A camisa criada por Afonso Dantas desperta o sentimento de pertencimento do itabunense
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Nada mais brega do que a velha rivalidade entre papa-jacas e papa-caranguejos.

 

Walmir Rosário

Guardo muitas recordações dos tempos de menino, entre elas as boas brigas por apelidos, gentílicos, etnônimos, topônimos, principalmente os vistos como depreciativos. E não era pra menos, imagine um itabunense ser chamado taboquense, por ser Tabocas o nome do distrito que deu origem a Itabuna. Pior, ainda, e totalmente sem cabimento, o nascido em Itabuna ser chamado de papa-jaca pelos ilheenses. Por pouco não é declarada uma guerra, finalmente, pacificada agora por Afonso Dantas.

Eu mesmo já sofri muito com os preconceituosos gentílicos por ter nascido em Ibirataia (BA), nomeada de Tesouras quando ainda distrito de Ipiaú (também papa-jaca). Em 1960, finalmente, Ibirataia ganha sua “carta de alforria” e passa a ser cidade, município. Para fazer a população e os “de fora” se acostumarem com o novo nome, o prefeito teria tido uma conversa de pé de ouvido com o delegado, que proibiu Ibirataia ser chamada de Tesouras. E as ameaças não eram poucas, inclusive com a permanência de uns dias de xilindró.

Mas em Itabuna era inaceitável ser chamado de papa-jaca, notadamente pelos ilheenses, que não se conformavam em ter perdido o domínio sobre a nova Itabuna, mormente pelos contos de réis que embolsavam nos tempos de Tabocas. Pois bem, a rivalidade era acirrada, pois Itabuna se agigantava e exibia uma Associação Comercial (em Ilhéus ainda não existia), ganhava no futebol, no comércio, enfim, ameaçava – de verdade – a hegemonia de Ilhéus.

Como não sou historiador, não fui nem irei à cata de documentos para fazer as devidas comprovações do que digo, pois sabidamente está na boca do povo. E o gentílico papa-jaca nasceu por pura inveja dos ilheenses, pelo simples fato dos itabunenses ignorarem, também, os restaurantes e pensões de Ilhéus, quando iam à praia da Avenida. Na carroceria de caminhões, os itabunenses levavam seu farnel, reforçado com feijoada, farofa de jabá e uma boa jaca, saboreada como sobremesa, para a inveja dos ilheenses.

Depois disso, pelo que soube por gente da minha inteira confiança, e fui conferir que até o conterrâneo Jorge Amado (ele itabunense de fato e eu por direito), no livro Terras do Sem-fim, renegou a origem e descreveu ser o papa-jaca gente de Itabuna, pessoas rústicas, mulheres de comportamento duvidoso e homens violento, às vezes cornos. Fiquei puto da vida, mas não vou brigar com um conterrâneo, e que já se foi deste mundo.

Inconformados com a independência e altivez do itabunense, os ilheenses partiram para a galhofa, retrucada em seguida com o gentílico papa-caranguejo, por motivos óbvios. Aí é que rivalidade aumentou, chegando às raias do quebra-pau. Lembro-me que à época o sentimento de pertencimento com a cultura popular não era aceito e os gentílicos e etnônimos malvistos e resolvidos na porrada.

Mesmo em tempos recentes, um desprestigiado e despudorado juiz de direito (hoje ex) chegou a tentar denegrir o presidente da OAB itabunense, tendo o desplante de chamar o causídico de papa-jaca, como se ofensa fosse. Em resposta, no Forró do Advogado, em pleno Alto Beco do Fuxico, foi esculachado em uma música criada pelos advogados itabunenses, que foi hit por meses a fio, colocando o tal do então magistrado em seu devido lugar, o lixo.

Com o passar do tempo, os malvistos passaram a ser benquistos e incorporados como bens imateriais. E cito aqui um fato comprobatório: Na década de 1970, o paratiense, cujo gentílico era papa-goiaba, recusava terminantemente ser chamado de Caiçara, rebatendo o adjetivo, por considerar pejorativo e somente se aplicar aos moradores do litoral paulista, e não aos “beiradeiros fluminenses”. Hoje acredita ser um deles e aceita os dois gentílicos com todos os mimos.

Mas voltando à nossa paróquia, já aceitamos e adotamos os gentílicos e etnônimos, mesmo que os topônimos não tenham nenhuma ligação. Nada mais chique do que desfilar por aí – em Itabuna, Ilhéus, Salvador, Nova Iorque ou Paris – com uma vistosa camisa criada pelo publicitário e cronista Afonso Dantas, com a bela figura de uma jaca ricamente estampada, arrematada logo abaixo com a pomposa legenda: Papa-jaca. Tudo isso teve início quando Afonso passou a criar camisas com gírias e expressões tiradas das raízes mais profundas do vocabulário “baianês”. Lá ele! Tô fora!

É de meter inveja aos ilheenses, que ficam putos da vida, por sentir o efeito contrário da galhofa: em vez da raiva anterior, o itabunense demonstra sabedoria e pertencimento. Trocando em miúdos, fez do limão uma limonada. E o projeto de Afonso Dantas não se resume a Itabuna, pois muitas cidades da região cacaueira – a nação grapiúna – esnobam as demais, e apresentam a jaca como figura e adereço cultural maior.

A criação das camisas ganhou o mundo, como já disse, e elevou a autoestima do itabunense, papa-jaca sim senhor, e com muito orgulho. Tanto assim que perdoou o conterrâneo Jorge Amado, acreditando ter sido influenciado pelos coronéis ilheenses da época, putos da vida com o desenvolvimento de Itabuna. Hoje, papa-jacas e papa-caranguejos dividem e convivem o mesmo espaço praiano com a mais perfeita harmonia.

Daqui de Canavieiras, onde me refugiei há mais de uma dezena de anos, tomei ciência que o gentílico papa-caranguejo é palavra corrente para distingui-los. E como se não bastasse, eles ainda ressaltam que é a iguaria mais gostosa, além das mais belas pernas da Bahia. Sem qualquer descortesia, Trajano Barbosa utilizou o caule da jaqueira como mastro na festa do “Pau de Bastião” por mais de 60 anos, na famosa festa da Capelinha.

