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O técnico agrícola Moacir Smith Lima deixou a direção do Instituto Biofábrica de Cacau da forma como entrou: por vontade política. Nada a estranhar, uma vez que, apesar de ser uma Organização Social Sem Fins Lucrativos – empresa de direito privado –, a Biofábrica sempre teve, sem exceções, sua diretoria constituída dessa forma, por indicação política.

“O que ficou feio foi a forma. O secretário Roberto Muniz obrigou o conselho a pedir minha cabeça e aceitar o nome que ele queria”, afirma o ex-diretor. Moacir conversou hoje com o Pimenta, e revelou os bastidores da sua queda. Falou de como a Seagri reteve milhões de reais enquanto mais de 200 famílias passavam necessidade, com salários atrasados e o quanto o governador Jaques Wagner tem de responsabilidade em todo processo.

“Ele tem 100% de responsabilidade. Ele é o governador, tem obrigação de saber o que se passa nas secretarias. E eu alertei várias vezes a Seagri para o grande prejuízo social e político que ela estava causando à população e ao governo com sua política da inanição”. Confira a seguir os principais trechos da entrevista que ele concedeu ao Pimenta.

Vamos começar pelo fim: como se deu a reunião do secretário Roberto Muniz, conselheiros administrativos e o senhor, aqui em Itabuna, na terça-feira, 15 de setembro, em que ele veio pedir sua cabeça ao Conselho Administrativo?

Foi uma coisa constrangedora. Veja que o secretário chegou ao ponto de dizer aos conselheiros que ou eles me tiravam da direção e aprovavam outro nome, ou ele deixaria a Biofábrica de mão e eles, os conselheiros, que se virassem para descascar o abacaxi.

E então, o que fizeram os conselheiros?

Nesse dia, nada. Mas depois foram chamados a Salvador, para um reunião sem minha presença. Lá foram coagidos a me tirar da direção, e a aprovar o nome que a secretaria indicou. Quero deixar claro que nada tenho contra o novo diretor, que, inclusive, foi muito cortês no período de transição.

Mas nesse caso, a cortesia não deveria ter sido sua, uma vez que é quem estava de posse de documentos, que seriam passados a ele?

É, sim. Mas repare que esse processo foi sumário. Assim que o conselho aprovou o novo nome, em Salvador, o secretário exigiu a publicação imediata de minha exoneração. E Henrique me disse que eu poderia fazer a transição com calma, não precisava evacuar o local assim, às pressas. Achei que foi cortesia da parte dele.

“Se me alinhasse, talvez não estivesse recebendo o reconhecimento dele, de que sou probo, honesto.”

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Voltando à reunião do dia 15, que o senhor diz que foi constrangedora. O que aconteceu ali?

Para começar, o doutor Roberto Muniz disse que eu era um homem probo, honesto, que era apaixonado pelo que faço. Em seguida, soltou: ‘mas Moacir, você, por outro lado, é uma roda quadrada, que não se alinha’. Para ele, se eu me alinhasse, seria possível minha permanência. Eu respondi que, se me alinhasse, como ele queria, talvez não estivesse ali, naquela reunião, recebendo o reconhecimento dele, de que sou um homem probo, honesto.

E os conselheiros, o que o senhor acha da postura deles?

O que eles poderiam fazer? Ficar com o abacaxi? Apenas não achei correta a ida deles para Salvador, atendendo a um pedido do secretário. Acho que eles poderiam dizer: ‘escolha o nome, que aprovamos’. Mas ir lá, em reunião a portas trancadas, ficou estranho.

Mas o senhor nos disse, antes dessa entrevista, que essa situação foi antecedida por uma ação deliberada do secretário para inviabilizar sua gestão.

A Biofábrica trabalha com base em um contrato de gestão com o governo do estado, através da Seagri. Basicamente, o governo, através da Seagri, paga um valor para que a Biofábrica forneça mudas para as políticas públicas do governo na área da agricultura. Na época do ex-secretário Geraldo Simões, enfrentamos dificuldades, por conta do fim do primeiro contrato e da demora da Procuradoria Geral do Estado em analisar o novo.

Nesse meio tempo, antes que fosse aprovado ao menos um contrato de emergência, a Biofábrica sustentou a produção de mudas para o governo com seus próprios recursos, no valor de R$ 605.600,00. Entramos com pedido de indenização, e a PGE nos deu parecer favorável. Quando começamos a receber as verbas, a título de indenização, houve a troca de secretários. Geraldo deixou tudo lá, empenhado, mas esse dinheiro não chegou. Pelo menos não chegou da forma que deveria.

“A intenção de Muniz era inviabilizar

a Biofábrica para forçar a minha saída”.

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Não chegou por que?

Porque a intenção era inviabilizar a Biofábrica para forçar a minha saída. Começou uma espécie de auditoria nas notas, que a gente via que era fachada, apenas para burocratizar o processo e postergar os pagamentos, enquanto os trabalhadores ficavam meses e meses sem salários. Tenho aqui anotados todos os pagamentos que recebemos, todas as injeções de recursos próprios. Cada centavo recebido ou pago foi anotado.

O senhor tem conhecimento de boatos que dizem que o dinheiro da Biofábrica foi usado na campanha para prefeita de Juçara, em 2008?

Juçara teve mais de 40 mil votos, não foi? Se dependesse do dinheiro da Biofábrica, não teria quatro votos. Tudo o que entrou e saiu de recursos foi registrado e aprovado pelos conselhos. Essa avaliação de contas é a cada dois meses, e lá não tive uma conta reprovada. E aqui estão todos os recursos da Biofábrica [mostra documentos]. Tenho um nome a zelar. Aliás, só tenho isso, meu nome, minha biografia. Não faria isso em hipótese alguma.

Nesse processo, o senhor teve apoio do deputado Geraldo Simões?

Tive na medida do possível, para ele. Como ex-titular da secretaria, se ele fosse para a briga direta, na imprensa, ficaria parecendo que era uma tentativa de vingança contra o atual secretário. Mas tive, sim, apoio dele, dessa forma, que acaba sendo insuficiente. Agora, em nenhum momento as lideranças de Itabuna levantaram a voz.

“O secretário Muniz está fazendo da Seagri um departamento do PP. Não imagino que o governador não esteja vendo isso”.

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E o governador Jaques Wagner, que avaliação o senhor faz de sua atuação nesse episódio?

Eu credito a ele toda a responsabilidade pelo que está acontecendo. Ele é o governador, deve saber o que se passa nas suas secretarias. Sem falar que o processo da troca de secretário foi acordado de uma forma e executado de outra. Seria mais honesto o PP dizer: “governador, aceitamos a secretaria, mas tem que ser verticalizada”. Ao contrário, aceitou as regras, e depois colocou as mangas de fora. O secretário Roberto Muniz está fazendo da Seagri um departamento do PP. Todo mundo está vendo isso, não imagino que o governador não esteja.

Como está sua situação no PTB, que fechou apoio a Geddel?

Não tenho como ficar, não é? Vou sair, junto com meu grupo. São 455 filiados que saem comigo e se filiarão também junto comigo em outro partido.

Qual partido?

Ainda não temos destino, estamos analisando. Mas tem que estar alinhado com o projeto do governo e do governador.

Que avaliação o senhor faz de sua gestão na Biofábrica?

Tivemos muitos problemas, principalmente com esses repasses e com o fim do contrato de gestão, mas saio deixando 659.708 mudas clonais de cacau (prontas para comercialização), outras 300 mil enraizando, 92.540 mudas de essências florestais; 77.673 mudas de fruteiras – outras 160 mil germinando. Do programa Mata Verde (seringueiras), foram entregues 150 mil mudas e mais 1,1 milhão estão germinando e sendo plantadas. Os resultados, do que foi possível fazer, nós temos. O que não foi possível, não foi por falta de vontade, como o próprio secretário reconheceu.

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  1. esse eh mais um indicio de que nosso governador esta vendendo pastas do seu governo, com o intuito de se fortalecer para sua reeleicao, falta de compromisso c o povo, seu moacir vc tb deveria tomar vergonha na kra e largar esse governo. pq eu jah fiz issu, eh notorio que wagner n ta preocupado in governar e sim em se manter no poder…

    triste destino da bahia, d um lado wagner, do outro paulo souto, i no meio geddel (tlvz o pior deles).

    escolham, votem, elegamos o menos pior…
    =/

  2. O apego ao cargo fez o sr. Moacir a aceitar o constrangimento de ficar. Sabe quantas vezes ele próprio aceitaria um diretor seu vindo da guestão anterior? O bicho é um sargentão e agora quer piedade. Bem feito. Quem com ferro fere…

  3. Seu pimenta Pergunte ao atual diretor da biofabrica, Senhor Henrique, pq tanto falso moralismo, já que o mesmo recebia no governo de Newton Lima,sem trabalhar????Ele não tem moral para falar de indecência… Pelo menos os ex da biofabrica trabalharam.

