foi mais longe como empresário foi devido à sua absoluta falta de habilidade para sobreviver como homem de negócios no mundo capitalista hostil que ele tanto combatia. E, claro, à sua imensa generosidade que muitos exploraram sem nem lhe dizer “obrigado”.

OS GOLEIROS E O CAVALO DE ÁTILA

Talvez a literatura sobre futebol, para me deixar mal, não seja assim tão árida quanto eu disse aqui – e mais árida terá sido minha ignorância. No site do jornalista Flávio Araújo encontro dois livros que eu não conhecia e que falam, especificamente, de… goleiros. São trabalhos que, por certo, merecem ser lidos por quem se interessa pelo famoso esporte bretão. No primeiro, Goleiros – heróis e anti-heróis da camisa 1, do jornalista Paulo Guilherme, descobre-se que aquela posição digna do cavalo de Átila (“Onde goleiro pisa, não nasce grama”, diz o folclore) já foi ocupada por ilustres personagens (ao menos ilustres fora do campo).

O FRANGO AO ALCANCE DE TODOS

Para exemplificar, anotem que a meta foi defendida por figuras como o papa João Paulo II, o escritor francês Albert Camus (autor de A peste), o inglês “sir” Arthur Conan Doyle (criador de Sherlock Holmes), o cantor espanhol Julio Iglesias e o revolucionário argentino Ernesto Che Guevara. Como se vê, o lugar, antes chamado de “debaixo dos três paus”, é um espaço democrático, tendo sido habitado (com os frangos que a inabilidade chama), por tipos faceiros e de filosofias muito diferenciadas. Já o outro livro, de Roberto Muylaert, tira de campo os amadores e fala de um goleiro de verdade, numa história real e muito pouco engraçada.

DÍVIDA QUE ZAGALLO NUNCA PAGARÁ

Em Barbosa – um gol faz cinqüenta anos Muylaert narra o drama do grande goleiro Moacyr Barbosa, sempre estigmatizado por ter levado aquela bola de Gighia na Copa do Mundo de 1950, que deu a vitória aos uruguaios. O evento, já citado nesta coluna, passou à história com o nome de Maracanazo, o dia em que o Brasil estava prontinho para comemorar o primeiro título de campeão mundial e, subitamente, calou-se e caiu no choro convulsivo. Em tempos recentes, o técnico Zagallo proibiu a entrada de Barbosa na concentração do Brasil, alegando que o goleiro era pé-frio. A atitude inqualificável do ex-técnico gerou uma dívida que ele morrerá devendo.

O SILÊNCIO DO POETA SOB A CHUVA

Certa vez, num restaurante,
Dentro do espaço e do tempo,
Eu vi Padilha, o poeta,
Que vinha de estar infeliz
Pois trazia, contraídas,
Palavras, não de beijo, mas de fúria,
Esmagada no silêncio dos seus lábios.

Não quis sentar à mesa nem provar
Uma gota sequer do Johannesberg:
Foi-se embora em silêncio
Sem dizer a que veio, sob a chuva,
Como Pessoa,
Que nada encontrou, jamais,
Vindo de Beja  para o meio de Lisboa..

QUARTETO CHEIRA A FERNANDO PESSOA

Carlos Roberto Santos Araujo, autor de “Telmo Padilha II”, nasceu em Ibirapitanga (1952), mas “estourou” em São Paulo: ganhou lá o Concurso Governador do Estado, com a coletânea de poemas. Foi juiz de Direito em Itabuna e hoje é desembargador do Tribunal de Justiça da Bahia. Publicou os seguintes livros de poesia:  Nave submersa (1986), Lira destemperada (2003), Sonetos da luz matinal (2004) e Viola ferida (2008). Cultor de variadas forma de expressão poética (em particular, o soneto)  CRSA, em Soneto da noite escura, lembra outro grande nome da poesia em língua portuguesa: “A chuva toca piano/ Nos tímpanos da tarde nua,/ Dedilha com dedos lânguidos/ O teclado das lentas ruas”. Fernando Pessoa bem que poderia assinar este quarteto.

