Tempo de leitura: 3 minutos

Ailton Silva | ailtonregiao@yahoo.com.br

Bandidos eram nomeados governadores de capitanias e a lei punia apenas os criminosos pobres.

O livro 1808, um excelente trabalho investigativo do jornalista Laurentino Gomes, ajudou-me a entender melhor o porquê de tantas autoridades brasileiras, ex-políticos e grandes empresários livrarem-se de condenações depois de flagrados em esquemas de corrupção.

E melhor: hoje, compreendo, de forma cristalina, como um ex-vaqueiro tornou-se milionário “trabalhando” como político; e um ex-presidiário é eleito e passa a vender-se como moralizador do bem público. O engraçado é que há quem compre.

A obra de Laurentino ajuda-nos a entender porque o pagamento de propina é encarado como normal por parte dos brasileiros e porque muitos servidores públicos (escrevi muitos, não todos) acham que não precisam cumprir bem a sua função.

É raro o funcionário público buscar oferecer um atendimento humanizado; aliás, muitos levam meses sem bater o ponto, viajam para fazer compras para seus comércios e acreditam cegamente que não estão cometendo nenhuma falta grave.

Quem fiscaliza isso? Ninguém. Eu mesmo, que sou um dos patrões e pago o salário através dos impostos, nunca me importei quando não fui diretamente afetado, tenho que confessar.

Mas, todos nós, somos vítimas desses maus hábitos que foram praticamente oficializados com o desembarque da Família Real portuguesa no Brasil, em 1808. Ou alguém acredita que muitas prefeituras pelo País a fora inventaram esse negócio de contratar centenas de funcionários que só aparecem na hora de sacar o salário, os conhecidos fantasmas? Nessa época, conta o jornalista Laurentino Gomes, muitos funcionários públicos nem conheciam sequer os locais em que estavam lotados.

Os protegidos políticos, aqueles que vivem carregando a bandeira do candidato no período da campanha, são beneficiados desde muito antes do povo sonhar com eleição direta para  a escolha dos seus  “representantes”.

O príncipe regente (isso mesmo, ele só foi coroado rei em 1818, após a morte da rainha Maria I) Dom João VI chegou ao Brasil trazendo entre 10 e 15 mil pessoas, que durante anos foram sustentadas pelo erário.

Ainda mais grave que isso foi o fato de muitos conselheiros do príncipe terem enriquecido cobrando propina dos grandes fazendeiros já estabelecidos na mais rica Colônia de Portugal. Até serviçais mais espertos se tornaram homens ricos.

A esculhambação não parava por aí. Bandidos eram nomeados governadores de capitanias e a lei punia apenas os criminosos pobres. O acesso à educação e ao sistema de saúde era para poucos. Há muita diferença do que ocorre hoje no Brasil “democrático”?

É verdade que o País evoluiu em muitos aspectos com a fuga da Família Real para cá. Ma o pagamento de propina, o esquema para desviar dinheiro e a premiação para o servidor ineficiente fazem parte de um conjunto de maus hábitos do passado, que não conseguimos nos livrar. Será que vamos conseguir um dia?

Ah, a família Real saiu de Portugal para escapar de um ataque do imperador francês Napoleão Bonaparte. O livro 1808 traz toda a história dessa fuga desesperada da família de Dom João VI e a relação promíscua estabelecida na época. Eu fiz uma viagem deliciosa, acho que você, leitor do Pimenta, também vai amar o livro. Agora, estou partindo para 1822, outra obra do jornalista Laurentino Gomes.

Ailton Silva é repórter d´A Região, editor do Jornal das Sete, da Morena FM, e assessor de imprensa.

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Ailton Silva | ailtonregiao@yahoo.com.br

Bandidos eram nomeados governadores de capitanias e a lei punia apenas os criminosos pobres.

O livro 1808, um excelente trabalho investigativo do jornalista Laurentino Gomes, ajudou-me a entender melhor o porquê de tantas autoridades brasileiras, ex-políticos e grandes empresários livrarem-se de condenações depois de flagrados em esquemas de corrupção.

E melhor: hoje, compreendo, de forma cristalina, como um ex-vaqueiro tornou-se milionário “trabalhando” como político; e um ex-presidiário é eleito e passa a vender-se como moralizador do bem público. O engraçado é que há quem compre.

A obra de Laurentino ajuda-nos a entender porque o pagamento de propina é encarado como normal por parte dos brasileiros e porque muitos servidores públicos (escrevi muitos, não todos) acham que não precisam cumprir bem a sua função.

É raro o funcionário público buscar oferecer um atendimento humanizado; aliás, muitos levam meses sem bater o ponto, viajam para fazer compras para seus comércios e acreditam cegamente que não estão cometendo nenhuma falta grave.

Quem fiscaliza isso? Ninguém. Eu mesmo, que sou um dos patrões e pago o salário através dos impostos, nunca me importei quando não fui diretamente afetado, tenho que confessar.

Mas, todos nós, somos vítimas desses maus hábitos que foram praticamente oficializados com o desembarque da Família Real portuguesa no Brasil, em 1808. Ou alguém acredita que muitas prefeituras pelo País a fora inventaram esse negócio de contratar centenas de funcionários que só aparecem na hora de sacar o salário, os conhecidos fantasmas? Nessa época, conta o jornalista Laurentino Gomes, muitos funcionários públicos nem conheciam sequer os locais em que estavam lotados.

Os protegidos políticos, aqueles que vivem carregando a bandeira do candidato no período da campanha, são beneficiados desde muito antes do povo sonhar com eleição direta para  a escolha dos seus  “representantes”.

O príncipe regente (isso mesmo, ele só foi coroado rei em 1818, após a morte da rainha Maria I) Dom João VI chegou ao Brasil trazendo entre 10 e 15 mil pessoas, que durante anos foram sustentadas pelo erário.

Ainda mais grave que isso foi o fato de muitos conselheiros do príncipe terem enriquecido cobrando propina dos grandes fazendeiros já estabelecidos na mais rica Colônia de Portugal. Até serviçais mais espertos se tornaram homens ricos.

A esculhambação não parava por aí. Bandidos eram nomeados governadores de capitanias e a lei punia apenas os criminosos pobres. O acesso à educação e ao sistema de saúde era para poucos. Há muita diferença do que ocorre hoje no Brasil “democrático”?

É verdade que o País evoluiu em muitos aspectos com a fuga da Família Real para cá. Ma o pagamento de propina, o esquema para desviar dinheiro e a premiação para o servidor ineficiente fazem parte de um conjunto de maus hábitos do passado, que não conseguimos nos livrar. Será que vamos conseguir um dia?

Ah, a família Real saiu de Portugal para escapar de um ataque do imperador francês Napoleão Bonaparte. O livro 1808 traz toda a história dessa fuga desesperada da família de Dom João VI e a relação promíscua estabelecida na época. Eu fiz uma viagem deliciosa, acho que você, leitor do Pimenta, também vai amar o livro. Agora, estou partindo para 1822, outra obra do jornalista Laurentino Gomes.

Ailton Silva é repórter d´A Região, editor do Jornal das Sete, da Morena FM, e assessor de imprensa.

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