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Espera-se que a atual geração corrija a caminhada e reverbere um novo percurso. Certamente, seremos mais criativos, inovadores

Efson Lima | efsonlima@gmail.com

A sociedade convencionou comemorar o dia internacional da mulher em 8 de março, anualmente. A data faz lembrar lutas históricas, entre elas, o motivo que levou uma parte dos países no mundo a relembrar esse dia.  Louvemos todas as mulheres, entretanto, peço licença para reverenciar aquelas  que fazem da escrita a luta diária, utilizam suas vozes para promover direitos,  afirmam o empoderamento feminino no dia a dia e apresentam caminhos para uma sociedade. As letras representam uma das feições mais avançadas de uma sociedade e registram o trajeto humano.

Como sabido, o ambiente do ensino superior no primeiro momento esteve reservado aos homens. Entretanto, as mulheres foram quebrando as correntes e adentrando no espaço que, aparentemente, tinha sido  projetado para a perpetuação da masculinidade. E, agora, elas não só têm concretizado suas formações, mas se espalhado na efetivação de diversos ofícios. Buscam ocupar as diferentes profissões. Tornam-se professoras, médicas, advogadas, enfermeiras,  juízas, engenheiras, escritoras… empreendedoras elas foram sempre.

O Coletivo Flisba (Festival Literário Sul-Bahia) busca compreender esse processo. Não sem razão, promoverá no dia 08/03, às 21 horas, pelo Instagram,  uma live para refletir sobre a data. A mediação da atividade será feita pela professora Silmara Oliveira, presidenta da Academia de Letras de Itabuna (ALITA) e a convidada será a professora Tica Simões, professora universitária da UESC, que formou uma geração de pessoas e orientou tantas outras no campo da literatura, do turismo e da cultura. Ambas, sócias da ALITA. Além disto, são duas mulheres que exaltam a literatura do sul da Bahia  e, certamente, vão refletir sobre a obra da poeta Valdelice Pinheiro, cuja escritora é a homenageada do Bardos Baianos – Litoral Sul.

O FLISBA reservou ainda dois outros momentos: em 09/03, às 20 horas, vai promover  uma live com o tema “Violência oculta e explícita contra a mulher”  no perfil do Flisba e no dia 11/03, uma roda de conversa “DE MULHER PARA MULHER – Desabafos e descobertas”. A roda de conversa receberá inscrições no Sympla. Estas duas atividades serão  conduzidas por Indyara (Indy) Ribeiro, psicóloga e psicanalista, e da professora  Luciana Chagas, ela que é doutora em Psicologia Clínica (USP), psicanalista e pesquisadora.

Como explicitado, o campo das letras é poder. Falar é poder. Dominar o código é ter assegurado um caminho. Mas nem sempre foi uma caminhada tranquila para as mulheres e mesmo se assenhoreando do código não significa que o trajeto só será de flores. Vejamos,  Júlia Lopes, uma grande escritora brasileira, teve seu nome apagado da ata de fundação da Academia Brasileira de Letras. Para o seu lugar, colocou-se o esposo. A esposa do jurista Clóvis Beviláqua até tentou, mas foi escamoteada. Mais tarde, Rachel de Queiroz quebrou as correntes sexistas e adentrou  ao  Petit Trianon, que não só representou uma conquista pessoal, mas também coletiva e, simbolicamente, retomou a história de Júlia Lopes, que teve seu direito cerceado no museu Pedagogium, no Rio de Janeiro, naquele 20 de julho de 1897, quando da fundação da ABL. A professora Jane Hilda Badaró tem um excelente artigo publicado sobre as mulheres nas academias de letras, na Revista Estante da Academia de Letras de Ilhéus. Ela traça um panorama do ingresso das mulheres nesses espaços.

O sul da Bahia além de cacau, sempre deu escritoras. Não sem razão, temos uma plêiade de mulheres para serem lidas e estudadas. Peço licença para registrar as flisbianas, pois, elas têm colaborado significativamente para as artes e as letras no sul da Bahia. Elas promovem lives, escrevem poemas, participam de saraus, usam suas redes sociais e proclamam um novo estado de poesia. Elas não perdem a criticidade, provocam reflexões e nos sinalizam outros caminhos. Avançam no campo da gestão cultural, se socorrem na arte da docência para o sustento; pintam telas para retratar a região e sua gente; cuidam de museus e do patrimônio cultural, fazem gestão cultural e estudam.  Não teríamos Flisba sem as presenças e sem as atuações destacadas delas. Algumas com mais tempo no grupo, outras chegando, elas se somam e mostram a força do “mulherio”: Anarleide Menezes, Aurora Souza, Cremilda Conceição, Hussiane Amaral, Indy Ribeiro, Laura Ganem, Luh Oliveira, Raquel Rocha, Sheilla Shew, Silmara Oliveira, Sophia Sá Barretto e Jane Hilda Badaró. Um salve, dois salves para elas que cumprem diversas jornadas e encontram forças para voluntariamente nos oferecer luzes sob a perspectiva de que uma outra humanidade é possível.

O feminino nunca foi problema. Problema sempre foi a masculinidade tóxica que impediu a mistura de homens e mulheres nos espaços, impossibilitou as trocas de experiências e dificultou uma geração  com mais empatia. Espera-se que a atual geração corrija a caminhada e reverbere um novo percurso. Certamente, seremos mais criativos, inovadores, consequentemente, poderemos ser chamados de seres humanos dotados de inteligência e reflexão crítica.

Efson Lima é doutor, mestre e graduado em Direito (UFBA), membro do coletivo Flisba, professor universitário e advogado.