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Boa parte dessas entidades é de fachada e não raro esconde a digital de alguém ligado ao deputado ou senador que destinou o recurso.

Daniel Thame
Nem o chamado espírito natalino ou a mudança de governo, que não muda tanto assim, contém a volúpia com que uma significativa parcela dos nossos políticos avança sobre os cofres públicos.
Se a praxe comum de alguns deputados e senadores era destinar verbas do Orçamento da União para a construção de escolas, unidades de saúde, estradas e ginásio de esportes, ficando  com um percentual do valor total dos recursos (entre 10% e 20% de acordo com cálculos conservadores); agora surge uma nova modalidade de tunga, aparentemente mais rentável e comprovadamente menos fiscalizável.
Trata-se da destinação de parte considerável da cota a que cada parlamentar tem direito no Orçamento da União para a realização de festas realizadas por entidades privadas, providencialmente registradas como instituições sem fins lucrativos.
As verbas são canalizadas através do Ministério do Turismo. Seria a manjada versão do ´pão e circo´, não fosse um pequeno detalhe: boa parte dessas entidades são de fachada e não raro escondem a digital de alguém ligado ao deputado ou senador que destinou o recurso.
Sutil como um trio elétrico numa orquestra sinfônica.
Desta forma, descobriu-se, por exemplo, que o deputado Gim Argelo destinou recursos para uma entidade, que repassou 550 mil reais para que uma tal Radio Nativa FM divulgasse a festa. A Nativa FM  -só coincidência, claro- pertence ao filho de Gim Argelo, que até dias atrás era nada mais nada menos que o relator do Orçamento da União no Congresso Nacional.
E que uma deputada do Amapá mandou 5 milhões de reais para uma entidade que tem como sede uma casa sem placas…em São Paulo! E que um deputado do Distrito Federal destinou 3 milhões de reais para empresas fantasmas. E que um deputado de Goiás despachou 2 milhões e 700 mil reais para uma empresa de eventos em nome de um jardineiro. Seguem-se um monte de ´e ques´, visto que a lista é imensa e suprapartidária.
Como é mais difícil fiscalizar os gastos com festas do que com obras, lá vão os recursos para as micaretas (ou picaretas!), festas de São João (´cai  cai milhão, aqui na minha mão´) e quetais, enquanto a patuléia se vira na fila da matrícula escolar e do pronto socorro e a juventude pena com a falta de espaços para esportes.
E lá vamos nós, cidadãos comuns, a fazer o nobre papel de palhaços nessa festança/gastança o para a qual somos involuntariamente convidados, já que é o dinheiro dos nossos impostos que financia essa gatunagem, quando deveria financiar serviços públicos de qualidade.
Daniel Thame é jornalista, blogueiro e autor do livro Vassoura.
Leia o Blog do Thame

3 respostas

  1. Até aí, nada de novo…
    Em 1985, Fernando Lyra, ministro da Justiça do Sarney (escolhido pelo Tancredo), tinha centenas de “associações filantrópicas” de fachada, que recebiam dinheiro do governo federal e ninguém sabia pra onde ia.
    Quem foi do SNI na época conhece muito bem a história.
    Os dados foram obtidos pelo Serviço de Informações da Aeronáutica.
    Não posso dizer mais!
    Aqui na Bahia, até a Cesta do Povo “financiava” festas nos governos Acemê/Paulo Souto e Cia.

  2. Deu pra advinhar porque o Lyra ficou tão pouco tempo no governo do Sarney?
    Estávamos no início da redemocratização… O Lyra no governo, especialmente ocupando a pasta da Justiça, não agradava aos militares.
    Por isso, caiu!
    Como a imprensa não noticiou os motivos da exoneração, devo imaginar que o conteúdo da Informação não vazou.
    Devido ao longo tempo afastado do Sistema de Informações e Inteligência e pela atual insignificância de tornar esse conhecimento ostensivo, posso fazer essa divulgação.

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