Goleiro Plínio de Assis foi dos grandes nomes do futebol itabunense || Acervo Walmir Rosário
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Reza a lenda que Pelé correu pra área, suspendeu Betinho puxando pela camisa e teria dito: “Levanta goleirão, vou lhe levar pro Santos!”.

 

 

 

 

 

 

Walmir Rosário

Recentemente recebi do colega radialista e advogado Geraldo Santos Borges, uma mensagem por WhatsApp me incentivando a mostrar os bons goleiros que passaram por Itabuna, desde os amadores até os profissionais. E mais, o Jurista, como nos tratamos, ainda catalogou bons nomes e informações dos que fizeram a alegria dos itabunenses, em seus clubes ou na brilhante Seleção de Itabuna amadora.

E como não poderia deixar de ser, Carlito, colega nosso de Ceplac, encabeça a lista. Em 4 de abril de 1957, titular da Seleção de Itabuna no Torneio Antônio Balbino, foi um dos responsáveis diretos pela conquista do título. À época, na disputa por pênaltis, que eram batidos por um só jogador. E nessa final foram cobradas três séries de cinco penalidades, cada. Pela Seleção de Itabuna Santinho marca todos os 15 e Carlito defende um. Classificada para a final contra Alagoinhas, Itabuna vence por 2X0 e é Campeã.

Esse mesmo selecionado, no segundo semestre, se sagra vencedor do Campeonato Intermunicipal Baiano de Amadores, desta vez com o goleiro Asclepíades (se revezava com Carlito). E Geraldo Borges ressalta que além de defender, Asclepíades era um excelente batedor de pênaltis, o que fazia com frequência no Flamengo, time em que jogava. E ele era o terror dos atacantes nas cobranças de escanteio contra o time que defendia, pois saia do gol pra socar a bola ou algum atacante que se descuidasse na tentativa de cabecear para o gol.

Outro merecedor de destaque é Plinio Assis, também do Flamengo. Tranquilo, frio, extraordinário. Diziam que o time era Plinio e mais dez. Na seleção de Itabuna, em um jogo na desportiva contra a seleção de São Felix, a bola já havia passado e ele a tirou com o calcanhar. Fatalmente entraria. Após o jogo, o narrador Geraldo chama de lance de pura sorte. Plínio ficou possesso e ressaltou que fez a defesa de forma consciente.

E tudo indica que foi mesmo. De outra feita, conta o Vasco da Gama, no campo da Desportiva, Delém chuta a bola na marca do pênalti e Plínio parte para a jogada, a bola bate no seu peito e não entra. Contra a seleção de Muritiba, o atacante cabeceia, Plínio foi vencido e levanta seu calcanhar como último recurso, conseguindo evitar o gol. E Geraldo Borges arremata: “Que Higuita que nada”, ao ver o goleiro da Colômbia fazer malabarismos e artes deste tipo, até em jogos de Copa do Mundo. Plínio já fazia antes.

Luiz Carlos foi outro goleiro inesquecível. Fechava o gol. Era uma segurança. Alto, esguio, elegante, preciso, seguro. Se ele não tivesse sido jogador antes de Leão – do Palmeiras e da Seleção Brasileira –, certamente não faltaria quem dissesse que ele imitava o Leão. Até o gesto que fazia quando a bola ia pra fora era semelhante ao do goleiro Leão. Luiz Carlos e Plínio se revezavam na Seleção de Itabuna.

– E o Betinho? Este tem uma história difícil de acreditar para quem não viveu àquela época – lembra Geraldo.

E Geraldo Borges continua: “Já ouviram falar em alguém que acertou na loteria e rasgou o bilhete? Pois foi quase isso que aconteceu com Betinho. Trazido a Itabuna para jogar no Janízaros de Gerson Souza, se superava a cada partida. Alto, bom porte, ‘como um gato’ (diria Tadeu Schimidt) pegava tudo e mais alguma coisa”.

O Santos – então melhor time do mundo – veio jogar um amistoso em Ilhéus, trazendo Pelé e o time completo. “Os ilheenses buscaram Betinho para jogar na seleção de Ilhéus que seria a equipe adversária do Santos. Betinho, fechou o gol. Pegou tudo. Mesmo assim o Santos ganhou pelo placar de 3X1.

Durante a partida, o ponta-esquerda Pepe, conhecido pelo chute forte como o canhão da Vila Belmiro, era o cobrador de faltas do Santos. Chovia, campo molhado, bola pesada. Falta na intermediária de Ilhéus e Betinho desafia Pepe, mandando abrir a barreira. Pepe cobra forte, como sempre. E Betinho segura e cai com a bola. A mão ficou em frangalhos, mas a bola não passou e ele continuou no jogo como se nada tivesse acontecido.

Reza a lenda que Pelé correu pra área, suspendeu Betinho puxando pela camisa e teria dito: “Levanta goleirão, vou lhe levar pro Santos!”. Betinho foi. Mas não ficou. Com saudades dos amigos e das farras itabunenses, pegou um ônibus e voltou pra Itabuna. De nada adiantou as recomendações de Claudio, então titular no gol do Santos. “Calma baiano, você vai jogar no gol do melhor time do mundo!…”.

Daqui de Itabuna o Betinho foi para o Vitória. E segundo me disseram, morreu em Jequié, sua terra, trabalhando como carregador de caminhão – uma pena!… Ressalta o escritor esportivo Tasso Castro, que nunca viu um goleiro segurar (sem encaixar) chutes fortes de fora da área como Betinho. Ele era diferente.

