Tempo de leitura: 4 minutos

lairLair Mendes | lairmendes@hotmail.com

 

Oi, prazer, sou Lair e tenho 35 anos. 

 

O que dizer dessa idade, ou melhor, o que dizer do que se passou por essa idade? Não sei o que dizer do depois, mas do antes eu sei, e muito.

Eu preciso começar parafraseando o poeta Casimiro de Abreu em seu poema

 

“Meus oito anos”.                                     

“Oh que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais” 

 

Não vou falar de minhas poucas idades, só daquelas que marcaram alguma mudança. A infância foi maravilhosa, mas não tenho lembranças de grandes coisas, nem saudades de coisas que a infância não me traz mais. O meu mundo restrito era ótimo com as brincadeiras, o andar de bicicleta, até hoje sou criança para andar de bicicleta, empinar pipa, nadar no clube da cidade onde eu morava. Um mundo tão pequeno hoje e que me parecia tão grande antes. 

 

Chegando perto dos 10 anos eu morava em Minas Gerais e pensava na vida dos adultos e como deveria ser bom ter independência para poder fazer tudo que eu quisesse sem ter que dizer aonde ir ou a que horas voltar. Lembro-me de tomar guaraná para imitar os adultos tomando cerveja… Que ingenuidade a minha de achar que só porque tem a mesma cor iria fazer o mesmo efeito, e no fundo, fazia. No meu mundo de criança, socializava-me com as outras crianças e o que realmente a cerveja faz é isso: o álcool só potencializa a tal sociabilidade – o exagero não conta. 

 

Eu fiz 15 anos, hum… a época da rebeldia, de querer quebrar os padrões. Até hoje sou marcado por essa quebra de padrões. O meu cabelo começou a crescer tanto que os amigos de colégio colocaram um apelido de “Jesus” e ainda hoje eles me chamam assim, e eu já tinha me esquecido disso… 

 

18 anos. Quanta ansiedade de ter a rebeldia com independência. Lembro de meu irmão falando: “com 18 anos já pode ser preso”. Será tão bom assim ter tanta responsabilidade? De qualquer maneira, não tinha como escapar de chegar nessa idade. E foi ótimo, deveria ter algo assim sempre para marcar uma passagem na nossa vida. 

 

Eu fiz 23 anos, depois 23 anos novamente e depois 25 anos. Quanta bobagem só por causa de um número. É a fase de querer me afirmar perante as pessoas. O número foi apenas um símbolo de tantas incertezas no meu mundo adulto com tantas responsabilidades. Eu pensava que entrar na faculdade já iria garantir uma vida de estabilidade, e na verdade só me deixou com mais insegurança assim que saí da faculdade. 

 

Mas o mundo dá notas certas em meio a tantos acordes errados. Comprei meu primeiro carro com ajuda de parentes bem próximos; foi um incentivo maravilhoso que me deu uma auto-afirmação na vida pessoal e profissional. “Eu já sou um profissional que tem um carro”. Não precisava mais disputar com meu irmão o carro de meu pai e nem precisar agendar aquela festa dias antes por não ter um carro para chegar “chegando”. 

 

Os meus trinta anos que os anos não trazem mais. Aqui eu preciso me apropriar da poesia do poeta Casimiro de Abreu. Eu morava longe, lá no velho mundo. Isso sim foi uma das minhas maiores passagens de vida. Viver num país no qual eu achava que falava bem e descobrir que não era bem assim… Mas me virei muito bem. Que saudades que tenho de querer fazer trinta anos. Achava aquilo uma passagem de maturidade incrível, e foi mesmo.

 

O dia do meu aniversário passou tão rápido. Eu estava tão preocupado com meu trabalho de doutorado. No fim do dia uma amiga italiana me falou que iria “hacer una pasta para cenar” para mim; como negar isso? E quando eu chego em casa, as pessoas que ali moravam fizeram um bolinho e cantaram parabéns para mim. Eu merecia, afinal eu morava em um país distante, sem amigos de verdade e estava ali buscando um sonho. Eu merecia os parabéns por passar por essa prova de maturidade. 