O DUPLO ALFABETO DOS BRASILEIROS

A coluna não emite regras de português (apenas sugestões e preferências) e não é o que o professor Odilon Pinto chamaria “Pronto-Socorro gramatical” (aliás, muita gente ficaria espantada com meu desconhecimento de gramática). Mesmo assim, volta e meia nos vêm consultas sobre determinadas questões. Exemplo: recentemente nos sugeriram “explicar”  o porquê de as pessoas  pronunciarem o nome de famoso político baiano (isola: toc! toc! toc!) como a-cê-eme e não a-cê-mê (do jeito nordestino). E antes que alguém ache isso natural, vamos lembrar que quem fala a-cê-eme fala também  a-fê-i (para Ação Fraternal de Itabuna) e não a-efe-i. Haveria contradição nesse comportamento?

O “FÊ-GUÊ-LÊ-MÊ” SUMIU DOS DICIONÁRIOS

Salvo melhor juízo, não existe aqui nenhuma incoerência. A pronúncia do “fê-guê-lê-mê”  é legitimada  pelo Aurélio,  o Michaelis a identifica como  regional (Nordeste), enquanto o Priberam (Portugal) sequer a menciona. No caso da AFI (a-fê-i) trata-se de consagração pelo uso, e dizer-se a-efe-i soaria absolutamente pernóstico, além de quase ofensivo às gerações de alunas que passaram pela escola de Dona Amélia Amado. Em Ilhéus, o Instituto Municipal de Educação (I. M. E.) é tratado como i-mê-é, igualmente por tradição de uso: por certo, chamar de i-eme-é o venerando “Ginásio Eusínio Lavigne”, de tanta história, não o identificaria perante os seus mestres e ex-alunos.

A IDENTIDADE NORDESTINA ESTÁ EM PERIGO

Acima da escolha de eme ou , está a questão da cultura nordestina, que vem sendo minada pela “globalização da linguagem” (fenômeno que chamo assim por falta de nome mais adequado), num  processo em que a mídia eletrônica é fundamental.  A antena parabólica liga o brasileiro do interior a um mundo que não é o dele, integrando-o, via novelas e telejornalismo, a uma “realidade de ficção” (se é que posso assim me expressar). Parece que já nos falta coragem para defender os valores regionais, enquanto sobra vergonha do nosso sotaque – e assim se esvai nossa identidade de povo nordestino. A propósito do citado dirigente, chamá-lo a-cê-eme ou a-ce-mê daria no mesmo mané luiz.
</span><strong><span style=”color: #ffffff;”> </span></strong></div> <h3 style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>E FRED JORGE CRIOU CELLY CAMPELLO!</span></h3> <div style=”padding: 6px; background-color: #0099ff;”><span style=”color: #ffffff;”>No auge do sucesso, em 1965, a música teve uma versão no Brasil, gravada por Agnaldo Timóteo. Como costuma ocorrer com as

DO NORDESTE PARA O MERCADO NACIONAL

Zé Dantas, médico, poeta e folclorista pernambucano (Carnaíba, 1921 – Rio, 1962) ajudou muito a “nacionalizar” a música popular nordestina em geral. Fez mais de 50 composições (a grande maioria com Luiz Gonzaga), sendo que pelo menos uma dúzia delas é de clássicos que todo mundo conhece: Vozes da seca, Cintura fina, A volta da asa branca, Xote das meninasRiacho do navio, Sabiá, A dança da moda, Farinhada, Imbalança, Vem morena, Forró de Mané Vito, Letra I. Dantas (na foto, com Luiz Gonzaga), que não quis seu nome nas primeiras letras que foram gravadas – para que o pai não lhe cortasse a mesada de estudante, fez também a letra de ABC do sertão, ilustrativa do que queríamos dizer. Clique, veja e ouça.
(O.C.)