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Davidson Magalhães

A região sul da Bahia, pródiga em cenários e enredos de romances e personagens que ganharam o mundo, já viveu dias de glória no tempo em que o cacau irrigava os cofres do Estado e do País. A cacauicultura alavancou o desenvolvimento da região que Jorge Amado definiu como terras do sem-fim, mas ao final da década de 1980 sofreu o seu pior revés. A decadência da monocultura gerou falências, desempregos e empobrecimento dos municípios.

Mas, a partir de 2007, a região sul tornou-se prioritária para investimentos em obras estruturantes do governo Jaques Wagner, que, em parceria com o governo federal, transformou em realidade o complexo logístico do sul da Bahia: Ferrovia Oeste-Leste, Novo Porto Sul Bahia, Aeroporto Internacional de Ilhéus e a Zona de Processamento de Exportação (ZPE). Com a chegada do gás natural, através do Gasene (Petrobras), a região conta com nova fonte energética, natural e de menores custos.

O desenvolvimento da cacauicultura reposicionou o sul da Bahia no contexto econômico brasileiro no final do século XIX e tornou-se o primeiro macrovetor do desenvolvimento regional. A construção da ferrovia Ilhéus-Itabuna, em 1913, e o reaparelhamento do Porto de Ilhéus, em 1926, possibilitaram o escoamento e o incremento da exportação.

Nos anos 30, após sucessivas crises, ocorreu a intervenção do Estado, através do Instituto de Cacau da Bahia (ICB, em 1931) e, mais tarde, da Comissão Executiva do Plano da Lavoura (Ceplac – 1957), o segundo macrovetor do desenvolvimento regional.

No final dos anos 80, o aparecimento da vassoura-de-bruxa e a infeliz coincidência de fatores adversos desencadearam uma crise sem precedentes. O Estado, com forte déficit e sob a hegemonia do pensamento neoliberal, desmontou os mecanismos (ICB e Ceplac) intervencionistas.

A Ferrovia Oeste-Leste, com 1.100 quilômetros e investimento de R$ 4,5 bilhões, cria um novo eixo de desenvolvimento e integra o sul da Bahia ao oeste e à área de mineração em Caetité. Além de transportar a produção, a Oeste-Leste interligará nossa economia a outros polos do País, através da conexão com a Ferrovia Norte-Sul, em Figueirópolis (TO), transformando o porto em grande escoadouro nacional.

O Porto Sul – porto offshore a três quilômetros da costa, com investimento previsto de R$ 3 bilhões – completará o complexo multimodal com o Aeroporto Internacional de Ilhéus e abrirá um corredor de exportação e importação, ampliando-se a arrecadação, além da criação de uma extensa cadeia de serviços que afetará positivamente na geração de emprego e renda.

A ampliação da oferta energética, com a chegada do gás natural, disponibilizará uma nova fonte energética. A Bahiagás constrói uma rede de 250 quilômetros de dutos que beneficiarão os municípios do sul – R$ 60 milhões de investimentos até o primeiro semestre de 2012.

O gás natural, que representa 26% da matriz energética industrial da Bahia, agregará competitividade aos empreendimentos e contribuirá para a atração do setor privado.

Haverá geração de empregos diretos e aumento na arrecadação de impostos. Estes são alguns dos efeitos multiplicadores do complexo logístico-produtivo do Porto Sul.

A dinâmica gera também desdobramentos: agregação de valor para cadeias produtivas do semiárido, oeste e Brasil Central; sinergia com o turismo e a cadeia do cacau; e a requalificação de ativos ambientais focando mercados exigentes, o que implica novo paradigma de desenvolvimento para a região sul, cujo eixo da acumulação, pela primeira vez na história, não está centrado na dependência da monocultura cacaueira.

Na primeira década do século passado, uma ferrovia e um porto foram decisivos na articulação do espaço econômico regional em torno do cacau. Agora, um século depois, através de uma ousada iniciativa estruturante dos governos estadual e federal, coincidentemente uma ferrovia e um porto – com outras dimensões e acompanhados de um aeroporto e do gás natural – são o primeiro capítulo da nova história econômica das terras do sem-fim.

Davidson Magalhães
é professor da Uesc, mestre em Economia e presidente da Bahiagás.

8 respostas

  1. Eu quero ver esse dia chegar. Como tb espero, há muito, a reativação dos vôos noturnos em IOS, que há muitos meses já foi autorizado.

  2. Continuando…
    Em seguida, uma usina nuclear para reformular a matriz energética, uma base de lançamento de foguetes e satélites, um trem bala, etc.
    E não esperem saneamento na hidrografia, fortalecimento da segurança pública, socorro à saúde pública, reconhecimento a professores e combate ao narcotráfico e à prostituição infantil. Essa parte está em estudos, até segunda ordem. Enfrentamento da corrupção, agora, nem pensar. É ano eleitoral.

  3. De novo propaga-se o mito de que a região cacaueira viveu tempos gloriosos. Eu nunca vi isso por aqui.

    Mostem-me algum sinal dessa opulência e eu darei meu reino em troca.

    Ora, bolas. to be or not to be! Essa região sempre foi pasto de coronéis ridículos, putas e filhos-herdeiros degenerados.

    O cacau sempre serviu foi pra alimentar a orgia desses senhores. Façam-me o favor!

  4. Zelão comenta: – Da teoria a prática!

    Nem sempre as teorias econômicas acadêmicas, encontram eco no pragmatismo capitalista.

    Em respeito às teorias de desenvolvimento regional, formuladas pelo professor Davidson Magalhães, guardo as minhas dúvidas, quanto a sua aplicabilidade, pela falta de todo um arcabouço de políticas públicas, capazes de atrair o elo principal ao qual esse desenvolvimento seria capaz de interessar, que é a iniciativa privada.

    Seria apenas o fornecimento do gás natural, o fator mais importante para que uma industria se instale na nossa região? Quais são os outros fatores, gerados pelos poderes públicos que; além da matriz energética, fosse determinante, para que uma empresa deixasse as regiões sul e sudeste e aqui viesse se instalar – a não ser pela isenção fiscal de dez ou mais anos, para após esse período, arrumar o maquinário e partirem em busca de nova isenção?

    Quais serão os benefícios diretos à população regional, afora a mão de obra braçal, que advirão da instalação do sistema intermodal em Ilhéus, se o mesmo servirá apenas de terminal de escoamento de produtos básicos?

    Claro que além de teorias econômicas, servem, nesse momento, como “PACs – Pacotes de Aceleração de Campanhas.

  5. Gente acorda! isto e real,deixem de lado a politicagem,vamos apladir
    este grande instrumento de desenvolvimento que está chegando em nossa
    região,isto e real!!!!

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