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Celina Santos | celinasantos2@gmail.com

Lamenta-se apenas que só agora um escândalo de corrupção seja, efetivamente, punido. Porque as mazelas decorrentes da indignidade dos homens públicos não datam da atualidade. Falando, porém, dos fatos mais recentes, cogita-se que o próprio instituto da reeleição tenha custado milhões ao nosso bolso

Peço licença para iniciar esse texto parafraseando o jornalista Arnaldo Jabor, que joga com maestria ao usar as palavras: “Por ironia do destino, o ministro Joaquim Barbosa, bisneto de escravos, é quem liberta o Brasil da impunidade”. Neste ano de 2012, todos nós, brasileiros, vemos brilhar na televisão um homem negro, do tipo que não teria espaço para ser protagonista da novela das 9. Mas é o personagem principal de uma real e contemporânea novela: O Julgamento do Mensalão.

O hoje ministro Joaquim Barbosa, filho de pedreiro e dona-de-casa, que estudou em escola pública, foi alvo de “n” piadas racistas na escola e nas festas de aniversário a que ia quando menino. Mas eis que surge gigante na sala de nossas casas. É grandioso porque não se curva diante da corrupção, é firme em seus princípios e faz uma leitura tão sensata dos fatos que não deixa alternativa aos seus pares, a não ser votar pela condenação dos réus.

Joaquim, que tem nome, aparência e origem comuns à maior parte dos brasileiros, enche de orgulho essa nação tão massacrada pelos escândalos protagonizados por nossos “representantes”. Ele é digno de aplausos até mesmo quando recusou todos os convites para jogar futebol junto a políticos no Palácio da Alvorada. Simplesmente, não queria suposições maldosas maculando a imagem dele.

O nobre ministro, o primeiro negro a ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF) e o primeiro a chegar à presidência da suprema corte da Justiça brasileira, torna-se referência para outros negros. Muito mais do que isso: virou ícone para todos os homens e mulheres, crianças e adultos, brancos e negros que primem pela dignidade acima de tudo.

Barbosa, com a coragem de dizer “basta” à impunidade, inaugura uma nova era no Brasil. Chegou a hora de os corruptos pensarem duas vezes antes de desviar milhões dos cofres públicos, comprometendo saúde, educação, saneamento e tantos outros setores que levariam à tão sonhada – e muitas vezes distante – qualidade de vida para a população.

Lamenta-se apenas que só agora um escândalo de corrupção seja, efetivamente, punido. Porque as mazelas decorrentes da indignidade dos homens públicos não datam da atualidade. Falando, porém, dos fatos mais recentes, cogita-se que o próprio instituto da reeleição tenha custado milhões ao nosso bolso, já achacado pelas maiores taxas de impostos do mundo. Àquele momento, nada denunciado nem punido. Passou.

Mas jamais passou nem passará nossa indignação com as tentativas de se burlar a lei e a responsabilidade com a coisa pública. Estaremos sempre à espera de alguém que seja nossa voz e faça valer os “direitos iguais” previstos em nossa bela legislação. E veio o também nosso Joaquim Barbosa. Como diz uma hilária postagem no Facebook, “Batman é para os fracos; o meu herói é negão!”.

Se essa negona aqui tivesse a chance de ficar frente a frente com Joaquim Barbosa, certamente iria beijar-lhe a mão. Não porque se trata de um Excelentíssimo Senhor Ministro do Supremo Tribunal Federal. Mas, sobretudo, porque é um homem cuja direção aponta para a retidão de caráter. Por isso, pode impor respeito aonde quer que vá. Esse Negão (assim mesmo, como letra maiúscula) acrescentou à bandeira do Brasil a cintilante cor da Justiça. Com toda reverência que ele merece, dá-lhe Joaquim Barbosa!

Celina Santos é chefe de redação do Diário Bahia.

23 respostas

  1. É simplesmente grave e RIDÍCULO o estardalhaço que a mídia está fazendo porque um Ministro do Supremo está CUMPRINDO SUA OBRIGAÇÃO. É um sinal que as coisas não vão bem neste país. Outra: a competência dele independe da cor, mas os OPORTUNISTAS fazem questão de realçar esse fato irrelevante NESSE CASO. Como escreveu Azarão acima: “Acorda meu povo!!!!!” O texto simplesmente ressalta o nível mental dos “falantes” merdiáticos!

