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Uma simples grosseria num ponto de ônibus reflete uma situação inaceitável, porque ela retrata um mundo que valoriza extremamente a beleza e a juventude, como se beleza e juventude fossem eternas.

Daniel Thame | www.danielthame.blogspot.com

A cena, ocorrida num ponto de ônibus de Itabuna, é banal. Um sujeito de meia idade, bem vestido, se prepara para entrar no coletivo, quando tem sua passagem interrompida por uma mulher negra, de presumíveis 70 anos, que, com dificuldade, tenta descer pela porta da frente, prerrogativa que a idade lhe garante. A mulher está acompanhada pelo neto, que tenta ajudá-la a descer.

E o que faz o sujeito de meia idade?

Estende a mão para a mulher e a ampara, num gesto de civilidade e cavalheirismo?

Qual nada!

O que ele faz é dirigir, para que todos ouçam, uma série de impropérios contra a mulher, acusando-a de estar atrapalhando sua passagem e de não saber nem andar de ônibus.

A velha apenas sorri, diante de constrangimento de alguns passageiros, desce do ônibus e segue seu caminho, talvez acostumada a dissabores desse tipo.

Dentro do ônibus, o homem de meia idade, jeito de espertalhão e tirado a engraçadinho, ainda completa a grosseria:

– Velho tem mais é que ficar trancado em casa. Essa aí só anda de ônibus porque é de graça…

A cena, como já se disse, é banal, mas não deveria ser.

Ela reflete a falta de respeito para com as pessoas que chegam na idade outonal e precisam ser tratadas com carinho, atenção. Uma falta de respeito que se observa nos pontos de ônibus, nas filas de banco (apesar dos caixas preferenciais), nos hospitais e postos de saúde, na falta de acessibilidade e de espaços adequados.

Ela reflete a tremenda falta de consideração com que pessoas que trabalharam a vida toda e, na velhice, são humilhadas dentro e fora de casa, como se fossem seres imprestáveis, descartáveis.

Não são nem imprestáveis nem descartáveis.

Ao contrário, são pessoas que podem contribuir com suas experiências de vida ou merecem desfrutar de uma velhice relativamente tranqüila, ao lado dos filhos, netos e amigos.

Uma simples grosseria num ponto de ônibus reflete uma situação inaceitável, porque ela retrata um mundo que valoriza extremamente a beleza e a juventude, como se beleza e juventude fossem eternas.

O imbecil que cometeu a grosseria com a velhinha no ônibus (símbolo de tantos imbecis que maltratam os idosos) talvez não se dê conta que dentro de alguns será ele quem precisará de ajuda até para utilizar transporte coletivo.

Nesse dia, em vez do deboche, espera-se que alguém lhe estenda as mãos, porque é assim que tem que ser.

Daniel Thame é jornalista, blogueiro e autor de Vassoura.

0 resposta

  1. Caro Daniel,

    Esse tipo de situação, que você narra, já é tão frequente que não nos estarrece. Lamentavelmente, a banalização que o ser humano confere ao seu próximo, máxime aos idosos, hoje em dia, em vez de nos causar repulsa, infelizmente vai sendo retroalimentada pela indiferença da sociedade cada vez mais divorciada dos valores morais e éticos que costumavam nortear-lhe os caminhos.

    Ao aplaudir a sua reação – como reação de contentamento pela fidelidade que devoto aos seus talentosos textos – desejo dizer que, ainda não tivesse o seu talento, não escreveria diferente, uma vírgula sequer, do que você escreveu.

    Inquestionavelmente, os velhos, mais que atenção prioritarís-sima e respeito absoluto, merecem o nosso carinho e devota-mento.

    E essa compreensão de nada valerá se for apenas uma disposição de lei ou um dogma de filosofia comportamental escrito nos livros. Para ser eficaz, carece de ser uma legenda inscrita nos corações das pessoas, desde a infância.

    Parabéns !

  2. Pois é Daniel. Estes fatos são corriqueiros não só nos ônibus, mas em quase todos os lugares. Não sei, mas tem horas que penso, que certas pessoas não deveriam existir no seio da sociedade.
    Ainda bem que a morte existe. Já pensou se este tipo de gente não morresse?