– Sua colocação e segurança eram impressionantes. Parecia que a bola o procurava. Tinha poucos defeitos como nos cruzamentos para área, por exemplo. Vi um jogo do Itabuna contra o Bahia no estádio da Graça. No empate de 1 x 1, que deu o título do segundo turno ao Itabuna, ele fechou o gol. Eu estava lá –, comenta Tasso Castro.

Também passaram outros bons goleiros por Itabuna, a exemplo de Ivanildo, do Fluminense, que tinha bastante colocação e segurança ao disputar as bolas na área. Pelo Itabuna Esporte Clube também jogaram grandes goleiros, como Geraldo (do Rio de Janeiro), que morreu afogado no rio Cachoeira, próximo ao Salobrinho; Zé Lourinho, Laércio e Getúlio, cada um deles dando conta do recado.

Wagner Rosário é radialista, jornalista, advogado e autor d´Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Nocha em foto do jornalista Walmir Rosário
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Por muitos anos continuou a jogar os babas, sempre com a mesma categoria e virilidade de antigamente. Hoje critica o futebol jogado pra trás, sem arte, que não empolga os torcedores e nem produz grandes resultados.

 

Walmir Rosário

A célebre frase cunhada pelo zagueiro Moisés, em 1982, “zagueiro que se preza não pode ganhar o Belfort Duarte, aí perde o moral”, por certo não se aplicaria ao lateral direito itajuipense Nocha. Ele sabia como ninguém desarmar o adversário jogando o bom futebol, porém sabia ser viril quando a jogada merecia, muitas das vezes sem cometer falta, embora em alguns casos tivesse que parar o contrário com a energia necessária.

Nocha, que também atende por José Raimundo Freitas, do alto dos seus quase 81 anos, admite que sempre usou da habilidade e força necessárias para ganhar uma jogada nos clubes em que atuou, desde sua infância nos clubes de Itajuípe, até pendurar as chuteiras. E faz questão de ressaltar que nunca foi desleal com o adversário, pois sabia jogar futebol e não precisava recorrer à violência.

E foi justamente pela sua conduta em campo, destacando-se pelo futebol sério que jogava que foi descoberto pelos diretores do Bahia de Itajuípe, ainda menino, e levado para o time sensação do Sul da Bahia no final da década de 1950. E no Bahia de Itajuípe tanto fazia jogar no primeiro ou segundo quadro para ser reconhecido como um craque do futebol e cobiçado pelos clubes de Ilhéus, Itabuna e Salvador.

Seleção de Itabuna – Nocha, o penúltimo em pé, à direita || Arquivo Walmir Rosário

Na pujança do cacau, os cartolas do Bahia de Itajuípe – mesmo amador – iriam buscar um jogador que se destacava em qualquer cidade próxima, mantendo um verdadeiro “esquadrão de aço”. E como relembra Nocha, eles participavam da melhor vitrine do futebol do Sul da Bahia, recebiam constantes convites de outros clubes, na maioria das vezes bastante tentadores.

Ainda jovens, o que queriam eram jogar bola. E bem. Atrair a atenção dos amantes do bom futebol e ganhar presentes, fossem em dinheiro ou outros bens materiais como era praxe nos clubes amadores dirigidos por pessoas de grandes posses. Vencer uma partida era “bicho” garantido, um campeonato, então, o “carvão” caia direto. E na assinatura e renovação de contrato era só felicidade.

E assim Nocha recebe uma proposta tentadora do Janízaros, de Itabuna, e deixa o Bahia de Itajuípe. Com ele também mudam outros craques itajuipenses. No novo clube era uma garantia jogar na Seleção de Itabuna, que chegou ao Hexacampeonato ao vencer o Campeonato Intermunicipal Baiano por seis vezes seguidas. E Nocha era um desses craques vencedores.

Após vencer alguns campeonatos no Janízaros se transfere para o Flamengo de Itabuna, no qual também se torna vencedor de campeonatos. E Nocha nem se preocupa com a mudança de time, pois também jogava ao lado da “nata” do futebol itabunense, colegas na brilhante seleção de Itabuna. E era grande a rivalidade nesses clubes no campeonato de Itabuna, em que Janízaros, Flamengo e Fluminense se revezavam nos títulos.

E a rivalidade não era apenas nas torcidas. Dentro de campo, os colegas da seleção eram adversários e o lateral-direito Nocha tinha a obrigação de marcar o maior ponta-esquerda que se teve notícia em Itabuna, na Bahia e quiçá no Brasil, Fernando Riela. Mas essa contenda não abalava Nocha, que marcava seu oponente jogando o bom futebol. E a renhida disputa era equilibrada, com vantagens alternadas a cada jogo.

As décadas de 1950 e 60 foram notabilizadas pelo bom futebol, jogado por craques que prezavam a camisa que vestiam, principalmente na Seleção de Itabuna. E não era pra menos, a cada ano acumulava mais um título, vencido com galhardia, contra bons adversários, a exemplo de Ilhéus, Feira de Santana, Alagoinhas, Belmonte, Santo Amaro, São Félix, Jequié, dentre outros.

