Augusto aponta a saúde como maior prioridade para 100 dias de governo || Foto Lucas Matos
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A saúde será a maior prioridade da gestão nos 100 primeiros dias do novo governo em Itabuna, sinalizou o novo prefeito Augusto Castro. Durante ato de posse, o prefeito prometeu melhorar a rede de postos de saúde, com mais investimentos na atenção básica, e até seis postos funcionando até a meia-noite.

O novo prefeito disse que irá colocar para funcionar várias unidades de saúde em reforma ou fechadas, a exemplo da Roberto Santos, no Santo Antônio, antes considerada referência na Atenção Básica. “É preciso cuidar da saúde do nosso povo”, disse, comprometendo-se a investir mais que os 15% em saúde preconizados pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

COVID-19 E PSIQUIATRIA

Na guerra contra a Covid-19, o prefeito falou em vacinação em massa de profissionais de saúde e idosos afirmou ter entrado em contato com o Instituto Butantan, de São Paulo, para a compra de vacina. “Vamos avançar com força, determinação e foco. Alinhar a gestão, diminuir gastos e fazer a infraestrutura de alguns bairros”, disse.

A ampliação dos leitos de UTI Covid-19 e clínicos e novos serviços, inclusive psiquiátricos, no Hospital de Base Luís Eduardo Magalhães (Hblem) também foi prometido por ele. A precariedade na área da saúde mental em Itabuna foi objeto de críticas do psiquiatra Luiz Cezar Melo em entrevista ao PIMENTA na última semana (confira a entrevista aqui). Luiz Cezar apontou o modelo ideal para a área psiquiátrica.

Castro reforçou, ainda para estes primeiros cem dias de governo, outro compromisso de campanha, a retomada do atendimento pediátrico no Hospital Manoel Novaes nos moldes anteriores à restrição imposta no governo do prefeito Fernando Gomes. Há mais de dois anos, crianças são atendidas no Novaes apenas em casos graves, o que tornou precário o atendimento e causou a morte prematura de várias menores.

O prefeito disse ter recebido telefonema do secretário estadual da Saúde, Fábio Vilas-Boas, de quem ouviu desejo de sucesso na gestão. “Sei que ele fez muito pela Bahia, mas preciso que ele faça muito mais pela região e por Itabuna, que é cidade-polo, tem hospital porta aberta atende mais de 120 municípios que é o Hospital de Base”.

‘IMPORTARÁ’ GRIPÁRIO

O prefeito anunciou a implantação, em Itabuna, de um gripário, como já em funcionamento em Salvador, para dar eficiência nos atendimentos de urgência e emergência aos casos suspeitos de Covid-19. O gripário seria instalado na UPA 24 horas do Monte Cristo.

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A reforma psiquiatra brasileira foi positiva para a assistência em saúde mental, mas o falta vontade política dos governantes para colocá-la em prática, na opinião de Luiz Cezar Melo, 65 anos, mais de 30 deles dedicados à Psiquiatria. Luiz Melo faz críticas ao arremedo que se fez de assistência psiquiátrica nos municípios, principalmente Itabuna. As consequências, aponta, podem ser vistas nas ruas.

Numa entrevista ao PIMENTA, Luiz Melo observa que praticamente se destruiu o pouco que havia no município, principalmente nos últimos quatro anos. O psiquiatra observa, por exemplo, que o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) nível 3 começou a ser construído e não foi entregue até o momento. Ele apela ao prefeito eleito, Augusto Castro, para que conclua o equipamento e faça valer o que preconiza a reforma psiquiátrica.

BLOG PIMENTA – Na opinião do senhor, a assistência psiquiátrica em Itabuna é a ideal?

Luiz Cezar Melo – Como especialista em saúde mental há quase 30 anos, na Apae, Caps e serviço de ambulatório, vejo que a situação tem piorado e não há perspectiva de melhora. Se antes tínhamos sistema que funcionava precariamente, hoje está muito pior e aquém do desejado.

O que difere o antes do momento atual?