Nada mais brega do que a velha rivalidade entre papa-jacas e papa-caranguejos.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado, além de autor de livros como Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Isaquias Queiroz herda vaga para Jogos Olímpicos de Paris || Fabio Canhete/ Canoagem Brasileira
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O maior canoísta brasileiro da história não conseguiu repetir o excelente desempenho dos últimos anos e pouco não saiu do Campeonato Mundial de Velocidade, em Duisburg, na Alemanha, sem a vaga para os Jogos Olímpicos de Paris, em 2024.  Isaquias Queiroz terminou a competição na sexta colocação do C1 1.000 m, um posto fora da classificação para os jogos na França.

O baiano, de Ubaitaba, viu sua sorte mudar com o desempenho de um concorrente. O tcheco Martin Fuksa obteve a vaga no C1 1.000 m e também no C2 500m. Como cada atleta só pode conquistar uma vaga para os Jogos de Paris, Isaquias Queiroz, na condição de melhor ranqueado, seguirá para disputar para as Olimpíadas.

O canoísta admitiu que fez uma preparação ruim para o Mundial de Canoagem e espera recuperar a boa forma para aumentar a coleção de medalhas. “Foi um ano diferente para mim, dei uma diminuída no meu ritmo. Eu preferi diminuir um pouco o treinamento. Comecei a treinar forte em maio. Eu estava treinando na Bahia, em Ilhéus, estava muito ruim. Eu vim para buscar a vaga. Para Paris, sim, vou fazer um treinamento bem intenso. Paris é o que eu mais almejo agora”, disse.

Isaquias Queiroz é dono de uma medalha de ouro, duas pratas e um bronze em Jogos Olímpicos. No Campeonato Mundial de Velocidade, em Duisburg, ele também competiu em dupla com Jacky Godmann no C2 M500m, mas não obtiveram bom desempenho.

Em mundiais, o canoísta Isaquias Queiroz tem 14 medalhas (são sete de ouro, uma de prata e seis de bronze). A primeira medalha foi, exatamente, em Duisburg, há 10 anos. Em 2013, na Alemanha, ele ganhou o ouro no C1 500m e o bronze no C1 1.000m.

Em Paris, Davidson Magalhães destaca importância do CVT Cacau para o sul da Bahia
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O secretário de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia, Davidson Magalhães, está entusiasmado com a retomada do Salon Du Chocolat em Xangai a partir de 2022. Ele integrou a comitiva baiana na edição parisiense do evento, que começou na última quinta (28) e acabou nesta segunda-feira (1º). Entrevistado pelo jornalista Daniel Thame, que produziu conteúdos exclusivos para o PIMENTA em Paris, Davidson Magalhães apontou os desafios para o chocolate sul-baiano conquistar o mercado chinês.

Para o secretário, estado deve assumir seu papel de indutor econômico, em parceria com os cacauicultores, para o sul da Bahia atingir a escala de produção para atender a maior população do planeta – a China tem mais de 1,4 bilhão de habitantes.

– Nós precisamos preparar a região do ponto de vista da própria produção, do aumento da produção, da qualidade, da agilidade do negócio e da eficiência no empreendedorismo – explicou Davidson Magalhães, destacando o trabalho em conjunto com as pastas estaduais de Agricultura, de Turismo e de Desenvolvimento Rural.

CENTRO VOCACIONAL TECNOLÓGICO DO CACAU

Programa da Secretaria de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre) com a Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), o Centro Vocacional Tecnológico do Cacau, inaugurado em outubro de 2020, atende 250 agricultores familiares, assentados da reforma agrária e quilombolas de 26 municípios da região cacaueira.

Segundo Davidson, a unidade recebeu investimento de R$ 1 milhão e permite que os agricultores superem a limitação histórica da produção apenas das amêndoas de cacau, avançando para a fabricação do chocolate com certificação de origem do sul da Bahia. Atualmente, cerca de 100 marcas ostentam a indicação geográfica como diferencial para a abertura de novos mercados.

Economista e professor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Davidson Magalhães não perdeu a oportunidade de fustigar a ortodoxia liberal. “O estado não pode se ausentar da atividade econômica. Aliás, o mundo está demonstrando nessa crise da pandemia que, cada vez mais, o estado é um agente extremamente protagonista da atividade econômica e nós precisamos ter um estado empreendedor na região, articulado com a iniciativa privada, para que a gente possa dar um salto de qualidade na nossa produção, na nossa produtividade e na qualidade dos nossos produtos”, concluiu o secretário.

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Para Canavieiras convergiam homens de negócios de parte do sul e todo o extremo sul baiano em busca da solução de pendências com as coletorias estadual e federal, fechar contratos de financiamento com o Banco do Brasil até a abertura da agência de Caravelas.

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Tema da live do segundo dia da segunda exposição do grupo Apaixonados por Canavieiras, “Uma lavoura chamada Cacauicultura” é um título que poderíamos trocar para a expressão “Uma tomografia de Canavieiras”. Nenhuma cidade do sul da Bahia e das regiões cacaueiras do Brasil está mais ligada à cacauicultura do que Canavieiras. Deve ter sido impregnada pelo visgo cacau.

Desde 1746, quando o franco-suíço Louis Frederic Warneaux entregou a Antônio Dias Ribeiro as primeiras sementes de cacau, providencialmente plantadas na fazenda Cubículo, às margens do Rio Pardo, Canavieiras tomou novo rumo em sua economia. Aos poucos, parte das lavouras de subsistência e a cana-de-açúcar foram sendo substituídas pelos frutos de ouro que encantou os astecas, a ponto de suas sementes serem utilizadas como moeda.

Definitivamente, Canavieiras não foi mais a mesma, e aos poucos chegou à condição de “Princesinha do Sul” rivalizando com cidades do porte de Ilhéus, a quem pertenceu, alcançando a independência administrativa em 13 de dezembro de 1832. A partir daí ostentou a condição de Vila Imperial de Canavieiras, ato culminado em 17 de novembro de 1833, com a instalação da Câmara Municipal e escolha dos sete conselheiros (vereadores).

Mas a condição de vila, mesmo imperial, não condizia com a importância de Canavieiras – cuja economia se destacava no cenário regional, estadual e nacional –, embora poder político, orçamentário e financeiro dependesse das decisões do Senado Baiano. Era chegada a hora de se emancipar, ganhar a condição de gerir a vida do seu povo, os desbravadores de várias etnias e de diversos países aqui fincaram raízes como nos mostram os nomes de família.

