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Valéria Ettinger | lelaettinger@hotmail.com
 

O caminho ao pleno desenvolvimento humano através da educação segue caminho inverso de uma educação conteudista, voltada para os índices.

 
Estava lendo o artigo de Thomaz Wood Jr. na revista Carta Capital que relata dois casos que não encontro um adjetivo para classificá-los.
Primeiro retrata o caso de uma mãe na Indonésia que denunciou à mídia local que “seu filho, durante um exame nacional, fora forçado por seus próprios professores a passar suas respostas para colegas menos capazes”. Essa mãe fez a denúncia porque a escola não aceitou a sua reclamação. Após a divulgação da mídia os professores justificaram seu comportamento com base nas pressões que as escolas sofrem para conseguir bons resultados nos exames nacionais para obter recursos do governo.
Do outro lado do planeta, na cidade de Atlanta nos EUA, foi descoberto que professores forneciam as respostas aos estudantes e permitiam que alunos com baixo desempenho escolar copiassem dos colegas mais capazes e até preenchiam eles mesmos as folhas de respostas. Isso tudo ocorreu para a obtenção de premiações e recursos governamentais relacionados a resultados excepcionais alcançados pelos estudantes.
Esse quadro não é diferente no Brasil, pois considera-se uma boa educação aquela que mais aprova em exames nacionais e concursos públicos, resultando, a meu ver, uma educação mecanicista voltada aos resultados.
Esse modelo de educação poderá, até, promover uma seleção das melhores instituições de ensino, mas jamais poderá promover o pleno desenvolvimento da pessoa, o seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho, como diz a Constituição Federal de 1988 em seu art. 205.
O caminho ao pleno desenvolvimento humano através da educação segue caminho inverso de uma educação conteudista, voltada para os índices, pois nesse modelo de educação o estudante é um mero reprodutor de uma linguagem já sedimentada, de um conteúdo já construído e de uma orientação apenas aos resultados e não prepara o homem conforme suas habilidades e competências.
Como desenvolver um homem se ele não é tratado de forma singular sendo um ser diferente? Como desenvolver um homem se a educação não produz autonomia? Como desenvolver um homem se o conhecimento é apenas um meio para a obtenção de uma carreira ou de um salário?
Nesse modelo de educação o homem não é o objeto principal, mas é o meio para a obtenção de resultados. Esse modelo de educação gera uma padronização de desempenho. Nesse modelo de educação não se valoriza as habilidades. Esse modelo de educação está criando uma sociedade de estressados e depressivos. E por fim, esse modelo de educação não produz a libertação como diz o prof. Paulo Freire, mas expõe o homem a um padrão de sucesso, que longe estará de ser o caminho ao seu pleno desenvolvimento.
Valéria Ettinger é professora universitária.

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  1. Exatamente!
    Lembrando do seu texto anterior que li aqui no pimenta, gostaria de cita que todos os envolvidos no processo educacional: estado, docentes,pais e alunos pressionam no mesmo sentido: o estado = índices; os docentes = carga horária; os pais = o diploma; e os alunos = terminar logo.
    Responsabilidade é de toda sociedade.

  2. Excelente o artigo! Infelizmente como todos nós sabemos, vivemos na Sociedade do Ter e não do Ser!!! Por isso procuro sempre valorizar as pessoas e buscar nelas o que elas tem de melhor.
    Um grande abraço a todos!

  3. Prezada Professora Valéria,
    É claro que a educação não pode ser burocrática e meramente funcional, mas não se pode chegar ao extremo que muitos defendem de que qualquer cobrança de desempenho é ruim e que o conteúdo é dispensável.
    E, sinceramente, estamos muito longe da paranóia de performance em exames que se vê no Japão ou outros lugares. O que mais vemos aqui são estudantes saindo da escola sem nenhum conteúdo aprendido. Isso sim é uma tragédia.

  4. muito bonitinho seu discurso cara colega, mas um tanto utópico não? pois há quem discorde de seu lindo artigo, eu por exemplo discordo, sei que vivo no mundo capitalista onde só vencem e passam nos concursos e vestibulares da vida os “melhores”, sim é os melhores, causou espanto? digo os melhores àqueles mais bem preparados para vencer esse cruel e seletivo mercado e trabalho que aí está, e em se tratando de educação todas as minhas caras coleguinhas dizem isso, que esse sistema atual de educação do município está ótimo, mas nenhuma de minhas nobres colegas tem sequer um filho matriculado na rede. Ou seja,meros discursos infundados…falam de macanicismo, arrotam que o ensino está retrógarado, mas seus amados filhinhos estão nas escolas onde o ensino é o mais tradicional possíevel!!! Eu não possuo filhos, mas sofri muito nesse sistema público de fingir que ensina e fingir que se aprende, não quero que meus futuros filhos passem por isso, por isso, não queira aparecer na mídia como a redentora com novas idéias revolucionárias pra educação, a Educação não precisa de novas nomenclaturas, de rótulos, precisa sim de práticas, conteúdos meeeesmo!!! pergunte aos mais velhos se desta eles não aprendiam? agora querem por palavras bonitas pra não dizerem nada com nada!!! rs
    P.S nada contra você, aliás nem a conheço, mas vamos cair na realidade né? modernidades à parte, prefiro o método tradicional e que ensine.
    ops. é só minha opinião!!! todos teem direito disso né? afinal somos ou não somos país democrático? rsrs…
    espero que postem minha opinião, Obrigada!!!

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