Itabunenses aderem ao panelaço contra o governo federal
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Moradores de Itabuna e Ilhéus, duas das maiores cidades da Bahia, participaram, na noite desta terça-feira (31), de um panelaço contra o presidente Jair Bolsonaro. A manifestação começou poucos minutos antes do pronunciamento do presidente em cadeia de rádio e televisão.

O protesto foi contra o comportamento de Bolsonaro no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. Em Itabuna, houve panelaço em bairros como Fátima, Monte Cristo, Castália, Pontalzinho, Conceição e São Caetano, além do centro.

Em Ilhéus, houve protesto em bairros como Nossa Senhora da Vitória, Pontal, Nelson Costa e Jardim Savoia, além do centro da cidade. A manifestação teve grande participação de moradores dos condomínios residenciais São Jorge Águas do Atlântico, Torre do Sul e Ceplus, na zona sul de Ilhéus.

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Cerqueira diz que está tudo pago (Foto Wilson Oliveira).
Cerqueira: tudo pago (Foto Wilson Oliveira).

Secretário da Fazenda de Itabuna, Marcos Cerqueira lamentou um “panelaço” com cerca de 30 servidores no Centro Administrativo Firmino Alves, nesta manhã de quinta. “Está tudo pago”, disse ele em relação às reivindicações de quitação do tíquete-alimentação, um terço de férias e vale-transporte.

De acordo com ele, o restante das férias dos trabalhadores – cerca de R$ 250 mil – foi pago há mais de uma semana. O valor correspondente ao tíquete (R$ 65 mil) foi creditado na conta dos servidores na manhã de ontem (28), quando também houve repasse do vale-transporte.

Cerqueira disse não ter sido procurado, ontem e hoje, pelos servidores. Organizado pelo Sindicato dos Servidores e Funcionários da Prefeitura de Itabuna (Sindserv), o panelaço foi encerrado há pouco, após constatação de que o dinheiro havia sido creditado.

SEM RESTOS A PAGAR

Conforme o secretário, a política de austeridade adotada pelo município permitiria, se o mandato de Vane do Renascer terminasse hoje, encerrar o ano sem restos a pagar. Segundo ele, esta é a expectativa para até o final do ano, caso não ocorram mais solavancos na economia – e na política – nacional.

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juca kfouriJuca Kfouri | Blog do Juca

Sejamos francos: tão legítimo como protestar contra o governo é a falta de senso do ridículo de quem bate panelas de barriga cheia, mesmo sob o risco de riscar as de teflon, como bem observou o jornalista Leonardo Sakamoto.

Nós, brasileiros, somos capazes de sonegar meio trilhão de reais de Imposto de Renda só no ano passado.

Como somos capazes de vender e comprar DVDs piratas, cuspir no chão, desrespeitar o sinal vermelho, andar pelo acostamento e, ainda por cima, votar no Collor, no Maluf, no Newtão Cardoso, na Roseana, no Marconi Perillo ou no Palocci.

O panelaço nas varandas gourmet de ontem não foi contra a corrupção.

Foi contra o incômodo que a elite branca sente ao disputar espaço com esta gente diferenciada que anda frequentando  aeroportos, congestionando o trânsito e disputando vaga na universidade.

Elite branca que não se assume como tal, embora seja elite e branca.

Como eu sou.

Elite branca, termo criado pelo conservador Cláudio Lembo, que dela faz parte, não nega, mas enxerga.

Como Luís Carlos Bresser Pereira, fundador do PSDB e ex-ministro de FHC, que disse:

“Um fenômeno novo na realidade brasileira é o ódio político, o espírito golpista dos ricos contra os pobres.

O pacto nacional popular articulado pelo PT desmoronou no governo Dilma e a burguesia voltou a se unificar.

Surgiu um fenômeno nunca visto antes no Brasil, um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, a um partido e a um presidente.

Não é preocupação ou medo. É ódio.

Decorre do fato de se ter, pela primeira vez, um governo de centro-esquerda que se conservou de esquerda, que fez compromissos, mas não se entregou.

Continuou defendendo os pobres contra os ricos.

O governo revelou uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres.

Nos dois últimos anos da Dilma, a luta de classes voltou com força.

Não por parte dos trabalhadores, mas por parte da burguesia insatisfeita.

Quando os liberais e os ricos perderam a eleição não aceitaram isso e, antidemocraticamente, continuaram de armas em punho.

E de repente, voltávamos ao udenismo e ao golpismo.”

Nada diferente do que pensa o empresário também tucano Ricardo Semler, que ri quando lhe dizem que os escândalos do mensalão e da Petrobras demonstram que jamais se roubou tanto no país.

“Santa hipocrisia”, disse ele. “Já se roubou muito mais, apenas não era publicado, não ia parar nas redes sociais”.

Sejamos francos: tão legítimo como protestar contra o governo é a falta de senso do ridículo de quem bate panelas de barriga cheia, mesmo sob o risco de riscar as de teflon, como bem observou o jornalista Leonardo Sakamoto.

Ou a falta de educação, ao chamar uma mulher de “vaca” em quaisquer dias do ano ou no Dia Internacional da Mulher, repetindo a cafajestagem do jogo de abertura da Copa do Mundo.

Aliás, como bem lembrou o artista plástico Fábio Tremonte: “Nem todo mundo que mora em bairro rico participou do panelaço. Muitos não sabiam onde ficava a cozinha”.

Já na zona leste, em São Paulo, não houve panelaço, nem se ouviu o pronunciamento da presidenta, porque faltava luz na região, como tem faltado água, graças aos bom serviços da Eletropaulo e da Sabesp.

Dilma Rousseff, gostemos ou não, foi democraticamente eleita em outubro passado.

Que as vozes de Bresser Pereira e Semler prevaleçam sobre as dos Bolsonaros é o mínimo que se pode esperar de quem queira, verdadeiramente, um país mais justo e fraterno.

E sem corrupção, é claro!

Juca Kfouri é jornalista e mantém o Blog do Juca.