  4. MOACIR ESTÁ CRIANDO UM FACTOIDE. O CARGO É POLITICO. ELE SÓ ASSUMIU POR SER AFILHADO DE GERALDO SIMÕES. É NATURAL QUE O NOVO SECRETÁRIO QUEIRA SUBSTITUIR. ELE DEVERIA SIMPLISMENTE ACEITAR E NÃO FICAR LAMENTANDO. O GOVERNADOR WAGNER ESTÁ CORRETO EM NÃO SE METER NISSO, QUE NEM É UM PROBLEMA. ELE TÁ CERTO EM PRIVILEGIAR O PP, ESTE TEM VOTOS, MOACIR, A 17 ANOS QUE NÃO ELEGE NEM UM VEREADOR, SÓ TEM FAMA, VOTO QUE É BOM, NADA. (O PIMENTA COMEU A PILHA DE MOACIR, ANUNCIOU UMA ENTREVISTA BOMBASTICA SOBRE OS BASTIDORES DE SUA QUEDA E MOSTROU NADA)TEM QUE TER MAIS CRITÉRIO PIMENTA.

    Nota da Redação:
    Ô, Jovem, acreditamos que você tenha se equivocado. Em nenhum momento o Pimenta anunciou “entrevista bombástica”. Apenas dissemos que Moacir iria revelar bastidores de sua saída, e achamos, sinceramente, que a entrevista cumpriu o que anunciou. Agradecemos a participação e, só para não ficar o dito pelo não dito, acesse novamente a nota que anunciou a entrevista. Eis o link:
    http://www.pimentanamuqueca.com.br/?p=22249

  5. O menos pior, e o Wagner que somente em 03 anos vem fazendo mais do que decadas do outro grupo. Inclusive a sua gestao estah em ascencao e promete muito mais.
    Os problemas, claro, sempre vao existir, mas vamos fazer simplesmente uma comparacao do que foi feito e o periodo para tal.
    Ainda nao entendi o por que de nome de Paulo Souto em viaduto, de ACM (CLARO que nao oficial) de Avenida aqui em Itabuna…. O que fizeram?

  6. Gostaria de parabenizar o repórter Domingos pela exelente entrevista ao Sr Moacir Smith Lima, com perguntas muito bem elaboradas e inteligentes e pelas respostas corajosas do Sr Moacir, dessa forma podemos mostrar para a sociedade q não conhece o ilustre Moacir um pouco do enorme e grandioso caractér que ele tem. Tb a sua corajem em apontar erros e acertos do governo. Um forte abraço e parabéns mesmo.

  7. entrevista cheia meias verdades, porque ele não falou dos salários que deixou atrasado, inclusive décimo terceiro dos funcinários, tem desvio de recursos sim e isso vai aparecer, a biofábrica era um departamento de Geraldo Simões, porque ele como diretor geral, sem vínculo trabalhista, postula uma indenizaçaõ milionária?

  8. Zelão diz: – Choro de carpideira

    Embora tardias, são corajosas as revelações feitas pe “xerife” Moacir Lima.

    As revelações confirmam em parte o que já é sabido por todos: – A falta de prestígio do ex-secretário Geraldo Simões, junto ao Governador Jaques Wagner, e, o indisfarçável loteamento político da máquina administrativa do governo estadual, promovido pelo governador Wagner, na busca da reeleição, reeditando o apontado sempre por ele, como “condenavéis práticas políticas exercidas por ACM, nos dezesseis anos em que governou a Bahia.”

  9. Moacir é, sem dúvida, um grande homem. Por isso não compreendo a sua insistência em continuar vinculado ao governo Wagner, que ele mesmo apontou que vem, junto com seus comandados, causando o caos. Vide exemplo das denúncias de gente do próprio PT (Paulo Jackson).

  10. Quem tem medo do lobo mau?

    Moacir Lima mostra que não tem!

    Sem apego a cargos, ou ao silêncio confortável dos que calam diante do jogo político. Não teve choro nem vela, foi pimenta mesmo! Gostei! Parabéns a redação, e parabéns ao entrevistado!

  11. è impressionante, no nosso Brasil como se medem as pessoas por alianças politicas e não por competência. SIM, por competência… pq se medissem, MOACIR continuaria no cargo! Feliz daqueles q possam contar com a contribuição desse homem, independentemente de coligações, alianças politicas… trabalhador, corajoso e HONESTO(qualidade q falta em muitos politicos administratores no nosso país). O chamam de sargentão e xerife pq ele exigi, não leva o cargo público como muitos levam sem compromissos, só esperando receber o salário no final do mês.Vamos acordar minha genteeee… Parabéns Moacir

  12. O Senhor Roberto Muniz, está preocupado em distribuir os cargos do governo para os Guimarães, pertencente a sua mulher, uma simples veterinária, que está “pongada” no governo desde o governo de Paulo Souto.
    Esses Guimarães são conhecidos pela ambição desmedida pelos cargos , pelo dinheiro e pelo poder e estão “sugando” o erário público.
    Nós o povo baiano somos vítims dessa gente!!!!!
    Muueca jogue duro com imparcialidade, como sempre!!!!!

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