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Karoline Vital |karolinevital@gmail.com

 

Mais do que pedidos, as cartinhas traziam sonhos. E, quanto me custaria para realizar alguns deles?

 

Na manhã do dia 25 de dezembro, pulei da cama logo cedo. A ansiedade era tanta que segurei o xixi mais um pouquinho e corri para a janela. Lá, estava o meu sapato favorito. Sapato, não. Minha conga favorita, a mais colorida de todas, berrando toda a extravagância do início dos anos 1990. Afinal, ela seria o local onde Papai Noel colocaria o meu presente.

De longe, vi que o calçado estava vazio. Dentro tinha um papel dobrado, diferente da cartinha que eu havia deixado na noite anterior. O texto era mais ou menos assim: “Karol, infelizmente, por causa das enchentes que aconteceram no Rio de Janeiro, não pude trazer o seu presentinho para atender outras crianças. Continue se comportando. Esse será o nosso segredo. Papai Noel”. A caligrafia era idêntica à do meu pai. Só a assinatura se diferenciava, mais cursiva. Apesar da decepção, guardei a cartinha dentro do meu estojo do Menino Maluquinho, que seria o meu companheiro da terceira série.

– Por que Papai Noel tem a mesma letra do senhor, pai?

– É porque você já está acostumada a ler o que eu escrevo. Então, ele deve ter imitado a minha letra para que você entendesse melhor!

O argumento era mais frágil que celular Xing-ling e não foi tão simples enganar uma menina de oito anos. Mas eu tive que me resignar. Sabia que não tinha sido Papai Noel o autor da carta. Afinal, nunca soube que o bom velhinho trabalhava em agências humanitárias.

No fundo, bem lá no fundo, queria acreditar na existência do autor. Mesmo que não tivesse me dado a tão sonhada Ferrari da Barbie, a qual nunca ganhei. E, depois do Natal de 1990, nunca mais depositei minhas esperanças em Papai Noel. Os presentes chegavam de qualquer jeito. Sem a magia do sapatinho na janela, mas também sem a sujeira da mentira. Matei Papai Noel e prometi que nunca enganaria meus possíveis futuros filhos. Para mim, o problema não era a ausência do presente, mas o incentivo em depositar minha esperança escrevendo cartas para alimentar uma farsa.

O interessante é que, neste ano, percebi que Papai Noel pode existir de verdade. Pela primeira vez, fui conferir a Campanha “Papai Noel dos Correios” e ler as cartinhas das crianças, penduradas em uma pequena árvore de natal, na agência central. Fiquei extremamente comovida. Quem sabia escrever, explicava os seus desejos em suas letrinhas tremidas. Os menores desenhavam e as professoras decodificavam.

Imaginei a ansiedade que sentiam ao exprimir seus sonhos e como eu poderia ajudar a realizá-los. Uma menina de quatro anos desenhou algo que mais parecia uma figura rupestre. Ao lado, estava escrito o brinquedo que queria: uma boneca de cabelo. Um menino, também de quatro anos, empregou todos os seus esforços em desenhar um mini game. A que mais me tocou foi a de um menino de seis anos, pedindo um livro da Disney. Falamos tanto em incentivo à leitura, o quanto ler transforma. E o garotinho demonstrava interesse nisso, finalizando a carta como se a enviasse para um grande amigo, com “Beijos. Te amo”.

Mais do que pedidos, as cartinhas traziam sonhos. E, quanto me custaria para realizar alguns deles? Virar madrinha de uma daquelas cartas não me soou uma mentira. Afinal, sei que o mito do Papai Noel acaba se desfazendo naturalmente no imaginário infantil. O meu coração doeu por saber que em minhas mãos estava a possibilidade de fazer uma criança se sentir lembrada, valorizada e que sonhar vale a pena.

Ainda dá tempo de adotar uma cartinha. A campanha nacional vai até o dia 19 de dezembro. Em Ilhéus, os presentes devem ser entregues na agência central até o dia 10. Na Bahia, as outras cidades envolvidas na campanha são: Alagoinhas, Feira de Santana, Camaçari, Itabuna, Eunápolis, Porto Seguro, Valença, Vitória da Conquista, Santo Antônio de Jesus, Ipiaú, Barreiras, Irecê, Juazeiro e Paulo Afonso.

Papai Noel pode existir de verdade. E ele pode ser eu ou você.

Karoline Vital é comunicóloga.

9 respostas

  1. Atitude enobrecedora, bonita.
    Apradinhar uma cartinha, comprar o presentinho e tentar conseguir imaginar a recepção dele, é um gesto fraterno e muito significante.
    Faço isso há algum tempo, e a cada ano sinto que fiz um pouquinho por quem sonha e vive com esses sonhos.
    Parabéns pela atitude.

  2. Lindo texto Karol, parabéns.

    Que ele sirva de incentivo para que algumas pessoas se dirijam a uma agencia dos Correios e participem desta bela Campanha.

    Poie é, É NATAL.

  3. Um Anjo!
    Acredito que numa criança Deus mostra como será uma outra vida.
    portanto,a vida ao lado de Jesus é o mesmo o que vivemos no dia a dia das crianças. Uma vida sem nenhuma malicia,este Anjo cada um
    de nós fomos um dia! Todavia,para entrarmos no reino de Jesus,voltamos a ser criança,um Anjo!

  4. é complicado atender os pedidos por que em geral são caros. acredito ser mais facil pegar 200, 300, ou o quanto puder e comprar de presentes iguais pechinchando cheger em um bairro carente de itabuna (eu sempre ia para frente do los pampas) e distribuir. da para atender a 70 80 crianças de uma vez com o valor que daria a bicicleta para uma.

  5. Aí é que está Soph. Não é bem assim. Existem pedidos de playstations e pedidos extremamente simplórios, ou seja, independente de seu potencial financeiro, dá para fazer a alegria de uma criança.

  6. Minha pricezinha,

    Lindo a lembrança, naturalmente encontraria uma campnha
    destas, mas a forma de tú fazer é sensacional, cheirão a vc
    cabeção e a pequena. MEus filhos tbem seram padrinhos.

    Solon

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