  2. Começou mal o texto colocando frases de um jornalista (não duvido da sua inteligência)que de fato não leva as problemáticas do Brasil a sério. Com relação ao Ministro não tenho duvida da sua honradez, mais tenho duvidas da sua imparcialidade na açao 470(mensalao)para quem criticou muito Gilmar Mendes percebo o encantamento dele pelo seu espaço atual na midia. E esse episódio aclamado pelos mesmos canais( Globo e Veja)já vimos em tempos outros que o povo brasileiro esqueçe: o “caçador de marája” e já conheço o meio e fim. A Hstória se repete. “Vale pena ver de novo?”

  3. CEL,

    o texto está maravilho. Joaquim é realmente um orgulho para todos os brasileiros sérios. Um exemplo não só de honestidade, é uma comprovação viva de que as pessoas carentes precisam estudar para mudar de classe social. Quem fica se achando coitadinho, nunca mudará a própria realidade. Joaquim Barbosa está entre aqueles que cumprem, com maestria, o seu papel de cidadão e jurista.

  4. É uma pena que não consigamos exergar com a exata nitidez a justiça ou a injustiça das punições da ação penal 470, como enxergamos com tanta clareza as injustiças sociais.

  5. Este homem proprocionou ao povo Brasileiro?
    Tomei conhecimento que têm máscara de carnaval retatando o rosto do Sr.Ministro elelito do Supremo Tribunal Federal. Espero encontrá-la aqui a venda em Itabuna para que eu possa comprar a minha e usar o rosto de Joaguim Barbosa. Os ladrês
    e salteadores de estradas vão correr diante de mim,sendo o principal dele o meliante chefe dos bandidos do PT. O luís Inácio Lula da Silva. Sr.Ministro o senhor é a alma das Familias, dos homens,das mulheres,das crianças do povo Brasileiro,o senhor resgator a qualidade que vale a pena ser honesto neste país. Sentimento de prazer,de grande satisfação sobre algo que é visto com alto honrável de valor e honra.

  6. de fato ele esta cumprido com o seu dever de julgar ,mas não esqueçamos que um dia um outro que tinha à mesma função disse.- Não vejo neste homem crime algum!- Mas devido a pressão à qual a ele foi imposta ,deixo que o povo o jugasse e depois lavou as mãos ,ai então o criminoso mesmo sendo criminoso foi (absolvido) e o inocente mesmo sendo inocente foi (condenado).- E ele estava só usando o direito que ele tinha de deixa o povo escolher entre um ou o outro .-Sendo assim ele estava usando um direito que sua função li dava.

  7. AMIGO ¨AUGUSTUS¨;

    Lamento te dizer,que ridículo e sem nexo são as suas colocações.O texto de Celina, está muito rico e apropriado.

  8. Justiça sem prova para mim não é justiça.Para mim esse Barbosa é um pau mandado da globo e da revistinha veja.Condenar um cidadão como José Dirceu, com um passado,esse sim, heróico.Se hoje temos liberdade,democracia.. devo a cidadãos como José Dirceu.Condenou DIRCEU sem provas,perdeu a moral!

  9. Amigo Wilson;

    Ao escrever, esteja atento ao uso de vírgulas,ponto de continuação ou parágrafo.Procure melhor contextualizar,para facilitar a compreensão do leitor.

  10. Nao passa de um Torqueamada, ou alguém aqui no blog é tao ingenuo que nao desconfiou da “coincidencia” eleiçao com julgamento, muitos que descorreram acima inclusita a missivista pelo jeito sao amantes do PIG (Partido da Imprensa Golpista) Justiça hoje mudou realmente alem dos 03 “P” agora teremos que acrescentar mais um: petista, ou alguem aqui nao sabe que ha queixa de Barbosa por bater em mulher e as feministas tentaram proibir sua nomeaçao, alem obvio que tentou nas vias de fato “Bater” em seu colega Eros Grau, sera que no MENSALAO MINEIRO, privataria tucana, lista de furnas, etc, o comportamento sera tao energico, balela! este julgamento é unico e a propria jurisprudencia só seria para o mesmo, é sem duvida um julgamento de exceçao prova maior é a flexibilizaçao das leis somente para este caso leiam o professor Wanderlei Guilherme, Luiz Flavio Gomes, Fabio Konder comparato e deixam de ser alienados.

