Tempo de leitura: 2 minutos

Manuela Berbert | manuelaberbert@yahoo.com.br

A procriação é algo tão perfeito que oferece a ela exatos nove meses para que se adeque, que se acostume e arrume a vida até o grande dia do nascimento.

Algumas religiões tentam explicar a morte e torná-la menos dolorosa, especialmente para quem fica. Acho extremamente válido e inteligente, inclusive. Admiro quem consegue lidar com tudo isso com muita sabedoria, calma e paz no coração. Eu, sinceramente, não faço parte desse time.

Nós, seres humanos, não sabemos e nem gostamos de perder. Não sabemos aceitar o fim de um relacionamento, mesmo quando temos a plena consciência de que ele está fadado ao insucesso; não sabemos lidar com a falência de uma empresa à qual demos o nosso suor e depositamos as nossas expectativas; não aceitamos, muitas vezes, nos desfazer de roupas e sapatos usados, abarrotando gavetas com coisas velhas. Somos apegados. Acho que essa é a palavra mais adequada. Somos apegados ao que julgamos ser nosso, e dar adeus ao que queremos bem é algo bastante doloroso.

Vejo nas manchetes dos jornais um número cada vez maior de jovens partindo antes da hora. Sim, os jovens estão partindo antes da hora, deixando para trás vidas cheias de sonhos, expectativas e conquistas. Deixando para trás a possibilidade de ficar velhinho e sentar na varanda de casa, de pijama, e contar aos netos tudo o que a vida lhe ensinou. A sensação que tenho, diante dessa loucura que é a morte prematura, é de piedade, de compaixão. Dos jovens que se privam da vida, mas, especialmente, das mães que ficam.

Eu não sou mãe. Mas imagino que a chegada de um filho mude a vida, a rotina e os sentimentos de uma mulher para sempre. Porém, a procriação é algo tão perfeito que oferece a ela exatos nove meses para que se adeque, que se acostume e arrume a vida até o grande dia do nascimento. Na morte prematura, não. Elas são pegas de surpresa, muitas vezes no aconchego dos seus lares, sonhando com o sorriso dele, que não mais verá.

Não diminuo aqui a dor de um pai, de um irmão, de uma esposa ou de um amigo. Mas acredito que o amor de uma mãe é algo maior que ela mesma. O amor de uma mãe é semeado na gestação, na delicadeza do aleitamento, no instinto, no íntimo da mulher. E se o amor de uma mãe é assim, incomensurável, sua dor é algo que me corta o coração só de imaginar…

Manuela Berbert é jornalista e colunista da Contudo.

0 resposta

  1. boa tarde! lendo o que vc escreveu depostra realmente o que eu senti quando tive minha filha.E penso que o amor de mão é mair do que tudo nesta vida , mudamos totalmente.Mas, pena que para algumas mulhres Deus não deu esse dom de ser mãe, masmo quando o bebe ainda esta na barriga.

  2. Minha querida amiga. a MATERNIDADE É ALGO INEXPLICÁVEL. MAS O APEGO É A CAUSA DOS SOFRIMENTOS E DAS MAZELAS DA HUMANIDADE E INFELIZMENTE O MUNDO CAPITALISTA OCIDENTAL NÃO NOS ENSINOU A VIVENCIAR O DESAPEGO,DAS COISAS E DAS PESSOAS. QUANDO NOS APEGAMOS PRENDEMOS AS NOSSAS ENERGIAS A ALGO QUE NÃO NOS PERTENCE, POIS O OUTRO E SUA VIDA NÃO NOS PERTENCE, AS COISAS NÃO SÃO DURADOURAS E É POR ISSO QUE DEVEMOS NOS DESAPEGAR E ENTENDER O SEGUINTE: QUANDO ALGUÉM QUE AMAMOS MORRE NÃO DEIXAREMOS DE SENTIR SAUDADES OU FALTA, MAS O QUE NÃO PODEMOS É FAZER DESSA PERDA UM GRANDE ATRASO EM NOSSAS VIDAS. VEJA O QUE DIZ O BHAGAVAD GITA:

    O verdadeiro renunciante é somente aquele que nada deseja e nada recusa, inatingido pelos opostos, tanto no seu agir como no seu desistir; não afetado nem por esperança nem por medo.

    Difícil tarefa, herói, é alcançar o estado de renúncia sem ação e sem que o espírito da fé penetre o coração. O sábio que, pela força da verdade, renuncia a si mesmo, integra-se em Brahman.

    Esse é puro de coração, forte no bem e senhor de todos os seus sentidos; a sua vida está a serviço da vida de todos, e ele realiza todas as ações sem ser escravizado por nenhuma delas.

    Quem tudo faz sem apego ao resultado dos seus atos faz tudo no espírito de Deus, e, como a flor de lótus, incontaminada pelo lago em que vive, permanece isento do mal.

    Quem a tudo renuncia, jubiloso, alcança, já agora, a mais alta paz do espírito; mas quem espera vantagem das suas obras é escravizado pelos seus desejos.

