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robenilson torresRobenilson Torres | robenilson.sena@gmail.com

Achar que a polícia vai resolver tudo é uma visão míope do problema. Temos que sair do binômio polícia-bandido e ocupar a cidade com políticas públicas para que a juventude possa exercer a sua cidadania.

A rotina quase diária de vítimas letais nos faz lembrar que estamos diante de mortes anunciadas em uma cidade que há décadas tem sentido o efeito de seu inchaço demográfico, sem a devida atenção dos gestores às questões estruturantes e causas do problema. A posição é reforçada pelos dados apresentados pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) em que a cidade de Itabuna lidera com os maiores índices de homicídio de jovens e adolescentes do país

É difícil esperar melhores estatísticas, quando bairros como Santa Inês e Antique, frequentemente citados nas páginas policiais, comunidades de abrangência da Base Comunitária do Bairro Monte Cristo, não possuem um único equipamento de lazer, cultura ou sequer uma quadra de esportes. Os poucos equipamentos disponíveis são no centro da cidade e o acesso à cidade para o estudante pobre encontra barreira na lei municipal que regulamenta a meia passagem no transporte coletivo, pois limita seu uso ao trajeto casa-escola, vetando-a no período de férias escolares.

Além da ausência do poder público nos bairros periféricos, outro elemento que merece destaque na reflexão sobre os homicídios de adolescentes e jovens é a desigualdade racial. Segundo levantamento da própria SDH/PR, o risco de um adolescente negro ser vítima de homicídio chega a ser cinco vezes maior que o de adolescentes brancos.

Ouve-se muito dizer que a cidade está refém da violência e até celebrações são feitas quando adolescentes são assassinados ou tombam nos “autos de resistência”. Há uma pérfida surpresa quando as estatísticas são apresentadas colocando Itabuna no topo da violência. Porém, ao invés dos gestores reconhecerem o problema e focar na viabilização de medidas para solucioná-los, contestam os dados e apresentam números de pacotes de “boas ações” realizadas, enquanto a juventude, continua sendo vitimada e a desigualdade social e racial longe de serem dissipadas.

É necessário reconhecer o problema e enfrentar a epidemia estrutural da violência para ser capaz de transformar a realidade em que vivemos e tal enfrentamento não se efetiva somente anunciando construções presídios. Achar que a polícia vai resolver tudo é uma visão míope do problema. Temos que sair do binômio polícia – bandido e ocupar a cidade com políticas públicas para que a juventude possa exercer a sua cidadania com a necessária ação, presença, participação e contribuição das organizações da sociedade civil e das famílias aliada à tarefa de um trabalho intersetorial transversal do poder público.

A melhor forma de se combater a violência, a discriminação racial e a desigualdade é indo às causas que fazem com que estas realidades se imponham, e oferecer aos jovens, preventivamente, alternativas de cidadania, de vida e de esperança melhores do que a opção ofertada pela criminalidade. Somente assim Itabuna deixará de ser noticiada como “Cidade proibida para menores”. Educação é o melhor caminho e pensar Itabuna é pensar a sua a juventude.

Robenilson Torres é educador social em Itabuna.