 

E os meus trinta e cinco anos? Foi essa idade que me fez escrever essa crônica. Maturidade? Auto-afirmação? Nada disso, ao contrário, cada dia mais eu descubro que maturidade é ser criança sem preocupações, é buscar a felicidade nas pequenas coisas do dia-a-dia. Fico feliz com um dia de sol, ter o carinho de alguém amado, alguém que se deu o trabalho de fazer um simples ato sem pedir nada em troca. Mas também é auto-afirmação, eu busco a felicidade nas coisas que consigo conquistar. Eu preciso ter minha lista das 35 coisas que eu preciso fazer. Isso sim eu preciso. Eu já tô fazendo.

Então seguem 35 desejos para os meus 35 anos:
Cuidar melhor da minha alimentação
Fazer as pazes com meu trabalho
Ter mais disciplina
Ser mais organizado
Fazer mais atividade física
Dormir melhor
Ter meu apartamento
Viajar mais em geral
Conhecer pelo menos um lugar bonito e diferente esse ano
Terminar de ler pelo menos alguns dos 165.323 livros começados
Ter mais rotina. Falta de rotina também estressa
Selecionar um autor importante que não trabalhou na escola e lê-lo
Dormir mais de 24 horas seguidas
Aprender de vez a tocar violão
Voltar a surfar com frequência
Ser um DJ
Saltar de pára-quedas
Cantar bem alto no carro e não parar quando vir que alguém está olhando
Gravar música e fazer as pessoas ouvirem, hehe
Fazer uma viagem de bicicleta
Comprar uma moto
Falar mais do que uma língua fluentemente (fluentemente? Já to esquecendo o espanhol e to arranhando no inglês)
Receber flores sem razão
Representar num palco
Fazer uma tatuagem
Fazer canoagem
Estar num programa de televisão como especialista
Ter artigos publicados
Casar e ter filhos, entenda filhos, no máximo dois
Conhecer Paris numa viagem romântica
Tomar um banho à luz de velas com alguém
Ganhar o primeiro lugar num concurso, já fiquei em terceiro, só falta me chamarem
Ordenar os meus CD’s alfabeticamente
Ter um ataque de riso na pior altura possível
Terminar essa lista com os meus 40 anos.
Lair Mendes é arquiteto e urbanista; especialista em Recuperação de Áreas Degradadas e e doutorando em Pesquisa de Energia e do Meio Ambiente pela Universidade Politécnica da Catalunha. Ou, simplesmente, um papa-jaca que mora em Salvador.

4 respostas

  1. Zelão, Diz: Parabéns, pelos seus anos bem vividos!
    E por tudo o que voce conquistou, ou que abriu mão de conquistar.
    Parabéns, principalmente, por não ter perdido a identidade do seu próprio Eu.

  2. Parabéns por suas escolhas na vida!
    Jovem que é jovem, faz escolhas positivas, em consideração a si próprio, é o que você fez; o contrário é retorno ao antigo, é retrocesso! Deus permita que você consiga passar seu exemplo aos seus filhos!

  3. Aee meu amiguinho!! Muito orgulho de vc, orgulho de ser sua amiga, confidente…
    Te desejo toda sorte do mundo ao longo de sua jornada…
    Muitos beijos

  4. Grande Sr. Lair,
    Parabéns pela cabeça que você tem, vou adicionar a sua lista a minha de 33 anos, como assim??? Na minha lista já existem 143 metas, agora serão 178,kkkkk. acho que vou precisar cortar o seu 5º tópico (ser mais organizado) dessa lista,kkkkk.
    Te desejo muita sorte, porque o resto sei que você já possui. Sucesso nas suas escolhas e decisões.
    Abraços,
    Lukas

Deixe aqui seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *