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Manuela Berbert | manuelaberbert@yahoo.com.br

Brown amadureceu. E provou isso quando disse à imprensa, antes de partir para Los Angeles, que o prêmio era um grande acontecimento, mas uma festa de outro país.

Percussionista renomado, Carlinhos Brown é conhecido como o Cacique da Bahia. Foi um dos criadores do samba-reggae e em 1989 fez parte da banda de Caetano Veloso, estourando tanto no Brasil quanto no exterior com a música Meia lua inteira. Aventurou-se como compositor, conquistou o Troféu Caymmi, um dos mais importantes da música baiana, e rodou o mundo com João Gilberto, Djavan e João Bosco. Talentosíssimo, porém, bastante polêmico. E isso assustava até os fãs mais fiéis.
Lembro dele à frente da Timbalada, ainda na década de 90, quando projetou a banda nacional e internacionalmente. Elevou a autoestima do Candeal, onde nasceu, e norteou a vida de muitos jovens do bairro, onde ainda desenvolve projetos sociais.
Conheci um jovem timbaleiro em terras sergipanas, onde nos tornamos amigos. Numa ocasião, já em Itabuna, contou-me que o cantor estava em clima de despedida da Timbalada. Quando questionei o seu futuro na banda, respondeu-me que ficaria onde o Cacique determinasse, e toca na banda solo de Carlinhos Brown até hoje.
Confesso que fiquei surpresa com tamanha devoção, já que o cantor que eu conhecia, até então, era exagerado em tudo: ele gritava demais, pulava demais, xingava demais, era alvo de críticas, vaias etc.
Mas foi a partir do Projeto Tribalistas, um trabalho desenvolvido com Marisa Monte e Arnaldo Antunes, em 2002, que Brown começou a amadurecer. Prêmios, milhões de cópias vendidas e um homem mais comedido, num tom de voz mais baixo e frases conectadas entre si.  Acho que de lá para cá ele só cresceu profissionalmente: carreira internacional com base sólida na Europa, shows, produções de discos, de trilhas para espetáculos de dança, filmes, dentre outras produções.
Se a indicação ao Oscar fosse em 1998, ano em que Carlinhos ficou nu em cima de um trio elétrico no Carnaval de Salvador, o Brasil teria ficado tenso, receoso do que ele poderia “aprontar”. Mas Brown amadureceu. E provou isso quando disse à imprensa, antes de partir para Los Angeles, que o prêmio era um grande acontecimento, mas uma festa de outro país, e que a sua realidade era o chão da Bahia. Talvez estivesse prevendo a sabotagem da qual foi vítima no tão sonhado tapete vermelho. Salve Brown!