Tínhamos hospital funcionando em sistema de mega-asilo, de pessoas confinadas. Depois da reforma psiquíatrica, tentou-se sistema mais racional. Existia, também, o ambulatório da Prefeitura, no Hospital de Base, que funcionava de forma precária, e atendia demanda de Itabuna e região. Funcionava? Pelo menos, os pacientes eram vistos de três em três meses. Havia constância, não havia intervalo muito grande entre um atendimento e outro. Hoje, foi criado ambulatório no Centro, simplesmente arremedo de atendimento psiquiátrico. A pessoa que tem sofrimento mental, quando consegue atendimento, é seis, oito meses depois. O atendimento é precário, com receita emitida, replicada, treplicada.

Quais os riscos para o paciente?

O indivíduo não tem muito contato com quem está tratando dele. Não há avaliação. A pessoa tem que ser avaliada, pelo menos, de três em três meses, mas é vista em intervalor de seis, a 10 meses até. Essa pessoa pode reagudizar, paralisar. E o indivíduo fica na rua. Os familiares sabem bem o que é isso, de ter doente mental em casa e não ter a quem recorrer, não ter o que fazer.

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A saúde mental sempre foi jogada de lado, patinho feio da saúde, que é o patinho feio do orçamento geral de um município.

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Não há alternativa?

A alternativa acaba sendo o serviço particular, que são as clínicas populares, que têm consulta relativamente barata para quem é de classe média, mas não privilegiado tirar R$ 200 do seu orçamento é muito. Esse é um dever do Estado e um direito do cidadão, atendimento público e gratuito. A saúde mental sempre foi jogada de lado, patinho feio da saúde, que é o patinho feio do orçamento geral de um município.

A reforma psiquiátrica foi positiva? Por que ela não está funcionando como preconizado em Itabuna?

A reforma psiquiátrica foi muito positiva com o fim do confinamento. Dificilmente alguém se recupera tendo a sua liberdade limitada e sofrendo maus-tratos e sobrevivendo com o mínimo possível. Era uma solução quando não se tinha algo melhor. A reforma psiquiátrica trouxe uma novidade que é o atendimento na comunidade. Se ela fosse implantada com eficácia, apoio público, vontade política, se a doença mental não fosse tão discriminada e relegada a segundo, a terceiro plano até, talvez ela tivesse…

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O Caps não é um ambulatório a mais. Trabalha em rede, trabalha com o PSF. O único Caps que funcionou bem foi o de Ibicaraí.

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Há bons exemplos de mudança depois da reforma psiquiátrica?

Em alguns lugares, ela floresceu. A reforma prevê que o indivíduo seja tratado na própria comunidade, sem precisar afastá-lo de quem ele gosta, da sua família, porque foi jogado no meio de outras pessoas também doentes. A reforma foi perfeita ao criar o Caps, que encara a doença mental como digna de ser excluída da sociedade, e sim uma tentativa de incluir esse doente que, por algum momento, perdeu a razão, de torná-lo capaz de ser um cidadão. O Caps não é um ambulatório a mais. Trabalha em rede, trabalha com o PSF. O único Caps que funcionou bem foi o de Ibicaraí.

O que deu certo no município sul-baiano?

Em Ibicaraí, tínhamos os três dispositivos da reforma psiquiátrica, que é o Caps, o serviço de residência terapêutica para pacientes que não tivessem referência familiar, o paciente de rua, e o internamento em hospital público. O hospital tinha 3 leitos de psiquiatria. Os pacientes que agudizavam ficavam lá por algum tempo. O período de internamento era mínimo, não saíam da cidade. O paciente recebia o tratamento e voltava para a sua comunidade, dessa vez já com orientação para se tratar no Caps.

Por que Itabuna não avança, embora ainda seja polo em serviços de saúde?

Itabuna tem quatro dispositivos (Caps 2, Caps Infância e Adolescência e Caps Álcool e Drogas) e tem um outro Caps que nunca funcionou e está sendo construído há vários mandatos e ninguém se arvora de terminar. É um Caps que prevê internamento. Ou seja, estaria solucionando um vácuo que o Hospital São Judas deixou. Porque o paciente estaria sendo internado na crise e depois voltaria para o seu ambiente familiar.

