Tempo de leitura: 2 minutosMarival Guedes | marivalguedes@yahoo.com.br
Tempos depois, retornou para pedir desculpas por que seu melhor amigo havia morrido de câncer na próstata. Abraçou o médico e chorou. Júlio Brito também não se conteve.
Um cartunista escreveu que se fosse obrigado a ser politicamente correto na profissão, entraria na clandestinidade. É assim. Grande parte das piadas são discriminatórias com relação à raça, etnia, gênero e opção sexual. Neste último item, incluem-se as piadas sobre o exame de próstata.
Lembro-me que a revista Bundas elegeu “O Macho do Ano” o médico que teve a coragem de fazer o exame no então senador Antônio Carlos Magalhães. Ao lado do texto, uma charge com ACM posicionado corretamente para ser examinado.
O jornalista Ramiro Aquino assistia a um show de Renato Piaba e em determinado momento foi questionado sobre o exame. Ramiro respondeu que há anos consecutivos vai ao urologista com este objetivo. Piaba exclamou que Ramiro havia gostado da experiência e passou a fazer outras brincadeiras similares. Ramiro, que estava ao lado da esposa, Nadja Aquino, nada respondeu. Nem sorriu.
Dias depois na Feijoada do Tarik, César Mazzoni e Rogério Santos, respectivamente, à época, diretor e chefe de jornalismo da TV Santa Cruz, chamaram Piaba e Ramiro para as apresentações. Ramiro, pessoa sempre gentil, surpreendeu ao falar com firmeza: “não tenho prazer algum em lhe conhecer”.
Foi um constrangimento geral. O jornalista explicou que a fala do humorista tem grande repercussão e que ele, ao invés de contar aquele tipo de piada, deveria contribuir para a campanha do exame de próstata.
O urologista Júlio Brito conta que um senhor da área rural que foi ao consultório, fez o maior escândalo quando soube como é realizado o exame, se recusou e foi embora . Tempos depois, retornou para pedir desculpas por que seu melhor amigo havia morrido de câncer na próstata. Abraçou o médico e chorou. Júlio Brito também não se conteve.
Lembro-me também que, há poucos dias, Emilio Gusmão fez uma brincadeira sobre o assunto com o secretário Carlos Freitas. Foi censurado por um juiz. Se a brincadeira foi politicamente incorreta, pior é a censura. Precedente perigoso.
Encerro falando sobre o repórter JB quando trabalhava na TV Cabrália. Ele foi se submeter ao exame e quando retornou ao trabalho vários colegas aguardavam-lhe no estúdio para as piadas de sempre. JB entrou com seriedade e reclamou: “Foi muito rápido, pedi ao médico que fizesse de novo para evitar dúvidas, mas ele se recusou. Estou decepcionado.”
Marival Guedes é jornalista e escreve no PIMENTA às sextas.