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Daniel Thame

Quando ainda nem se falava em responsabilidade social, Manoel Chaves financiou através de suas empresas cursos de nível superior para funcionários e seus filhos

Num de seus mais belos poemas, Carlos Drummond de Andrade, ao relembrar a cidade de sua infância, escreveu, num misto de saudade e melancolia, que Itabira era apenas um retrato amarelado na parede.
Em Itabuna, cidade que não tem entre suas virtudes preservar a memória de personagens que foram protagonistas de sua história, um de seus maiores empreendedores tornou-se um retrato abandonado num corredor obscuro.
Manoel Chaves foi um empreendedor no sentido exato da palavra. A partir de um pequeno negócio, à custa de muito trabalho e com visão de futuro, montou um império que se estendeu pelos ramos de produção, comercialização e industrialização de cacau, setor imobiliário, comércio, construção civil e telecomunicações.
Manoel Chaves, numa época em que muitos transformavam as riquezas do cacau em apartamentos de luxo em Salvador, Rio de Janeiro e na Europa, investiu na modernização de uma cidade que ele adotou como sua. Plantou prédios, lojas, indústrias e semeou desenvolvimento.
Quando ainda nem se falava em responsabilidade social, Manoel Chaves financiou através de suas empresas cursos de nível superior para funcionários e seus filhos e ofereceu-lhes condições para que pudessem melhorar de vida, apoiou artistas de muito talento e poucos recursos, manteve creches e colaborou com instituições beneficentes. Além disso, concedia aos colaboradores de suas empresas vantagens que iam além das leis trabalhistas. Tudo isso sem fazer alarde ou marketing pessoal.
Manoel Chaves é, seguramente, um dos principais personagens de Itabuna nesse seu primeiro século de vida. Se algum reconhecimento público ganhou, foi o nome de uma avenida no bairro São Caetano, que muitos ainda chamam pelo nome anterior, presidente Kennedy.
Merecia mais, muito mais.
Não o teve em vida porque sempre foi uma figura discreta, de mais ação e menos exposição.
Não o tem depois que faleceu, pela falta de memória da cidade.
Gente como Manoel Chaves, e também Firmino Alves, José Soares Pinheiro, JJ Seabra e outros personagens marcantes de Itabuna, deveriam merecer bustos em praças públicas, darem nome a escolas e serem lembrados às novas gerações como exemplos para uma cidade que, a despeito de todas as crises por que passou e passa, é capaz de se redescobrir e dar a volta por cima, justamente por conta dessa chama empreendedora, dessa força atávica de superar desafios.
Uma chama que Manoel Chaves simbolizou como poucos.
Manoel Chaves não merece ser apenas um retrato amarelado na parede da memória itabunense.
E, menos ainda, ser um retrato abandonado num corredor de um dos prédios que ele construiu como mostra a foto que ilustra esse texto.
Daniel Thame é jornalista, blogueiro e autor do livro Vassoura.

11 respostas

  1. parabéns daniel thame, pela exatidão do texto e a relembrança da figura de exemplo que foi Manoel chaves, para nossa cidade, para nossa região. É nesse momento que estamos na expectativa da concretização da implantação de um novo aeroporto, uma ferrovia e um porto e também a ZPE, que devemos fortalecer aquilo que pessoas como Manoel Chaves e outros fizeram, ” Acreditar” . Vamos em frente, pois domingo tem eleição e o resultado eleitoral, tem tudo a ver, com o que estamos falando. Abraços.
    Luis Sena – professor, bancario, ex-vereador em itabuna.

  2. Daniel
    Concordo com tudo que escreveu, esse homem foi sem duvida o maior empreendedor que Itabuna ja teve. Digo isso pelos mais de 10 anos que trabalhei no Grupo Chaves. Era uma pessoa de bom carater, a educação em pessoa, que se preocupava com a cidade como se fosse sua familia. Espero que depois dessa materia a figura do Sr.Manoel Chaves reviva na memoria não só daqueles que estiveram junto dele mas de Itabunenses que nem imaginam a importancia que esse homem foi para a Região.
    Abraços
    Robinson Nascimento

  3. Boa tarde ! muito bem feita e oportuna a matéria do Thame, ao lembrar do sr. Manoel Chaves, bem como José Soares Pinheiro, que muito contribuiram para o crescimento e desenvolvimento da nossa cidade. E foi vergonhoso nos 100 anos de Itabuna ( ops ) ambos não serem homenageados, dentre tantos outros, a exemplo dos srs. Leonardo Nunes de Souza, Nelson Muniz Barreto( hotelaria),Zeis, Luiz Wilde e outros. Parabéns ao Daniel Thame pelo artigo.