Finalmente, em 25 de maio de 1891, o governador do Estado da Bahia, José Gonçalves da Silva, eleva a Vila Imperial de Canavieiras à condição de cidade. À época, a economia da Princesinha do Sul fervilhava com os garimpos do Salobro e a lendária Lagoa Dourada, onde a paixão dos garimpeiros era bamburrar num veio de diamantes e se tornar milionário da noite pro dia.

Se essas incertas oportunidades faiscavam aos olhos do garimpeiro daquela época, era apenas um possível promissor investimento dos coronéis do cacau, acostumados a plantar e colher os frutos de ouro. Ganhava-se aqui, investia-se aqui, na abertura de novas roças, na construção do magnífico casario, monumentos que nos remetem às lembranças de uma economia pujante no passado: a economia cacaueira.

Era o cacau quem movimentava o porto grande com a chegada dos grandes navios que levariam o nosso cacau para o mundo afora. Se Canavieiras vendia o cacau, comprava o mais granfino vestuário vindo do Rio de Janeiro, São Paulo e Paris, as mais finas bebidas, os coronéis frequentavam os melhores bares e leiterias, as melhores festas e os mais luxuosos lupanares.

Para Canavieiras convergiam homens de negócios de parte do sul e todo o extremo sul baiano em busca da solução de pendências com as coletorias estadual e federal, fechar contratos de financiamento com o Banco do Brasil até a abertura da agência de Caravelas. Canavieiras se dava ao luxo de possuir as melhores terras beirando o rio Pardo, próprias para o cacau, e seu município entrava léguas adentro chegando à distante Itapetinga.

Principal matriz econômica de Canavieiras, o cacau era e ainda é uma mercadoria com liquidez imediata e, a depender do cacauicultor, pago na flor, antes da colheita. Com simples 100 arrobas do produto comprava-se uma bela camionete F-100. Como não há bem que sempre dure e mal que nunca se acabe, após mais de dois anos de seca foram descobertos os primeiros focos da vassoura de bruxa na Bahia. Estávamos no ano de 1989.

A desolação toma conta do Sul da Bahia com a vertiginosa queda de produção, que em algumas fazendas chegou a zero; o desemprego e o inchamento de cidades; a miséria vista a olhos nus. Os ricos empobreceram e muitos dos que não resistiram ao golpe morreram – alguns tirando a própria vida. O caos chegou sem que ninguém esperasse ou tivesse tempo de se defender.

Mas o cacauicultor demonstrou que não é homem de se entregar e foi em busca de recuperar seu patrimônio. Com a ajuda dos pesquisadores e extensionistas da Ceplac conseguiram identificar, nas próprias fazendas, plantas tolerantes à vassoura de bruxa e de alta produtividade. Cruzamentos genéticos foram experimentados e o novo cacau floresceu, muitos pagos a preços superiores aos comuns. Hoje, o cacauicultor não mais produz uma simples commoditie e sim cacau fino, chocolate.

Com as graças de São Boaventura, Canavieiras e a cacauicultura continuarão juntas, sempre unidas pelo visgo do cacau.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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Greve contra a reforma da Previdência gerou caos em Paris || Foto Andreyver Lima

Andreyver Lima, direto de Paris

Quem já se preparava para entrar no Museu do Louvre, estranhou a demora no acesso às exposições. Munidos de seus tickets, comprados pela internet com hora marcada, turistas de todo o mundo aguardavam do lado de fora, num frio de 4°C.

Quando liberada a entrada, após o entra e sai de seguranças, foi revelado o motivo. O movimento grevista de funcionários do Louvre, fazia mais uma manifestação contra a reforma da previdência.

Desde dezembro de 2019, os funcionários do Museu fazem paralisações e manifestações, seguindo os trabalhadores do transporte público, que já estão parados há dois meses.

CAOS NO TRÂNSITO

Os trabalhadores dos transportes públicos franceses se dizem dispostos a continuar a paralisação até a retirada da reforma das aposentadorias.

O trânsito na cidade de Paris está um completo caos, inclusive com motociclistas cortando calçadas e motoristas invadindo a faixa de pedestres.

O primeiro-ministro, Édouard Philippe, ofereceu neste sábado a retirada de uma das medidas mais polêmicas: os 64 anos como idade mínima para se aposentar com pensão integral. Hoje a idade legal é de 62 anos. A chamada “idade-pivô” bloqueava a negociação com a CFDT, o principal sindicato da França. Outros sindicatos, como a CGT, exigem a retirada completa da reforma.

A concessão pode ser o ponto de inflexão em um conflito que está desgastando o Governo e já custou mais de 800 milhões de euros (3,64 bilhões de reais) às empresas públicas de transporte.

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Mais de 40 produtores de cacau e chocolate de origem do Brasil se preparam para representar o País na 25ª edição do Salon Du Chocolat de Paris, maior evento mundial do segmento, entre os dias 30 de outubro e 3 de novembro. Eles integram a Missão Empresarial Brasileira, que reúne empreendedores da Bahia, do Pará, São Paulo e outros estados para uma imersão no mercado europeu.

O Brasil já foi líder mundial na produção do cacau como commodity. Atualmente em sexto lugar nesse ranking global, o País vem se destacando na produção do cacau fino e premium, investindo em tecnologia, pesquisa e inovação para obter amêndoas de alto padrão. Em paralelo, ações de estimula à verticalização da matéria-prima, com investimentos em capacitação, novas unidades industriais e a realização de eventos em todo país, tem permitido o crescimento anual do mercado de chocolate de origem, com qualidade e potencial para exportação dentro dos segmentos bean to bar e gourmet.

CACAU DO BRASIL

Essa elevação do status brasileiro no exterior é fruto de esforços dos produtores, tanto individualmente quanto através de suas instituições representativas, mas principalmente incentivados pelo projeto intitulado Cacau do Brasil, que há 11 anos atua na qualificação do processo produtivo e na promoção do cacau fino, contando desde o início com o apoio dos governos estaduais da Bahia e do Pará, onde se concentram as principais áreas de cultivo do fruto no país.

A Missão do Cacau do Brasil no Salon de Paris é hoje uma das mais importantes formas de divulgação e prospecção de mercado para o cacau brasileiro. “A capital francesa é um dos mais avançados centros do mundo no segmento e o evento é o maior ponto de encontro para participantes globais da cadeia produtiva”, ressalta o produtor baiano de cacau fino e chocolate Pedro Magalhães, presidente da Associação Chocosul.Leia Mais

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Yrerê lança nova linha de produtos no Salon du Chcolat, em Paris || Foto Divulgação
Yrerê lança nova linha de produtos no Salon du Chcolat, em Paris || Foto Divulgação

A Fazenda Yrerê lançou nova linha chocolates e derivados do cacau (nibs e amêndoas caramelizadas) durante o Salão do Chocolate, em Paris, no último final de semana.

A nova linha da Yrerê conta agora com seis produtos, que vão de chocolates com 55% e 72% de cacau, em formatos de oitenta e trinta gramas e caixas de duzentos gramas de amêndoas de cacau caramelizadas com açúcar demerara orgânico e nibs de cacau.

Os produtos da Fazenda Yrerê são feitos com cacau colhidos na fazenda, elaborados no sistema cacau fino de pós-colheita e fabricados da Bahia Cacau. Além de produtora da chocolates e derivados, a Fazenda Yrerê trabalha também com turismo rural e está localizada na Rodovia Jorge Amado (BR-415), em Ilhéus, no sul da Bahia.

A participação da fazenda Yrerê no Salão do Chocolate em Paris, segundo Gerson Marques, é resultado da parceria da Associação dos Produtores de Chocolates do Sul da Bahia (Chocosul) com a Secretaria de Desenvolvimento Rural da Bahia (SDR) e Federação da Indústria do Estado da Bahia (Fieb).

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Emasa deve ser passada à iniciativa privada || Foto Arquivo
Emasa deve ser passada à iniciativa privada || Foto Arquivo

Da BBC Brasil

Enquanto iniciativas para privatizar sistemas de saneamento avançam no Brasil, um estudo indica que esforços para fazer exatamente o inverso – devolver a gestão do tratamento e fornecimento de água às mãos públicas – continua a ser uma tendência global crescente.

De acordo com um mapeamento feito por 11 organizações majoritariamente europeias, da virada do milênio para cá foram registrados 267 casos de “remunicipalização”, ou reestatização, de sistemas de água e esgoto. No ano 2000, de acordo com o estudo, só se conheciam três casos.

Satoko Kishimoto, uma das autoras da pesquisa publicada nesta sexta-feira (23), afirma que a reversão vem sendo impulsionada por um leque de problemas reincidentes, entre eles serviços inflacionados, ineficientes e com investimentos insuficientes. Ela é coordenadora para políticas públicas alternativas no Instituto Transnacional (TNI), centro de pesquisas com sede na Holanda.

“Em geral, observamos que as cidades estão voltando atrás porque constatam que as privatizações ou parcerias público-privadas (PPPs) acarretam tarifas muito altas, não cumprem promessas feitas inicialmente e operam com falta de transparência, entre uma série de problemas que vimos caso a caso”, explica Satoko à BBC Brasil.

O estudo detalha experiências de cidades que recorreram a privatizações de seus sistemas de água e saneamento nas últimas décadas, mas decidiram voltar atrás – uma longa lista que inclui lugares como Berlim, Paris, Budapeste, Bamako (Mali), Buenos Aires, Maputo (Moçambique) e La Paz.

A tendência, vista com força sobretudo na Europa, vai no caminho contrário ao movimento que vem sendo feito no Brasil para promover a concessão de sistemas de esgoto para a iniciativa privada.

O BNDES vem incentivando a atuação do setor privado na área de saneamento, e, no fim do ano passado, lançou um edital visando a privatização de empresas estatais, a concessão de serviços ou a criação de parcerias público-privadas.

À época, o banco anunciou que 18 Estados haviam decidido aderir ao programa de concessão de companhias de água e esgoto – do Acre a Santa Catarina.

O Rio de Janeiro foi o primeiro a se posicionar pela privatização. A venda da Companhia Estadual de Água e Esgoto (Cedae) é uma das condições impostas pelo governo federal para o pacote de socorro à crise financeira do Estado.

A privatização da Cedae foi aprovada em fevereiro deste ano pela Alerj, gerando polêmica e protestos no Estado. De acordo com a lei aprovada, o Rio tem um ano para definir como será feita a privatização. Semana passada, o governador Luiz Fernando Pezão assinou um acordo com o BNDES para realizar estudos de modelagem.

DA ÁGUA À COLETA DE LIXO

Satoko e sua equipe começaram a mapear as ocorrências em 2007, o que levou à criação de um “mapa das remunicipalizações” em parceria com o Observatório Corporativo Europeu.

O site monitora casos de remunicipalização – que podem ocorrer de maneiras variadas, desde privatizações desfeitas com o poder público comprando o controle que detinha “de volta”, a interrupção do contrato de concessão ou o resgate da gestão pública após o fim de um período de concessão.

A análise das informações coletadas ao longo dos anos deu margem ao estudo. De acordo com a primeira edição, entre 2000 e 2015 foram identificados 235 casos de remunicipalização de sistemas de água, abrangendo 37 países e afetando mais de 100 milhões de pessoas.Leia Mais

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Policiais em rua de Paris, na França, logo após ataque (Foto Agência Lusa/Agência Brasil).
Policiais em rua de Paris, na França, logo após ataque (Foto Agência Lusa/Agência Brasil).

Redação com Agência Brasil

Ataques terroristas em estádio e casa de espetáculos numa noite de terror em Paris, na França, deixam, pelo menos, 118 mortos, de acordo com números da polícia do país europeu. Os ataques ocorreram por volta das 20h, no horário local.

Um homem-bomba atacou num dos portões do Estádio da França, na capital Paris, deixando 3 mortos. Numa casa de espetáculos, a Bataclan, cerca de 100 pessoas estariam mortas, após disparos feitos por três terroristas munidos de fuzil AK-47. Os atiradores, de acordo com sobreviventes, teriam entre 20 e 30 anos.

Além do Estádio da França e da casa de shows Bataclan, também foram registrados ataques em Gare Du Nord, o restaurante Petit Cambodge, o bar Le Carrilon, o Bataclan Concert Hall, o Belle Equipe Bar e em Les Halle.

O presidente francês, François Hollande, anunciou o estado de emergência e o fechamento das fronteiras da França.

O portal Site, que monitora as atividades dos jihadistas na internet, disse que o grupo terrorista Estado Islâmico assumiu a autoria dos ataques na noite desta terça-feira (13) em Paris. Até agora, a polícia contabiliza mais de 100 mortos em sete ataques na capital francesa, a maioria na casa de espetáculos Bataclan.

