Alckmin e Lula se cumprimentam antes de embarque do presidente para os EUA || Foto Ricardo Stuckert
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarcou hoje (9) para os Estados Unidos onde se encontrará com o presidente norte-americano, Joe Biden, em Washington. A reunião vai ocorrer amanhã (10) à tarde, na Casa Branca, e segundo a Presidência, marca a retomada das relações entre os dois países, que em 2024 vão completar 200 anos de diplomacia. Geraldo Alckmin assume a Presidência da República na ausência do titular.

Antes, também estão previstos encontros do presidente brasileiro com o senador Bernie Sanders, com deputados do partido Democrata e com representantes da Federação Americana de Trabalho e Congresso de Organizações Industriais (AFL-CIO).

“Queremos construir relações de parceria e crescimento entre nossos países, pelo desenvolvimento da nossa região, debater ações pela paz no mundo e contra as fake news”, escreveu Lula em publicação nas redes sociais.

De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, a pauta do encontro com Biden terá três temas centrais: democracia, direitos humanos e meio ambiente. Os dois presidentes devem discutir como os dois países podem continuar trabalhando juntos para promover a inclusão e os valores democráticos na região e no mundo.

Lula e Biden foram eleitos e assumiram seus mandatos em contextos similares, de denúncias de supostas fraudes eleitorais e em meio a tentativas de golpe. Assim como as invasões e depredações às sedes dos Três Poderes, de 8 de janeiro, o Capitólio, sede do Legislativo dos Estados Unidos, foi atacado em janeiro de 2021 por radicais insatisfeitos com a derrota eleitoral do ex-presidente Donald Trump.

Ao falar, nesta terça-feira (7), sobre os preparativos da viagem do presidente, o secretário das Américas do Itamaraty, embaixador Michel Arslanian Neto, lembrou que Lula conversou recentemente com Biden, por telefone, em duas oportunidades. A primeira, quando foi declarado vencedor das eleições presidenciais em outubro do ano passado, e a segunda, no dia 9 de janeiro, um dia após os atos golpistas em Brasília.

“Os dois países estão experimentando desafios semelhantes, uma preocupação comum com o tema da radicalização, violência política, com o tema do uso das redes [sociais] para a difusão de desinformação e discurso de ódio. Então, com as duas principais democracias do mundo se reunindo em seu mais alto nível, será uma oportunidade ímpar para que enviem uma mensagem de forte apoio a processos políticos, sem recursos a extremismos, à violência e com o uso adequado das redes sociais”, destacou o embaixador.

PAUTAS CENTRAIS

Já na área ambiental e de mudanças do clima, o Brasil pretende se apresentar como ator ativo e comprometido com suas obrigações de reativar os instrumentos de proteção ambiental, mas também pretende buscar engajamento dos países envolvidos, para cumprimento de suas obrigações em termos de financiamento na área climática.

Sobre a pauta relacionada a direitos humanos, devem ser debatidos temas como o combate à fome e à pobreza em âmbito global, os direitos dos povos indígenas e o combate ao racismo, além da integração dos dois milhões de brasileiros que vivem nos Estados Unidos – maior comunidade do Brasil no exterior.

A secretária do Departamento do Interior dos Estados Unidos, Deb Haaland, foi líder da delegação norte-americana na posse de Lula, em nome do presidente Joe Biden. Haaland é responsável pelas políticas dos povos indígenas em seu país, e quando esteve em Brasília, encontrou a presidente da Funai, Joenia Wapichana.

Na esfera econômica, o governo brasileiro busca a dinamização de investimentos, em particular na transição energética e geração de energia limpa, e uma maior integração das cadeias produtivas. Ambos os líderes conversarão, igualmente, sobre as principais questões da agenda internacional, como paz e segurança e governança no G-20.

Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil e principal destino das exportações de produtos industrializados. No ano passado, o intercâmbio total entre os dois países foi de cerca de US$ 88,7 bilhões, valor inédito na série histórica. Além disso, é o país com o maior estoque de investimentos no Brasil, estimado em US$ 123 bilhões.

RELAÇÕES INTERNACIONAIS

A viagem do presidente Lula atende a convite do presidente Joe Biden. Ele ficará hospedado na Blair House, residência oficial onde o presidente dos Estados Unidos recebe os convidados mais importantes.

