Cientista aponta desafios da sociedade para lidar com eventos climáticos extremos
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Thiago Dias

O fotógrafo Felippe Thomaz resgatou trecho do poema O Rio Cachoeira para acompanhar foto publicada em seu perfil no Instagram (@flipthomaz). A poesia fala de uma cobra imensa, de dorso ondulante, com sobras de água enchendo os caminhos. É provável que o professor e escritor Plínio de Almeida (1904-1976), que foi vereador de Itabuna, tenha escrito o poema sob o impacto das memórias das cheias do Cachoeira, como a de 1967, marco histórico hoje lembrado para dimensionar a enchente do Natal de 2021, quando o rio avançou sobre vinte bairros da cidade, além do Centro.

Doutor em Comunicação pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), Felippe é dos raros artistas que reúnem profunda sensibilidade e rigor técnico no ato fotográfico. A imagem ao lado dos versos de Plínio mostra uma árvore no meio do Rio Cachoeira, quebrada na base e arrastada pela correnteza. Turvo e violento, o rio “não espelha a mata distante”. “Agora é furor descendo em caixão. Agora é só água malvada e gritante, enchente a fartar côncavas do chão”.

Rio Cachoeira arrasta árvore com tronco partido || Foto Felippe Thomaz

Plínio de Almeida imprimiu certo sentido geográfico na descrição poética da cheia, como nos versos iniciais: “E as águas que vêm do lado Oeste e enchem, com raiva, o dorso do rio”. Ele introduz a narrativa lírica informando o curso do Cachoeira. No outro trecho citado, usou o termo côncavas, que são terrenos cercados de morros com uma só entrada natural, segundo o Dicionário Online de Português. Os dois exemplos não são coincidências. O autor foi membro do Conselho Nacional de Geografia.

DESEQUILÍBRIO EM ESCALA GLOBAL

Cezar Filho: tragédia baiana não foi obra da natureza

Para compreender os fatores que contribuíram para a devastação das enchentes de Natal, o PIMENTA também recorreu à geografia, com o auxílio do geógrafo Cezar Augusto Teixeira Falcão Filho, 37, mestre em Sistemas Aquáticos Tropicais pela Uesc (Universidade Estadual de Santa Cruz) e doutorando em Geologia pela Ufba.

O volume das chuvas  na Bahia em dezembro passado foi o maior do planeta, conforme levantamento da MetSul Meteorologia (relembre). A meteorologia chama o fenômeno de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), intensificado pelos efeitos de La Niña – que resfriou as temperaturas na América Latina –  e pelo aquecimento global.

Nuvens carregadas, que saíram do Norte do Brasil em direção ao Sudeste, chocaram-se com frentes frias sobre o território baiano, onde permaneceram por mais de três semanas e causaram tempestades intensas e duradouras.

A ação humana, em escala planetária, contribui para que eventos climáticos extremos, como o da tragédia baiana, tornem-se mais frequentes, diz o geógrafo. Segundo ele, desde o século 18, com a revolução industrial, quantidade significativa de substâncias químicas, a exemplo de dióxido de carbono, enxofre e outros gases, passou a ser lançada na atmosfera em volume crescente.

Esses gases integram a composição natural da atmosfera e fazem com que o planeta retenha calor da energia solar. Esse filtro foi determinante para o surgimento das condições de vida na Terra. No entanto, lançados em grande quantidade no ambiente, os gases produzem o famigerado efeito estufa, retendo mais calor na superfície terrestre.

O aquecimento global é um dos efeitos das mudanças climáticas, ressalta Cezar Filho. A temperatura mais elevada intensifica a dinâmica de refrigeração do planeta, acelerando a circulação das correntes oceânicas, pois os oceanos funcionam como reguladores térmicos do planeta.  “A Terra está brilhando menos. Antes, ela refletia mais luz para o espaço. Agora, está absorvendo mais calor. Então, precisa equilibrar toda essa temperatura”.

“NÃO É NATURAL”

Enquanto as chuvas torrenciais manifestam o movimento de reequilíbrio da temperatura do planeta, as enchentes que devastaram dezenas de cidades baianas foram favorecidas pelas formas de uso e ocupação do solo, alerta o geógrafo. A pressão das cidades sobre os leitos dos rios é traço histórico da expansão urbana brasileira, relembra, recorrendo ao exemplo do Rio Cachoeira para ilustrar seu raciocínio.

Cezar Filho esclarece que um rio não é influenciado apenas pelo que acontece nas suas imediações, como nas matas ciliares, mas em toda área da sua bacia hidrográfica, ou seja, a região da superfície terrestre que faz com que as águas da chuva convirjam num único trajeto – o próprio rio.

