A morte do agricultor Juraci Santana completou duas semanas sem que a polícia civil consiga prender os autores do crime. O produtor foi assassinado a tiros na madrugada da terça (11), no Assentamento Ipiranga, na Região do Maroim, em Una.
Testemunhas do crime informaram à polícia as características – e os nomes – dos três homens que executaram Juraci, que havia denunciado ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e prestou duas queixas à Polícia Federal sobre as ameaças de morte sofridas por ele. Os acusados são supostos caciques tupinambás.
Era final de noite, início de madrugada, quando três homens invadiram o assentamento à procura de Juraci. Os assassinos não se importaram com a presença da esposa e da filha da vítima. Cercaram a propriedade, aproximaram-se da vítima e desferiram vários tiros.
15 DIAS DE IMPUNIDADE
Um líder do movimento de agricultores da área do conflito disse ao PIMENTA que bilhetes anônimos foram entregues à polícia civil. Neles, informações sobre a localização dos executores de Juraci:
– Há um clima de revolta por causa dessa impunidade. Eles nos sufocaram, nos calaram com polícia, Força Nacional e Exército. Parece que tudo isso é pra gente, por que até as reintegrações de posse eles suspenderam, enquanto os assassinos continuam gozando de liberdade – disse a liderança que, temendo represálias, pediu anonimato.
Ele próprio explica o porquê do anonimato:
– A polícia não nos protege e os tupinambá ou sei lá o que continuaram aprontando depois do crime, retaliando as pessoas. Até a casa de uma agricultora de mais de 90 anos eles tocaram fogo, destruíram, porque ela participou do velório e do enterro de Juraci. Estamos sem proteção. Protegidos estão os supostos índios.
CONFLITO ATINGE 3 MUNICÍPIOS
O conflito envolve produtores e autodeclarados tupinambás. A disputa ocorre em uma área de 47,3 mil hectares entre os municípios de Una, Buerarema e Ilhéus onde estão cerca de 800 pequenas propriedades, 100 das quais já invadidas, segundo a Associação dos Pequenos Produtores de Ilhéus, Una e Buerarema (Aspaiub).
A disputa ficou ainda mais acirrada após a Fundação Nacional do Índio (Funai) apresentar um relatório de demarcação estabelecendo a área que, supostamente, pertenceria aos tupinambás. O relatório foi entregue ao Ministério da Justiça. O documento foi devolvido à Funai por ser considerado “inconsistente”.
Apesar da violência e do clima de instabilidade que afeta propriedades rurais e turísticas, os prefeitos dos três municípios permanecem em silêncio – Jabes Ribeiro (Ilhéus), Diane Rusciolelli (Una) e Guima Barreto (Buerarema), o que provoca revolta dos produtores.