Integram a comitiva, a primeira-dama Janja Lula da Silva e os ministros das Relações Exteriores, Mauro Vieira; da Fazenda, Fernando Haddad; do Meio Ambiente, Marina Silva; e da Igualdade Racial, Anielle Franco. Também acompanham o presidente o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Márcio Elias Rosa; o líder do governo no Senado, Jacques Wagner; e o assessor-chefe da Assessoria Especial da Presidência da República, embaixador Celso Amorim.

O retorno ao Brasil está previsto para sábado (11).

Os Estados Unidos são o terceiro país visitado por Lula, desde que assumiu o mandato. Em janeiro, ele esteve na Argentina e no Uruguai, onde tratou das relações bilaterais entre os países, a integração da América Latina e o fortalecimento do Mercosul, o bloco econômico composto por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.

Também estão previstas viagens para China e Portugal nos próximos meses. Lula também recebeu convite do presidente da França, Emmanuel Macron, para visitar o país. Agência Brasil

Lula discursa na COP-27 || Foto Ricardo Stuckert
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Logo após o resultado da eleição brasileira, o presidente do Egito, Abdel Fattah El Sisi, felicitou o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o convidou para a Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP-27), realizada no mês passado no país africano. A presença do petista no encontro foi uma amostra da diplomacia presidencial do Brasil a partir de 2023, observa o cientista político Henrique Campos de Oliveira, em conversa com o PIMENTA.

Segundo ele, a grande capacidade de gerar consenso político é marca do petista e uma demanda das realidades nacional e global. “Lula volta à cena num contexto delicadíssimo da geopolítica. Resolvendo questões domésticas e internacionais, ele caminha para a Secretaria-Geral da ONU e o Nobel da Paz. Isso está sendo costurado por um movimento de aclamação internacionalista contra o fascismo. Me desculpe o eleitor do presidente Jair Bolsonaro, mas o autoritarismo de quem não respeita o voto na urna traz, em si, uma característica fascista”.

A tradição diplomática é importante ativo nacional e foi o que assegurou a soberania do país, afirma Henrique, que é professor da Universidade Salvador (Unifacs). Graças à eficiência do Itamaraty, continua, o Brasil compensou as limitações de suas Forças Armadas e de uma inserção econômica internacional baseada na exportação de produtos primários. Essa trajetória, segundo o docente, foi muito bem reconstituída pelo historiador, diplomata e ex-ministro Rubens Ricupero no livro A diplomacia na construção do Brasil, 1750-2016.

Henrique: “Lula exporta capacidade de gerar consensos”

Para Henrique Campos Oliveira, os primeiros governos Lula foram um período de projeção do país, após o processo de recredenciamento internacional iniciado pelos ex-presidentes Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso (PSDB). “O preço elevado das commodities ajudou, mas, ao mesmo tempo, o Brasil tinha um presidente com habilidade de gerar consensos. Lula exportou isso, não ficou reduzido à governabilidade nacional. Exerceu papel de liderança na América Latina, mediava a relação tensa entre Bush e Chávez. Foi importante para o acordo nuclear dos EUA com o Irã”.

Outra missão do presidente eleito, diz Henrique, é reaproximar o Brasil do bloco que forma junto com Rússia, China, Índia e África do Sul (BRICs), exercendo protagonismo nas agendas climática e de pacificação das relações internacionais. “Lula tem a oportunidade e o desafio de ser o grande articulador da interlocução e de agendas de consenso entre os blocos ocidental e oriental, com Xi Jinping, Biden, Putin e as lideranças europeias”, conclui.

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O artigo escrito pelo jornalista Elio Gaspari,, e publicado neste domingo n’O Globo, esclarece bastante porque a diplomacia brasileira tem enfrentado severo bombardeio da grande imprensa e da direitona conservadora.
Os americanos, cujos interesses têm no Brasil ferrenhos e engajados defensores, vêm há muito tempo procurando minar a supremacia do Itamaraty nas negociações internacionais. Aos olhos dos “donos do mundo”, os diplomatas tupiniquins agem com excessiva independência.
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