  4. Realmente é triste saber que nossa população dá tão pouco valor a figuras que serviram de mola propulsora para alavancar nossa sociedade itabunense. Eu cresci ouvindo histórias de como era melhor trabalhar para “Seu Manoel Chaves”, como muitos o chamavam, ouvindo sobre a força criadora do grupo Chaves, à época consolidado como referência em toda região. O Módulo Center foi o primeiro edifício realmente grande que eu vi na minha vida, tudo isso graças ao empreendedorismo do honorável cidadão! Que me chamem de nostálgico, mas como me dá saudade os jingles de nossas rádios AM de 20 anos atrás, sobre o Grupo Chaves, os Supermercados Messias e tantos outros! Faço aqui um apelo à sociedade itabunense, não deixem seus filhos sem o conhecimento do que foi nossa cidade, e do que ela pode ainda vir a ser se pessoas com o mínimo de moral se empenharem em cuidar dos rumos de nossa velha Tabocas!

  5. Caro Daniel, boa a sua lembrança sobre o amarelado das paredes desta ingrata cidade e os esquecidos retratos que deveriam ter feérica iluminação a lembrar a cada um de nós o respeito e a reverência pelos que nos antecederam. Mas meu escriba, a atual Itabuna não é mais a cidade do já teve, do já foi…
    É uma cidade desfigurada, cheia de gente interesseira e sem compromissos. Veja o exemplo acabado e real dos Poderes Executivo e Legislativo e faça um comparativo do que representavam e a legitimidade que tinham anteriormente e não é política partidária, não.
    Alguns autores que li diziam que o centenário representa o marco zero de um novo limiar por ser tempo de reflexão pelas homenagens e reconhecimentos que se prestam a personagens, situações e coisas coletivamente construídas. Menos neste pedaço de chão.
    Pena que a cidade continue a viver a terra de fronteira que os pioneiros lutaram para vencer ao dedicar sangue, suor e lágrimas. Parece paradoxal que no momento em que vicejam cursos univesitários e técnicos na formação da juventude, a Itabuna de nossos sonhos não veja surgir uma sociedade justa, fraterna, igualitária e ode o passado seja motivo de orgulho e respeito.
    Oxalá estejamos errados nos prognósticos frente ao ostracismo do contrário seremos tragados juntos pelo abismo que a insensibilidade e a ganância aprofundam cada dia mais.

  6. Concordo plenamente… Tive a chance de conhecê-lo, mesmo que por pouco tempo, mas, o suficiente para poder afirmar que os elogios acima descritos, são mais que merecidos!!! A sociedade itabunense infelizmente está cada vez mais esquecendo dos fundadores, dos construtores, de quem realmente transformou mata bruta no que a cidade é hoje e o pior de tudo; a familia que tanto usufrui do que foi erdado. Mas os bens são tão valiosos que quem vai se importar com um quadro antigo e sem nenhum valor COMERCIAL????

  7. Tenho minhas reservas quanto ao que Daniel escreve,mas parabenizo ao referido como a também este instrumento de comunicação, por divulgar tais palavras, que nos levam a ter saudade e a refletir, onde o capital dever ser aplicado e em quais mãos estão o capital.
    Chaves e outros empreendedores, tinham uma consciência, história, dicernimento, preocupavam-se com o crescimento e desenvolvimento econômico da nossa região.
    O Daniel acetrou em escrever e Pimenta acertou em divulgar,parabéns!!

  8. Quando Daniel Thame não fala sobre o flamengo certamente que sai coisa boa. Concordo com quase tudo que ele fala! O fato de a foto estar num canto não quer dizer nada, mas se levar para o lado do respeito, do reconhecimento ao papel que o Sr. Manoel Chaves, realmente a cidade não tem memória. O Sr. Manoel Chaves é a figura principal da históiria de Itabuna. Um homem que nunca foi “político” fez tanto por esta cidade que até hoje vemos a marca dele e com certeza os seus descendentes estão tentando manter a sua obra empreendedora. Precisávamos hoje ter um político com pelo menos 10% do que foi o Sr. Chaves. Numa cidade onde todo prefeito sai do governo “bem de vida” é triste pra todo itabunense.

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