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Helenilson Chaves

Espera-se, em caráter imediato, uma medida que impeça a importação desenfreada de cacau, absolutamente desnecessária neste momento.

É com satisfação que vemos a iniciativa dos produtores de cacau do Sul da Bahia de promover manifestação contra a importação de cacau. Um movimento que não deve se limitar aos produtores, mas a toda sociedade organizada.
Por conta da queda na produção de cacau brasileira, a importação de amêndoas da África e da Ásia se tornou necessária para manter as indústrias em funcionamento.
Ocorre que nos últimos dois anos, a safra brasileira vem apresentando um processo contínuo de recuperação, chegando a 137 mil toneladas na safra 2012/2013. E a tendência é de que esse volume aumente na próxima safra.
Com isso, o que era solução, se transformou em problema. A manutenção das importações faz com que as indústrias processadoras deixem de comprar o cacau nacional. E com oferta crescente, os preços despencam, chegando a irrisórios 58 reais a arroba. Um valor que não cobre nem os custos de produção.
É importante observar que mesmo com dividas astronômicas e dificuldades para a obtenção de novos créditos, os produtores sul baianos, dotados de notável espírito empreendedor, conseguem retomar a produção e delinear um quadro em que o cacau volte a ser um fator preponderante na economia regional, com a necessária ressalva que não se pode mais pensar em monocultura.
Mas, por outro lado, não se pode tratar o cacau como uma cultura irrelevante, que já deu o que tinha que dar.
E é aí que entra a necessidade de uma ação governamental mais efetiva, transformando em realidade projetos de recuperação da lavoura, como o PAC do Cacau.  É o mínimo que se pode esperar como retribuição a um produto que tanto contribuiu com a economia do Brasil e da Bahia e que ainda tem muito oferecer aos sul-baianos.
Espera-se, em caráter imediato, uma medida que impeça a importação desenfreada de cacau, absolutamente desnecessária neste momento; além do risco de introdução de novas pragas numa lavoura que já sofreu o suficiente com a vassoura-de-bruxa.
Um dos grandes pecados do produtor de cacau ao longo de décadas foi o excessivo individualismo, a completa ausência de espírito coletivo, a incapacidade de mobilização.
A manifestação contra a importação de cacau pode sinalizar um novo paradigma, em que a soma de esforços de uma sociedade que luta para se reerguer, resultará numa união permanente, que nos tornará fortes o suficiente para sermos ouvidos e atendidos em nossas justíssimas reivindicações.
Helenilson Chaves é diretor-presidente do Grupo Chaves.

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Longe dos confetes oficiais, o PAC do Cacau completou três anos de implementado e até agora apresenta resultados pra lá de duvidosos. Do universo de cacauicultores que poderiam ser beneficiados pelo programa, apenas 4.477 renegociaram suas dívidas. E 5.402 produtores ficaram de fora. Os que já renegociaram as dívidas somam um total de R$ 120 milhões. Já os que ainda estão de fora, R$ 400 milhões.
Há quem defenda uma nova prorrogação do prazo de renegociação. O deputado federal Geraldo Simões (PT) está entre estes. Numa linguagem que foge ao habitual dele, o petista diz que “é fundamental trazer os agricultores do Sul da Bahia à condição de sujeitos de crédito”.
O parlamentar cita, ainda, que dentre os 5.402 que ficaram de fora, 500 não conseguiram concluir a operação de crédito por causa do prazo, encerrado em 30 de junho.

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Josias Gomes | josiasgomes@uol.com.br

A crise certamente trouxe lições. A região está hoje mais amadurecida, conhece a necessidade de diversificar sua base produtiva e de não se limitar ao setor primário.

Algo fantástico acontece quando se percebe que estamos vivendo um momento verdadeiramente histórico e importante. Para os brasileiros, a vitória de Lula, não somente eleitoral, mas como o maior presidente que o Brasil já teve, seguida da eleição da primeira mulher presidenta, significou uma ruptura com a velha ordem. Quem teve e tem a oportunidade de vivenciar toda a riqueza desse período pode se considerar um agraciado pela História, com “H” maiúsculo.

Tenho igual sentimento com a fase em que se encontra a rica e abençoada, embora sofrida, região cacaueira da Bahia. Após décadas de crise, a lavoura ressurge com toda força, embalada pelo PAC do Cacau, por um trabalho heroico e incansável da Ceplac  e pela elevação do preço da commodity.