  11. Senhora Celina Santos

    O discurso que contempla heroismo, sensatez, origem de classe social e de cor e reverência pode ser considerado destituído de juízo de realidade.

    O Supremo deve cumprir a obrigação de primar pela justiça. E Muitas vezes pode não satisfazer os desejos da opinião pública e da população em geral.

    Em geral, há um descrédito em relação à justiça. O que a senhora diria se o caminho fosse inverso? Ou seja, se o relator absorvesse a maioria dos réus? Haveria sensatez?

    O revisor faz uma análise mais técnica do que política. O revisor julga com base em provas presentes nos autos. Ele mesmo disse que não acredita em papai noel e solicitou aos colegas que apresentasse provas nos autos, ja que não vota por suposição. Se o revisor não é herói, ele é o que mesmo?

    A mídia que já exerce forte infuência no Supremo prima pela espetacularização. Esse é um procedimento perigoso. O conceito de justiça sofre abalos. Ora, sempre fico preocupado quando as pessoas dizem “queremos justiça”. De qual justiça as pessoas (opinião pública) estão falando?

    O revisor ao fazer julgamento mais técnico do que político não está preocupado com críticas da mídia e da população em geral. Também imagino que por agir dessa maneira, não fica preocupado com desmoralização da jsutiça.

    A espetacularização atingiu o próprio relator que se imbuiu de um super poder no Supremo. Questionou o voto da colega e disse não estar convencido dos argumentos feitos por ela para absorveu um dos réus. A réplica veio mais ou menos da seguinte forma: “não é vossa excelência quem precisa estar convencido. Sou eu quem preciso estar convencida”.

    Senhora chefe de redação, mesmo diante do que manifestei aqui, penso que posso considerar seus argumentos como juízo de valor e não juízo de fato.

    Ailson Oliveira
    Professor

  12. Ramatis Jacino: O sonho do ministro Joaquim Barbosa
    O racismo, adotado pelas oligarquias brasileiras para justificar a exclusão dos negros no período de transição do modo de produção escravista para o modo de produção capitalista, foi introjetado pelos trabalhadores europeus e seus descendentes, que aqui aportaram beneficiados pelo projeto de branqueamento da população brasileira, gestado por aquelas elites.

    Por Ramatis Jacino, no AfroPress

    Negros que escravizam e vendem negros na África, não são meus irmãos
    Negros senhores na América a serviço do capital, não são meus irmãos
    Negros opressores, em qualquer parte do mundo, não são meus irmãos…
    (Solano Trindade)

    Impediu-se, assim, alianças do proletariado europeu com os históricos produtores da riqueza nacional, mantendo-os com ações e organizações paralelas, sem diálogos e estratégias de combate ao inimigo comum. Contudo, não há como negar que o conjunto de organizações sindicais, populares e partidárias, além das elaborações teóricas classificadas como “de esquerda”, sejam aliadas naturais dos homens e mulheres negros, na sua luta contra o racismo, a discriminação e a marginalização a que foram relegados.

    No campo oposto do espectro ideológico e social, as organizações patronais, seus partidos políticos e as teorias que defendem a exploração do homem pelo homem, que classificamos de “direita”, se baseiam na manutenção de uma sociedade estamental e na justificativa da escravidão negra, como decorrência “natural” da relação estabelecida entre os “civilizados e culturalmente superiores europeus” e os “selvagens africanos”.

    É equivocada, portanto, a frase de uma brilhante e respeitada filósofa negra paulistana de que “entre direita e esquerda, eu sou preta”, uma vez que coloca no mesmo patamar os interesses de quem pretende concentrar a riqueza e poder e àqueles que sonham em distribuí-la e democratizá-la. Afirmação esta, que pressupõe alienação da população negra em relação às disputas políticas e ideológicas, como se suas demandas tivessem uma singularidade tal que estariam à margem das concepções econômicas, de organização social, políticas e culturais, que os conceitos de direita e esquerda carregam.