    Quem vive firmemente consolidado na consciência de Brahman não sucumbe à alegria, na prosperidade, nem à frustração, na adversidade – mas remonta à claridade sem nuvens e se integra na Divindade.

    Quem preserva sua alma livre de todas as coisas que vêm de fora realiza o seu verdadeiro EU, atinge a Paz Profunda, a beatitude do verdadeiro ser.

    As alegrias que brotam do mundo dos sentidos encerram germes de futuras tristezas; vêm e vão; por isso, ó príncipe, não é nelas que o sábio busca a sua felicidade.

    Feliz é aquele que, durante a vida terrestre, consegue libertar-se dos impulsos que geram paixão e ódio, estabelecendo-se firmemente no espírito da união com Deus.

    Todos os que, libertos de ódio e paixões, fortes na humildade e iluminados pela fé, superaram o seu ego humano e realizaram em si o Eu divino, todos eles se aproximaram da verdadeira Paz em Deus.

    BJS E FIQUE EM PAZ

  3. Manuela, parabéns pela matéria.Suas palavras me emocionaram,sobretudo,porque ainda não sou mãe, mas a dor de perder um filho realmente foge o entendimento.Nasci e me criei em Itabuna,hoje moro em Salvador e fico profundamente triste em saber das notícias recorrentes de jovens(grande parte amigos e conhecidos) que tem suas vidas ceifadas tão prematuramente em nossa cidade, principalmente pelo trânsito.Discernimento para os jovens que ficam!Força e fé p/ as mães que choram!

  4. Manuela, eu sou mãe da Carol Gonzaga, que deixou um comentário para voce. Concordo con tudo que a Carol escreveu. Que tal fazermos uma campanha, para alertar os jovens, sobre a violencia no transito.

  5. Zelão diz: – Uma mulher, pronta para ser mãe

    Sou pai e avó, mas sempre nutri a certeza de que ninguém representa melhor o amor filial, que as mães.

    O seu artigo sintetiza bem a força do amor materno. Simboliza o amadurecimento de uma mulher, além dos nove meses da gestação, no qual a presença da nova vida por ela gestada ultrapassa a data do nascimento na forma do grande presente, para se perpetuar por toda a vida, na alegria e, notadamente, na tristeza da perda.

  6. Amei seu texto, Manuela! E só pra completar, compartilho algo que escrevi que tem a ver com esse incomparável amor de mãe!
    Grande abraço!

    Então compreendo tudo que todas as mães já disseram pra mim: “ser mãe realmente é padecer no paraíso”. Descobri que o que mais importa não é saber se seu filho vai ser menino ou menina, mas sim se será saudável e perfeito. Descobri além, que ser saudável e perfeito não é mais importante do que ser amado.

    De repente os nove meses nunca passam, e, de repente, chega o nono mês, ou o oitavo, como no meu caso. Em que vivi momentos de angústia durante vinte e dois dias, mas que finalmente tudo passou, e tudo deu certo. Brinco que pari duas vezes: a primeira quando realmente dei a luz e a segunda, quando saí com minha filha nos braços após aqueles difíceis dias de hospital.

    Aprendi que ter uma mãe quando se é mãe, é uma das coisas mais importantes da vida. Porque naquele momento ainda sem jeito, em que acalentar seu filho não adianta para fazê-lo parar de chorar, o “anjo avó” vai saber como acalmá-lo e acalma-la também.

    Não existe coisa mais linda do mundo do que ver seu bebê dormindo. É uma cena divina, onde se percebe o quanto Deus foi generoso com você e o quanto aquele pequeno ser precisa de seus cuidados. O amor é o ingrediente pra isso. Apenas o amor, porque assim o cuidar se torna simples e fácil.

    Tem dias em que se torna impossível dormir. Mamadas, troca de fraldas, choro sem razão. Quer dizer, sem razão pra você, mãe de primeira viagem. E então percebi que não adianta ter besteira: você acaba dando o chazinho ainda no primeiro mês, a fórmula infantil pra ajudar a sustentar o pequeno, pois, segundo os mais velhos, o seu leite não é capaz de sustentar.

    E vêm as descobertas: o bebê gritou, sorriu, agora faz vários sons com a boca, e agora dá muitas gargalhadas, e já segura o bico sozinho, segue você com olhar e faz o biquinho mais lindo e especial do mundo quando quer te convencer a pega-lo no colo. Bebês sabem o que fazem!

    E quando está no primeiro mês, você quer que ele cresça, pra enfim parar de chorar tanto…e quando chega o quinto mês, alívio. Agora tudo está melhorando e então você não quer mais que ele cresça.

    Então você se dá conta de que um dia ele vai crescer de verdade e não há nada que possa reverter essa realidade. E pior: vai passar pela adolescência, vai arrumar uma paquera, vai te preocupar quando sair com os amigos, e vai sair de casa pra viver sua própria vida.

