Tempo de leitura: 4 minutos

Ricardo Ribeiro | ricardoribeiro@pimentanamuqueca.com.br
 

O brasileiro, cordeirinho, passivo e anestesiado, vai “levando”.

 
Gostei muito de um texto em que a professora Valéria Ettinger fala sobre solidariedade e, mais que isso, acerca da responsabilidade de cada um de nós com o coletivo. Fala sobre a importância de se sentir parte da estrutura política e ser sujeito ativo, participante, atuante.
Há muito tenho pensado em como os brasileiros se habituaram a uma incompreensível passividade com tudo o que ocorre da porta pra fora. Povo se tornou um ente quase imaginário, o que é público não é de ninguém, que se dane se o lixo está espalhado na rua, se as praças estão mal-cuidadas, se não há espaços de lazer e se roubam aceleradamente no Ministério dos Transportes. Fazer o quê? Paciência!
Esse comportamento chamou atenção de um jornalista estrangeiro, que afirmou não entender como os brasileiros são tão conformados com tanta displicência e roubalheira. Além do conformismo, tem o costume, que é bem pior nesse caso. Por aqui, chegou-se ao ponto de acharem a safadeza dos políticos coisa normal e inerente à atividade deles. Eliminar esse entendimento e forjar uma sociedade que reaja diante do descalabro que a cerca talvez seja o maior desafio desses tempos.
Sonho com o dia em que o brasileiro se entenda como parte e não como vítima de todo esse processo. Que assuma o controle do seu destino e não aceite ou espere algo “de cima”. Cada um pode e deve cumprir o seu papel, pois, como bem diz a professora Valéria, de que é feito o Estado senão de nós mesmos? Quem são os políticos senão aqueles que, entre nós, escolhemos para nos governar e representar?
Somos parte de tudo isso e não meros espectadores de escândalos enxertados entre novelas e que muitas vezes até se confundem com obra de ficção. Falta ao brasileiro fazer o link entre a corrupção noticiada e os serviços públicos precários, a cidade mal-cuidada e os impostos escorchantes camuflados em todos os preços.
Divulgou-se recentemente que o Brasil é um dos países mais caros para se viver. Os aluguéis e diárias de hotel têm valores mais elevados no Rio e em São Paulo do que em Paris e Nova York. Os mesmos carros chegam a custar o dobro no País, tudo por conta de uma carga tributária abusiva, da qual não se vê retorno. O brasileiro, cordeirinho, passivo e anestesiado, vai “levando”.
Ricardo Ribeiro é um dos blogueiros do PIMENTA.
Clique no link abaixo para ler o artigo da professora Valéria Ettinger.

SER SOLIDÁRIO! QUE BICHO É ESSE?

Valéria Ettinger | lelaettinger@hotmail.com
 

Mas, quem é esse Estado? Ora, esse Estado sou eu na minha forma institucional, fui eu quem o criou, sou eu que o administro.

Estava lendo a crônica de Marta Medeiros “O Café do Próximo” relatando o feito de uma livraria no Rio de Janeiro que tem a prática de um cliente, que queira, deixar pago o café do próximo cliente. A autora conclui dizendo: “Mas de uma coisa não tenho dúvida: esse exemplo pequeníssimo de boa vontade terá que um dia ser ampliado por todos nós. Vai ter uma hora em que a gente vai ter que parar de blá, blá, blá e fazer alguma coisa de fato. Ou a gente estende a mão pro tal do próximo, ou o próximo vai continuar exigindo o dele com uma faca apontada pra nossa garganta”.
Ao ler isso fiquei pensando: Será, de fato, que estamos na era da solidariedade? Será que as pessoas compreenderam qual é o papel delas no contexto social? Creio que não.
Vivemos em uma sociedade que se acostumou com os benefícios verticais, com isso o Estado tornou-se o braço forte que vai me sustentar e tem a obrigação de mudar a realidade em que vivo.
Mas, quem é esse Estado? Ora, esse Estado sou eu na minha forma institucional, fui eu quem o criou, sou eu que o administro, sou eu que o comando, sou eu que digo o que deve fazer. Então porque eu também não faço a minha parte? Porque sempre estamos esperando que alguém faça alguma coisa. Onde está nosso espírito de solidariedade? Porque sempre repetimos os mesmos erros e elegemos os membros sociais que nada fazem ou fazem errado?
A nossa constituição diz em várias passagens “É dever do Estado e da Sociedade…” Então cadê essa sociedade que não realiza, mas critica?
O Estado não é o responsável, exclusivo, pelas mazelas sociais, pois nós, como membros sociais, somos responsáveis quando não mudamos essa realidade. Quando não usamos de pequenos gestos como o do cafezinho para ajudar alguém. O processo de mudança não acontece, apenas, com grandes feitos, mas as pequenas ações são capazes de alterar para  melhor a nossa vida e dos nossos pares.
O mundo pede mais alteridade para com o próximo, pois cada um de nós é responsável pelo bem-estar do outro. Podemos sim, alcançar um mundo possível, um mundo no qual a riqueza do planeta não esteja concentrada nas mãos de, somente, 400 famílias e que um dia a faca que é empunhada para nos agredir, seja uma mão amiga para nos levantar.
Valéria Ettinger é professora universitária.