Segundo a diretora do portal, Rita Katz, a revista do Estado Islâmico, a “Dabiq”, escreveu que a França “manda seus ataques aéreos para a Síria diariamente” e que essas ações “matam crianças e idosos”. “Hoje vocês estão bebendo do mesmo cálice”, escreveu a publicação.

DILMA: “CONSTERNADA PELA BARBÁRIE TERRORISTA”

A presidenta da República, Dilma Rousseff, manifestou há pouco, por meio de sua conta no Twitter, a sua indignação com os ataques terroristas que deixaram pelos menos 40 mortos em Paris.

“Consternada pela barbárie terrorista, expresso meu repúdio à violência e manifesto minha solidariedade ao povo e ao governo francês”, disse a presidenta.

Os ataques ocorreram em vários pontos da capital francesa. A polícia adiantou que existem reféns na sala de espetáculos Bataclan, na Avenida Voltaire.

O Presidente francês, François Hollande, está reunido com o primeiro-ministro, Manuel Valls, e o titular do Interior, Bernard Cazeneuve, para fazer um balanço sobre os tiroteios e explosões em Paris.

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Jackson LessaJackson Lessa | jacksonslessa@hotmail.com

A Europa está “grávida de acontecimentos”. Poderemos ter novos tiroteios, novas explosões, perseguições aos muçulmanos, intensificação da Islamofobia. Não será esse o desejo dos radicais? Provocar uma verdadeira guerra de civilizações?

O recente ataque à sede de uma revista francesa será mais um sintoma do chamado choque de Civilizações? Não podemos nos dar ao luxo de restringir a discussão em torno apenas da liberdade de expressão. Os meios de comunicação parecem se incomodar mais com o fato de ter sido um veículo de imprensa do que o fato de terem sido vidas humanas.

Na verdade, torna-se necessário compreender as possíveis causas desse ataque. Apesar de injustificável, ele é resultado de uma política de intolerância, que não se limita ao estilo jornalístico da revista e, sim, ao comportamento de grande parte da sociedade europeia, e até mesmo ocidental, em relação aos muçulmanos.

Vale lembrar que alguns fundamentalistas não representam a totalidade dos seguidores da religião. Esse evento francês envolve várias esferas, diferindo-se do 11 de setembro, nos EUA, principalmente por ter ocorrido na Europa, e em um momento em que o continente está em convulsão política e econômica.

Historicamente, a Europa ocidental sempre encarou outros continentes e outras religiões com preconceito. Em inúmeras ocasiões, os europeus olharam o diferente como divergente, e acharam essa diferença ameaçadora, quase uma maldição.

Após os ataques à Revista Charlie Hebdo a palavra mais utilizada foi DEMOCRACIA. Mas podemos falar realmente em democracia quando imigrantes são considerados invasores, além de difundir-se uma espécie de islamofobia?

Dois dias antes do referido crime, na Alemanha, várias pessoas foram às ruas protestar contra o que eles chamavam de islamização do país, dando sinais claros de preconceito religioso e xenofobia, fazendo com que a chanceler, Ângela Merkel, tivesse que se pronunciar oficialmente contra esse movimento.

Pesquisas apontam que 57% dos alemães consideram o islamismo uma ameaça, e 60% acham que a religião é incompatível com o Ocidente. A palavra-chave para esse lamentável acontecimento é TOLERÂNCIA. Entretanto, para quem faltou tolerância? Os fundamentalistas que não aceitaram críticas satirizadas ou os jornalistas que atingiram a imagem do islamismo?

A situação é complexa. Autoridades do mundo inteiro, entre eles Obama e Dilma, falaram que é inadmissível atingir valores democráticos como uma instituição da imprensa. Verdade, a imprensa deve ser a porta-voz da sociedade e por isso podemos, sim, considerar que a sociedade democrática foi atingida, de forma covarde, e isso precisa de punição. Porém, é admissível atingir valores sagrados da religião alheia?

Uma das grandes características da modernidade é a multiplicidade religiosa, o que exige de todos, independente do credo, a prática da tolerância, que seria a capacidade de aceitar o diferente, “o que não é espelho”. Relembrando Frei Betto: “das intolerâncias, a mais repugnante é a religiosa, pois divide o que Deus uniu, incentiva disputas e guerras, dissemina ódio em vez de amor”.

Não podemos ver apenas a árvore, precisamos perceber a floresta. Os próximos dias e meses poderão ser muito complicados. A Europa está “grávida de acontecimentos”. Poderemos ter novos tiroteios, novas explosões, perseguições aos muçulmanos, intensificação da Islamofobia. Não será esse o desejo dos radicais? Provocar uma verdadeira guerra de civilizações? E agora? Será que veremos liberdade e tolerância?

Jackson Lessa é professor de Geografia e Atualidades em escolas e cursos pré-vestibulares de Itabuna e região.

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Stand do Brasil no Salon du Chocolat
Stand do Brasil no Salon du Chocolat

O publicitário Marco Lessa, organizador do stand do Brasil no Salon du Chocolat de Paris, encerrado neste domingo (03), festeja os resultados obtidos pelo país durante o evento. Segundo ele, foi a melhor participação, consideradas as cinco vezes em que os brasileiros marcaram presença na França.

A representação brasileira contou com 250 expositores, da Bahia, do Pará e do Amapá, muitos dos quais produzem chocolates finos e miram o exigente mercado europeu. Segundo Lessa, a expectativa agora é para os dois próximos Festivais do Cacau e Chocolate, programados para o período de 3 a 6 de abril, em Belém-PA, e de 25 a 27 de julho, em Ilhéus.

Com relação a Paris, os produtores acreditam ter aberto novos caminhos para fechar bons negócios. “Vários contatos foram feitos para comercialização de amêndoa, conhecemos novas tecnologias de maquinário, pudemos divulgar os dois festivais, sem contar com a boa acolhida francesa dos chocolates gourmets”, diz o organizador do stand.

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PROTESTAR É NOVO, RESIGNAR-SE É VELHO

Ousarme Citoaian | ousarmecitoaian@yahoo.com.br

01ProtestoSe o Brasil todo protesta, também quero protestar, com bandeira, muita festa, muito pneu pra queimar: protesto contra a pobreza do falar e do escrever, protesto contra o não ler, protesto contra o viver como gado na invernada, protesto contra a cambada que não sabe protestar, protesto contra Galvão, aquele do “bem amigos”, protesto contra novela (não de livros, mas de tela), protesto contra os perigos que me espreitam em cada esquina, protesto contra a menina que não quer vestir timão, protesto contra o contralto, porque prefiro o tenor, protesto contra o gestor, daqui, dali, dacolá…

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Contra desvio, “malfeito” e sinecura

Protesto contra quem cala, quando devia falar, protesto contra quem fala, quando devia calar, protesto contra quem quer a volta da linha dura, protesto contra o protesto que não sabe o que procura, protesto contra o desvio, o roubo e a sinecura, protesto contra a loucura que acomete o governante, tornando este nosso inferno bem pior do que o de Dante, protesto contra essa gente que de protesto não gosta, protesto contra a proposta de se fazer referendo (essas coisas do Congresso eu só acredito… vendo!), meu pensamento explicito, eu prefiro plebiscito, povo dizendo o que presta, dinheiro fácil, água fresca, pagode, cachaça e festa…

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03ProtestoO tomate, o resgate e o “malfeito”

Protesto contra o tomate, que andou subindo de preço, protesto contra o resgate do que não tem meu apreço, protesto contra o “malfeito”, protesto contra o prefeito, por não se dar ao respeito com nossa população, protesto contra os serviços, saúde e educação (e estando com rima em “ão”, elevo este meu protesto contra a volta da inflação), protesto contra a ausência de vergonha em tanto rosto, o que só me traz desgosto a cada nova eleição, protesto contra o som alto, com música ruim a esmo, e em dia de mau humor, protesto… contra mim mesmo!

 

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DEUS PARECE AJUDAR MAIS A QUEM ESTUDA

Circula pela internet um texto chamado “Avisos paroquiais em Portugal” (também conhecido como “Avisos paroquiais no Brasil”) que possui seu quê de engraçado. Creio que, deixando de lado o lúdico, o material serve como atenção ao cuidado que devem ter os que escrevem (ou falam, embora a fala sempre seja mais “permissiva”). Cito uns desses achados à porta das igrejas: 1) “Na sexta-feira às sete, os meninos do Oratório farão uma representação da obra Hamlet, de Shakespeare, no salão da igreja. Toda a comunidade está convidada para tomar parte nesta tragédia”; 2) “Para todos os que tenham filhos e não sabem, temos na paróquia uma área especial para crianças”.
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05Sobre as águasJesus “desaparecido” durante milagre

Mais: 3) “Assunto da catequese de hoje: Jesus caminha sobre as águas; Assunto da catequese de amanhã: Em busca de Jesus”; 4) “Prezadas senhoras, não esqueçam a próxima venda para beneficência, uma boa ocasião para se livrar das coisas inúteis que há na sua casa. Tragam os seus maridos”; 5) “O coro dos maiores de sessenta anos vai ser suspenso durante o verão, com o agradecimento de toda a paróquia”; 6) “O torneio de basquete das paróquias vai continuar com o jogo da próxima quarta-feira. Venham nos aplaudir; vamos tentar derrotar o Cristo Rei”. Cristo Rei é marca de colégio recorrente no Brasil, daí a suspeita de que o (mau) texto seja verde-amarelo…

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COM FAULKNER, HEMINGWAY E COLE PORTER

O roteirista, que quer escrever um livro, está entediado, e não é pra menos: tem um sogro rico que adora a América e detesta os franceses (em Paris, o idiota quer vinho da Califórnia!), uma noiva meio bobinha, uma sogra fútil (acha uma cadeira de 18 mil euros uma pechincha!) e ainda lhe surge pela frente um cara que coleciona clichês de psicologia (do tipo “nostalgia é negação do presente”) e se acha especialista em vinhos (“prefiro os amadeirados aos frutados”). É preciso fugir dessa gente e viver a Paris de verdade, com Fitzgerald, Faulkner, T. S. Elliot, Gertrude Stein, Cole Porter e, naturalmente, Hemingway. Isto é Meia-Noite em Paris, filme de Wood Allen.
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07Minuit à ParisAllen também é “refugiado” na Europa

Nessa fuga, o roteirista encontra toda essa gente, acompanha seus dramas e contradições e, para completar, ainda se envolve numa paixão nova e sob medida, uma linda mulher, que “compreende” a literatura dele. É uma fantasia e uma homenagem à Paris da paixão de Allen (e da minha), um “refúgio” contra a mesmice do mundo em que vivemos. O filme tem forte relação de parentesco com A rosa púrpura do Cairo, de 1985, pelo mesmo viés de realismo fantástico. Há de se perceber ainda, além da homenagem, um quê de autobiográfico: Allen, qual seu personagem, foi recentemente “refugiado” na Europa, onde obteve financiamento para seus filmes, o que não conseguia nos States.

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Torre Eiffel com som de jazz antigo

Meia-Noite em Paris é uma delícia. Classificado como comédia romântica, o filme não me fez mais sorrir do que pensar. A história do roteirista americano de férias em Paris com a noiva e os sogros, quer morar lá e escrever um romance é motivo para mostrar a cidade e citar grandes mestres (em literatura, pintura, cinema e música) que ali foram abrigados. Paris é uma festa, de Ernest Hemingway, nos salta aos olhos. Meia-Noite… é essa celebração, abrindo com um clipe, som de jazz das antigas – Si tu vois ma mère, de Sidney Bechet (1897-1959), num city tour, em que quem conhece a cidade mais bela do mundo identifica locais famosos, a partir da Torre Eiffel.

(O.C.)

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PROFESSOR ILHEENSE VAI PRESIDIR A ABL

Ousarme Citoaian | ousarmecitoaian@yahoo.com.br

1ABL“A noite da última quinta-feira, 14, foi marcada pela retomada das atividades da Academia Brasileira de Letras e posse da nova diretoria, que será presidida pelo professor Josevandro Nascimento. Durante o evento, que contou com a presença do prefeito Jabes Ribeiro, foram prestadas homenagens póstumas ao poeta baiano Castro Alves, que nasceu na mesma data da solenidade”, dizia a notícia lida em respeitável blog. “Ora, vejam só!”, pensei de olho nos botões da blusa: “Um ilheense presidindo a Casa de Machado de Assis!” – e quase saí aos gritos e pulos, tomado dum agudo e justificado frenesi bairrístico.

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Castro Alves acaba de nascer, aleluia!
Mas, macaco antigo das redações, mantive minhas dúvidas e, como diriam os juristas, fui às provas: consultei dezesseis (!) blogs e dois importante jornais diários de Itabuna (os nomes não declino, mas adianto que o meu blog preferido, um que não gosta de molho agridoce, não está na lista). No entanto lhes digo, por ser rigorosamente verdadeiro, que os dezesseis veículos deram a notícia, fazendo do referido professor presidente da ABL – e criando uma barrigada monumental. Solidário, esperei uma semana pelo desmentido, que não veio; então, de alma lavada, enxaguada e embandeirada, comemoro publicamente o evento, pois não é toda hora que temos um ilheense a presidir o grande sodalício.
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O dia em que “mataram” Edivaldo Brito
E aquela parte que diz ter Castro Alves nascido “na mesma data da solenidade” me levou às lágrimas: é imenso privilégio ter aqui o Poeta dos Escravos bebezinho, em fraldas, nascido no dia 14 de março deste ano – mudando o curso da história. Falemos sério: a mídia contribui para a desinformação (e neste caso, o ridículo), ao publicar notinhas de assessoria sem submetê-las a copidesque, revisão e edição. O lastimável texto da prefeitura de Ilhéus foi replicado ipsis litteris, com erros gritantes, a ponto de dar o palestrante Edivaldo Brito como patrono da ABL – o que significa estar o mesmo morto e sepultado há, no barato, 120 anos. É demais pra minha paciência.
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COMILANÇA, OU O CASO DOS 3.600 PRATOS

4Comilança
Conhecido restaurante de Itabuna faz uma divulgação em que oferece “mais de 60 variedades de pratos”, num claro atentado à boa linguagem. O texto só pode ser salvo pelo cinismo daqueles para quem o importante é que a mensagem seja entendida. Eu entendi que a casa oferece “uma diversidade superior a 60 pratos”, só que isto não está dito em língua portuguesa. Como foi posto, o reclame gastronômico põe à disposição (há quem prefira “disponibiza”, argh!) 60 variedades multiplicadas por 60 pratos: 3.600 ofertas. Quer dizer: se o cliente quiser um churrasquinho de gato, por exemplo, será chamado a optar entre 60 tipos diferentes. Mesmo com o exagero a que a publicidade se dá direito, contenhamo-nos.
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Estupidez elevada à quarta potência
Tautologias à parte, a indigência vocabular da mídia tem mostrado disparates a todo momento, a ponto de sepultar termos consagrados pelo uso, em benefício de “novidades”. Vejam que, no noticiário policial, não mais existe a palavra “bala”, trocada por “munição”. Troca malsã: bala é munição, mas munição nem sempre é bala: um é termo genérico; o outro, específico. O pior é quando um repórter mais ignorante pouquinha coisa, diz que “a polícia apreendeu várias munições”. Esta palavra, se lhe cabe o uso, fica bem no singular; quando empregada no plural, em lugar de “balas”, temos um estranho caso de estupidez elevada à quarta potência. Ou, para quem prefere a medicina à matemática, um quadro de asnice recidivante.
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(ENTRE PARÊNTESES)

6Estória de facão e chuvaPermitam-me o pequeno anúncio: o livrinho Estória de facão e chuva (de 2005), esgotado, acaba de ter sua 2ª edição, por nímia gentileza da Editus (Editora da Universidade Estadual de Santa Cruz), tendo Rita Virgínia Argolo à frente. O pequeno volume (184 páginas) reúne 35 crônicas e dois discursos, sendo um deles de Hélio Pólvora, na Academia de Letras de Ilhéus, em 2001. A professora Maria Luiza Nora, na apresentação de Estória… diz que o autor “com sua escrita, nos descomplica, nos tira aquela pose que pode estar querendo se instalar, nos humaniza a ponto de darmos boas risadas de nós mesmos, e risadas de deboche, o que é melhor”. O autor, cativo, agradece.

BARDOT E DENEUVE – REALIDADE  E LENDA

7Catherine DeneuveCanções com uma história real a sustentá-las são corriqueiras. Mas algumas conseguem se debater entre a realidade e a lenda, sem que nós, ouvintes distantes da cena da gênese, saibamos a verdade. É o caso de Belle de jour (sic), momento romântico de Alceu Valença, que é cercado por essa magia do sim e do talvez. Dizem que Alceu estava num café, em Paris (mas já pra lá de Bagdá), quando lhe surgiu à frente Catherine Deneuve e, com ela a lembrança do filme Belle du jour: ali mesmo ele escreveu a canção, para depois descobrir que não vira La Deneuve, mas Brigitte Bardot! Outros falam de incerta moça que caminhava todas as tardes na praia da Boa Viagem, no Recife, e que se afogou…
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O sotaque de Alceu nem a Sorbonne tira
Claro que a versão de que a letra foi inspirada no filme de Buñuel não interessa, por ser muito óbvia, pouco instigante. E também não faltam os psicólogos de mesa de bar, a explicar que “azul” é referência a heroína (a bela estaria, nesta visão, chapada!), enquanto a Boa Viagem teria duplo sentido: não seria apenas a praia, mas também aquela “boa viagem” patrocinada pela droga (“A belle de jour no azul viajava…”). O artista não esclareceu a dúvida, preferindo reforçar o mito de que a canção foi feita num bar parisiense, quando ele, doidão da silva, teve um delírio e viu… sabe Deus quem! Eu gosto mesmo é do francês de Alceu: o accent pernambucano de São Bento do Una nem a Sorbonne tira. Graças a Deus.

(O.C.)

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O RISO E O CÔMICO NA LINGUAGEM DE JCC

Ousarme Citoaian | ousarmecitoaian@yahoo.com.br
1 O coronelAs críticas favoráveis a O coronel e o lobisomem são muitas, disponíveis na internet. Por isso, cito especialmente uma, por ser difícil de encontrar. Trata-se do ensaio Língua hílare língua (1999), do professor, poeta e músico José Afonso de Sousa Camboim, da Universidade de Brasília. Com rara erudição, mas sem chatice, Camboim disserta sobre o riso e o cômico na obra de José Cândido de Carvalho, sobretudo em O coronel… É livro importante para o completo entendimento e a total fruição da linguagem do autor fluminense – até mesmo com aproximações de Machado de Assis (Memórias póstumas de Brás Cubas): o ensaísta chama a atenção para a possível morte do Coronel Ponciano – sem que este evento interrompa a narrativa.