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O indivíduo que descompensa não tem a assistência imediata devida. São usados os hospitais gerais, mas estes não atendem completamente. O indivíduo que adoece não tem um sistema para atendê-lo.

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Quais são os efeitos, as consequências da falta de assistência psiquiátrica em Itabuna?

A consequência é o aumento de número de suicídio, pois o indivíduo que descompensa não tem a assistência imediata devida. São usados os hospitais gerais, mas estes não atendem completamente. O indivíduo que adoece não tem um sistema para atendê-lo. Temos aí Roça do Povo que poderia ser usado como oficinas terapêuticas, oficinas protegidas, sistema que dá certo em algumas cidades da Bahia, onde o paciente psiquiátrico, que só é improdutivo na crise, poderia ser encaminhado para poder aprender uma atividade. Ibicaraí chegou a receber prêmio nacional como Caps modelo. Lá, funcionava em rede. Há solução, não há é vontade política.

Há recursos federais para essas ações?

Sim, não para construção, mas para assistência. A parte maior do recurso vem do governo federal. Já deveria estar construído e funcionando aqui o Caps 3, com internamento e psiquiatra de plantão. Isso demorou de ser implantado no Brasil inteiro. Salvador agora que tem, inclusive o CAPS 3 AD, que é de emergência para alcoolismo e drogas, mas, de fato, demorou muito para ser implantado na Bahia.

Por que, no geral, relegam a assistência na área de saúde mental a terceiro, quarto plano?

Primeiro, porque quem adoece não interfere muito na dinâmica econômica da sociedade. O doente mental é invisível, porque ele não vota. Se vota, vota apenas quando sadio. Ele não produz, não é consumidor. Então, é relegado a segundo plano, porque é invisível. No sistema capitalista, ele não tem cartão de crédito. Uma sociedade que confunde cidadania com consumo…

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O doente mental é relegado a segundo plano porque é invisível. No sistema capitalista, ele não tem cartão de crédito. Uma sociedade que confunde cidadania com consumo…

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Não tem valor para essa sociedade?

A não ser que se trate de um grande executivo que adoeça. Ou dono de uma firma ou que seja alguém importante para o sistema. Mas se for pessoa humilde, menos privilegiada, e para o lugar que ele está saindo na empresa tiver 10, 20 para ocupar o lugar, ninguém vai se preocupar em recuperar essa pessoa, já que há exército de reserva muito grande.

Os governos, além de não observarem o doente, fecham os olhos para os efeitos dessa desassistência na família?

Exato. Existe toda uma dinâmica familiar que é afetada. Quem é que vai cuidar deste doente quando está em casa? Por isso que o hospital psiquiátrico parece opção mais viável para alguns. “Não, eu deixo ele lá, não me preocupo mais com ele, vou fazer minhas coisas”. Isso, mesmo sabendo que ele pode estar sendo maltratado.

E poucos também sabem lidar em um momento de crise…

Por isso, louvo muito a reforma psiquiátrica. Pelo menos, na ideia é ótimo. Os Caps estão preocupados com a saúde mental. Então, os familiares podem frequentar os Caps até para ter noção do que fazer e não fazer quando o paciente entra em crise. Há um aprendizado, também. Há muito cuidador de doente mental que, depois, resolve cursar auxiliar de enfermagem ou serviço social, agente comunitário de saúde. Existe um desconhecimento não apenas do público em geral, mas de profissionais da área da saúde também, porque não querem lidar com pessoas que adoecem, pois há o estigma de que doente mental é perigoso, violento. É um estigma.

Preconceito?

Os estudos indicam que o doente mental não é mais violento do que a população em geral. É que os crimes, quando cometidos por doentes mentais, são mais alarmantes, pois há perda do controle, porém não são tão comuns. E aí gera o estigma. Os normais, às vezes, cometem crimes muito mais violentos que os doentes mentais.

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O doente mental que não é bem tratado ou que não consegue esse espaço (atendimento) no serviço público para se tratar, ele se torna quase uma bomba-relógio.

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E aí, retornamos para a questão inicial das consequências da falta de assistência na rede pública, não é mesmo?

O indivíduo que não é bem tratado ou que não consegue esse espaço (atendimento) no serviço público para se tratar, ele se torna quase uma bomba-relógio. O cara que passa um tempo sem ver psiquiatra, sem renovar ou revisar a medicação, pode surtar num período desses e cometer um crime. Mas se é visto, pelo menos, de três em três meses, diminui-se essa possibilidade. Vejo doentes mentais que esperavam consulta há nove meses e descompensaram nesse período, cometendo crime. Se tivesse atendimento, provavelmente não teria cometido o crime. Ou seja, estamos falando de prevenção também.

A reforma psiquiátrica abre espaço para o convívio, a integração. Qual o peso dessa integração para a saúde mental deste paciente?

Se o indivíduo se acha mais aceito, menos discriminado e confia na capacidade dele, isso já é terapêutico por si só. Mas se o indivíduo é isolado, discriminado, claro que vai agravar. Um exemplo bom disso: em Ibicaraí, havia programa chamado Pintando a Cidade. O artista plástico levava os doentes mentais para a rua para pintar as guias, calçadas, jardins… Então, a população em geral, de lá, se acostumou a ver estas pessoas produzindo, trabalhando, coisa que não imaginava, e sem essa aura de perigo. O artista recolhia no comércio as tintas e ele reformava, fazia as tintas e pintava e deixava os usuários do Caps trabalhando. Eles nunca poderiam imaginar que o doente mental poderia produzir alguma coisa, inclusive para a cidade. Então, esse tipo de coisa eu nunca vi aqui em Itabuna. É até uma sugestão para o governo que está entrando…. Eu sei que doente mental não dá voto, mas se ele quer ser um bom gestor, porque não terminar o Caps 3, porque não colocar equipes eficientes nos Caps e não voltar o ambulatório geral? É tornar o doente mental visível. Mostrar que ele não é violento. É violento quando não é tratado adequadamente.

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Eu sei que doente mental não dá voto, mas se ele quer ser um bom gestor, porque não terminar o Caps 3, porque não colocar equipes eficientes nos Caps e não voltar o ambulatório geral? É tornar o doente mental visível.

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Quais são os reflexos da falta de assistência para a cidade?

Quem nunca viu um doente mental na rua quebrando patrimônio ou sendo vítima de chacota e provocações? Há quem não o compreenda e começa a provocá-lo, xingá-lo, ver, realmente, o circo pegar fogo. Há pouco tempo, havia um que quebrava carros… Ah, porque não tem mais o São Judas (clínica psiquiátrica). Que tivesse, mas o São Judas não era tudo. A pessoa não ia ficar a vida inteira lá. Então, se não cuidar para que ele aprenda outro comportamento e não seja provocado, porque não implantar um sistema desse? Sai mais caro recuperar patrimônio destruído por ele.

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Que nossos governantes aprendam a planejar e modificar a paisagem da cidade, como mostram as fotos, com os requisitos mínimos de habitabilidade e conforto para os que realmente merecem: os que pagam seus impostos.

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Quase que diariamente recebo fotos e textos explicativos e comparativos sobre a evolução do município de Ilhéus, algumas vezes de Itabuna. O vasto material – iconográfico, assim podemos chamar – faz parte do acervo de bibliotecas particulares de ilheenses ou instituições baianas traçam um perfeito Raio X de como as aglomerações e cidades eram planejadas, privilegiando a arquitetura, a estética o conforto e a segurança.

Quando comparadas com as atuais, podemos perceber claramente um choque entre o esmero de antes e a pobreza conceitual de agora, causada, quem sabe, pela falta de planejamento do poder público. É certo que tínhamos nossos vergonhosos cortiços, nos variados graus de miséria, sem as mínimas condições de higiene e habitabilidade, que ainda teimam em ficar, embora em menor escala.

