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Inspirados no “ame-o ou deixe-o”, os locutores bradavam que estes “maus brasileiros” deveriam deixar o país. A mãe de Bené entrou em pânico.

Marival Guedes | marivalguedes@yahoo.com.br
Na década 70 e início dos anos 80, a maioria dos militantes de esquerda torcia contra a seleção brasileira. Acreditavam que os militares golpistas  tirariam proveito político, já que os marqueteiros orientaram o presidente Médici a buscar maior envolvimento com o futebol. Naquele período só um membro do Estado tinha direitos, o governo.
Do outro lado, Fernando Gabeira- quem te viu, quem te vê- exilado na Argélia, discutia com os companheiros qual seria o posicionamento do grupo. Na copa de 82, realizada na Espanha, as discussões eram iguais, mas  em Itabuna um protesto se diferenciou. No dia do jogo Brasil x União Soviética, quatro jovens compraram alguns metros de tecido vermelho e saíram pelas ruas defendendo o país comunista, num momento em que os partidos comunistas estavam na ilegalidade.
Os jornalistas Ederivaldo Benedito e Joel Filho juntamente com os atores Carlos Betão e Emiron Gouveia exibiam a “bandeira” russa e os dois últimos declamavam e faziam discursos. Houve reações, mas escaparam  ilesos. A notícia se espalhou através das emissoras de rádio, principalmente dos programas esportivos. Inspirados no “ame-o ou deixe-o”, os locutores bradavam que estes “maus brasileiros” deveriam deixar o país. A mãe de Bené entrou em pânico.
Não satisfeitos, os quatro foram ouvir a transmissão do jogo na casa de Joel. Logo no primeiro tempo a Rússia surpreendeu e fez 1×0. O silêncio nas redondezas foi quebrado pelos gritos e murros na mesa dos quatro torcedores. A Festa durou pouco. No segundo tempo o Brasil virou o jogo e venceu por 2×1.
Joel decidiu ficar em casa, mas os outros precisavam ir embora. E aí surgiram as pedras no caminho. Os vizinhos, ávidos por vingança, ficaram de plantão na rua esperando os “quintas-colunas”. Eufóricos, xingavam eles e suas genitoras. Até as crianças participaram do linchamento verbal indo até a porta dos refugiados e gritando em coro: “comunistas descarados, comunistas descarados, comunistas descarados”… Um torcedor mais exaltado, aos berros, sugeria o local onde a bandeira deveria ser introduzida.  Betão, Emiron e Bené ficaram confinados até altas horas quando, cansada, a vizinhança foi dormir.
Marival Guedes é jornalista e escreverá no Pimenta sempre às sextas-feiras.

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