O Cachoeira nasce em Itapé, no sul da Bahia, no encontro dos rios Colônia e Salgado. Considerando os três corpos d’água, a bacia abrange 12 municípios da região.

A maior parte da cobertura florestal dessa área foi substituída por pastagens, enfatiza o geógrafo. “O que acontece? Quando a chuva se manifesta como processo natural, ela não encontra uma barreira que existia antes, a floresta que a amortecia. A água cai e impacta o solo diretamente, causando erosão, lixiviação e escoamento superficial, com muito mais velocidade”.

O mesmo desmatamento que favorece as enxurradas dos dias chuvosos, por dificultar a penetração da água no solo, contribui para a redução drástica dos níveis dos rios em períodos de estiagem, como o do verão de 2015/2016. “É estranho você observar uma bacia hidrográfica totalmente inserida no bioma da Mata Atlântica fazer com que Itabuna passe quase três meses sem água. Não sei se você lembra disso, que Itabuna ficou três meses sem abastecimento de água por causa de uma seca”, recorda o geógrafo.

A descrição é a de caso típico de desequilíbrio ecológico causado pelo desmatamento em larga escala. “O comportamento do rio numa bacia não florestada como a do Cachoeira é essa alta produção de água num curto espaço de tempo. Você tem uma chuva que não penetra nas camadas do solo. Ela escoa, faz com que o rio apresente uma cheia abrupta, com grande produção de água, que não é natural”.

Segundo o cientista, numa bacia hidrográfica onde a cobertura vegetal é conservada, o normal é a manutenção de baixas variações do nível do rio, com água correndo de modo perene, pois o lençol freático é reabastecido continuamente. “A floresta mantém a água no ambiente”. Sem a mata, uma chuva intensa e duradoura tende a elevar as águas do rio rapidamente. A tempestade perfeita eclode violenta na zona urbana, onde a ocupação do solo é moldada para a impermeabilidade.

Parte da comunidade científica, segundo Cezar Falcão Filho, entende que os processos de retroalimentação das mudanças climáticas, com o aumento do nível dos oceanos e da temperatura média da Terra, atingiram ponto sem volta. “O que a gente pode fazer agora é buscar formas de planejar como vamos nos adaptar às mudanças, porque é um processo que não pode mais ser revertido. Já passamos do ponto de ruptura, digamos assim”.

ADAPTAÇÃO

É necessário retirar moradias do leito do rio, afirma geógrafo || Foto Felippe Thomaz

O geógrafo aponta duas frentes de ação contra novas tragédias socioambientais na bacia do Cachoeira. A curto prazo, é necessário remover moradias construídas nas áreas de expansão do leito do rio em períodos chuvosos. “O rio tem a calha normal, onde a vazão média corre, mas você tem outro trecho que o rio acessa na cheia. Você tem que retirar as pessoas dessas áreas, para que não morram. Você precisa de um planejamento urbano adaptado a esses problemas, que vão ficar mais recorrentes. A primeira coisa é isso, porque o primeiro valor é a vida – a gente só tem uma, perdeu, já era!”.

Nos últimos dois meses, 26 pessoas morreram em decorrência dos efeitos das chuvas na Bahia.

A ação de longo prazo consiste no reflorestamento da bacia do Rio Cachoeira, afirma Cezar. Esse é o meio de regular as variações de cheias e secas do rio, evitando enchentes violentas e períodos de escassez hídrica – em uma palavra, equilíbrio. Segundo o geógrafo, trata-se de plano a ser executado e monitorado por, pelo menos, três décadas.

Segundo os versos finais da poesia de Plínio de Almeida, depois que o tempo melhorar e o sol esplandecer, “o Rio Cachoeira, descendo do Oeste, de novo terá seu manso correr, de novo será espelho da mata”. De algum modo, o desafio de reflorestar a bacia do Cachoeira atualiza o sentido da poesia que leva o nome do rio, porque não há espelho d’água capaz de refletir mata que já se foi.

Barragem não se rompeu, informa cinegrafista amador || Imagem de arquivo/GOVBA
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Um morador de Itapé, no sul da Bahia, usou as redes sociais para desmentir o boato de que a barragem sobre o Rio Colônia teria se rompido. No vídeo,  o cinegrafista amador mostra a barragem e informa o horário (16h) e a data gravação, que foi feita na tarde desta terça-feira (28). Confira.

Barragem do Colônia, em Itapé, volta a sangrar com período chuvoso
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A Barragem Colônia, em Itapé, no sul da Bahia, “sangrou” com o período chuvoso nas cabeceiras dos rios Colônia e Salgado, afluentes do Cachoeira. A barragem, que tem capacidade para acumular mais de 62,6 milhões de metros cúbicos de água, é responsável pelo abastecimento da populçao de Itapé e de parte de Itabuna.

