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sócratesartigoSócrates Santana | soulsocrates@gmail.com

A partir da aprovação da lei contra a prática de nepotismo, a noção entre público e privado no país passou a figurar com mais rigor pelos corredores do poder. O uso de recursos públicos para benefício pessoal ou familiar também ganhou contornos de crime, mas, infelizmente, ainda batalha para obter a alcunha consensual de imoral.

Se, por um lado, uma parcela da sociedade mostra ojeriza às cotas para negros nas universidades públicas, por outro, revela naturalidade ao enobrecer privilégios como se fossem direitos hereditários. É o caso explícito de 60 famílias no Brasil, que se enraizaram nas entranhas da cultura política deste país e, a cada eleição, apresentam para o eleitor a sua árvore hereditária como se fosse uma credencial para ocupar qualquer cargo público, inclusive, a Presidência da República.
Há alguns anos, o sociólogo Demétrio Magnoli dedicou 400 páginas para identificar as políticas de promoção da igualdade racial no Brasil com a organização social norte-americana e o nazismo. Deu ao livro o título Uma gota de sangue: história do pensamento racial. Faz críticas a classificação dos seres humanos a partir do critério de raça e defende o conceito de nação contra o que chama de “construção ideológica de uma nação negra”. Trata-se de uma refinada argumentação contra uma política de “exceção” supostamente em curso no país. É, sem dúvida, o mais tergiverso manuscrito conceitual contra o modo petista de governar, mas, também é o maior exemplo para quem – erroneamente – classifica como iguais PT e PSDB.
Ao contrário do que muitos pensam o sociólogo paulista não só deu argumento para os nobres atacarem o ato “discriminatório positivo” deste governo, mas, também distinguiu de maneira singular a política de desigualar os desiguais até se tornarem efetivamente iguais, mediante a geração de desigualdades em sentido inverso ao ato discriminatório no Brasil. É tudo uma questão de tempo, literalmente. Sendo assim, o que se vê é uma completa dissimulação da ordem cronológica da história, onde “os que mandam simulam as virtudes dos que servem”, como diria Friedrich Nietzsche.
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sócrates santanaSócrates Santana | soulsocrates@gmail.com

No vácuo das manifestações de junho e, principalmente, das reivindicações de mais instrumentos de participação popular, os 97 mil filiados do PT baiano podem e devem escolher entre Rui Costa, Walter Pinheiro, José Sérgio Gabrielli e Luiz Caetano.

Um rolo compressor – desgovernado – bagunçou o jogo sucessório na Bahia. De uma hora para outra, dois parlamentares petistas resolveram – arbitrariamente – ajoelhar publicamente três pré-candidatos do partido a uma taciturna preferência do governador por um nome, nada mais que um nome. Um deles, por sinal, declarou que o secretário da Casa Civil já alcançou a preferência da maioria dos petistas no estado. Trata-se do deputado federal Walmir Assunção. Um simulacro fora do lugar, sem sentido e totalmente descolado das nuances do PT.

Qualquer observador minimamente envolvido com a vida do partido percebe a diferença entre as declarações do deputado petista e a realidade. Hoje, o PT possui 10 deputados federais e 13 deputados estaduais. Na Câmara Federal, além de Walmir, apenas Josias Gomes e Waldenor Pereira estão publicamente com Rui Costa, enquanto o senador Walter Pinheiro detém o apoio dos deputados Amauri Teixeira e Afonso Florence e o secretário de Planejamento, José Sérgio Gabrielli conta com o empenho de Zezéu Ribeiro, Luiz Alberto e Emiliano José. De fora desta conta, ainda restam Geraldo Simões e Nelson Pelegrino.

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Sócrates Santana | soulsocrates@gmail.com

O governo precisa dispor de mais esforços. Independente do fim da greve, a lição de casa é aprender como lidar com uma greve que começou com um objetivo de classe e é transformada numa disputa pelo comando do sindicato.

