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Marival Guedes | marivalguedes@yahoo.com.br

 

De repente, num ato cinematográfico, ele se joga nas águas.

 

José de Almeida Alcântara (1904-1968), o maior populista da história do sul da Bahia, (duas vezes prefeito de Itabuna e uma vez deputado) costumava se emocionar em quase todos os discursos.

Certa vez, numa sala de aula formada por crianças no colégio Emílio Garrastazu Médici (é vergonhoso uma instituição de ensino permanecer com este nome), o prefeito falou sobre educação e, quando se lembrou de uma negra que dele cuidava, chorou.

Calmamente, puxou um lenço branco do bolso e enxugou as lágrimas.
Alcântara foi o protagonista das duas maiores ações demagógicas que já ouvi falar na história política. Na primeira, um engraxate lustrava seus sapatos na Avenida do Cinquentenário quando um eleitor se aproximou e pediu dinheiro. O prefeito argumentou que já havia feito as doações do dia e puxou as partes internas dos bolsos vazios. Mas, observando que o pedinte estava descalço, surpreendentemente, tirou os sapatos e entregou-lhe.

Alcântara não tirou as meias e foi caminhando para sua casa na rua Ruffo Galvão. Os cabos eleitorais fizeram o maior barulho e saíram espalhando a noticia sobre a bondade daquele “santo homem”.

Outra cena (esta parece ficção) aconteceu em Itapé, à época distrito de Itabuna. O Rio Colônia estava cheio e o prefeito foi ver a situação das pessoas que moravam às suas margens. Uma moça começa a se afogar. Alcântara ameaça se atirar ao rio para salvá-la, mas ninguém leva a sério a encenação. De repente, num ato cinematográfico, ele se joga nas águas. O mais grave: não sabia nadar, detalhe que quase provoca a morte da pobre moça já que os salva-vidas deram prioridade ao “herói”.

 

Marival Guedes é jornalista.

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