  3. De fato é uma situação corriqueira, estarrecedora, constrangedora…
    Além disso, tem a questão dos assentos prioritários que muita gente não respeita. Por que sentar-se nesses lugares que são destinados a um público específico? Ver idoso fazendo longas viagens em pé enquanto jovens viajam sentados em seus lugares é no minimo desrespeitoso.
    Uma vez – num ônibus indo para o Salobrinho – , após a chegada de um idoso, vi o cobrador informar gentilmente a um passageiro que aquele lugar era prioritário. Penso que esta deveria ser uma prática frequente entre eles. Quem sabe assim as pessoas ficassem mais atentas a estes lugares e aos idosos de modo geral. Precisamos educar as crianças e nos educarmos.

  4. Pode aontecer em qualquer lugar (ainda que não seja uma estrebaria), mas, na Bahia esse tipo de “comportamento” é mais corriqueiro.

    Aqui, o “véi” ou a “véia”, como alguns se referem, são comparados a lixo.

    Sou baiano, mas vivi muito tempo fora… Retornei à Bahia com 48 anos, hoje tenho 60. Assustei-me quando aqui cheguei e vi a forma como os mais idosos são tratados.

    Repito. Não que isso não aconteça em outros lugares…

    Imaginem o bairro de Copacabana, no Rio. Não conheço nenhum lugar que concentre uma população na terceira idade maior do que Copa. Nunca presenciei por lá o deboche com que os idosos são tratados aqui. Muito pelo contrário, há uma atenção toda especial com essas pessoas, especialmente na condição de sonsumidoras, que são. Comércio, bares, restaurantes, clubes, teatros, casas de shows, estrutura de transportes, acessibilidade, empresas de turismo, tudo está voltado para o melhor atendimento possível a essas pessoas.

    Não ficam dentro de casa como a maioria aqui (talvez pelos maltratos). São encontrados nos calçadões, caminhando, andando de bicicleta, no interior das academias de fitness, jogando volei, futvolei ou frescobol nas areias, nas praças, em uma gama de lugares onde são também encontrados jovens e pessoas de meia idade.

    No Rio observa-se um respeito extraordinário ao idoso, o que infelizmente não se observa por aqui. Talvez, por essa razão, eu sinta-me muito mais à vontade no Rio do que aqui, na minha Terra. Caso volte a morar por lá, já sei que poderei disputar o Campeonato de Futebol Society Saldanha da Gama, no Clube Naval (Bairro da Lagoa), na categoria 60 anos ou mais. E, sobretudo, que serei respeitado pelos meninos que frequentam o o clube e que voltarei a jogar as peladas de sábado e domingo junto com eles, a exemplo do que fazia há 10 anos.

    Nesse tempo que estou aqui (10 anos) estou receando ficar bronco ou em transformar-me num ogro (diferente do Shrek, que é amável). Por isso, não me sai da cabeça o retorno ao lugar onde passei mais da metade dos meus 60 anos.

    Enquanto por aqui estiver, além da prática docente no CPM Ilhéus, vou me divertindo com o meu Blog – http://www.oarietenanet.blogspot.com. E, também, torcendo para que saiamos do tempo das cavernas.

  5. Parabéns Daniel por abordar esse tema. No semestre passado eu e meus alunos fizemos uma encenação teatral na faculdade abordando esse tipo de desrespeito aos idosos. Infelizmente as pessoas não estão acostumadas com a gentileza e muito menos preocupada em cumprir as leis.

  6. Parabens Daniel pelo seu artigo. Aqui em Ilhéus, vemos também
    situações desse tipo, como também dentro dos coletivos, onde
    pessoas jovens fazem que estão dormindo ou com aquele olhar
    distraido, só para não dar lugar aos idosos, que tem direito,
    amparados por uma lei federal. É realmente a falencia da fa-
    mília no que tange a educação, a moral e aos bons costumes.
    Abraços, Paulo Celso, ascom/uesc.

  7. tudo bem daniel gentileza gera gentileza
    mais nesse caso é violencia gera violencia!!
    e teria o maior prazer de dar uma catarrada na cara deste satanas,miseravel.me perdoe mais ñ admito que ninguem seja maltratado principalmente idoso e crianca.e acho que no pais que vivemos se ñ agirmos com violencia,acabara acontecendo sempre.vamos comecar a reclamar, gritar, bater.chamar a atencao

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