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Álvaro e Elisney foram mortos em atentado (Foto APLB).

A regional Costa do Descobrimento da Associação dos Professores Licenciados da Bahia (APLB) divulgou manifesto cobrando agilidade na conclusão das investigações sobre os autores e mandates das mortes de Álvaro Henrique e Elisney Pereira. Na noite de 17 de setembro do ano passado, os professores foram assassinados numa emboscada na comunidade de Roça do Povo, em Porto Seguro. Elisney morreu na hora e Álvaro faleceu seis dias depois, em Salvador.
Hoje, os professores vão promover uma carreata que percorrerá os principais bairros de Porto Seguro. A concentração será no Centro de Cultura e a saída está prevista para as 16 horas. De acordo com a APLB-Costa do Descobrimento, o evento será encerrado na escola onde os dois professores lecionavam, o Colégio Municipal Frei Calixto. Haverá culto ecumênico no estabelecimento, às 19h.
Edésio se entregou à polícia.

As investigações da polícia baiana apontaram para atentado político no caso. Elisney e Álvaro eram dirigentes do Sindicato dos Professores de Porto Seguro e estavam em campanha salarial que denunciava os desmandos da gestão de Gilberto Abade (PSB) na educação.
A polícia apontou o ex-secretário de Governo e Comunicação do Município, Edésio Lima, como o mandante das execuções de Elisney e Álvaro. A Justiça local decretou a prisão de seis envolvidos nas mortes.
Edésio e mais três policiais militares estão presos, acusados de participação no crime. Edésio nega, mas a morte de seu motorista teria sido considerada uma queima-de-arquivo, além de outros três assassinatos relacionados ao caso e que seriam possíveis testemunhas das execuções. Já Antônio Andrade dos Santos Júnior Danilo Costa Leite continuam foragidos. No “leia mais”, confira o manifesto da APLB-Costa do Descobrimento.
APLB – SINDICATO DA EDUCAÇÃO DE PORTO SEGURO – BA
MANIFESTO EM MEMÓRIA DOS PROFESSORES ELISNEY PEREIRA E ÁLVARO HENRIQUE ASSASSINADOS EM SETEMBRO DE 2009
A APLB – Sindicato da Costa do Descobrimento – vem, por meio desta CARTA MANIFESTO, demonstrar a tristeza, a saudade e a dor, após 01 ano do assassinato dos dois dirigentes sindicais na cidade de Porto Seguro, na noite de 17 de setembro de 2009. Eles foram vítimas de uma emboscada, seguida de execução. O Professor Elisney Pereira Santos morreu na hora, enquanto o Professor Álvaro Henrique dos Santos ficou gravemente ferido, vindo a falecer no dia 23 de setembro.
A figura destemida e corajosa de Álvaro Henrique se tornou uma ameaça para os governantes, partidários e também para as pessoas ligadas direta ou indiretamente a eles, por conta de sucessivas denúncias à Promotoria e Ministério Público, mesmo antes de ser diretor da APLB Sindicato, quando era apenas o presidente da Associação dos Trabalhadores em Educação de Porto Seguro – ATEPS, e após tornar-se diretor da APLB, as denúncias se intensificaram.
Sob sua direção, a APLB começou uma grande movimentação em prol de uma educação de qualidade, denunciando uma série de desmandos da Secretaria de Educação: contratação de professores, enquanto havia uma lista de espera de professores concursados na última gestão; escolas funcionando com recursos ínfimos; aluguéis de locais improvisados para serem escolas, a exemplo de lava-jato; pagamento de dívidas da gestão anterior com recurso do FUNDEB; denúncia de funcionários fantasmas, dentre outros fatos que eram declarados nas assembléias, pelo diretor, e nas reuniões com a comunidade. Fotografias da situação das escolas foram mostradas para a população.
No dia 04 de Setembro do ano passado, Álvaro Henrique dos Santos enviou um email a um amigo, afirmando que estava sendo ameaçado e investigado. Contudo, mesmo correndo risco de morte, o diretor preferiu não divulgar isso, e continuou avante na luta sindical, participando ativamente do movimento, sem recuar: foi à Radio local várias vezes; expôs a pauta de reivindicação na Câmara de Vereadores e, junto com os demais professores, participou de uma reunião na Câmara, onde o Secretário de Educação fez uma prestação de contas e avaliação do primeiro semestre de 2009. Neste dia, os dirigentes sindicais foram persistentes em afirmar os desmandos, a ingerência e a situação caótica da Educação em Porto Seguro, virando as costas para o secretário. Por fim, no dia 07 de setembro, pais, alunos e professores participaram do primeiro desfile dos excluídos, já que nos anos anteriores era uma festa pomposa, com desfile cívico e discursos politiqueiros.
No primeiro encontro com o Secretário de Administração, ele ameaçou não negociar, se a categoria fizesse paralisação ou greve, assim afirmando: “Eu sou a linha dura do Prefeito”. Mesmo assim, a Assembléia votou que ocorressem as paralisações de advertência ao executivo. As negociações não tiveram sucesso, o executivo manteve firme a sua decisão, dizendo não a tudo que pedíamos. Sendo assim, a greve foi deflagrada no dia 16 de setembro.