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2Rachel de QueirósPalavras usadas com sentido imprevisto

Assim falou Rachel de Queirós: “Não sei de ninguém, no momento, que renove o idioma como o renova ele. Vira e revira a língua, arrevesa as palavras, bota-lhes rabo e chifre de sufixos e prefixos, todos funcionando para uma complementação especial de sentidos, sendo, porém, que nenhuma provém de fonte erudita, ou não falada: nenhuma é pedante ou difícil, tudo correntio, tudo gostoso, nascido de parto natural, diferente só para maior boniteza ou acuidade específica. No léxico de Zé Cândido não aparece uma palavra que não seja possível; se ela não havia até aqui, estava fazendo falta. No mais, o que ele faz principalmente é usar a palavra no sentido novo, ou imprevisto, ou desacostumado”.
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Lobisomem mordendo os autos do fórum

De O coronel… : “Jogaram os fundilhos de um suspeitoso no banco dos réus. A demanda do julgamento, é-lobisomem, não-é-lobisomem, afundou pela noite, que era sexta-feira. Pois foi a lua aparecer na vidraça da casa do Fórum e o tal suspeitoso soltar aquele ganido de cachorro acuado, num desrespeito nunca visto em recinto de lei. E sem pedir licença, como é dever em tais ocasiões, o suspeitado largou o dente na peça dos autos e demais papéis adjuntos. Sobreveio então um corre-corre de arruaça. Caiu desembargador, caiu mesa, caiu cadeira e cadeirinha. E o lobisomem, dono da sala, fuçando as gavetas e tudo mais que calhou de encontrar no caminho. E, no deboche, bebeu a tinta toda dos tinteiros e borrifou com ela portas e paredes”.

À BEIRA DE UM ATAQUE DE… URTICÁRIA

Leio, em texto da prefeitura de Ilhéus, que “Prazo para renovação de alvará de casas comerciais encerra 31 de janeiro” – e quase tenho um ataque de urticária. É que ainda não me convenci (graças ao bom Deus!) dessa acepção estranha em que empregam o verbo encerrar. Fui ao Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, meu preferido, e achei nada menos do que 11 sentidos para este verbo, alguns desconhecidos para mim. Em ordem alfabética: abrigar, compreender, conter, encobrir, fechar, guardar, incluir, lacrar, limitar, rematar e resumir – mas nenhum que sirva ao caso em tela. Por quê? Porque encerrar, como posto acima, é pronominal. E escrever “encerra 31 de janeiro” é ir do erro ao abuso.
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5BovespaA vaca ainda não está, de todo, atolada

O mesmo Priberam traz os vários sentidos desse verbo, na forma pronominal – é claro que alguns deles me escapam. Uma vista d´olhos na internet mostra que a vaca ainda não está inteiramente no brejo: “MPE encerra inscrições no dia 31”, “Bovespa encerra dia em queda”, “Wall Street encerra dia no verde” – são formas corretas do verbo encerrar, na sua regência de transitivo direto. Na mesma busca, encontro esta joia da G1 (globo.com): “Encerra dia 31 de janeiro o prazo para os sindicatos ficarem em dia com as contribuições” – uma espécie de disputa com o texto oficial acima referido. Mas a prefeitura de Ilhéus ganha, devido ao seu encerra 31 – não a 31 (ou dia 31), como seria em português.

ROMANTISMO, CIVILIDADE E HISTÓRIA

6RousseauEscritores, pintores, músicos, artistas em geral, todos passaram por Paris. Nas ruas, aspira-se romantismo, civilidade, história. Perrault, Michelet, Voltaire, Hugo, Richelieu, Molière, Coligny, Bréton, saltam das placas de ruas e instituições, como a nos saudar. É impossível “flanar” por Paris, sem sofrer a emoção de estar num dos berços do mundo, da cultura e da arte, palco de alguns dos maiores eventos da humanidade, lugar onde viveram mentes ilustres e questionadoras da presença do homem sobre a terra. Aqui se fez a Revolução Francesa, aquela que cortou cabeças coroadas e mudou o mundo. Mas não falo das ruas de Paris, o que já foi (bem) feito por grande nomes, até Voltaire – também porque isto aqui não é guia turístico.
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O dia em que Napoleão empenhou o chapéu

Para os do ramo etílico-poético, é imperioso visitar o café mais antigo do mundo, o Le Procope, muito chique e muito caro, como tudo em Paris. Mas se não der pra beber uma coisinha, sempre se pode tirar foto, que o pessoal permite. Reza a lenda que certa vez Napoleão deixou lá empenhado seu chapéu de dois bicos, pois não tinha luíses bastantes para pagar a conta. O lugar foi frequentado também por Diderot, Verlaine, Rousseau, Voltaire e Benjamin Franklin. Situado na rua da Antiga Comédia (rue de l´Éncienne Comédie), o restaurante dá fundos para a sede do jornal O amigo do povo (L´amie du peuple), com que Marat infernizava a vida dos inimigos da Revolução (isto não está nos guias). Mais histórico, impossível.
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Saxofonista e professor universitário

Archie Shepp (1937…) é um dos músicos de melhor formação intelectual da história do jazz. Além de saxofonista e cantor, é professor e dramaturgo, com estudos de literatura dramática na Faculdade de Goddard, na Califórnia. Começou no sax-alto, em bandas de segunda expressão, em New York; depois, sob a influência de John Coltrane, assumiu o sax tenor, passando a tocá-lo em vários grupos. Shepp foi professor de faculdade em Buffalo, no departamento de estudos sobre os negros, e depois na Universidade de Massachusetts. Na sua formação, além de Coltrane, está Duke Ellington. Apesar da reconhecida “erudição”, Shepp nunca desdenhou as canções simples. Dito o que, vamos a seu solo de Sob o céu de Paris.

(O.C.)
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Artista participou do evento em 2011

O músico Marcelo Ganem, de Buerarema, fará duas apresentações durante o Salon du Chocolat de Paris, evento que começa no próximo dia 31 e vai até o dia 4 de novembro. Será a segunda vez que o artista participa do evento.

Os shows acontecem nos dias 2 e 3, dando destaque às composições incluídas no álbum Amoroso Chocolate. Está prevista a presença do percursionista itabunense Cláudio Kron, que vive em Londres.

Ganem viaja à França a convite da Câmara Setorial do Cacau e do Instituto Cabruca.