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Manuela Berbert

Enxergo em Neto uma vontade imensa de tomar as rédeas da Bahia, ainda que essa expressão me ofenda.

Circula na internet uma entrevista do deputado federal baiano Antônio Carlos Magalhães Neto, concedida à Revista Playboy desse mês. Numa linguagem simples e com um tom informal, ele brinca com sua altura e com a beleza das mulheres do governo, mas passa sua principal mensagem: está disposto a incomodar.

As seis páginas publicadas mostram que ele é ainda mais esperto do que pode parecer. Sabe que precisa apagar a imagem familiar de “coronelista” e vale-se de alguns artifícios para tal, como a constante atuação nas redes sociais e a simpatia, que lhe é peculiar. E, numa visão menos regional da coisa, demonstra ter consciência de que fazendo oposição a Dilma e seus aliados, vai ganhando uma visibilidade nacional significante.

Ele acaba ‘puxando a sardinha’ pro seu lado ao comentar que muitos colegas sequer aparecem no Congresso Nacional ou que, quando o fazem, é para negociar cargos etc. Talvez por ser o deputado federal mais bem votado da Bahia, ACM Neto pode não precisar tanto fazer o papel do negociador. Prefere ser uma pedrinha no sapato da Presidente. Aliás, fazendo a linha “super-sincero” na entrevista, acaba deixando nas entrelinhas que se opor a Dilma é mais fácil do que se opor a Lula e confrontar a popularidade do ex-presidente. Ouso escrever que, proporcionalmente, são os dois maiores marqueteiros que consigo enxergar: Lula para o Brasil como um todo, e ACM Neto para o seu estado.

Ainda não conheço uma grande e inesquecível obra dele, até porque essa não é a função concreta do cargo que ocupa. Mas enxergo em Neto, como é chamado, uma vontade imensa de tomar as rédeas da Bahia, ainda que essa expressão me ofenda. Não duvido do que ele anda traçando para o futuro.

Numa ocasião recente, hospedado aqui em Itabuna, telefonou para um amigo pedindo que fosse buscá-lo para jantar. O cidadão, que já estava num restaurante conhecido da cidade, prontamente o atendeu. Acontece que, ao retornar com o neto de ACM, encontrou o restaurante já de portas fechadas. Ele disse que já se encontrava naquele recinto e o segurança ficou aguardando a explicação do deputado, que poderia ter explorado a popularidade incontestável que possui.

Político até nos seus momentos de lazer, sorriu e disse que também tinha dado apenas uma saidinha, o que acabou fazendo com que as portas fossem abertas. Permitam-me a brincadeira, mas, independentemente da minha opção partidária, percebo que é preciso muito mais que um homem alto e forte para conter as vontades daquele baixinho…

Manuela Berbert é jornalista e colunista da Contudo.