Quando recebo esse material enviado pelo fotógrafo e vice-prefeito de Ilhéus, José Nazal, vibro com a história e o pioneirismo do que com muito sacrifício conseguiram implantar nossas cidades, com as construções de acordo com as características dos diferentes locais. Entretanto, não encontro o mesmo entusiasmo ao ver o avanço das aglomerações, que não obedecem qualquer padrão técnico ou paisagístico.

Não consigo compreender os discursos dos políticos, notadamente os ocupantes de mandatos no poder executivo, que torcem loas às administrações [suas, é claro] comemorando o crescimento de tal bairro e tal cidade. Faço esforço em acreditar na honestidade do discurso em desprezar a palavra desenvolvimento, quem sabe por total desconhecimento do que o vocábulo significa.

Analisando essa desconformidade crescente nas aglomerações, hoje chamadas generosamente de comunidade, sinto ter nascido na última geração de gente feliz, mesmo com todas as diferenças sociais da época. Basta lermos ou ouvirmos os “causos” de Jessier Quirino, para confirmarmos nossa felicidade nos bons tempos passados que não voltam mais.

Ilhéus no antes e depois em foto e acervo de José Nazal

Não nos incomodávamos com as pequenas doenças ou surtos que apareciam corriqueiramente em nosso corpo, a exemplo dos piolhos na cabeça, das impinges que apareciam e ficavam à mostra no corpo, chamadas popularmente de “ziquizira”. Era um prato cheio para as gozações no recreio da escola, no jogos de gude ou nos campinhos de futebol. E ninguém morria por isso, no máximo um xingamento da mãe e três tapas trocados.

Como não sabíamos o que significava “bullying”, essa santa ignorância nos livrava de outros males maiores e que necessitavam do auxílio dos profissionais da psicologia, psiquiatria e outros mimos que conhecíamos pelos livros. Também não existia o politicamente correto. Nos contentávamos em sentar para ouvir os programas de rádio do Rio de Janeiro e saímos em carreira para mostrar nosso conhecimento dos grandes clubes de futebol, após ouvirmos atentamente a resenha.

Ninguém se incomodava em ver os programas de televisão na casa de um vizinho, com uma enorme plateia sentada no chão da sala – os privilegiados e os mais apressados – ou olhando pelos ombros dos que se acomodavam na janela. Os chuviscos na tela faziam parte do espetáculo, bem como os mais espertos eram bem-vistos quando se ofereciam para regular a antena lá nas alturas.

Hoje, nossos objetos de desejo passaram a ser os aparelhos celulares no lançamento, que trocamos a cada seis meses, em perfeito estado, por outro ainda em pré-lançamento. Não colocamos nossos pés na lama dos campinhos de futebol, pois estamos jogando nos poderosos notebooks e a qualquer leve mudança de temperatura corremos em busca dos médicos especialistas e suas dezenas de exames.

Saudosismos à parte, prefiro os tempos em que desejávamos uma rua calçada a paralelepípedos mas não pensávamos duas vezes em tirar os sapatos para atravessar um trecho de lama. Não recebíamos merenda na escola e às vezes não trazíamos de casa, mas não dispensávamos o “baba” com uma bola de pano no recreio e chegávamos em casa sãos e salvos.

Nos tempos atuais posso assegurar que muitos de nós teria saudade de doenças como catapora, sarampo e caxumba do que conviver com as gripes virulentas importadas de outros países, que não apenas “fabricam” catarro como antigamente. Não, os vírus são exigentes e levam à morte, principalmente se o coitado já estiver acometida de doenças outras como diabetes, cardiopatias, hipertensão.

Naquela época não existia o Sistema Único de Saúde, o famigerado SUS, que abarrota de dinheiro os sacos sem fundo que se transformaram os governos estaduais e municipais de todo o Brasil. Ainda hoje muitos ainda desconheciam o SUS, destinado a atender de qualquer jeito os mais pobres, e que muitos políticos os conhecem – o SUS e os pobres – apenas por ouvir dizer.