Desde ontem (12), a Prefeitura de Itabuna faz a remoção, no leito do Cachoeira, de baronesas acumuladas na estrutura de sustentação da Ponte do Marabá, que liga o centro aos bairros Góes Calmon e Jardim Vitória, além do Shopping Jequitibá. A barragem em Itapé também regula o fluxo do Cachoeira.

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Rios que cortam a região têm sofrido com a estiagem de mais de cinco meses no sul da Bahia. O Colônia é um deles. Ontem, Ricardo Ceará registrou a alegria de uma comunidade na Estiva, em Itapé, com o renascer deste rio.

Dezenas de crianças e adultos, diante de um leito de rio claramente assoreado, acompanham a chegada do primeiro volume d´água, resultado das chuvas que caíram fortemente na região do médio sudoeste baiano e provocaram cheia de seus afluentes.

Confira as imagens – poéticas – de Ricardo Ceará em tempos de terra seca e da ação danosa do homem contra a natureza.

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Rosemberg PintoO deputado estadual Rosemberg Pinto (PT) esteve em Itabuna na segunda-feira (19), para a inauguração das novas instalações do SAC. Ele aproveitou para comentar sobre a expectativa de breve retomada das obras da barragem do Rio Colônia, mas fez questão de observar a necessidade de recuperar a nascente do manancial.

Situada na Serra do Macuco, em Itororó, a nascente do Rio Colônia sofre ameaça devido à exploração abusiva dos recursos naturais na região. “É preciso cuidar da nascente para não perder o investimento [na barragem]”, advertiu o parlamentar.

A barragem do Colônia servirá para ampliar a oferta de água nos municípios de Itabuna e Itapé. A obra chegou a ser iniciada em 2013 e paralisada poucos meses depois pela construtora Andrade Galvão.  Nova licitação foi realizada em novembro de 2014, mas não houve empresas interessadas. Na última sexta-feira (16), um terceiro processo licitatório foi aberto pelo governo.

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Wagner ao lado de Vane, após mandar recado à base aliada e assinar ordem de serviço (Foto Pimenta).
Wagner ao lado de Vane, após mandar recado à base aliada e assinar ordem de serviço (Foto Pimenta).

A ameaça de “racha” no PT de Itabuna na decisão se apoia ou não o governo de Vane do Renascer levou o governador Jaques Wagner a mandar um recado aos aliados. Foi durante a assinatura da ordem de serviço para construção da Barragem do Rio Colônia, hoje, no Centro de Cultura Adonias Filho.
– Na vitória, não abracem a arrogância. Abracem a humildade. No insucesso, não desistam e lutem para melhorar – disse, também fazendo referência ao resultado eleitoral em que o ex-petista e agora prefeito de Itabuna derrotou Juçara Feitosa, esposa do deputado Geraldo Simões.
À mesa da solenidade, estavam, além de Geraldo, o deputados Josias Gomes e o prefeito Vane do Renascer. Os três foram mais que diplomáticos ao discursarem, fazendo referências a todos. Vane, por fim, disse que não deixaria de ressaltar a contribuição de Geraldo – e de lideranças locais – para que a obra saísse – e foi bastante aplaudido.

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Geraldo, Bento Ribeiro, Juçara e Cícero na audiência para discutir barragem.

O contrato para a construção da barragem do rio Colônia, em Itapé, será assinado ainda em novembro deste ano, segundo o deputado federal Geraldo Simões (PT). Ele e a suplente de senadora Juçara Feitosa estiveram reunidos com o secretário de Desenvolvimento Urbano, Cícero Monteiro, e o  diretor-presidente da Companhia de  Engenharia Ambiental da Bahia, Bento Ribeiro Filho, hoje.
Eles discutiram os passos da obra, avaliada em cerca de R$ 61 milhões e é tida como solução para o abastecimento de água em Itabuna pelos próximos 50 anos. Antes havia a discussão se a obra seria executada pelo governo federal ou o estadual, mas o governo baiano comprometeu-se a investir os R$ 61 milhões para a construção da barragem.
A obra é defendida pelo parlamentar desde a segunda gestão como prefeito (2001-2004), quando o próprio município financiou o desenvolvimento do projeto conceitual da barragem. A construção da barragem foi prometida pelo governador Jaques Wagner em dezembro de 2009.
Ainda segundo Geraldo, o projeto prevê prazo de um ano para conclusão da barragem. A primeira etapa contempla a desapropriação de 3,6 mil hectares de terras entre os municípios de Itapé, Jussari e Itaju do Colônia.