Merecem destaque a eterna rivalidade entre Ilhéus e Itabuna, duas das maiores seleções. E Itabuna sempre levou a melhor, desclassificando o selecionado ilheense, um timaço, como lembra Nocha, que faz questão de ressaltar nunca ter perdido uma partida para a seleção praiana. Outro destaque lembrado por Nocha foram as partidas contra os grandes times do Rio de Janeiro, em que jogavam de igual para igual. Sem medo.

Em 1967, com a fundação do Itabuna Esporte Clube, Nocha se profissionaliza e participa da primeira equipe que jogou o Campeonato Baiano de Profissionais, junto com outros colegas da Seleção de Itabuna. Quando sentiu que era chegada a hora de parar de jogar o futebol profissional, ainda no auge, deixa o Itabuna Esporte Clube. Poderia ter jogado mais um ou dois anos, mas preferiu sair por cima, deixando boa lembrança na memória dos torcedores.

Mas Nocha não abandonou o futebol e passou a atuar nos times amadores de Itajuípe, notadamente o Grêmio e o Santa Cruz, pelos quais disputou mais partidas. E por muitos anos continuou a jogar os babas, sempre com a mesma categoria e virilidade de antigamente. Hoje critica o futebol jogado pra trás, sem arte, que não empolga os torcedores e nem produz grandes resultados.

Prestes a completar 81 anos, Nocha mantém uma invejável forma física, passeia diariamente pelas ruas de Itajuípe, visita os amigos, faz compras e conversa sobre futebol. Com a simplicidade, diz não recordar muito do seu passado até a conversa fluir e relatar os bons tempos nos campo de futebol. Como diz o ditado: Quem foi rei nunca perde a majestade. E Nocha continua sendo uma referência no bom futebol do Sul da Bahia.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e autor d´Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Orlando Cardoso, um exemplo sempre lembrado
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Orlando legislou por dois mandatos de 6 anos e se tornou um vereador conceituado nos 12 anos em que passou no legislativo. Não barganhou votos, não negociou favores, mas se empenhou nas reivindicações da população.

 

Walmir Rosário

Se o sucesso do narrador esportivo Orlando Cardoso multiplicava a cada dia, assim que passou a criar e apresentar programas de músicas e variedades, então, crescia exponencialmente. E a cada vitória da magnífica Seleção de Itabuna no Campeonato Intermunicipal seu prestígio aumentava, em função do seu amor pela equipe e forma apaixonada de transmitir as partidas e apresentar os programas.

Orlando Cardoso não apenas narrava o caminho percorrido pela bola e os jogadores, ele sabia transmitir emoção ao ouvinte, sentimento que se tornava comoção com os gols marcados pelos craques que comandavam o ataque do selecionado itabunense. Nos programas de músicas e variedades não era diferente, pois sabia tocar o coração, o fundo da alma dos ouvintes, com palavras de conforto, carinho e alegria.

Comunicador de palavra fácil (não confundir com Luiz Mendes, o comentarista da palavra fácil), não precisava empolar o texto, engrossar a voz, forçar o grave. Bastava falar ao ouvinte como fazia em sua vida normal, manter sua identidade. E assim tocava uma música, contava uma piada, mandava um alô com bastante intimidade ao amigo. Com isso ganhou cadeira cativa nas residências, nas empresas, onde quer que estivesse o ouvinte.

E Orlando Cardoso passou a ser um membro das famílias, e não raro recebia convites para almoços, aniversários, festas em geral. E passou a visitar essas pessoas com mais frequência, como retribuição ao carinho que era tratado. Certa feita, ao visitar uma pequena comunidade na área rural, foi recebido por quase toda a população, que fazia questão de ver pessoalmente o amigo que chegava diariamente pelas ondas do rádio.

Sua popularidade era tamanha que era tratado nas ruas com os bordões que utilizava. Em vez do tradicional bom dia, era cumprimentado de forma carinhosa: “É gol itabunense, torcida grapiúna”, ou “O barbante estufou, o escore mudou”. Foi aconselhado a postular uma vaga na câmara municipal, pois teria mais condições de solucionar os problemas da comunidade, muito deles reivindicados pelo rádio.

E Orlando Cardoso aceitou o encargo, mas pautou sua campanha de forma diametralmente oposta aos outros candidatos, sem as costumeiras promessas de fazer e acontecer, como se fosse o guardião do cofre municipal. De maneira singela, dizia não prometer nada, a não ser o empenho político, pois como nunca tinha sido vereador, não sabia com precisão o que poderia realizar, cumprir as promessas.

Os parcos recursos da campanha se destinaram à confecção de santinhos, dentre outras pequenas despesas inerentes. O sucesso e a confiança obtida no rádio foi transmitida à campanha vitoriosa. Legislou por dois mandatos de 6 anos e se tornou um vereador conceituado nos 12 anos em que passou no legislativo. Não barganhou votos, não negociou favores, mas se empenhou nas reivindicações da população.

Enquanto exerceu os mandatos continuou narrando partidas de futebol, apresentando seu programa radiofônico com a mesma desenvoltura de antes, distinguindo e separando as obrigações assumidas com os ouvintes e eleitores. E fazia questão de revelar sua conduta antes de depois de eleito, com a mesma seriedade que sempre pautou sua vida. Continuou sendo o Orlando Cardoso alegre, festeiro, atencioso de sempre.

Certa feita o vereador Orlando Cardoso foi procurado por uma pessoa do bairro da Conceição, onde morava e mora, solicitando seus préstimos no legislativo para propor um projeto de lei de mudança de nome de rua. Coisa simples, um parente – também amigo de Orlando e com prestígio no bairro – teria morrido e poderia ser homenageado emprestando seu nome na rua em que morou por muitos anos.

Sem querer desagradar a pessoa, o vereador Orlando Cardoso agradeceu e disse que se sentia honrado pela sua escolha e com toda a sinceridade que Deus lhe deu, propôs uma simples condição. Como a rua já homenageava outra pessoa, ele sugeriu que a proponente elaborasse um abaixo-assinado subscrito por todos os moradores endossando a mudança do nome da rua, que ele apresentaria o projeto.

Dois dias depois foi procurado pela mesma pessoa, que agradeceu a atenção do vereador e pediu que não desse andamento à proposição, pois na primeira casa em que ela teria visitado era justamente a da família do atual homenageado. E mais, teria tratado a proponente com aspereza e prometeu ir às vias de fato caso houvesse a mudança no nome da daquela rua. E não se falou mais nisso.

Nas votações de projetos importantes a Câmara de Vereadores se transformava num fervedouro, com a movimentação de políticos dos mais variados partidos e bancadas, representantes do Executivo cabalando votos para a aprovação ou rejeição. Na maioria das vezes com vantagens eleitoreiras. Nessas ocasiões, o vereador Orlando Cardoso ouvia a todos com atenção e manifestava seu voto de acordo com a importância do projeto e sua consciência, sem qualquer alarde.

Ao deixar a política continuou exercendo seu trabalho diário na apresentação de seu programa, a gravação de publicidade e a divulgação por meio de carro de som, gozando do mesmo respeito de antes. Até hoje, sempre que no meio político ou na comunicação alguém tece comentários sobre o comportamento dos vereadores, seu nome é lembrado como um exemplo a ser seguido.

Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e autor de Os grandes craques que vi jogar: Nos estádios e campos de Itabuna e Canavieiras, disponível na Amazon.

Notícia da viagem de Nininho para teste no Fluminense, em 1958
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O menino de Macuco, iniciado no Pindorama Futebol Clube, depois no Brasil Esporte Clube, o BEC, venceu no futebol e até hoje é reconhecido como bom exemplo por onde passou.

 

Walmir Rosário

Campeão pela Seleção de Itabuna no primeiro Intermunicipal vencido, Nininho, o Sputnik, sentiu necessidade de mostrar seu futebol em outras terras, se apresentar no Maracanã, o santuário do futebol. E aqui pra nós, qual jogador de futebol que nunca sonhou atuar no Gigante do Maracanã? Nem tinha medo com o tradicional friozinho na barriga no jogo de estreia. Era o começo de uma carreira, quase sempre bem-sucedida.

E José Maria Santos, o menino de Macuco, hoje Buerarema, só pensava nisso. Tanto foi assim que dispensou as honrarias dos cartolas, comerciantes e torcedores de Itabuna para aventurar a carreira no Rio de Janeiro. Quem sabe poderia aparecer no Canal 100, em todos os cinemas do Brasil, jogando por um grande clube do Rio de Janeiro ou São Paulo. A mudança valeria a pena e ele estava disposto a correr o risco.

Artilheiro com 11 gols marcados em sete jogos da Seleção de Itabuna campeã. Eleito em 1958 o atleta mais eficiente e disciplinado de Itabuna, Nininho ganhou uma passagem de ida e volta, além da hospedagem para 15 dias em hotel no Rio de Janeiro. Viajou acompanhado do colega Hildebrando, que ia visitar dona Guiomar, esposa de Didi do Botafogo, que é da região cacaueira. Nininho foi apresentado aos dois e se tornaram grandes amigos.

Finalmente, o craque Sputnik se foi. No Rio, fez teste no Fluminense, time em que jogava o conterrâneo Léo Briglia, e treinou muito bem. Aprovado, o técnico Pirilo queria inscrevê-lo como juvenil, mas não foi possível, pois já completara 20 anos. Como não tinha vaga no aspirante, completo com jogadores subidos dos juniores, nem mesmo a intervenção de Léo Briglia resolveu. A escolinha do Flu era uma fábrica de craques, o que sempre impedia o aproveitamento de novos valores. E o Sputnik era um deles.

Se não deu certo no Fluminense, ainda em 1958 Nininho decidiu dar uma passada no Botafogo para se submeter aos testes. Enquanto fazia o famoso vestibular no Glorioso, um treinador do Guarani de Divinópolis gostou de sua atuação e quis saber qual era situação do atleta. Informado que era livre e estava passando por testes, convidou o Sputnik para ir disputar o Campeonato pelo Guarani. Aceitou, de pronto.

Em janeiro de 1959, volta ao Rio de Janeiro para se submeter a novos testes no Botafogo, onde pretendia jogar ao lado do time dos grandes craques. Nesse período, foi levado para o Canto do Rio, em Niterói, e daí para o América, no qual se sagrou campeão carioca em 1960. Nesse ano, mesmo na reserva, foi o artilheiro dos aspirantes. Nessa época já tinha incorporado novo nome: Zé Maria.

Nininho (Zé Maria) no América campeão carioca de 1960

Emprestado ao Bonsucesso Futebol Clube para fazer uma excursão no exterior, atuou no Chile e Peru. Nessa viagem jogou o que sabia nos 15 jogos realizados, uma campanha invicta. No último jogo, contra o Sporting Cristal, do Peru, que já era campeão peruano antecipado, faltando três rodadas para o fim do certame, marcou o gol mais bonito de sua vida. Para ele foi a consagração como jogador profissional.

Em 1962 volta a São Paulo, desta vez para jogar na Prudentina. No ano seguinte, 1963, Sputnik, ou Zé Maria, joga um belo campeonato. Àquela época, a Prudentina era um time cheio de bons jogadores e ele consegue se destacar, embora a equipe tenha ido mal. Resultado: no final do ano todos os atletas foram dispensados. Nininho chegou a ser cotado para ir para o Peru, onde jogaria no Sporting Cristal, mas como não se concretizou, ele continua no Brasil e passa a jogar pelo Nacional.

Depois disso foi trabalhar na Rede Ferroviária Federal e continuou jogando por dois anos, e encerrou a carreira em 1967. Anos depois o craque volta para Itabuna. Deixa a Rede Ferroviária, um emprego federal e se instala em Itabuna. Convidado por Ramiro Aquino, José Adervan e João Xavier para supervisionar o Itabuna Esporte Clube, cumpriu a missão de fortalecer o profissionalismo no futebol itabunense.

Nininho preferia ser treinador, mas foi convencido a atuar na supervisão. E fez um excelente trabalho, dando uma nova cara à equipe profissional, àquela época ainda tratada com muito amadorismo no sul da Bahia. O Itabuna chega ao final do campeonato em uma boa colocação, resultado do trabalho implantado por ele e o treinador Roberto Pinto, mudando as características do futebol por aqui praticado.

Nessa época, Itabuna reunia bons jogadores, muitos deles valores regionais. Um em especial, vindo de Itarantim para fazer teste no Itabuna como quarto zagueiro. Era Zezito Carvalho. Assim que viram a baixa estatura dele, Nininho, Roberto Pinto e João Xavier sugeriram que fosse testado na lateral direita. Deu certo e o Zezito Carvalho passou a se chamar Tarantini, nome dado em homenagem ao jogador argentino e que fazia referência à sua cidade, Itarantim.

Nininho também fez um excelente trabalho com a juventude itabunense, quando convidado pelo amigo João Xavier, à época vice-prefeito e secretário de Esporte de Itabuna. A missão era implantar as escolinhas de futebol projetadas pela Prefeitura. E execução deu excelentes resultados, retirando meninos da rua para proporcioná-los uma vida melhor com a prática de esportes, notadamente o futebol.

O menino de Macuco, iniciado no Pindorama Futebol Clube, depois no Brasil Esporte Clube, o BEC, venceu no futebol e até hoje é reconhecido como bom exemplo por onde passou.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Fluminense de Itabuna; em pé: Luiz Carlos, Orlando Anabizu, Valdemir Chicão, Amilton, Ronaldo Dantas e Boquinha; agachados: Vanderlei (Teiú), Santinho, Jonga, Carlos Riela e Fernando Riela.
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Carlos Riela não era craque porque apenas gostava de futebol, mas por estar sempre atento ao desenrolar da partida e se adiantar às jogadas. Ele sabia utilizar os seus sentidos em benefício do seu time.

Walmir Rosário 

Essa é a minha opinião, quem achar que estou errado, que me corrija, mas não acredito que terei vozes discordantes, só se o distinto não gostar, ou sequer já assistiu a uma partida do bom futebol. É preciso que o atleta, para ser considerado um craque completo, tenha mais do que os cinco sentidos, quem sabe seis ou sete, além de uma ou duas especialidades e muito gosto pela bola.

Pra começo de conversa, o craque em questão deve ter em boa conta os cinco sentidos humanos, como a boa visão: ver de onde o jogo vem e pra onde deve ir; audição: escutar tudo o que os jogadores do seu time e os adversários conversam; olfato: sentir no vento o cheiro da bola e dos adversários; paladar: um dos mais importantes, pois tem que comer a bola, encará-la como se fosse um delicioso prato de comida em frente a um esfomeado; e o tato: saber como vem a bola e dar o efeito necessário para desviá-la do concorrente.

Mas, o meu craque, que passarei a descrevê-lo agora, tem muito mais que isso, ultrapassa a simples ciência pelos gramados, bem sofríveis ou ruins, à época, é verdade, e ele conseguia pelo tipo de arrepio de sua pele, dominar a jogada; com equilíbrio, dominava a bola; e com a intuição despachava a pelota para o companheiro que sabia se colocar na área e marcar o gol.

Pelo que já noticiei, passamos por oito sentidos em uma só jogada e poderíamos enunciar mais com a ajuda da ciência. Mas vamos ficar por aqui, não sem antes de anunciar outra qualidade maior deste meu craque: O DNA. Basta verificar o sobrenome dele para finalizar alguma discussão que por ventura surja, mas não creio. Eu estou me referindo a Carlos Riela, que, com os irmãos Fernando, Leto e Lua, proporcionavam o espetáculo no Campo da Desportiva Itabunense, ou qualquer campo adversário.

O meu craque era muito mais do que tudo isso que já disse e vou continuar dizendo. Acreditem os senhores, ele se diferenciava dos outros jogadores, pois entrava em campo trajando smoking, afinal as partidas pelas quais jogava pelo Flamengo, Fluminense, Seleção de Itabuna ou o Itabuna Esporte Clube eram festa de gala. Ao fim do jogo não estava amarrotado nem perdia o vinco.

Na Seleção de Itabuna ingressou para disputar o Tetracampeonato Baiano de Amadores. Gostou tanto, que venceu e foi em busca do Pentacampeonato e Hexacampeonato, sem dó nem piedade dos famosos adversários. As famosas seleções de Ilhéus, São Félix, Feira de Santana, Santo Amaro e Alagoinhas participavam apenas para abrilhantar as vitórias da Seleção Itabunense.

E Carlos Riela se destacava na ponta-direita ou como volante, destruindo e armando jogadas que finalizavam no fundo do gol adversário, sem stress para ele, distribuindo o jogo tal e qual um comandante fazia com seus soldados numa guerra. Não estou errado, uma partida contra a seleção amadora de Itabuna era vista pelos adversários como mais uma batalha, geralmente perdida por eles.

Se entre os leitores desta crônica existem os de faixas etárias mais novas tenho provas a serem apresentadas, a exemplo do jogo decisivo do Hexacampeonato, contra a Seleção de Alagoinhas, vencida por Itabuna pelo placar de 1X0, gol de Pinga na casa do adversário. Tenho em minhas mãos a narração do jogo pelo radialista Geraldo Santos, em que 70% dos ataques de Alagoinhas eram desmanchados nos pés de Carlos Riela e convertidos em contra-ataques de Itabuna.

Se intenção eu tivesse poderia criar uma ingrisilha para saber quem teria sido mesmo o herói do Hexa: Pinga, que marcou o magistral gol; Piaba, que recebeu um pontapé no rosto e segurou bem a defesa; ou Carlos Riela, que comandou, magistralmente, o jogo, desmanchando ataques adversários e iniciando os contra-ataques da seleção itabunense. Melhor deixar quieto, pois os três foram grandes guerreiros.

Não sei ao certo a idade de Carlos Riela, que deve estar beirando a casa dos 80 anos. Como sempre, amável, afetuoso, educado, bastante apegado à família. Tanto é assim que, Astor, seu pai, conseguiu reuni-los no Fluminense de Itabuna. De outra feita, no Itabuna Esporte Clube, seu Astor recomendou que se afastassem do time após um desentendimento entre Leto e Anselmo, este cunhado do técnico Velha. Sequer discutiram.

Na minha modesta opinião, Carlos Riela não era craque porque apenas gostava de futebol, mas por estar sempre atento ao desenrolar da partida e se adiantar às jogadas. Ele sabia utilizar os seus sentidos em benefício do seu time. Quando os irmãos jogavam juntos era uma covardia. O mesmo acontecia quando defendiam times diferentes, em que cada um deles fazia valer sua destreza, para o delírio da plateia do velho Campo da Desportiva.

Só para lembrar, àquela época, os jogadores não tinham um time de assessores de comunicação, personal trainer, personal style e outros profissionais que estão sempre prontos para afastá-lo dos torcedores. Jogavam à beira do gramado, separados apenas por uma tela de arame e podiam ser puxados pela camisa enquanto batiam uma falta ou lateral. Pouco se importavam, pois bom mesmo era jogar um futebol de craque.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Piaba, primeiro em pé, à esquerda, era de família pródiga em craques do futebol
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Piaba foi convocado para a Seleção de Itabuna e já em 1961 terminou o Campeonato Intermunicipal como bicampeão. Daí não saiu mais até a conquista do hexacampeonato

 

 

Walmir Rosário 

Custo a acreditar que o craque já nasce feito, embora tenha minhas dúvidas sempre me vem à mente a história de determinados jogadores de futebol do passado, que já apareceram “arrepiando” nos campinhos de baba, tanto faz na zona rural ou na cidade. É certo que, por mais modesto que tenha sido, sempre atuava um “jogador técnico” nos diversos times de futebol por esse Brasil afora.

No caso em questão, me refiro a Piaba, um itajuipense baixinho que “sobrava” nas zagas e meio campo dos times pelos quais passou, e tinha lugar assegurado na Seleção de Itabuna amadora, a hexacampeã baiana. E Piaba fazia parte de uma família pródiga em craques, com os irmãos Almir, Abel, Aloísio, Luiz e Ariston, jogadores importantes nos clubes de Itajuípe, Buerarema, Ibicaraí, Ilhéus e Itabuna.

Batizado Antônio Avelino dos Santos, nasceu em Itajuípe em 26 de outubro de 1935 e o apelido Piaba veio do seu comportamento e estilo de jogo, pela forma esguia, escorregadia, serelepe de tomar a bola e se desvencilhar dos adversários. Assim que saiu da fazenda Independência, onde foi criado e veio residir em Itajuípe, começou a aprender o ofício de alfaiate com o mestre Boca-rica, o mesmo que lhe deu o apelido.

E foi o Boca-rica – um mestre de alfaiataria de renome – que apadrinhou Piaba em sua famosa oficina e nos campos de futebol, atuando pelo Independente, Internacional e o lendário Bahia de Itajuípe. Com o tempo, Boca-rica se muda para Ibicaraí, e não abre mão do seu aprendiz de alfaiate e promessa de craque. Na nova cidade, Piaba dá um show de bola e se torna revelação.

No Independente de Itajuípe, de Litinho (Wanderlito Barbosa), chamava a atenção a atuação de duas famílias, que praticamente completavam o time inteiro. Eram Piaba e os cinco irmãos, além do próprio Litinho e seu irmão Bel. Esse era um pequeno exemplo da quantidade de craques itajuipenses que jogavam em sua cidade, além de Itabuna, Ilhéus e até em Salvador, a capital do estado.

Mas Piaba dá saudade de casa e retorna a Itajuípe, passando a jogar no lendário Bahia. Considerado um dos maiores craques, é também convocado para a Seleção de Itajuípe. E não era por menos, pois o Bahia chegou a ser considerado o time do século da região cacaueira. Com o crescimento de Piaba no futebol passou a ser cobiçado pelos grandes clubes das cidades de Itabuna e Ilhéus.

E o Flamengo de Ilhéus, de Gildásio Almeida, foi mais rápido e conseguiu fechar contrato com Piaba, levando o craque para a cidade rival de Itabuna. O goleiro Antônio Pires, do Bahia de Itajuípe e do Janízaros, ainda lembra que o dirigente do Fluminense de Itabuna, Frederico Midlej, e o itajuipense Hemetério Moreira, diretor do Janízaros, disputaram a vinda de Piaba para Itabuna, queda de braço vencida pelo Fluminense. Posteriormente, Piaba se transfere para o Janízaros, como queria o amigo Hemetério Moreira.

Em Itabuna, como era praxe entre os jogadores de Itajuípe, Piaba chega pra ficar, encantando pelo seu futebol sério e decisivo, despertando a atenção de outros clubes. O atleta itajuipense também jogou pelo Flamengo, sagrando-se campeão em 1963, com o timaço formado por Luiz Carlos, Abiezer, Zé David, Leto, Péricles, e Piaba; Gagé, Maneca, Tertu, Tombinho e Luiz Carlos II.

Apesar de sua pequena estatura – 1,66 metro de altura – Piaba tinha disposição para cabecear e bolas altas não eram problema. Possuía uma grande impulsão, sendo constantemente comparado ao seu companheiro de seleção, Ronaldo Dantas, outro baixinho do futebol que não se amedrontava com adversários mais altos. Piaba e Ronaldo se revezavam nos jogos da seleção.

Piaba foi convocado para a Seleção de Itabuna e já em 1961 terminou o Campeonato Intermunicipal como bicampeão. Daí não saiu mais até a conquista do hexacampeonato, em janeiro de 1966, embora o certame seja relativo a 1965. Na seleção de Itabuna foi decisivo na conquista do Hexacampeonato baiano e sua figura em cima do carro do Corpo de Bombeiros com o rosto enfaixado chamou a atenção.

Na partida final, Piaba levou um pontapé no rosto, aplicado num choque com o jogador Meruca, que até hoje gera controvérsias se foi um simples encontrão ou premeditado para tirar o craque de campo, pois seu substituto estava contundido. Meruca foi o mesmo jogador que não conseguiu evitar a cabeçada de Pinga e que resultou no gol da vitória da Seleção de Itabuna e no hexacampeonato.

A chegada da Seleção itabunense que acabara de conquistar o Hexacampeonato Baiano de Futebol amador em Itabuna foi uma verdadeira apoteose, numa comemoração sem precedentes. Na chegada foi realizada uma carreata com os jogadores desfilando em cima do carro de bombeiros, cedido pela Prefeitura de Itabuna. A imagem mais marcante era a de Piaba com o rosto inchado e coberto com gases e faixas, contrastando com a alegria estampada na fisionomia dos jogadores e da torcida.

Piaba foi um dos poucos jogadores a atuar pelas seleções de Itajuípe, Ilhéus e Itabuna, além do Galícia, de Salvador. Devido a alguns problemas de saúde, Piaba retorna a Itajuípe, sua terra natal. Até atingir os 30 anos de idade, o atleta não bebia nem fumava. Porém, o laudo médico apontou o uso do cigarro como a causa de sua morte, em 15 de julho de 1997.

Piaba morreu triste, no hospital, sem conseguir ver os seus companheiros de sucesso no futebol.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

 

Da esquerda para a direita, Léo Briglia, Adonias Oliveira e Vivaldo Moncorvo
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Minhas conversas com Léo tinham dois lugares: a Ponta da Tulha (algumas vezes) e o Bar do saudoso Raileu, onde sentava na praça e dava expediente quando em Itabuna. Não tinha lugar melhor para ouvi-lo. Ali recebia os amigos com o mesmo entusiasmo de sempre.

 

Walmir Rosário

Quantos aos desígnios de Deus ninguém discute. A morte é o fim da vida. Cada um presta contas lá em cima pelo que fez aqui na terra. Esta é a lei implacável dos dons divinos. Aqui na terra, não chega a ser bem assim, mas as aparências são mais ou menos as mesmas. O que chama a atenção sãos os seus desígnios, escolhendo os que Ele quer ao Seu lado, numa espécie de lista, fila, sei lá…

Aos poucos, Ele vai fazendo a chamada. No mês passado levou Pedrinha (Antônio Oliveira), já nos seus 85 anos de idade, cerca de 40 deles dedicado ao futebol amador. Meio-campista do Botafogo do bairro da Conceição, fez história formando uma das maiores tabelinhas junto com Mundeco. E lembrei que em 2016, também levou para a sua glória três esportistas de uma só vez: Adonias Oliveira, Léo Briglia e Vivaldo Moncorvo.

É um luto daqueles que Itabuna vai vivendo, paulatinamente, com a perda um ou vários dos seus filhos, embora nunca com os que militaram num único setor, o esporte, e sucesso assegurado em vida, deixando perplexo os amigos e parentes. Cada um, é claro, na sua área de atuação. Enquanto Léo era o dono da bola, o goleador, os outros não podem ser considerados menores.

A Adonias Oliveira, que nunca chegou a chutar uma bola (e se o fez foi totalmente errado), formou uma plêiade de jogadores. Sua proposta ultrapassava aos retângulos dos gramados, cujo objetivo era formar cidadãos. Deixou seu legado. De pouca fala – timidez ao extremo – conseguia se comunicar com os jovens que convocara para os quadros do Fluminense juvenil e o América da Vila Zara.

Adonias, ou “Dom Dom”, como muitos os chamavam, nunca chutou uma bola, mas sabia, como nunca, descobrir nos velhos campinhos de bairros valores esportivos. Alguns deles chegaram ao futebol profissional; outros se destacaram no futebol amador “marrom”, que ganhava dinheiro sem se profissionalizar. Mas não importa, eram craques que tinham seus lugares nos mais diversos times de Itabuna.

E todos se exibiam na velha Desportiva Itabunense, onde hoje está implantado o Centro de Cultura de Itabuna. O fim do velho campo da Desportiva não impediu que eles brilhassem nos campinhos de bairro ou até no Estádio Luiz Viana Filho, o gigante do Itabunão, como queriam e querem alguns radialistas. Além de dirigir o América da Vila Zara e o Fluminense, seu time de coração, foi dirigente da Liga de Desportos de Itabuna.

Vivaldo Moncorvo, de 101 anos, também nos deixou na mesma semana. Radiotelegrafista, veio da cidade do Senhor do Bonfim para exercer seu trabalho nos Correios e Telégrafos, em Itabuna, e se apaixonou pela cidade e pelo esporte. Desde os tempos da gloriosa Seleção Amadora de Itabuna tomou pra si a incumbência de animar a equipe com a famosa charanga que o consagrou pelo resto da vida.

Se o Itabuna estava em baixa perante a torcida, quem “pagava o pato” era o Moncorvo e sua charanga, que se colocava na arquibancada ao lado dos torcedores. Não haveria local mais apropriado para receber as vaias que seriam destinadas aos jogadores. Quando o Meu Time de Fé estava em alta, Moncorvo era aclamado com sua charanga. Para ele, o céu e o inferno astral fazia pouca diferença, no esporte ou na política.

Diferente de Adonias e Moncorvo, Léo Briglia atuava dentro de campo, fazendo a alegria da torcida com seus dribles e gols. E Léo sempre gostou dos extremos: poderia ter sido um grande cacauicultor ou doutor. Foi estudar em Salvador, mas optou pelo futebol. Torcedor do Vitória, se consagrou no Bahia; nunca obedeceu às premissas do esporte, preferindo a vida desregrada; como gozava de saúde férrea, chegou a desprezar cuidados essenciais. E sempre viveu nessa dualidade.

Mas nada disso tirou o brilho de suas atuações em campo, seja no início de sua carreira profissional no Bahia, consagrando-se artilheiro da Taça Brasil, ou quando campeão em pleno Maracanã, estádio em que brilhou por anos seguintes. Não foi à Copa do Mundo na Suécia, mesmo sendo o melhor da posição, preterido sob a alegação de cáries e outros pequenos problemas de contusão. Estava no lugar errado e na hora errada, como dizem.

Acabou o futebol, voltou para Itabuna, foi ser servidor do Estado. Continuou o mesmo de sempre. Uma boa companhia para um bom papo, principalmente numa mesa de bar. Acostumado aos holofotes da imprensa nacional, ficava nervoso ao se deparar frente a um gravador ou à caneta do repórter. Em vista dessa característica, sempre preferi conversar informalmente, transformando nossos bate-papos em crônicas e reportagens. Das boas.

Minhas conversas com Léo tinham dois lugares: a Ponta da Tulha (algumas vezes) e o Bar do saudoso Raileu, onde sentava na praça e dava expediente quando em Itabuna. Não tinha lugar melhor para ouvi-lo. Ali recebia os amigos com o mesmo entusiasmo de sempre. Arroubo esse que se estendia o ano todo, com mais intensidade próximo ao Carnaval, desfilando garbosamente no bloco As Leoninas, fantasiado a caráter: apenas de biquíni.

Essa era a figura de Léo Briglia, que soube gozar a vida como lhe aprazia, feliz consigo mesmo e irradiando a mesma felicidade para o grande número de amigos que colecionou ao longo do tempo. Além de tudo o que já foi dito, bom pai, extremado avô, que deixa um importante legado para os mais novos. Acredito até que ele cultuava aquele pensamento do nosso poeta português Fernando Pessoa: “Tudo Vale a pena / Se a alma não for pequena. (Mar Português).

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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O futebol amador itabunense perde uma de suas principais figuras. José Marques, “Tombinho”, morreu na madrugada desta terça, 7, no Hospital Calixto Midlej Filho. Tombinho foi um dos principais personagens do hexacampeonato itabunense no Intermunicipal. Além de jogador, ele atuou como técnico do Itabuna. “Tombinho” também foi motorista da Câmara de Itabuna e se aposentou em 2003.
O corpo do ex-atleta está sendo velado no SAF e será enterrado no Cemitério Campo Santo, às 16h30min desta terça.