    Vai, Beatriz, vai viver sua vida. Eu continuarei aqui, “padecendo no paraíso.”

  7. Manuela mais uma vez venho te parabenizar pelo artigo. Pelas belas palavras.
    Ser Mãe ultrapassa qualquer palavra, qualquer gesto, além do amor. A juventude que tem suas vidas interrompidas,ceifadas no ‘amadurecer’, no ‘viver da experiência’ tem sido cada vez mais constante. Como se isso tornasse algo normal, comum.
    Seja por um imprudência no trânsito, por envolvimento com drogas, seja por mero desvio de caráter, estamos nos conformando com essa nova realidade, estamos nos adequando, aprendendo a conviver de modo natural com tamanha atrocidade.
    Somos surpreendidos com notícias de mortes, assassinatos e outros e no máximo que sentimos é revolta (de uma juventude que tem sido desperdiçada, cruelmente perdida pela marginalização, ou melhor, pelas carnificinas mundanas) ou pena ( de uma mãe, família, amigos)que perderam seus entes e se vêem completamente vazios, ocos, como se um buraco existisse dentro de cada um.

    Para muitos, ser mãe é uma dádiva. Para mim, é a incerteza!!! Ou melhor, é a certeza de os pais perderão seus filhos e os filhos morreram primeiro que seus pais. A ordem da vida foi alterada e para muitos acabou perdendo o sentido.

  8. Manu, mesmo longe venho acompanhado seu trabalho e gostado muito do que vejo… Seu texto está do jeito que gosto, profundo e com sentimento. Bj grande

  9. Parabéns pelo texto, muito bonito e emocionante!!
    Sábias palavras em um momento onde tantas coisas dessa natureza vêm acontecendo. Força e fé para os que ficam e conscientização para todos os jovens!! Bjoss!!

  10. Nada mais sublime e difícil é reconhecer que filhos são um pedaço de nós que andam livres por aí, fora de nosso alcance, muitas vezes em companhias de quem jamais andaríamos. E muitas vezes gritam para nós “não se meta com a minha vida!”. E as mães acompanham com o coração aflito, os filhos que se perdem na noite densa, que enveredam no mundo do crime, e que elas mesmas tem que visitar na cela de um presídio, sem nada poder fazer.

    Constantemente choro quando vejo notícias de violência e logo me bate no coração, uma dor que deve ser fraca, apesar de pungente, ao lembrar da mãe de agredidos e agressores…

    Então, a certeza: Todos somos um… Ser mãe, é mesmo, padecer no paraíso

  11. Nada mais sublime e difícil é reconhecer que filhos são um pedaço de nós que andam livres por aí, fora de nosso alcance, muitas vezes em companhias de quem jamais andaríamos. E muitas vezes gritam para nós “não se meta com a minha vida!”. As mãesacompanham com o coração aflito, os filhos que se perdem na noite densa, que enveredam no mundo do crime, que elas mesmas tem que visitar na cela de um presídio, sem nada poder fazer.

    Constantemente choro quando vejo notícias de violência. Logo me bate no coração, uma dor que deve ser fraca, apesar de pungente, ao lembrar da mãe de agredidos e agressores… A mãe de quem partiu porque ingenuamente não lhe deu ouvidos.

    Então, a certeza: Todos somos um… Ser mãe, é mesmo, padecer no paraíso.

  12. só quem sabe a hora de partir é Deus. Ele é quem determina quanto tempo vc vai permanecer na terra. Você não pode afirmar que pessoas jovens estão partindo antes da hora ja que você não sabe se aquela realmente era a hora dele não é? Só Deus sabe quando e como cada uma vai desencarnar para o plano espiritual. A vida não tem FIM, nossa passagem pela Terra é passageira.

  13. Manu
    Falar na dor e na delicia de ser mâe é muito relativo ao tempo vivido. Apesar de ser o melhor presente ganho na vida enviado por DEUS, é também a mais díficil missão terrena. Amamos tanto que esquecemos de nós, e passamos a viver por eles. Daí chega o dia em que eles precisam ser eles mesmos e nos colocam em nossos mundos, mais como, se já não sabemos mais viver a nossa própria vida? vida esta que foi em prol de sua felicidade, onde a sua felicidade é a nossa. E agora? precisamos recomeçar, e tentar entender o recomeço, dar os primeiros passos da nossa própria criação, de que hoje eu preciso aprender andar sosinha e com novo norte pra minha vida, é muito penoso e difícil, porém creio que consiguirei, afinal este é o processo de todo amor maternal, criamos nossos filhos para viver e quando eles assumem suas vidas não somos mais ninguém… Beijos em teu coração, apesar de você ainda não ter sido agraciada pela maternidade, és linda e com certeza serás uma excelente mãe.
    Obs. Quando um filho vai embora, mesmo que não seja para viver em outro universo, doi a dor maior do mundo… é inverso da alegria de os ter. Volta ao colo da tua mãe e a beija muito… neste dia das mães.

Deixe aqui seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *