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Marco Wense

O PMDB está literalmente dividido. O lulista quer o apoio da legenda para a petista Dilma Rousseff, pré-candidata do presidente Lula ao Palácio do Planalto. O PMDB tucano vai apoiar José Serra, presidenciável do PSDB.

Até aí nenhuma novidade. Nenhum espanto. Cada banda do PMDB cuida dos seus interesses e de suas conveniências políticas. O partido sempre foi assim. Não é agora que vai mudar.

As duas bandas, em termos de votos, têm quase o mesmo peso. O pega-pega é pela coligação formal e, como consequência, o invejável e disputadíssimo tempo da legenda no horário eleitoral da televisão e do rádio.

Acontece que o PMDB ligado ao presidente Lula, que ocupa cinco ministérios e centenas de cargos no primeiro, segundo e terceiro escalões do governo federal, começa a tucanar.

Qualquer pessoa pode tucanar. O regime é democrático e o Estado é de direito. Mas tucanar sorrateiramente é deplorável. É de uma deslealdade monstruosa e uma traição inominável.

Se não querem apoiar Dilma Rousseff, por achar que sua candidatura está fadada ao fracasso, entregue os cargos que ocupam no governo, deixem de mamar nas tetas do erário público.

Toda vez que sai uma pesquisa de intenção de votos, com a ministra estagnada ou em queda, a banda do PMDB lulista, com algumas exceções “valiosas”, como, por exemplo, os senadores José Sarney e Renan Calheiros, fica serrista desde criancinha.

As articulações pró-Serra são cada vez mais constantes. São tramadas nos bastidores, bem escondidinhas do presidente Lula. Depois, com a proximidade da sucessão presidencial, serão escancaradas e desafiadoras.

É evidente que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por mais escondidinhas que sejam essas manobras traiçoeiras, sabe quem é quem. Tem informações de quem é fiel e de quem o apunhala pelas costas.

A banda peemedebista ligada ao tucano José Serra, tendo à frente o ex-governador de São Paulo, Orestes Quércia, que também preside o diretório estadual do partido, faz o seu papel.

Para dividir ainda mais o PMDB, Orestes Quércia, com o aval da cúpula nacional do PSDB, pretende convidar o ministro Geddel Vieira Lima para o cargo de vice-presidente na chapa encabeçada por José Serra.

Orestes Quércia, que é uma espécie de articulador-mor do tucanato dentro do PMDB, sabe que o presidente Lula tem um carinho especial pelo governador Jaques Wagner, que busca o segundo mandato via reeleição.

O PMDB baiano, comandado por Lúcio Vieira Lima, já começa a pensar na hipótese de Geddel como vice de Serra. Com Geddel fora da sucessão estadual, o PMDB apoiaria Paulo Souto, indicaria o vice-governador e um nome – o prefeito de Salvador, João Henrique, é o mais cotado – para disputar o senado da República. A outra vaga seria de César Borges (PR).

Essa possibilidade de Geddel como companheiro de chapa do tucano José Serra vem deixando os democratas eufóricos. Muitos deles acreditam que Paulo Souto, pré-candidato do DEM, ganharia a eleição no primeiro turno.

Salta aos olhos que essa composição oposicionista, articulada nas cúpulas do PSDB e do DEM, longe dos holofotes e do povão de Deus, não é de fácil arrumação. Mas ela existe e pode se tornar um fato.

Há, no entanto, uma preocupação da oposição em relação a como o eleitorado vai reagir diante desse novo cenário, com Geddel sendo vice de José Serra e apoiando Paulo Souto na sucessão do governador Jaques Wagner.

Já passou da hora do presidente Lula entrar em campo para detectar os ministros do PMDB que estão puxando a legenda para o pré-candidato do PSDB, o tucano José Serra.

Os peemedebistas têm o direito de ficar com quem quiser. Mas os peemedebistas que estão no governo, usufruindo das benesses inerentes ao poder, não podem trair o presidente Lula.

Se querem apoiar José Serra, tudo bem. Mas deixem o governo. Não fiquem tapeando o presidente Lula, que foi – e continua sendo – tão generoso com o PMDB.

Marco Wense comenta política no Diário Bahia.

0 resposta

  1. Um diagnóstico correto, franco e muito sensato. A melhor leitura do quadro político atual que pude conceber. Deveria ser encaminhado às revistas nacionais e aos sites estaduais, permitindo o acesso de todos. Parabens ao autor.

  2. Zelão diz: – Entre articulações, traições e premunições

    Está aberta a temporada de articulações, visando as eleições de 2010. Tantas são e todas possiveis neste momento, que fica difícil fazer aposta em qualquer uma delas.
    Desta forma, valho-me do direito de também fazer as minhas premunições: – E se o presidente Lula, ao teimosamente fechar questão em torno do nome da Ministra Dilma, quer mesmo é não fazer sucessor(a), para voltar em 2014 a bordo do imenso prestígio com que deixará o governo, e assim, poder sonhar com um novo período de oito anos de governo?
    Pode existir também por parte do PMDB – partido acostumado a viver à sombra do poder – a leitura das reais intenções do presidente Lula e por isso mesmo, farejando a derrota e consequentemente, ficar fora do poder, buscar desde já a aliança com o PSDB de José Serra. Se for assim, não se trata de traição por parte do PMDB. Trata-se de sobrevivência política, aos moldes de como o PMDB sabe atuar. Lula, acredita que pode sobreviver quatro anos fora do poder. Já o PMDB, não acredita poder viver nem mesmo um dia fora dele.

  3. Não existe generosidade em política o que Lula quer com o PMDB é a governabilidade, e as articulaçãoes em torno da candidatura de Serra, são do jogo são normais.

    Se por acaso Gedel perder a eleição e Wagner ganhar o givernador vai poder preterir dos votos dos deputados do PMDB?

    Se Gedel não for ao segundo turno, será que vai Wagner não vai querer seu apoio?

    Se estas hipoteses são legitimas, também são as articulçaoes de Serra, pois politica se faz com quem faz política e de fato seria um grande golpe em Lula atrair para o palanque de Serra justamente aquele a quem Lula deu o titulo de melhor ministro de seu governo.

    Ou seja, Wagner é quem das as cartas no entanto isso não lhe garante vencer o jogo.

    E demais a mais, se o PDT já estava de casamento marcado com PMDB e o PT levou o noivo, poque o PSDB não poderia levar Gedel e deixar a dona flor ” Dilma” com apenas um marido ou “palanque” na Bahia.

    É o jogo.

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