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Karoline Vital | karolinevital@gmail.com

Na mesma hora, liguei a lição aprendida ao meu cotidiano. Neste período de campanha eleitoral aparecem pretensos cientistas políticos a torto e a direito trazendo soluções infalíveis para tirar a cidade da barafunda

Fábulas são modos divertidos de ensinar regras de convivência. Sempre me diverti com as historinhas despretensiosas tentando ilustrar a melhor maneira de nos comportarmos para tornar a vida mais suportável.

Ultimamente, tenho me deparado com imagens de uma fábula moderna nas redes sociais. A cara que o He-Man fazia explicando a lição de moral passada ao final dos episódios. O pior é que os argumentos até faziam sentido, apesar de não passarem de falácias. Ah, anos 1980, quando o politicamente correto era coisa de hippie! Brinquedos com rebarbas cortantes e pintados com tintas à base de chumbo, cigarrinhos de chocolate e um desenho animado cheio de monstros e musculosos em modelitos homoeróticos, com um tentando matar o outro, ostentando a pretensão de ter alguma autoridade para promover a moral e os bons costumes.

Apesar de não concordar com a fórmula usada por He-Man, eu acho a tentativa válida. Em uma época em que as famílias estão cada vez mais desmanteladas, sem núcleos sólidos, qualquer meio de passar normas de comportamento vale a pena. O legal é que, mesmo com o povão e a mídia classificando os desenhos animados contemporâneos de violentos e vazios, há muita coisa de qualidade e com mensagens boas sendo produzidas.

Infelizmente, grande parte fica restrita aos canais educativos que têm audiência proporcional à massa pensante do país. Ou então, só quem tem o privilégio de pagar uma TV por assinatura com canais infantis de conteúdo criteriosamente selecionado e classificado para cada fase da infância. Dia desses, deparei-me com um programete bem legal no canal Rá-tim-bum, “O papel das histórias”. São bonecos de recortes de papel cartão que contam fábulas clássicas do grego Esopo e do francês La Fontaine.

Assistindo com minha filha de dois anos “O papel das histórias”, pude refletir sobre a fábula “Assembleia dos Ratos”, de Esopo. É a história de uma colônia de ratos que não suporta mais o terror ditado por um gato e se reúne para discutir uma solução para o pesadelo.

Cada rato dá sua sugestão até que um vem com a melhor de todas: colocar um sino no pescoço do felino. Assim, todos ouviriam ele se aproximar e poderiam fugir antecipadamente. O ratinho foi aplaudido pela brilhante ideia. Até que um rato mais velho fez o sábio questionamento: “Quem colocará o sino no pescoço do gato?” Os ratos se entreolharam e foram saindo um a um. Moral da história: falar é fácil, fazer é que é difícil.

Eu não conhecia esta fábula e, na mesma hora, liguei a lição aprendida ao meu cotidiano. Neste período de campanha eleitoral aparecem pretensos cientistas políticos a torto e a direito trazendo soluções infalíveis para tirar a cidade da barafunda. Eles não se limitam a dar opiniões. Já traçam todo o percurso para a salvação da lavoura com uma propriedade tirada sabe Deus de onde. Muitas vezes são sugestões coerentes, plausíveis, perfeitamente realizáveis. Todavia, eu me pergunto: Quem está realmente disposto a amarrar o sino no pescoço do gato?

Karoline Vital é jornalista.