Tempo de leitura: 3 minutos

O DIFERENTE POTENCIALIZADO

70-mm

três e meia

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Eu te Amo, Cara (I Love You, Man – EUA, 2009), de John Hamburg (Quero Ficar com Polly), é o tipo de filme cujo diferencial positivo é potencializado pelo tipo de gênero inserido, e cujos defeitos são esquecíveis quando relativizados. Ou seja, ele é uma interessante anomalia dentro de uma gigantesca massa amorfa, mas também é parte integrante de um grupo de geralmente felizes exceções: as relacionadas a Judd Apatow (Superbad, Ligeiramente Grávidos, O Virgem de 40 anos), influência clara mesmo sem ligação direta com o filme.

Em Eu te Amo, Cara, o humor não é daqueles que busca te amarrar a uma camisa de força enquanto faz cócegas, mas do que se limita a uma discreta sugestão, uma piscadela – até porque a tentativa de ser mais direto é geralmente constrangedora. Aliada a uma espalhafatosa construção de personagens, essa mistura chama a atenção menos pela incompatibilidade do que pelo tom heterogêneo, distinto dentro do modelo de filme a que ele conceitualmente pertence.

No que tange as mulheres, embora elas não passem de fêmeas tolas e chatas, desde o começo já somos informados de que elas só fazem falar e nada dizer de pessoal – além de, no caso específico da “noiva”, ela nem conhecer a banda Rush –, o que pelo menos evita a decepção. Essa quase indiferença com relação ao sexo oposto só reforça um curioso olhar masculino que, se está longe de ser “másculo”, não é puramente gay. É um olhar que, além de fechado e ligado ao mundo do mesmo sexo, é sincero e, o mais importante, com um poder de mostrar um tipo de relacionamento cuja força pode ser sentida. Percebemos a afinidade, a química; acompanhamos a soma, não nos limitamos a ver o resultado.

Essa relação dentro de Eu te Amo, Cara, embora não tão brilhante, pode ser vista como uma hipotética versão de Encontros e Desencontros – de Sofia Coppola – idealizado por Judd Apatow e com um toque gay. Quando sobem os créditos, com um gosto de déjà vu temperado por uma bem vinda ironia, fica claro que a ligação maior é com o segundo. O que, se por um lado “diminui” o filme por sua forma estar próximo a uma fórmula, bom lembrar que, dentro de uma classe mais ampla – do tipo comédia-romântica-exportação-para-Multiplexes –, ele é um bastardo que se sobressai com louvor.

Filme: Eu te Amo, Cara (I Love You, Man – EUA, 2009)

Direção: John Hamburg

Duração: 105 minutos

Elenco: Paul Rudd, Rashilda Jones, Jason Segel, Sarah Burns.

8mm

Absurdo

Sidney Fife (personagem) e Jason Segel (de Ligeiramente Grávidos) são uma das maiores combinações de espontaneidade e carisma num tempo recente do cinemão comercial americano. Ponto.

Halloween

Assistir a Halloween (2007), de Rob Zombie, só potencializou meu desejo de gritar: “deixem o filme quieto”. O adendo é que, se no início a vontade era um pré-conceito baseado na ótima versão original (1978) de John Carpenter, depois ela ganhou coro pelo que fizeram com o coitado do Zombie.

A versão que assistimos não foi editada, e sim decepada – a edição brasileira tem apenas 83 minutos, contra 109 da versão já reeditada nos EUA (a original tinha 121). O “medo” da violência explícita levou a distribuidora a cortar novamente o filme, que tem algumas memoráveis quebras de ritmo – e de nexo. Que os distribuidores podem defender como elipses. É triste.

Seja como for, parece ter sido um castigo: mexeram no que não devia, de alguém que mexeu onde não devia. E embora exista algo de interessante nesse Halloween (alguma tensão, a máscara), ele definitivamente não ficou bom. E, no caso do Brasil, Zombie tem um álibi pra justificá-lo. Uma pena – nos dois casos.

Filmes da semana:

  1. Halloween (2007), de Rob Zombie (cinema)
  2. Born Into This (2003), de John Dullaghan
  3. Nome Próprio (2007), de Murilo Salles
  4. O Pagamento Final (1993), de Brian de Palma
  5. Kafka (1991), de Steven Soderbergh
  6. Eu te Amo, Cara (2009), de John Hamburg
  7. Kill Bill Vol. 1 (2003), de Quentin Tarantino

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0 resposta

  1. Eu te amo, cara ( não é parda gay)
    Na frase: eu te amo, cara. Não se identifica o sexo ou a opção sexual de quem diz.
    Poderia ter sido dita:
    Por primo: Eu te amo, cara
    Por prima: Eu te amo, cara
    Por irmão : Eu te amo, cara
    Por irmã : Eu te amo, cara
    Por amigo: Eu te amo, cara
    Por amiga: Eu te amo, cara
    Por Tio: Eu te amo, cara
    Por Tia: Eu te amo, cara
    Por namorada: Eu te amo, cara
    Por esposa: Eu te amo, cara
    Por Filho: Eu te amo, cara
    Por Filha: Eu te amo, cara
    POR PAI: Eu te amo, cara
    POR MÃE : Eu te amo, cara
    E também, por gay: Eu te amo, cara
    Nunca e em nenhum momento, a frase pode ser entendida como sendo referência a uma manifestação gay.
    Apenas um preconceituoso consegue ver. Imagino você resenhando filmes com Transamérica, Traídos pelo desejo e outros.
    Cara, procura outra coisa para fazer. Preconceito e arte não combinam.

  2. Caro Antonio,
    “EU TE AMO, CARA (NÃO É PARADA GAY)” faz parte do título do post – e quem posta não sou, apenas envio o texto. Ainda assim, imagino que este título (do post!) foi assim escolhido apenas para, desde ali, evitar alguma ligação direta com o evento que acontece em Itabuna amanhã.
    O texto é sobre cinema. E nele (no que escrevi), se encontrar algum trecho preconceituoso, peço que destaque.
    Grato.
    Leandro Afonso Guimarães

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