As fazendas vêm elevando sua produção e centenas de produtores tiveram a oportunidade de renegociar suas dívidas com os bancos oficiais. O clima é de um otimismo que há muito tempo não se via na região, o que traz enorme alegria a este deputado que teve a chance e a honra de participar da primeira Câmara Setorial do Cacau.

A crise certamente trouxe lições, pois esse é um dos atributos das dificuldades: o de ensinar a trilhar novos caminhos e refazer estratégias. A região está hoje mais amadurecida, conhece a necessidade de diversificar sua base produtiva e de não se limitar ao setor primário. Hoje se tem a noção exata da importância de  não se limitar à produção do fruto para vendê-lo “ in natura”.  A industrialização chega ao sul da Bahia, trazendo consigo a expectativa de um desenvolvimento sólido e perene.

Em paralelo, a região debate cheia de expectativas a questão do Porto Sul, um investimento bilionário que também representa um marco. Pela primeira vez em décadas, o interior do Estado recebe um empreendimento de tal porte, que inclui uma ferrovia com 1.100 quilômetros somente no território baiano (de Barreiras a Ilhéus), um aeroporto internacional e um porto para navios de grande calado. Essa infraestrutura permitirá o escoamento de produtos como grãos, fertilizantes e minérios, beneficiando o estado com o aumento da arrecadação e a geração de novos empregos.

O Porto Sul traduz a opção do Governo da Bahia, com o apoio do Governo Federal, de interiorizar o desenvolvimento baiano, há décadas concentrado em Salvador e Região Metropolitana. É uma opção corajosa e coerente, que demonstra visão estratégica e compromisso com o crescimento de nosso Estado.

Não deve passar despercebido o alerta do governador Jaques Wagner, que, na abertura dos trabalhos da Assembleia Legislativa, nesta terça-feira, 15 de fevereiro, chamou atenção para as movimentações de forças políticas de outros estados, interessadas em impedir que a Bahia dê esse salto para um novo ciclo de progresso.

O envolvimento das lideranças e a participação efetiva da sociedade baiana nesta questão é fundamental para que o Porto Sul não “morra na praia”. Viver esse momento histórico não é apenas um privilégio, pois implica em assumir desafios e não se deixar atropelar pelos fatos. Quem entende a demanda e assume essa postura tem uma oportunidade a mais: a de fazer história.

Outro ponto importante é que a defesa do Porto Sul não significa passar ao largo da questão ambiental e da responsabilidade com o desenvolvimento sustentável. O debate está aberto e deve ser travado de maneira democrática, com foco no interesse regional  e buscando caminhos para que o impacto no meio ambiente seja o menor possível. Frisamos ainda que não se deve colocar os defensores do projeto em área oposta aos que lutam pela preservação da natureza, pois isso empobrece a discussão. Todos devemos nos posicionar em defesa do meio ambiente, mas há muito tempo isso deixou de ser obstáculo ao crescimento.

Josias Gomes é deputado federal e ex-presidente do PT da Bahia.

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Geraldo comemora aprovação de MP.

O Senado Federal aprovou, sem alterações, a Medida Provisória que valida a negociação do Tesouro Nacional na capitalização da Petrobras e incluirá entre 3 mil e 10 mil produtores no PAC do Cacau. A votação ocorreu nesta quarta, 15. A MP 500 já havia passado pelo crivo dos deputados federais e teve Geraldo Simões (PT) como relator na Câmara.
Geraldo é o autor da emenda que incluiu mais cacauicultores no PAC. A MP agora vai à sanção presidencial e poderá contemplar produtores que contrataram empréstimos do Pronaf, do Fundo de Financiamento do Nordeste (FNE) e da quarta etapa do Programa de Recuperação da Lavoura Cacaueira.
Estes produtores terão até 30 de junho de 2011 para renegociar a dívida e ter acesso a crédito novo com prazo de carência de oito anos e 20 anos para pagar o financiamento. A medida amplia as faixas de desconto e inclui três mil produtores que, na forma como foi aprovada no Senado anteriormente, não teriam direito a crédito do PAC do Cacau, programa que destina R$ 2,52 bilhões para a diversificação e reestruturação da lavoura cacaueira.

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Geraldo: emenda beneficia 10 mil produtores.

A Câmara dos Deputados aprovou, há pouco, a Medida Provisória 500, que permite ao governo federal e empresas públicas comprar e vender ações sem deixar de ser majoritário. Na prática, foi uma MP para validar a capitalização de R$ 120 bilhões da Petrobras. A medida teve como relator o deputado federal Geraldo Simões, que incluiu emenda beneficiando diretamente 10 mil produtores de cacau.
A MP, acredita Geraldo, fará deslanchar o PAC do Cacau. “Antes, não havia legislação que amparasse as negociações no caso de produtores de outros programas de financiamento da lavoura. Faltava o arcabouço jurídico”, diz. A aprovação da medida provisória foi confirmada há pouco pelo deputado, em contato com o PIMENTA. “Antes, não havia prazo nem tabela de desconto para estes produtores”, assinala, numa referência à Emenda 472, de autoria do senador César Borges.
Com a emenda, que ainda precisa ser aprovada pelo Senado, o prazo de renegociação da dívida (que havia encerrado em dezembro do ano passado) vai até 30 de junho de 2011. Os produtores agora incluídos com a MP 500, assinala Geraldo, terão oito anos de carência e prazo de 20 anos para quitar a dívida da renegociação.
Geraldo Simões comemora a aprovação. “O mais difícil eram os recursos e a vontade do governo em conceder desconto. Isso já temos”. O PAC do Cacau foi lançado em maio de 2008 pelo presidente Lula, na praça Dom Eduardo, em Ilhéus. Até agora, pouco mais de dois mil produtores tiveram acesso a parte dos R$ 2,52 bilhões do Programa.

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Souto cumprimenta eleitor na Cinquentenário (Foto Pimenta).

O ex-governador Paulo Souto (DEM) repetiu em Itabuna o discurso de que mostrará a “verdade à população da Bahia” para reverter o quadro que aponta reeleição de Jaques Wagner (PT) ainda no primeiro turno. “Começamos a fazer isso na televisão e está dando muito certo”.
A última pesquisa, divulgada pelo Vox Populi, aponta Wagner com 46% e Souto com 17% (reveja aqui).
Hoje, Souto realizou carreata em Itabuna junto com a chapa majoritária e secretários municipais, como Carlos Burgos (Fazenda), Marcelino Oliveira (Agricultura) e Gustavo Lisboa (Educação). “Essa foi uma cidade que sempre esteve comigo e tenho certeza que aqui teremos
Souto insistiu que, além de falar da “realidade” da Bahia, também falará das suas obras e ações nos dois governos (1995-1998 e 200-2006). “Vamos mostrar o que já fizemos e como esse governo [de Wagner] abandonou a região. O sul da Bahia sofreu crise grande e teve absoluto desprezo do sul da Bahia”.
Entre os planos para o sul da Bahia, o ex-governador falou na polêmica estadualização do Hospital de Base (que o governo de Azevedo rejeita) e duplicação da rodovia Ilhéus-Itabuna.
O democrata disse que, seja qual for o eleito presidente, vai discutir “um plano verdadeiro não só para o cacau, mas para a economia do sul da Bahia”. Ele fez críticas à lentidão do PAC do Cacau, que previa liberação de R$ 2,52 bilhões para a economia regional. O candidato encerraria a carreata com um comício na praça Rio Cachoeira (Beira-Rio).

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Aproveitando a passagem dos cem anos de Itabuna, o empresário Félix Mendonça Júnior, filho do ex-prefeito homônimo e candidato a deputado federal pelo PDT, levantou a bandeira da união regional em favor da lavoura cacaueira.
 Para Mendonça, a união das forças políticas sul-baianas em defesa dessa causa seria “o melhor presente que a cidade de Itabuna ganharia no seu centenário”.
O empresário diz que a data oferece a oportunidade de chamar atenção dos governos estadual e federal  para a urgência de se ampliar as medidas previstas no PAC do Cacau, estendendo-o aos trabalhadores rurais e a todos os produtores.

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Wagner comemorou a aprovação da lei

Produtores de cacau que possuem dívidas de até R$ 15 mil poderão ser beneficiados com a lei 12.249/10, sancionada ontem (15) pelo presidente Lula. O dispositivo permite, por meio do PAC do Cacau, a remissão de quase 2 mil operações de pequenos produtores (com dívidas de até R$ 10 mil) e também favorece  com um desconto de 65% os agricultores que contraíram, até 15 de janeiro de 2001, empréstimos entre R$ 10 mil e R$ 15 mil.

A lei, que também prevê a ampliação de prazos na renegociação das dívidas, se restringe aos débitos assumidos junto ao Banco do Nordeste ou com recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Outro ponto estabelecido, que tem por base a Medida Provisória 472/09, é a suspensão das execuções fiscais relativas a produtores inscritos na Dívida Ativa da União até 30 de novembro de 2010.

O governador Jaques Wagner e o secretário da Agricultura da Bahia, Eduardo Salles, comemoraram a sanção da lei. “Estamos satisfeitos”, afirmou Wagner, acrescentando que houve empenho “junto ao presidente e ao ministro da Fazenda, Guido Mantega,  para resolver o problema dos produtores de cacau”. Segundo ele, “o PAC do Cacau vai dar nova força a esses produtores, que tanto sofreram no passado”.

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Geraldo: fim de armistício.

O senador César Borges (PR) e o deputado federal Geraldo Simões (PT) deram fim ao armistício do período em que o presidente dos Republicanos na Bahia era cotado para integrar a chapa majoritária do governador e candidato à reeleição, Jaques Wagner. No sábado passado, Borges, sem citar nomes, dizia que havia tentado reabrir o inquérito sobre a introdução da vassoura-de-bruxa no sul da Bahia.

Segundo ele, tratou de ter audiência com o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para pedir a reabertura do inquérito. “Mas claro, claro que não seria apurado. Aí, entraram outros interesses. Eu não digo nomes, mas vocês sabem [quem trouxe a doença para o sul da Bahia]. Ele anda por aí, fazendo política e enganando o povo”. Ao fundo, um grupo gritou o nome da ‘vítima’: “foi Geraldo Simões’.

Borges: 'preju' a 6 mil produtores.

Nesta semana, Geraldo retornou a Ilhéus e tratou de fazer “elogios” a César Borges. Lembrando matéria do jornal Valor Econômico (relembre aqui), o parlamentar disse que o senador “atrapalhou o PAC do Cacau ao fazer uma emenda beneficiando um grupo de grandes produtores” e deixando na fila da amargura 6,1 mil pequenos produtores. “Isto ocorre quando alguém não entende o processo e acaba atrapalhando, como foi o caso do senador”.

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Geraldo: esclarecimentos sobre MP do PAC.

O deputado federal Geraldo Simões cobrou esclarecimentos quanto à matéria do Valor Econômico que denunciou equívocos no Senado e no Ministério da Fazenda que deixaram 6,1 mil produtores de fora do PAC do Cacau. O jornal cita os senadores César Borges (PR) e Romero Jucá (PMDB) como os autores da confusão sobre a rolagem da dívida e prazos de pagamento.

Geraldo enfatiza que o senador César Borges apresentou a própria defesa, atribuindo o erro à Câmara dos Deputados. Agora, o parlamentar baiano disse considerar “da maior importância que seja plenamente esclarecido tudo o que aconteceu e porque foi aprovada uma proposição com erros de origem tão graves”.

O petista quer resposta para algumas perguntinhas: “por que propostas conflitantes constavam da Medida Provisória 472, proveniente do Senado? De quem é realmente a responsabilidade?”. Geraldo observa que o senador atribuiu o erro à Câmara dos Deputados. Se foi realmente isso o que disse o senador ao jornal, acrescenta, trata-se de acusação muito grave que tem de ser averiguada”.

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 O Senado aprovou nesta terça-feira (04), emendas que ampliam o alcance do PAC do Cacau para 1.300 produtores que ainda estão fora do programa. Os dispositivos, incluídos na PEC 472/2009 por acordo entre os senadores César Borges (PR/BA) e Romero Jucá (PMDB/RR), relator da matéria, determinam alteração na tabela de descontos, com a finalidade de compatibilizar a capacidade de pagamento com a produção. Permite ainda a compra de débitos do Pesa com recursos o Banco do Nordeste.

Para sair do papel, no entanto, as emendas ainda precisam enfrentar a caneta do Governo Federal. Existe o risco de veto, uma vez que o Ministério da Fazenda já havia rejeitado anteriormente as mesmas propostas.

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OUSARME FOI “DESMASCARADO”

Ousarme Citoaian

Demorou. Dentre as pessoas que gentilmente (às vezes, nem tanto, ai de mim!) comentam esta coluna, notou-se certa perplexidade com o alterônimo (?) Ousarme Citoaian. Alguém “ouviu o galo cantar”, mas não chegou ao que, como se dizia em tempos pretéritos, âmago da questão. Até que Fernando, na semana passada, nos chamou de Às armas, cidadãos! É isso aí: cometemos uma tentativa de figurar a pronúncia de Aux armes, citoyens! (do refrão de La marseillaise) – e não pensem que se trata de inocente nostalgia: Aux armes, citoyens! é grito perene do descontentamento social. La marseillaise e a França (aquela da Revolução Francesa de 1789-1799) são, embora não de forma oficial, componentes da cultura de todas as gerações.

UM CANTAR REVOLUCIONÁRIO

La marsellaise foi composta pelo oficial Rouget de Lisle, em 1791, em Estrasburgo, como um canto para encorajar os soldados no combate de fronteira da região. O nome atual foi proposto pelo prefeito daquela cidade. Durante a Revolução, a música se tornou muito popular, e foi a trilha patriótica que embalou Paris, quando o exército de Marselha entrou na cidade. Devido a seu caráter revolucionário, La marseillaise foi proibida por Napoleão (foto) e, depois dele, por Luís XVIII. Mas em 1830 os revolucionários devolveram à canção o status de hino nacional da França. Lá pelos fins do século XVIII, com o prestígio da cultura francesa, hoje afogada pela (in) cultura americana, ganhou o vasto mundo, incluindo o Brasil.

CANTEMOS, MESMO DESAFINADOS

A letra de La marseillaise é, no mínimo, quatro vezes maior do que a do Hino Nacional Brasileiro, considerado laudatório. Em geral, só se canta seu primeiro grupo de versos e o refrão – de onde tirei a marca Ousarme Citoaian. Aproveitando o embalo, (re) veja esta cena de Casablanca, o filme, quando, no bar de Rick (Humphrey Bogart), o líder da resistência, Victor Lazsio/Paul Henreid (na foto, à esquerda de La Bergman e Bogart), faz calar a voz dos nazistas. Vive La France!

Clique e confira a cena memorável

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TEVÊ QUE DISTRIBUI PEDRADAS

Mal saio da cama, levo da tevê a primeira cacetada: “Supostos índios Tupinambá invadem fazenda em Buerarema”, diz a apresentadora. Está em moda essa grosseria com a linguagem. Em vez de a boa e clara construção “índios tupinambás…”, opta-se pela agressiva (à gramática e aos ouvidos) “índios Tupinambá”. Onde teria nascido essa excrescência?, perguntaria um atencioso falante da nossa língua. E não há, para o caso, resposta plausível, a não ser que, com risco iminente de virar Judas do próximo sábado de aleluia, apontemos, como berço dessa heresia, o pedantismo acadêmico, embalado pela tendência da nossa mídia em repetir as bobagens que lhe chegam. Juntar ignorância e arrogância (rima mas não soluciona) tem sido péssimo para a Pátria.

“MINHA PÁTRIA É MINHA LÍNGUA”

E suponho que, ao dizer “Pátria”, digo-o bem, porque “a minha pátria é a língua portuguesa”, conforme um Fernando Pessoa em que ninguém mais parece acreditar. O professor Nilson Lage (foto), da cadeira de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina, reconhece que escrever corretamente (seguindo os ditames de Antenor Nascentes, João Ribeiro e assemelhados) é condenar-se à pecha de obsoleto, a ninguém agrada. “Sei que a língua nacional é a expressão da pátria e o canal pelo qual a cultura escoa e se transmite no tempo. Mas quem se preocupa com a pátria, a essa altura da expansão do Império?”, pergunta o mestre. A mim me falece competência para responder a questão de tão grande profundidade.

OS PATAXÓS VIRARAM “OS PATAXÓ”

“Estamos sós”, diz o professor, ao referir-se àqueles poucos que não aceitam o abastardamento da linguagem. O pernosticismo, que transformou os pataxós, os goitacases, os tupis, os guaranis, etc. (de tanta importância histórico-social) em os Pataxó, os Goytacá, os Tupy, os Guarany (dessa canhestra forma, com maiúscula e no singular) traumatiza o estilo formal e tangencia o hilário. É provável que na origem (uma academia ainda doente do ranço elitista do século XIX), a curiosa fórmula encontre defensores, armados de argumentos arrevesados; mas o porquê de as redações reproduzirem esse monstrengo, dificilmente elas saberão dizer.

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O ANTIEXEMPLO DA ECONOMIA

A carta dos cacauicultores ao presidente Lula é antiexemplo de economia de palavras, já começando com uma agressão: “Em um bom momento, maio de 2008, na cidade de Ilhéus…”. Palavras ao vento. Bastava dizer “Em maio de 2008, em Ilhéus…” – e economizaríamos 40% de texto. “A criação do PAC do Cacau deu um novo alento…” dispensaria esse um; “… três milhões de habitantes que aqui vivem…” (os habitantes daqui vivem aqui mesmo, pois não?); “… ao tentar distorções históricas” (não seria tentar corrigir distorções históricas?); “… há mais de vinte anos passados” (redundância); “há 53 anos atrás” (idem). Dispensando-se a piada previsível de que o presidente é iletrado, lembremo-nos de que a carta vai às mãos dos letrados do governo. Com tanta gente que sabe escrever nesta terra, lamenta-se que a falta de humildade tenha gerado tal texto.

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DA ARTE DE ESCREVER BEM

Parece que criamos uma seçãozinha, para recomendar boa leitura de textos de jornalistas. Antes, Hélio Pólvora; na semana passada, Ruy Castro; hoje, Denise Paraná (foto), que nos brinda com A história de Lula, o filho do Brasil. É para quem quer apreciar uma história bem contada, em linguagem simples e correta – como deve ser o texto jornalístico. O livro é resultado de pesquisas da autora no sertão pernambucano e em São Paulo, para a tese (USP/1995) “Da cultura da pobreza à cultura da transformação – a história de Luiz Inácio Lula da Silva e sua família”.

SECTARISMO FORA DE MODA

A história chama a atenção pela distância que procura (e consegue) manter daqueles exageros comuns às teses acadêmicas. E também não é a sacralização do presidente Lula, mas a história verdadeira de uma mulher nordestina, pobre e com muita fibra, coragem e fé – a dona Lindu (vivida por Glória Pires, na foto). Ela enfrentou seca e fome, criou uma renca de filhos e aguentou um marido irresponsável e cruel. Mais tarde, em São Paulo, para onde levou os filhos num pau-de-arara, seu primogênito, o sindicalista Frei Chico, seria submetido a outro pau-de-arara, o da ditadura. Um livro para ser lido pela direita raivosa e a esquerda esfuziante, sem sectarismos. Que, de resto, estão fora de moda.

DENISE PARANÁ DE SÃO PAULO

Jornalista, roteirista e doutora em Ciências Humanas pela USP, com pós-graduação na Universidade de Cambridge, Inglaterra, Denise Paraná é de São Paulo (ops!). O New York Times saudou o trabalho da pesquisadora com grande entusiasmo. “Muito do que se conhece do início da vida de Lula vem do trabalho de história oral feito nos anos 90 por Denise Paraná”, disse o jornal. Denise foi corroteirista do longa-metragem Lula, o filho do Brasil. O filme, não vi (em geral, as obras excessivamente badaladas não me acordam o interesse); o livro, adorei.

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A MELHOR DE TODOS OS TEMPOS

Que me desculpem Ella Fitzgerald (1917-1996) e alguns especialistas, mas eu acho Sarah Vaughan (1924-1990) a melhor vocalista de jazz de todos os tempos. Por coincidência (juro que só soube quando redigia esta nota!) ela morreu há 20 anos, em 3 de abril de 1990, o que nos dá um ótimo”gancho” para este registro. Em 1972, no Japão, ela gravou um dos discos mais importantes de sua carreira, o duplo Live in Japan, pela Tapecar, que o lançaria no Brasil somente três anos depois. Diga-se que Sarah e Ella gravaram discos de música brasileira: Ella (foto) fez um LP duplo com temas de Tom Jobim e Sarah gravou outro, de vários compositores – incluindo Caymmi, com Das rosas.

OMISSÃO INDESCULPÁVEL

Aos 48 anos, ao gravar Live in Japan, Sarah (foto) está em plena forma, com toda aquela garra que identifica as vocalistas negras, acompanhada comme il fault (piano, baixo e bateria). O repertório é de clássicos do jazz, os chamados standards (algo próprio para apreciadores menos sofisticados desse gênero). Lá estão Round midnight, My funny Valentine, Misty, All of me e Wave. Há também uma incursão pelo mais popular, com Over the rainbow e até a concessão ao já muito explorado Love story. Era um álbum duplo, mas a Tapecar dividiu o conjunto em dois LPs comuns, além de omitir informações sobre os instrumentistas que acompanham a divina (uma omissão “criminosa” no mundo do jazz).

WAVE NUNCA MAIS FOI A MESMA

Wave, de Tom Jobim (foto), no primeiro volume, é alguma coisa que não tem preço. Logo de entrada, a extraordinária cantora mostra a que veio: emissão de graves fantástica, com noção de ritmo e respiração, claro, suficientes para comover até uma estátua (ela leva 10 segundos para dizer o “to be” do segundo verso e emenda com o terceiro, “sem respirar”). Depois dessa gravação, que me fascina há muitos anos, Wave nunca mais foi a mesma. O Ministério da Saúde recomenda aos amadores que não se metam a imitar Sarah Vaughan, pois terão que chamar o Samu e pedir oxigênio urgente. Todo mundo sabe que ela tem, no mínimo, quatro pulmões.



(O.C.)

Pouco sei de futebol (prefiro basquete e o xadrez), mas a discussão, sob o prisma da língua portuguesa, me fascina. Entendo que o Brasil é, de maneira indiscutível, bicampeão mundial, pois venceu as Copas de 1958 e 1962. Ao voltar a ganhar em 1970 (com a melhor seleção etc. etc.), tornou-se campeão pela terceira vez – e isto é diferente de ser tricampeão. Acontece que a mídia, por ignorância ou interesse, às vezes assume aquele comportamento atribuído a Goebells (ministro das Comunicações de Hitler): bate na mentira até que ela se transforme em verdade. O rito é mais ou menos este: lança-se a invenção, as ruas a adotam e ela adentra os compêndios, já travestida de verdade. A língua é viva, certo. Mas não precisa ser burra.

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O diretor-geral do Instituto Biofábrica de Cacau e presidente da Associação dos Produtores de Cacau, Henrique Almeida, nega que tenha agido para enfraquecer o protesto de produtores que pedem anulação das dívidas da primeira e segunda etapas do Programa de Recuperação da Lavoura Cacaueira.

Através de sua assessoria, Henrique diz estar “ao lado do produtor e que tem agido em Brasília, e com o presidente Lula, para que mais cacauicultores sejam incluídos no PAC do Cacau”. Os produtores articulam grande protesto durante a visita presidencial, na próxima sexta, 26, no parque de exposições Antônio Setenta.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai ser recebido em Itabuna e Ilhéus, no dia 26, com protestos dos produtores de cacau, inconformados com a ausência de uma solução que facilite o pagamento das dívidas de quase 6 mil cacauicultores e também com a lentidão do Programa de Aceleração do Crescimento criado pelo governo federal para o setor (o PAC do Cacau).

Somadas, as dívidas dos produtores de cacau na Bahia alcançam os R$ 949 milhões, em valores de 2008.

O presidente Lula irá a Itabuna para inaugurar o primeiro trecho do Gasene, gasoduto da integração SudesteNordeste, que tem 1.387 km de extensão e interliga as malhas das duas regiões do País, estendendo-se do Rio de Janeiro à Bahia, levando para o Nordeste o gás natural produzido nas bacias do Sudeste. A obra é da Petrobras em parceria com a Bahiagás.

Negociações “A Lei 11.775 permite a negociação de apenas R$ 472 milhões”, admite o diretor da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), Jay Wallace Mota. A Ceplac é ligada ao Ministério da Agricultura.

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Henrique Almeida é presidente da Associação de Produtores de Cacau e diretor do Instituto Biofábrica de Cacau. Henrique participou ontem da reunião da Câmara Setorial do Cacau, na Ceplac, que serviu como marco do primeiro grande impulso pela adesão dos produtores ao PAC do Cacau.

O que chamou a atenção foi que Henrique preferiu assentar-se à mesa como presidente da APC, e não como dirigente da Biofábrica. Só pra lembrar, a Biofábrica só sobrevive graças aos milhões de reais injetados pelo governo do estado, que compra da empresa mudas de plantas para distribuição entre agricultores familiares e pequenos produtores.

Mas o que deixou muita gente com a pulga atrás da orelha foi uma declaração do diretor. “Na Biofábrica não vai estar Henrique Almeida diretor mas, sim, Henrique Almeida produtor de cacau”. O pessoal das seringueiras e das fruteiras já começa a se preocupar.