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Marival Guedes | marivalguedes@gmail.com

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Cada compositor apresentava um samba. Quando Riachão cantou Cada Macaco no seu galho, os empresários gritaram “é essa a música, malandro. É essa”, conta Riachão sorrindo. A música estourou. Porém, teve um detalhe: o compositor não foi convidado para a festa de lançamento.

 

 

Passando na última sexta pela Cantina da Lua, no Terreiro de Jesus, avisto um senhor com boina branca, lenço no ombro e sorriso largo sambando ao som de um grupo de choro. Fui conferir. Era Riachão comemorando 94 anos de vida completados no dia seguinte, sábado 14 de novembro.

Clementino Rodrigues nasceu no Garcia, em Salvador. Precocemente compôs seu primeiro samba aos 12 anos e não parou. Tem mais de 500, maioria inspirados no dia a dia da cidade, das pessoas. Crônicas.

Ele conta que quando criança brigava muito. “E aí chegavam os mais velhos para apartar, empregando aquele ditado popular: você é algum riachão que não se possa atravessar?”. Nasceu seu apelido.

Em 2008 foi atingido por uma tragédia. Num acidente automobilístico morreram sua mulher, um filha, um filho, nora e genro. Destroçado, se isolou parecendo que jamais se recuperaria.

Riachão se apresentando na Cantina da Lua, no Terreiro de Jesus, na sexta (Foto Marival Guedes).
Riachão na Cantina da Lua, no Terreiro de Jesus, na sexta (Foto Marival Guedes).

Mas, quase um ano depois, conseguiu dar a volta por cima aceitando, após muita insistência da produção, um convite para se apresentar no projeto Bahia de Todos os Sambas, no Sesc Pompeia em São Paulo, ao lado de outros grandes nomes a exemplo Nelson Rufino, Mariene de Castro e Roberto Mendes.

Um dos seus sucessos tem uma história diferente. Diretores de uma gravadora do Rio queriam um samba de um compositor baiano para marcar o retorno de Gil e Caetano do exílio em Londres. Vieram à Salvador e convidaram vários sambistas. Os amigos não lhe avisaram.

Mas o Sr.Gadelha, pai de Dedé e Sandra, respectivamente à época, mulheres de Caetano e Gil, era chefe numa agência bancária onde Riachão trabalhava de contínuo. Não apenas o avisou como também lhe forneceu o endereço.

Cada compositor apresentava um samba. Quando Riachão cantou Cada Macaco no seu galho, os empresários gritaram “é essa a música, malandro. É essa”, conta Riachão sorrindo. A música estourou.

Porém, teve um detalhe: o compositor não foi convidado para a festa de lançamento. “Acho que eles esqueceram”, lamenta Riachão complementando que assistiu tudo pela tevê e ficou emocionado.

Marival Guedes é jornalista e escreve crônicas aos domingos no Pimenta.

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Clarindo Silva, a figura mais emblemática do Terreiro de Jesus, no Centro Histórico de Salvador, é personagem de uma das três biografias que serão lançadas no próximo dia 20, a partir das 16h30, na Assembleia Legislativa da Bahia. Os outros dois livros abordam, respectivamente, a vida do médico Juliano Moreira e a do geógrafo Milton Santos.

O trabalho sobre Clarindo é de autoria do escritor e jornalista Vander Prata, que compilou mais de 80 horas de entrevistas com o ilustre proprietário da Cantina da Lua, além de amigos e parentes.

Durante muitos anos, a Cantina foi um dos centros da efervescência cultural da capital baiana e símbolo da luta pela preservação do Pelourinho como patrimônio arquitetônico da humanidade. Relata o autor que “sob o comando de Clarindo Silva, (a Cantina da Lua) tornou-se um espaço democrático, que reunia poetas, músicos, jornalistas, radialistas, artistas, políticos, nativos e turistas, reinando absoluto como ponto de encontro da cena cultural baiana, principalmente durante as décadas de 1970 e 1980”.

Ainda segundo Prata, “Clarindo Silva estimulava a pluralidade de pensamentos, proporcionando boa comida e bebida de primeira, apreciadas principalmente quando rolava samba”. O livro que conta a bela história de Clarindo e de seu boteco mágico no Pelourinho tem prefácio do escritor e jornalista José de Jesus Barreto e contracapa do poeta Fernando Coelho.