0 resposta

  1. Zelão diz: – A “involução”: – Assim caminha o brasileiro!
    Se a indignação ainda existe no sentimento do povo brasileiro, “dorme em berço esplêndido” como cantado no nosso Hino Nacional. Já não nos indignamos com nada. Estamos envoltos pela letargia da “involução” do sentimento coletivo.
    Em recente artigo publicado no Jornal O Globo, Caetano Veloso destacou: – “Milhões de brasileiros lotam as avenidas em procissões ou caminhadas, em defesa da sua fé religiosa;
    Outros tantos milhões desfilam “alegremente” empunhando a bandeira da liberdade gay;
    Milhares participam da marcha em defesa da “descriminalização da maconha;”
    Centenas de mulheres estão marchando no que elas mesmas denominam de “A Marcha das Vadias,” exigindo respeito aos “machões” ao modo de se vestir e de agir das mulheres. Porém, não se ouviu falar que nem mesmo míseros dez brasileiros tenham ousado conclamar um ato de manifestação pública contra a corrupção no país.
    Nem mesmo os exemplos populares sangrentos que pipocam mundo afora convocados através das redes sociais, derrubando governos corruptos, foram capazes de motivar nosso povo, tão afeito a copiar modismo mundo afora.
    Retrocedemos desde o tempo em que fomos às ruas em defesa ou contra a “redentora de 64.” Quando demos as mãos e pacificamente enfrentamos a repressão, em defesa das “Diretas Já.” Fomos firmes e corajosos, mesmo nos deixando levar como massa de manobra dos portentosos, quando “pintamos a cara” para defenestrar um presidente que havia nos prometido combater a corrupção e nela havia se envolvido.
    Começamos a perder a capacidade de nos indignar, a partir do momento histórico que aceitamos como verdadeiro o slogan: – “Rouba mais faz.” Hoje, diante do mar de lama que se espraia sobre toda máquina pública brasileira, nos calamos resignados, talvez vivendo um sentimento de conformismo coletivo: – “Eu nasci assim, vou morrer assim…!”

  2. É FACÍL ENTENDER MEU CARO RICARDO…
    SIMPLESMENTE PORQUE O CONCEITO DE “POVO”, OU SEJA, AQUELE QUE RECLAMA E EXIGE, BASICAMENTE ESTÁ COMPRADO OU SIMPLISMENTE É O PETISMO MAIS DESCARADO!!!!
    VEJAM A UNE, A CTB, OS SINDICATOS DOS MAIS DIVERSOS SEGUIMENTOS E AS ONGS!!!!! TODAS MUDAS, APATICAS CALADAS!!!!
    A UNE ALÉM DE SER SUSTENTADA PELO GOVERNO ACABOU DE RECEBER UM PREDIO PARA SUA SEDE E HOJE ELES ANADAM CALADINHOS…
    OS SINDICATOS NEM SE FALA… DE “SALVADORES DO MUNDO” PASSARAM A DEFENDER UM SALARIO MINIMO DIGNO DE ESMOLA. NEM DE LONJE JAIRO E COMPANIA PARECIAM OS GUERREIROS DO COMERCIO!!!!
    POR AÍ VAI A VACA… LULA ACABOU DE DIZER QUE A VERBA DE PROPAGANDA DEVERIA SER AUMENTADA, EMPRESTA DINHEIRO A BOLIVIA, EQUADOR E VENEZUELA ENQUANTO NOSSA SAÚDE SE ESMIGALHA!!!!!!!
    É MENSALÃO, ALOPRADOS, SANGUESSUGAS, CONSULTORIAS, FRAUDES EM LICITAÇÕES, MAFIA NOS FUNDOS DE PENSÃO, ROUBO NA BANCOOP, CARNE PRO MST, FRAUDES NO INCRA, LOTEAMENTO DOS CARGOS PUBLICOS, MAFIA NOS SINDICATOS, PAULINHO LAND ROVER, DOLAR NA CUECA, PASSAPORTES “ESPECIAIS”, QUEBRA DE SIGILOS……
    SEI QUE O PT NÃO INVENTOU A CORRUPÇÃO, MAS COM CERTEZA ELE BANALIZOU E A TRANSFORMOU EM COISA DA “IMPRENSA”!!!!!!
    PARABENS RICARDO, OTIMO ARTIGO!!!!!

  3. Sr Ricardo,
    Não existe maior exemplo de passividade civil como ocorreu em nossa região cacaueira. O crime da vassoura-de-bruxa foi confirmado pela Polícia Federal, e foi o primeiro registro de um ato infame de terrorismo biológico contra uma lavoura!
    Nas regiões afetadas pelas consequências, parece que o crime não existiu!

  4. Obrigada Ricardo pela citação. E te digo mais tá mais do que na hora de nos libertarmos da escravidão da política e sermos mais resolutivos. Os nossos políticos não tem resolutividade nenhuma vivem blasfemano, prometendo e brigando com interesses pessoais para demonstrar quem tem mais poder. E nós assistimos passivos a tudo isso.

  5. O texto da professora e do senhor Ribeiro isentam o Estado de suas responsabilidades. Zelão está certo: devemos nos indignar contra esse “passar as mãos” na cabeça do Estado como se a culpa fosse nossa e chamar os agentes públicos responsáveis que deem conta de seus deveres.

  6. È o que já disse até em outros posts, qd me organizar mais financeiramente me pico desse País.Vou morar e criar meus filhos sem medo em algum País da Europa, de preferencia Italia onde de lá tenho descendência Italiana, e parente por lá.Brasil não é país de gente não, to fora, em breve, literalmente fora daqui.

  7. Nós nos acostumamos a deixar que o estado resolva o nosso destino, como se fosse um “Pai”. So que este Pai já percebeu que os seus filhos cada dia estão mais alienados então manipula prometendo a cada quatro anos educação, saúde etc… e nos acreditamos. Falamos de violencia achando que e somente qdo. nos aponta uma arma. Mas, roubar dinheiro da merenda escolar, da saúde também e uma maneira de violencia ainda maior, quantas pessoas deixam de ser beneficiadas.Gente,acorda não precisamos de lei para tirar os fichas suja basta votarmos com inteligência, dignidade.

  8. PELOS COMENTÁRIOS DOS LEITORES E O PARAGRAFO FINAL DE RICARDO, PERCEBO QUÊ O QUE A PROFESSORA FALOU E BEM, NÃO FOI ENTENDIDO.
    ELA FALA DA NOSSA PARTE, DA NOSSA RESPONSABILIDADE, DA NOSSA CULPA(ATÉ ELEGENDO MAL)ELA FALA DA NOSSA INERCIA DE TELESPECTADOR (E DIGA-SE DE PASSAGEM GLOBAL).

  9. Parabens Ricardo pelo artigo.
    O que percebo é que nos ultimos tempos as pessoas desenvolveram este comportamento tão passivo devido
    a falta de punição em meio de tantos escandalos politicos na esfera federal e regional mesmo. Em meio a tanta descrença elas foram deixando de “sentir” e desenvolver a arte de pensar em manifestações na busca de mudanças para o bem coletivo.
    E realmente só teremos um mundo melhor se estas mudanças começar em nós mesmo nos pequenos gestos dintae do próximo. Pois se não continuaremos assim, “humano sem” sem ser um “Ser humano” que pensa, que sente, e busca pela transformação do seu “Eu” e da sua relação com o próximo.

  10. Parabéns Ricardo! Sábias palavras, mas acredito que o problema é que todos somos iguais, ou seja, seres humanos ALTAMENTE CORRUPTÍVEIS. Quem disser o contrário, é hipócrita!
    Que Deus tenha misericórdia de TODOS NÓS!

Deixe aqui seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *