O CACOETE, ANTIGO INIMIGO DA LINGUAGEM”
Dentre os vícios que nossa linguagem oral adquire, um dos mais incomodativos é o cacoete – o uso repetitivo de palavra ou expressão. Conheci um prefeito de Itabuna que era incapaz de fazer uma frase sem antecedê-la de um “realmente”. Criava-se uma situação esdrúxula nas entrevistas. Por exemplo, se algum puxa-saco lhe perguntava como estava passando de saúde, a resposta vinha mais ou menos neste formato: Realmente, eu estou… E este nem é dos piores. Ruim mesmo é quando o cacoeteiro usa perguntas (sabe, entendeu, percebe?). O ex-jogador Pelé termina 99,99% das frases com uma amolante interrogação: entende?
UMA EXECUÇÃO “TREMENDAMENTE DOLOROSA”
Em Ilhéus, famoso professor de História do lendário I. M. E. (na foto de Mendonça) tinha, apesar de sua riqueza vocabular, predileção pelos termos “tremendo” e “doloroso”. Toda ocorrência incomum, chocante, era para ele “uma coisa tremenda” (ou “dolorosa”). “Certos” alunos anotavam as vezes em que ele dizia tais palavras e, ao fim da aula, não raro discutiam: “quatro tremendos e dois dolorosos”, dizia um; “foram quatro tremendos e três dolorosos”, contestava o outro. Certo dia, o mestre, emocionado ao descrever, em cores vivas, a execução de Tiradentes, disse ter sido aquilo um ato… “tremendamente doloroso”. Foi difícil conter nosso entusiasmo.
ILUSTRE, ELEGANTE, PREPARADO E ÍNTEGRO
PINTURA COM SOBRAS DE TINTA ROXO-TERRA
ABRIL DESPEDAÇADO QUE NUNCA TERMINOU
Não pretendo perder de vista que há 47 anos, naquele abril despedaçado de 1964, ocorreu no Brasil um golpe militar de consequências desastrosas. E no conjunto da burrice que se institucionalizou no país – quando algumas das maiores inteligências nacionais foram engessadas – aparece com destaque a tentativa de prisão de famoso teatrólogo, que, felizmente para as nossas relações diplomáticas com a Grécia, não aconteceu. Aliás, tal prisão seria uma absoluta impossibilidade histórica, só admissível por um governo que não tinha cabeça. Aconteceu no Teatro Jovem, no Rio de Janeiro, no fim dos anos 60.
MULHER MORRE POR CONTESTAR LEI INJUSTA
Levava-se a tragédia Antígona, de Sófocles, peça escrita há mais de quatro séculos a.C. Recorde-se que Antígona é irmã de Etéocles e Polinice, e os três são filhos de Édipo (aquele mesmo!), que morrera tragicamente. Os dois irmãos morrem em luta (um contra, outro a favor de Tebas). Creonte, o governador, determina que um dos mortos, o que era “amigo” da cidade, tivesse honras fúnebres e ao outro, “traidor”, tudo fosse negado – e seria também traidor quem não cumprisse esse édito. Antígona se insurge contra a decisão e o governador, seu cunhado, a condena à morte. Creonte acha que todos são iguais perante a lei.
“AI DE MIM!”, O GRITO DOS TORTURADOS
CARNE FRITA, A LENDA, PASSOU POR AQUI
A citação do livro Malagueta, Perus e Bacanaço, há dias, trouxe à baila o nome de Carne Frita (Walfrido Rodrigues dos Santos), a maior lenda da sinuca no Brasil. Sua fama foi feita no boca a boca, num tempo em que a mídia não divulgava o joguinho, considerado coisa de vagabundo. Mesmo assim, terminou na televisão e no cinema. Alagoano de Penedo (há quem diga que ele nasceu em Propriá/SE), viajou muito pelo Brasil. Em Itabuna, teria perdido para Rui Falcão (provavelmente o maior jogador que o Sul da Bahia já teve), num match memorável travado no Elite Bar. Ganhou poucos títulos: quando a sinuca foi organizada como esporte ele teve a visão prejudicada por um acidente. Mora em São Paulo, e joga raramente.
ITABUNA JÁ PRODUZIU UM GRANDE CAMPEÃO
O itabunense Rui Matos de Amorim, o Rui Chapéu (foto), foi motorista de caminhão até os anos 70, quando largou a atividade para viver do seu talento, a sinuca. Conta que não fez isso antes devido ao preconceito que tinha de enfrentar (o jogo era tido como coisa de malandro). Embora tenha uma penca de títulos, Rui não gostava de competir no Brasil, pois os prêmios são pagos em troféus. “Os campeonatos não rendem prêmio em dinheiro, e eu precisava levar dinheiro para casa. Nós não íamos comer as taças”, brinca. Da segunda metade dos 80 até 1992, deu aulas de sinuca na Rede Bandeirantes, transmitidas aos domingos. Seu maior feito foi, em1981, vencer o inglês Steve Davis, campeão mundial.
NOEL “FECHA”, NA MAIOR TACADA POSSÍVEL
Noel Rodrigues Moreira, o Noel, 39 anos, é de Roncador (área rural do Paraná), e um dos mais temidos tacos da nova geração. Desde os sete anos se interessava pelo joguinho (próximo à casa dele havia um boteco, com uma velha mesa, sua primeira experiência). Aos 18, já em Curitiba, deslumbrou-se com o estilo do goiano Roberto Carlos, intensificou os treinamentos e se profissionalizou. Dentre os títulos conquistados, estão os de campeão estadual (várias vezes), campeão brasileiro (duas vezes) e campeão sul-americano. Aqui, ele dá uma demonstração de como “fechar” o jogo, com a maior tacada possível: 112 pontos (observe que ele faz a proeza de encestar a bola sete treze vezes).
(O.C. )