Marcamos uma reunião com pais, mães, alunos e trabalhadores da educação em todos os distritos e bairros da cidade, no dia 17, onde explicaríamos os motivos da greve e os encaminhamentos do movimento. Nesse mesmo dia, o Vereador Dilmo ligou para Álvaro, dizendo que havia um acordo a ser feito com a categoria. Propôs uma reunião na sexta-feira, com a comissão de negociação, alguns vereadores, secretário de educação, finanças e administração. Álvaro quis saber o horário, no entanto o vereador disse que ligaria depois para marcar, e não fez mais contato.
Nesse mesmo dia, enquanto preparávamos para receber o público do Bairro Baianão, a Professora Maria Aparecida Santos, mãe de Álvaro, estava no Sítio Rancho do Arthur, localizado na Roça do Povo, em Porto Seguro, com seu filho, Eric Márcio Santos de Oliveira, e seu neto, filho de Álvaro, Arthur Henri, que tem paralisia cerebral. No momento em que ela alimentava o seu neto, os assassinos chegaram, e sob mira de armas de fogo, ela foi obrigada a ligar para Álvaro e dizer que Arthur estava passando mal. Assim ela o fez, e momentos depois Álvaro chegou, junto com Elisney, e foram recebidos a balas. Quando saiu do quarto, Maria Aparecida viu os corpos caídos na cozinha. Elisney morreu na hora, e Álvaro, depois de 06 dias internado, após uma cirurgia para retirar a bala da cabeça, veio a falecer, no dia 23 de setembro. Existia outra bala, desconhecida pelos médicos, em sua nuca. Por isso, se ele sobrevivesse, ficaria em estado vegetativo.
Diante do crime, os professores resolveram lutar para descobrir os nomes dos criminosos e os mandantes. Foram a Brasília, pedir apoio ao Ministério da Justiça e à Polícia Federal, fizeram vários protestos na BR 367, no centro da cidade e em Salvador, em frente à Secretaria de Segurança Pública. Alguns meios de comunicação, tanto da Bahia como de outros Estados, também se empenharam na luta pela elucidação do referido crime, acompanhando toda a nossa movimentação.
Em março de 2010, o Doutor Roberto Freitas, Juiz de Direito da cidade de Porto Seguro, decretou a prisão de Edésio Lima, ex-Secretário de Governo do Prefeito dessa cidade, o qual foi acusado de ser o mandante do crime, e de 3 policiais militares, acusados de serem os executores dos professores. A prisão dos acusados foi solicitada pelo Promotor de Justiça, Doutor Dioneles Santana, e pelo Delegado Regional, Evy Paternostro.
Os acusados continuam presos, aguardando o pronunciamento do juiz. Os advogados dos acusados entraram com quatro pedidos de habeas corpus, mas o Tribunal de Justiça da Bahia negou a todos. A população de Porto Seguro está pedindo júri popular, e deseja que os assassinos paguem por este crime bárbaro que deixou marcas profundas, feridas que, infelizmente, ainda não cicatrizaram.
Nossos amigos deixaram suas famílias, pessoas muito especiais. Afinal, não é em todo ambiente familiar que encontramos pessoas tão destemidas, amigas, companheiras, com um senso de justiça acima dos próprios interesses. Ambos deixaram filhos, também. O de Álvaro, uma criança especial, não só pela lesão cerebral, mas principalmente por ser filho de um homem que sempre lutou contra as injustiças. Embora com tantos problemas de saúde, Arthur é o grande companheiro de sua avó, que mesmo vivenciando com a dor, diariamente, ainda encontra forças em cada instante da vida, a fim de lutar para que o maior sonho do filho dê continuidade: uma Educação de Qualidade, Emancipadora, Transformadora. Os pais de Elisney ainda não conseguem sorrir, uma vez que a dor ainda é imensa, cada instante sem o filho é muito sofrido. Os irmãos tentam continuar a vida, mas o sofrimento também é visível. A esposa e os três filhos, o menor deles com menos de 2 anos de idade, sofrem com  sua ausência.
Elisney e Álvaro lutaram apenas por uma educação de qualidade: que alunos e alunas não estudem em salas de aula onde eram quartos de residências, ou em antigo lava-jato; que os professores e professoras sejam bem remunerados e qualificados; que haja recursos tecnológicos nas escolas; que o dinheiro da educação seja aplicado na educação, não em contas particulares ou desviado para outros fins. Lutaram para que cada cidadão, independente de cor, opção sexual, profissão, credo, seja tratado com dignidade e que seja beneficiado pelas políticas públicas criadas para que tenhamos uma vida melhor.
Assim, em homenagem a esses dois grandes heróis, nos dias 17 e 18 realizaremos o 1º Congresso de Educação, a fim de dar continuidade ao sonho deles, tão simples de ser realizado, mas que incomodou aqueles que ainda usam a tortura e a morte para calar a voz de quem luta contra a alienação. No dia 17, às 16 horas, sairemos em carreata do Centro de Cultura de Porto Seguro, local onde será realizado o Congresso, percorrendo os principais bairros da cidade e finalizando no Colégio Municipal Frei Calixto, lugar onde Álvaro era professor de Língua Portuguesa, e Elisney, de Matemática. Lá será realizado o Culto Ecumênico, às 19:00h, em memória a esses dois grandes companheiros.

6 respostas

  1. O Poder Judiciário terá que dar uma resposta severa para esses crimes.
    O Secretário é,(caso prova em contrário) o mandante dessa barbaridade.
    Nós, Professores do Estado da Bahia temos que combater essa atitude com ações rápidas, eficazes, eficientes.
    O Congresso será uma ótima oportunidade!
    Por uma EDUCAÇÃO PÚBLICA DE QUALIDADE, em memória aos colegas que sucumbiram após a truculência desses monstros.
    Parabéns ao Tribunal de Justiça por negar o habeas corpus!
    Solidariedade aos colegas de Porto Seguro, aos familiares dos Sindicalistas.
    Muito triste!!!
    Mas, não calarão nossa VOZ!

  2. Vão deixar o caso na geladeira, até virar lenda. Depois é que vão ver o que fazer. Ainda mais que o apontado como autor do caso é um político para quem dinheiro não falta. Dinheiro nosso, do povo, que faz falta às mínimas necessidades. Mas financia gente “grande”. Sempre se ouve dizer que a lei é que libera criminosos bárbaros. Mas se o criminoso bárbaro for pobre, ele apodrece na cadeia.
    Horrível, horrível, saber que pessoas matam, aliciam menores, arrasam famílias, causam graves prejuízos a todos, destroem a soberania individual e das comunidades, mas estão impunes, de braços dados com outras que devem resgatar a justiça, em nome da própria dignidade e não o fazem. E ficam culpando o governo! O governador confia os setores a pessoas imaginadas confiáveis que tem salário excelente e no final muitos traem os princípios de respeito próprio.
    Tem razão João Ubaldo Ribeiro: “Falta matéria prima” para a contrução dos compartimentos conscienciais e éticos do país…

  3. A uma grande farsa montada no que diz respeito a morte dos professores, toda populacao de porto seguro sabe, que é uma grande injustica atribuir a monte dos professores a Edésio e os outros acusados. O inquerito sequer foi concluido, nós de porto seguro exigimos a correcao desta grande injustica e que a policia descubra os verdadeiros culpados, doa em que doer.

  4. Será que não podemos confiar sequer nas instituíções encarregadas destas atribuíções específicas? Será que elas também camuflam resultados contra ou a favor de facínoras, de monstros? Será que alguém ignora a dor de uma mãe que chamou seu filho para ser assassinado diante de seus olhos? Será que este crime não é bárbaro o suficiente para refletirmos sobre que tipo de sociedade temos? Uns praticam o mal, outros defendem, outros inventam culpados e inocentes. Isso é normal?
    É uma pena que ainda estejamos tão enganados em relação à justiça verdadeira… Ela não falha nunca!!!

  5. Cara Lima
    A população sabe que o trabalho da justiça está sendo feito da melhor forma possível…as muitas provas que apontam o Edésio como mandante dos crimes…mas infelizmente ainda falta prender um outro envolvido que continua solto e andando “tranquilamente” pelas ruas de Porto Seguro.

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