No dia 16 de julho, a APLB Sindicato de Jacobina anunciou o final da greve no município. Da mesma maneira de dezenas de municípios, não aderiu, portanto, a continuidade do movimento grevista, a exemplo da capital baiana. Com isso, a paralisação perdeu força e diminui os espaços de pressão no estado. O enfoque, contudo, hoje, não é a continuidade ou não da greve. Não é o mérito ou não da greve. Não é, principalmente, a força ou não da greve. O enfoque é o limite da greve, o sentido da greve, não apenas para os professores, mas, especialmente, para a população.

A população reconhece o mérito da greve dos professores. Aliás, qualquer reivindicação da categoria é encarada de maneira positiva pela população. A educação é e será – permanentemente – um fator de reivindicação encarado de maneira legítima e indelével pelas pessoas. Portanto, não é o mérito da greve dos professores que é avaliado. Não seria justo.

Só que não é possível convencer a sociedade de uma luta – por intermédio do uso da greve – apenas sob o olhar dos professores. A greve é um instrumento de manifestação pública construído pela classe trabalhadora. Sendo assim, possui domínio de toda a classe trabalhadora.

Isso significa que o bom ou o mau uso da greve por professores, médicos, jornalistas ou operários, influencia positivamente ou negativamente em toda e qualquer manifestação que faça uso deste instrumento de disputa da sociedade. A greve dos professores da rede estadual de ensino, portanto, é de todos nós. Para o bem ou para o mal, a greve dos professores é de toda a classe trabalhadora.

Mas, se a greve dos professores é de todos nós, a continuidade ou não dela também é de responsabilidade de todos nós. É uma decisão de todos nós. Estudantes, motoristas, cozinheiros, comerciantes, todos nós. Nós devemos estabelecer o limite da greve. E, o limite da greve, não é – simplesmente – o limite do professor. Não é até quando o professor aguenta viver sem salário, sem dinheiro, sem alimento. O limite da greve é o limite da população.

Recentemente, a Bahia viveu a greve da PM. Esta greve não terminou simplesmente porque os policiais militares resolveram descruzar os braços. A greve cessou porque a população resolveu encerrar o apoio dela.

Todo sindicalista reconhece a frase: “Um passo em frente, dois passos atrás”. Isso representa a hora de avançar e recuar. Avançar com a aprovação de 10% do PIB para a educação, aprovado com 100%. Avançar com a criação de universidades federais na Bahia, tendo como protagonista da expansão universitária no país um governo petista, bem como, avançar com o aumento do piso salarial dos professores no Brasil.

Mas é preciso recuar também quando rotulam (e nós deixamos) o uso da greve como uma válvula de escape esquerdista, por mais justa que seja. O parâmetro da greve não está no caráter dela. Por princípio, toda greve é justa. Infelizmente, uma parcela significativa da sociedade encara toda e qualquer manifestação grevista como o império da baderna. Alguns veículos de comunicação, por sinal, classificaram a Bahia como “A república sindical, a república da greve”. Ou seja: demonizam o uso da greve e satanizam os sindicatos, confrontando os trabalhadores contra outros trabalhadores. Este é o jogo traiçoeiro da oposição.

Mas é preciso deixar claro também que o limite da greve não é o limite do orçamento do governo. O fato de ter sido eleito e composto majoritariamente por trabalhadores requer deste governo mais disposição para dialogar, mais vontade política para equacionar o orçamento segundo o anseio da classe trabalhadora. Isso significa que o governo precisa dispor de mais esforços. Independente do fim da greve, a lição de casa é aprender como lidar com uma greve que começou com um objetivo de classe e é transformada numa disputa pelo comando do sindicato.

Sócrates Santana é jornalista.

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Sócrates Santana | soulsocrates@gmail.com

Aparentemente, ainda resta uma carta para fechar a conta de Jaques Wagner. Mas as aparências enganam. Ninguém está fora. Todos estão dentro.

