Tempo de leitura: 3 minutosKaroline Vital | karolinevital@gmail.com
Com paciência, sensibilidade e técnica, conseguimos desenvolver “conversores” entre as linguagens dos autistas e dos neurotípicos (os supostos normais).
Achei legal que vários programas da TV aberta investiram na abordagem do Dia Mundial de Conscientização do Autismo, neste 2 de abril. Porém, uma coisa me incomoda muito quando falam sobre Transtornos do Espectro Autista (TEA), como são tecnicamente classificados os casos de autismo: o autista vive como se tivesse seu próprio mundo. É uma leitura tão superficial quanto as matérias miojo dos jornalísticos que, em três minutos, têm a missão de nos alimentar sobre um tema tão complexo.
A cor azul escolhida para o Dia Mundial de Conscientização do Autismo é porque a síndrome é quatro vezes mais comum entre meninos que meninas. Mas no meu caso, meu mundo foi colorido de azul por uma garotinha: minha filha. E, seguindo a inspiração para seu nome, Amélie tem mostrado quanto esse mundo é fabuloso!
Gente não nasce com manual de instruções. Mesmo assim, tentamos encontrar padrões no comportamento para pregar um rótulo na criatura. Fulano é inteligente, sicrano é preguiçoso e beltrano é esforçado. E assim, como um dom concedido pelas fadinhas boas ou a maldição lançada pela bruxa Malévola, ficamos estigmatizados por uma característica que se manifesta diante de uma determinada situação. Por isso, o modo que as pessoas com TEA reagem ao mundo é incompreendido pela maioria da população. Não é que se tranquem ou se isolem num universo privado, mas sim o jeito que encontram para responder aos estímulos que recebem.
Geralmente, em casos não tão severos, é possível perceber sinais de autismo por volta dos dois anos e foi assim com Amélie. Percebi que ela falava, mas não conversava. Às vezes agia como se fosse surda, pois nem sempre respondia aos nossos chamados. Era inquieta e resistia a seguir convenções sociais. Mas Amélie nos olhava nos olhos, brincava com os brinquedos como qualquer outra criança, era carinhosa e muito curiosa. Nunca convulsionou, não era agressiva e nem se machucava de propósito.
Apesar de não conversar, seu vocabulário era amplo, surpreendendo a fonoaudióloga numa consulta. É que os Transtornos do Espectro Autista possuem diversas intensidades, podendo ser leves, moderados ou severos. Mas, depois de uma real avaliação psicológica, tivemos o diagnóstico, que não foi grudado como um rótulo eterno, mas como uma condição que pode ser trabalhada. E esse trabalho não é para “normalizar” ela e sim para melhorar sua qualidade de vida, a fim de que ela se faça entender e desenvolva mecanismos para compreender os outros.
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