Lembro de um ditado antigo que asseverava: “Pela entrada da cidade eu conheço o prefeito”, numa alusão aos que sabiam cuidar da comunidade, da sua gente. É triste, porém comum, que muitos políticos e servidores públicos sequer conheçam essas comunidades, simplesmente chamadas de invasão e que aparecem com frequência nas fotografias de José Nazal.

Que nossos governantes aprendam a planejar e modificar a paisagem da cidade, como mostram as fotos, com os requisitos mínimos de habitabilidade e conforto para os que realmente merecem: os que pagam seus impostos. Quem sabe a pandemia e o distanciamento social presencial seja uma importante ferramenta para podermos aprender como nos comportar como eleitor. E com o apoio das redes sociais, para a felicidade das novas gerações.

Walmir Rosário é advogado, jornalista e radialista.

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Fachada do antigo Hospital São Judas, em Itabuna, fechado há mais de três anos.
Fachada do Hospital São Judas, em Itabuna, fechado há mais de três anos.

Da Agência Brasil

O Brasil perdeu quase 16 mil leitos e fechou 85 hospitais psiquiátricos nos últimos 11 anos, de acordo com levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM). Segundo a entidade, das 40.942 unidades psiquiátricas existentes em 2005, restavam 25.097 em dezembro de 2016, o que representa redução de 38,7% na oferta de leitos psiquiátricos.

De 228 locais existentes especializados em saúde mental em 2005, restaram 143 em dezembro do ano passado. O levantamento foi baseado em informações do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). A redução ocorre em período de crescimento de 12% do contingente populacional brasileiro e demanda crescente de pacientes com transtornos mentais, principalmente em decorrência do uso abusivo de álcool e drogas.

“Acredita-se que há 25 milhões de pessoas que necessitam de algum atendimento psiquiátrico, sendo que terão enorme dificuldade de contar com a integralidade da assistência, pois o governo, ao contrário de reforçar todas as etapas dos cuidados possíveis, adotou uma estratégia que prejudica aqueles que, em algum momento de sua história clínica, precisarão de um suporte hospitalar”, afirmou Emmanuel Fortes, 3º vice-presidente do CFM, que também coordenou a Câmara Técnica de Psiquiatria da autarquia.

REFORMA PSIQUIÁTRICA

O CFM explica que o fechamento das unidades é resultado de uma política promovida pelo governo federal de “sufocamento” do modelo de internação. A entidade argumenta que o movimento contrário à internação ganhou força com a adoção da Lei 10.216/2001, conhecida como reforma psiquiátrica.

De acordo com esta política, o atendimento psiquiátrico deve privilegiar a abordagem ambulatorial e terapêutica e evitar a internação dos pacientes. A reforma foi construída a partir de críticas à prática de isolamento e exclusão e às denúncias de maus-tratos ocorridos contra pacientes psiquiátricos internados de forma permanente e involuntária em diversas unidades manicomiais do país.Leia Mais

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Hospital de Base tem unidade de psiquiatria fechada.
Hospital de Base tem unidade de psiquiatria fechada.

A ordem do prefeito Fernando Gomes para demitir 200 funcionários do Hospital de Base de Itabuna começou a afetar a qualidade e levou à suspensão de serviços importantes e exclusivos oferecidos pela unidade médico-hospitalar. A unidade de psiquiatria do Base foi fechada.

“Somente tínhamos lá para levar nosso irmão que precisa de atendimento psiquiátrico. Ficamos sem chão. A gente não tem dinheiro para médico particular”, disse a irmã de paciente atendido há mais de um ano no setor de psiquiatria do Hospital de Base.

Nem o prefeito Fernando Gomes nem o secretário de Saúde de Itabuna, Vitor Lavinsky, informaram se o fechamento da unidade, a única com atendimento pelo SUS em Itabuna, é temporária ou definitiva. De acordo com um funcionário do hospital, a unidade atendia a mais de duas centenas de pacientes regulares com problemas psiquiátricos.