O jogo sucessório começou a soar o seu brado retumbante na Bahia. Degrau por degrau, a fila da sucessão, como anunciou o ministro Afonso Florence, vem sendo construída aos poucos por Jaques Wagner. A saída de Eva Chiavon, o retorno de Rui Costa e o ingresso de José Sérgio Gabrielli, organizaram as cartas das eleições de 2014. Ao menos, o jogo nas mãos do governador. E ele ainda possui três cartas escondidas, entre elas, Moema Gramacho e Walter Pinheiro.
Por um lado, a prefeita de Lauro de Freitas consolida a sua sucessão com as próprias mãos. Filiou o vice-prefeito no PT e pode sair da prefeitura sem maiores perdas para assumir uma secretaria, a exemplo da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza. No caso, o vice, João Oliveira, seria o candidato a reeleição e o atual secretário Carlos Brasileiro substituído por Moema para disputar as eleições de Senhor do Bonfim.
Por outro, o senador Walter Pinheiro. Em baixa, ante o ingresso de Rui Costa e José Sérgio Gabrielli, o primeiro senador petista no estado, desceu alguns degraus da escada montada por Jaques Wagner. Ainda assim, continua sendo uma alternativa viável, apesar de cada vez menos consultado pelos demais jogadores, especialmente, dentro do PT.
Aparentemente, os demais partidos aliados estão fora do baralho. Aparentemente, falta o governador combinar o jogo com os russos. Aparentemente, ainda resta uma carta para fechar a conta de Jaques Wagner. Mas as aparências enganam. Ninguém está fora. Todos estão dentro.
Sócrates Santana é jornalista e assessor de imprensa do governador Jaques Wagner.

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Sócrates Santana

A democracia baiana forjou um acentuado pluralismo partidário, que favorece os neoaliados.

Permeia nessas eleições uma sensação estranha. Um cheiro de óleo diesel. Uma tentativa de diluir diferenças, sucumbir ideologias. Paira um espírito palaciano. Um distanciamento das relações políticas. Todos são iguais. Uma verdade inconveniente. Há diferenças. São muitas. Desde a confecção de uma peça publicitária dos candidatos majoritários até a participação de comícios adversários.
Aparentemente, nessas eleições, basta vencer. Mas, o que significa vencer? Como vencer? Por quê vencer? Devo poupar, contudo, o leitor com a comum defesa da importância da continuidade do projeto iniciado pelo presidente Lula e o governador Wagner. Prefiro explicar que vencer significa continuar esse projeto, mas, principalmente, eliminar o outro projeto.
Para eliminar o outro projeto é necessário exaurir ao máximo a correlação de forças da direita ideológica: DEM e PSDB. Diminuir o número de parlamentares desses partidos é vital para tal objetivo. Isso exige um esforço concentrado em torno de candidatos ao Senado, como Walter Pinheiro e Lídice da Mata. Mas não basta.
A democratização da democracia baiana forjou um acentuado pluralismo partidário, que favorece os neoaliados. Esses tendem a se tornar tão exorbitantes que passam a ocupar a parte mais ampla da base de sustentação do governo Dilma e Wagner, relegando a esquerda às margens. Ou seja: não basta conter a direita ideológica (DEM e PSDB); também é necessário diminuir o tamanho da direita fisiológica (PMDB e PR).
Vencer no primeiro turno neutraliza no tabuleiro baiano DEM e PSDB, além de afastar das hostes do poder o ímpeto do deputado federal Geddel Vieira Lima (PMDB) e do senador César Borges (PR). Por um lado, o DEM sofre um desgaste natural, correndo o risco eminente de refletir uma rarefeita densidade eleitoral, abaixo do desempenho histórico de 25% dos eleitores baianos creditada ao carlismo.
Por outro lado, o PMDB regional disputa o papel de opositor ao modelo vigente. Não cresce nas pesquisas, apesar de surgir como uma sombra para o DEM, quando oferece refúgio seguro para aliados de última hora, como o PR.
Mas é impossível eliminar o outro projeto. É impossível, porque, os candidatos que compõem a base aliada viabilizam alianças entre o “novo” e o “velho” projeto. Uma guerra em que, no final, não há vencidos e vencedores, é uma guerra que não alcança seu objetivo. No momento em que optamos entrar no conflito, somos aliados ou de uma parte ou de outra. Nenhum movimento pode ser, simultaneamente, de esquerda e direita. Se tudo é esquerda, não há mais direita e, reciprocamente, se tudo é direita, não há mais esquerda.
Sócrates Santana é jornalista.