    As elites brasileiras sempre utilizaram indivíduos ou grupos, oriundos dos segmentos oprimidos para reprimir os demais e mantê-los sob controle. Capitães de mato negros que caçavam seus irmãos fugidos, capoeiristas pagos para atacarem terreiros de candomblé, incorporação de grande quantidade de jovens negros nas polícias e forças armadas, convocação para combater rebeliões, como a de Canudos e Contestado, são exemplos da utilização de negros contra negros ao longo da nossa história.

    Havia entre eles quem acreditasse ter conquistado de maneira individual o espaço que, coletivamente, era negado para o seu povo, iludindo-se com a idéia de que estaria sendo aceito e incluído naquela sociedade. Ansiosos pela suposta aceitação, sentiam necessidade de se mostrarem confiáveis, cumprindo a risca o que se esperava deles, radicalizando nas ações, na defesa dos valores dos poderosos e da ideologia do “establishment” com mais vigor e paixão do que os próprios membros das elites.

    A tragédia, para estes indivíduos – de ontem e de hoje -, se estabelece quando, depois de cumprida a função para a qual foram cooptados são devolvidos à mesma exclusão e subalternidade social dos seus irmãos.

    São inúmeros os exemplos deste descarte e o mais notório é a história de Celso Pitta, eleito prefeito da maior cidade do país, apoiado pelos setores reacionários, com a tarefa de implementar sua política excludente. Depois de alçado aos céus, derrotando uma candidata de esquerda que, quando prefeita privilegiou a população mais pobre – portanto, negra – foi atirado ao inferno por aqueles que anteriormente apoiaram sua candidatura e sua administração.

    Execrado pela mídia que ajudou a elegê-lo, abandonado por seus padrinhos políticos, acabou processado e preso, de forma humilhante, de pijama, algemado em frente às câmeras de televisão. Morreu no ostracismo, sepultado física e politicamente, levando consigo as ilusões daqueles que consideram que a questão racial passa ao largo das opções político/ideológicas.

    A esquerda, por suas origens e compromissos, em que pese o fato de existirem pessoas racistas que se auto intitulam de esquerda, comporta-se de maneira diversa: foi um governo de esquerda que nomeou cinco ministros de Estado negros; promulgou a lei 10.639, que inclui a história da África e dos negros brasileiros nos currículos escolares; criou cotas em universidades públicas; titulou terras de comunidades quilombolas e aprofundou relações diplomáticas, econômicas e culturais com o continente africano.

    Joaquim Barbosa se tornou o primeiro ministro negro do STF como decorrência do extraordinário currículo profissional e acadêmico, da sua carreira e bela história de superação pessoal. Todavia, jamais teria se tornado ministro se o Brasil não tivesse eleito, em 2003, um Presidente da República convicto que a composição da Suprema Corte precisaria representar a mistura étnica do povo brasileiro.

    Com certeza, desde a proclamação da República e reestruturação do STF, existiram centenas, talvez milhares de homens e mulheres negras com currículo e história tão ou mais brilhantes do que a do ministro Barbosa.

    Contudo, nunca passou pela cabeça dos presidentes da República – todos oriundos ou a serviço das oligarquias herdeiras do escravismo – a possibilidade de indicar um jurista negro para aquela Corte. Foi necessário um governo de esquerda, com todos os compromissos inerentes à esquerda verdadeira, para que seu mérito fosse reconhecido.

    A despeito disso, o ministro Barbosa, em uníssono com o Procurador Geral da República, considera não haver necessidade de provas para condenar os réus da Ação Penal 470.

    Solidariza-se com as posições conservadoras e evidentemente ideológicas de alguns dos demais ministros e, em diversas ocasiões procura ser “mais realista do que o próprio rei”. Cumpre exatamente o roteiro escrito pela grande mídia ao optar por condenar não uma prática criminosa, mas um partido e um governo de esquerda em um julgamento escandalosamente político, que despreza a presunção de inocência dos réus, do instituto do contraditório e a falta de provas, como explicitamente já manifestaram mais de um dos integrantes daquela Corte.

    Por causa “desses serviços prestados” é alçado aos céus pela mesma mídia que, faz uma década, milita contra todas as iniciativas promotoras da inclusão social protagonizadas por aquele governo, inclusive e principalmente, àquelas que tentam reparar as conseqüências de 350 anos de escravidão e mais de um século de discriminação racial no nosso país.

    O ministro vive agora o sonho da inclusão plena, do poder de fato, da capacidade de fazer valer a sua vontade. Vive o sonho da aceitação total e do consenso pátrio, pois foi transformado pela mídia em um semideus, que “brandindo o cajado da lei, pune os poderosos”.

    Não há como saber se a maximização do sonho do ministro Joaquim Barbosa é entrar para a história como um juiz implacável, como o mais duro presidente do STF ou como o primeiro presidente da República negro, como já alardeiam, nas redes sociais e conversas informais, alguns ingênuos, apressados e “desideologizados” militantes do movimento negro.

    O fato é que o seu sonho é curto e a duração não ultrapassará a quantidade de tempo que as elites considerarem necessário para desconstruir um governo e um ex-presidente que lhes incomoda profundamente.

    Elaborar o maior programa de transferência de renda do mundo, construir mais de um milhão de moradias populares, criar 15 milhões de empregos, quase triplicar o salário mínimo e incluir no mercado de consumo 40 milhões de pessoas, que segundo pesquisas recentes é composto de 80% de negros, é imperdoável para os herdeiros da Casa Grande. Contar com um ministro negro no Supremo Tribunal Federal para promover a condenação daquele governo é a solução ideal para as elites, que tentam transformá-lo em instrumento para alcançarem seus objetivos.

    O sonho de Joaquim Barbosa e a obsessão em demonstrar que incorporou, na íntegra, as bases ideológicas conservadoras daquele tribunal e dos setores da sociedade que ainda detém o “poder por trás do poder” está levando-o a atropelar regras básicas do direito, em consonância com os demais ministros, comprometidos com a manutenção de uma sociedade excludente, onde a Justiça é aplicada de maneira discricionária.

    A aproximação com estes setores e o distanciamento dos segmentos à quem sua presença no Supremo orgulha e serve de exemplo, contribuirão para transformar seu sonho em pesadelo, quando àqueles que o promoveram à condição de herói protagonizarem sua queda, no momento que não for mais útil aos interesses dos defensores do “apartheid social e étnico” que ainda persiste no país.

    Certamente não encontrará apoio e solidariedade nos meios de esquerda, que são a origem e razão de ser daquele que, na Presidência da República, homologou sua justa ascensão à instância máxima do Poder Judiciário.

    Dos trabalhadores das fábricas e dos campos, dos moradores das periferias e dos rincões do norte e nordeste, das mulheres e da juventude, diretamente beneficiados pelas políticas do governo que agora é atingido injustamente pela postura draconiana do ministro, não receberá o apoio e o axé que todos nós negros – sem exceção – necessitamos para sobreviver nessa sociedade marcadamente racista.

    Fonte: AfroPress

  13. onardo Boff: Justiça ou preconceito jurídico?

    publicado em 4 de outubro de 2012 às 21:22

    A espetacularização e a ideologização do Judiciário

    Leonardo Boff, no Brasil de Fato
    Para não me aborrecer com e-mails rancorosos vou logo dizendo que não estou defendendo a corrupção de políticos do PT e da base aliada, objeto da Ação Penal 470 sob julgamento no STF. Se malfeitos forem comprovados, eles merecem as penas cominadas pelo Código Penal. O rigor da lei se aplica a todos.
    Outra coisa, entretanto, é a espetacularização do julgamento transmitido pela TV. Aí é ineludível a feira das vaidades, o vezo ideológico que perpassa sobre a maioria dos discursos.
    Desde A Ideologia Alemã de Marx/Engels (1846) até Conhecimento e Interesse de J. Habermas (1968 e 1973) sabemos que por detrás de todo conhecimento e de toda prática humana age uma ideologia latente. Resumidamente podemos dizer que aideologia é o discurso do interesse. E todo conhecimento, mesmo o pretende ser o mais objetivo possível, vem impregnado de interesses. Pois assim é a condição humana. A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. E todo o ponto de vista é a vista de um ponto. Isso é inescapável. Cabe analisar politica e eticamente o tipo de interesse, a quem beneficia e a que grupos serve e que projeto de Brasil tem em mente. Como entra o povo nisso tudo? Ele continua invisível e até desprezível?
    A ideologia pertence ao mundo do escondido e do implícito. Mas há vários métodos que foram desenvolvidos, coisa que exercitei anos a fio com meus alunos de epistemologia em Petrópolis, para desmascarar a ideologia. O mais simples e direto é observar a adjetivação ou a qualificação que se aplica aos conceitos básicos do discurso, especialmente, das condenações.
    Em alguns discursos como os do Ministro Celso de Mello o ideológico é gritante, até no tom da voz utilizada. Cito apenas algumas qualificações ouvidas no plenário: o “mensalão” seria “um projeto ideológico-partidário de inspiração patrimonialista”, um “assalto criminoso à administração pública”, “uma quadrilha de ladrões de beira de estrada” e um “bando criminoso”. Tem-se a impressão que as lideranças do PT e até Ministros não faziam outra coisa que arquitetar roubos e aliciamento de deputados, em vez de se ocupar com os problemas de um país tão complexo como o Brasil.
    Qual o interesse, escondido por detrás de doutas argumentações jurídicas? Como já foi apontado por analistas renomados do calibre de Wanderley Guilherme dos Santos, revela-se aí certo preconceito contra políticos vindos do campo popular. Mais ainda: visa-se aniquilar toda a possível credibilidade do PT, como partido que vem de fora da tradição elitista de nossa política; procura-se indiretamente atingir seu líder carismático maior, Lula, sobrevivente da grande tribulação do povo brasileiro e o primeiro presidente operário, com uma inteligência assombrosa e habilidade política inegável.
    A ideologia que perpassa os principais pronunciamentos dos ministros do STF parece eco da voz dos outros, da grande imprensa empresarial que nunca aceitou que Lula chegasse ao Planalto. Seu destino e condenação é a Planície. No Planalto poderia penetrar como faxineiro e limpador dos banheiros, como aliás parece ter sido o primeiro trabalho do Ministro Joaquim Barbosa no STE. Mas nunca como Presidente.
    Ouve-se no plenário ecos vindos da Casa Grande que gostaria de manter a Senzala sempre submissa e silenciosa. Dificilmente se tolera que através do PT os lascados e invisíveis começaram a discutir política e sonhar com a reinvenção de um Brasil diferente. Tolera-se um pobre ignorante e mantido politicamente na ignorância. Tem-se verdadeiro pavor de um pobre que pensa e que fala. Pois Lula e outros líderes populares ou convertidos à causa popular como João Pedro Stedile, começaram a falar e a implementar políticas sociais que permitiram uma Argentina inteira ser inserida na sociedade dos cidadãos.
    Essa causa não pode estar sob juízo. Ela representa o sonho maior dos que foram sempre destituídos. A Justiça precisa tomar a sério esse anseio a preço de se desmoralizar, consagrando um status quo que nos faz passar internacionalmente vergonha. Justiça é sempre a justa medida, o equilíbrio entre o mais e o menos, a virtude que perpassa todas as virtudes (“a luminossísima estrela matutina” de Aristóteles). Estimo que o STF não conseguiu manter a justa medida. Ele deve honrar essa justiça-mor que encerra todas as virtudes da polis, da sociedade organizada. Então sim se fará justiça nesta país.
    Leonardo Boff é professor aposentado de Ética da UERJ

    STF será julgado por corte internacional, diz jurista
    SÓ PARA REFLETIR!

  14. Sempre admirei as açoes e conduta do ministro joaquim, não por ele ser negro e de origem pobre, mas por ser coerente, corajoso e justo. mas nesse jugamento do mensalão ele mais condenou do que jugou. em varios casos so proferiu a condenação a alguns reus pois o jugamento foi feito pela própria midia, a mesma que hoje aplaude e fazem coro como o artigo acima em enaltece-lo por condenar jose dirceu e diga-se de passagem sem provas.Quanto ao Daniel Dantas no maior caso de corrupção desse país não vi a midia elogia-lo por sua postura no caso e nem condenar Gilmar Mendes amigo íntimo demostenes torres em encaminhar harbeas corpus de madrudgada para o banqueiro bandido não dormir na cadeia. fico curioso em imaginar qual seria o teor e conteudo da chefe de redação Celina Santos se tivesse de se manifestar sobre esse episodio.

  15. Cel,

    Devias refletir melhor sobre o assunto. Este julgamento foi meramente político, sem provas. Na verdade uma grande INJUSTIÇA. Não temos do que nos orgulhar, uma condenação abusiva e injusta, já que o julgamento foi ditado pela grande mídia sensacionalista carregada de resquícios da ditadura imposta pelas elites. Nós do povo, que defendemos os direitos sociais e lutamos contra todo tipo de preconceito e opressão não podemos nos confundir com modismos, palavras fáceis, atos ditatoriais travestidos de “justos”, não podemos raciocinar através do PIG, deixar que nos emprenhem os ouvidos e a mente, devemos ler nas entrelinhas sob pena de equivocadamente contribuirmos com aqueles que sempre aviltaram nossa nação. não deixemos que os verdadeiros heróis sejam jogados aos porões do reacionarismo político antidemocrático e golpista.
    Amiga,é por admirar sua inteligência que solicito que reflita melhor. Gd bj. Ana

  16. Obrigada a todos que contribuíram com esse debate. Penso que seja mesmo necessário ler de Veja e Época a Carta Capital e Caros Amigos, passando pelo delicioso Observatório da Imprensa. Entre outras leituras, é claro. Afinal, nesse momento em que a informação é soberana como nunca, não se pode ter visão unilateral sobre nenhum assunto.
    A propósito, quem ainda não conferiu confira esse genial artigo do mestre João Ubaldo Ribeiro. Aqui está o link (http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed716_a_culpa_nao_e_da_imprensa). E viva a comunicação, que abre espaço para todos os pontos de vista. Como diz aquele velho clichê, ‘o que seria do azul, se todo mundo gostasse do amarelo?’. Abraços a todos e bom dia.

  17. E os outros mensalões que acontecem em todo Brasil, nas camaras e prefeituras, nas assembléias dos estados e certamente ainda a nível federal, só que agora mais velado. O problema todo reside nos cabelos de sansão, o problema é caráter, retidão, honestidade e isso é carência nacional, tanto de governos quanto da população em geral, quer espelho melhor do que a compra de votos escancarada que aconteceu nas últimas eleições? Lamentável!!!!!!!!!!!!!!

  18. Parabéns Celina.
    Joaquim Barbosa é a prova que “sim, nós podemos!”
    Nós negros podemos galgar os espaços que pensavam que nunca conquistaríamos.
    Não podemos, contudo, nos iludir com o discurso meritocrata que desqualifica quem, de alguma maneira não conseguiu…
    Barbosa olha para os lados e se vê só. Nós negros somos a maioria do povo brasileiro, mas são raros os que ocupam os espaços de poder. É a prova que nosso país dispensou para nosso povo uma política perversa de exclusão.
    Barbosa se vê só, mas é ele que vem trazer uma pigmentação preta no Supremo Tribunal e com essa pigmentação vem os anseios por justiça.
    Como ele mesmo declarou: “sou mais razão que emoção.” Realmente é preciso. Pois se olhar para traz e tiver as mazelas como trauma e não como uma experiência, (mesmo que uma triste experiência de dificuldades), cairia por terra toda a sua argumentação do Direito e da Justiça. Fato é que se o Batman se acha um super – herói, queria ver o que seria de sua capa se ele tivesse nascido no Capão Redondo, Cidade de Deus, Morro do Alemão, Nova Califórnia, Maria Pinheiro, Bananeira e, de pele escura, tivesse de cruzar com policias, altas horas da noite nas batidas de rotina… Será mesmo que ele seria um super – herói?
    Nosso Brasil precisa de mais Joaquins, Abdias, Luiz Gamas, Ubiratâns, Luiz Albertos… Zumbís.
    Assim eu ia acreditar na Democracia Racial. Mas enquanto Joaquim Barbosa for a minoria eu, aqui, o exalto pela feito e miro meu norte como uma flecha em busca dos meus objetivos: “SIM EU POSSO!”

    Egnaldo França

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