Atônito, Caboco Alencar, com sua “farmácia” assaltada na calada da noite, teria se perguntado: “Mas, por que eu?”. É duro de aceitar um mundo em que nem o boteco (refúgio de vagabundos e cavalheiros, espaço da solidariedade, do sonho e da poesia) é respeitado. Quando grandes empresas comerciais ou industriais predadoras, molas mestras do enriquecimento nem sempre lícito (muitas vezes movido a sangue dos trabalhadores) são assaltadas é maior nosso nível de compreensão. Assaltar o ABC da Noite é mais do que atentar contra o diminuto patrimônio pessoal do Caboco; é ferir de morte uma imensa nação de bebedores – ato próprio de bandidos sem coração, lirismo ou paladar.
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O mundo fica cada vez mais inabitável O ABC (justo, D. Ceslau não há de me recomendar à excomunhão por essa verdade nua) é espaço sagrado. Bem que ali, não se pode negar, possam ter surgido algumas manifestações anticlericais, motivadas por uma dose a mais de batida. Mas foram apenas engrolados discursos tentativos de consertar o vasto Brasil sem porteira, insuficientes para abalar o teto da Capela Sistina. Constato, com imensa tristeza, que o mundo se faz um lugar cada vez mais inabitável, pois nem líricos e inocentes botecos são dignos do respeito dos assaltantes, que invadiram o templo do ABC como se adentrassem um depósito de rinchona. Bem fez Eduardo Anunciação, que, em protesto antecipado, recusou-se a testemunhar tamanha heresia. COMENTE! » |
NÃO QUEREMOS A MENTIRA COMO APANÁGIO
Decidi-me a “responder” (na verdade, ninguém me perguntou nada!) a alguns comentários, o que não fiz. Poderia dizer que foi devido à “roda viva” que tritura os que escrevem com data marcada. Mas não digo, pois tenho sido invadido por completo desapreço à mentira. Expulsemo-la, portanto, do capital dos jornalistas, para integrá-la ao apanágio dos políticos, que de tal valor não podem prescindir. Se não fiz o que me prometi foi por falta de planejamento – e não se pode debitar a culpa ao lixo nas ruas e a outras mazelas pequenas e provincianas. Então, mãos à obra, como disse o prefeito, diante do indefeso cofre municipal.
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Debatedor culto, coerente e corajoso Devo informar a Yan Santos, que me propõe discutir a questão “Camilo de Jesus Lima” com o professor Adylson Machado, ser impossível a tarefa. Quando Adylson (ex-roqueiro, professor de Direito e autor de, pelo menos, dois livros) fala, eu silencio. Culto, coerente e corajoso (eis uma inesperada aliteração!), ele está mais para ser ouvido do que contestado. Mas só a sugestão já me eleva, honra e consola. Comunista da Sibéria me emocionou com a citação de Paulinho da Viola (“Se lágrima fosse de pedra eu choraria”). Bebadosamba é um dos meus discos preferidos, que ganhei de uma “amiga secreta” de bom gosto, no Natal de 1996, ainda quentinho.
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Jornalismo genial e ditadura estúpida Por fim, não gostaria que passasse em branco a dica de leitura de Ricardo Seixas, o livro Memórias do esquecimento, de Flávio Tavares. Também acho pertinente o emprego de protetor auricular durante o Carnaval, mas esta é outra história… A referência me conduziu a dois outros livros de jornalistas: 75 Kg de músculos e fúria (Tarso de Castro – a vida de um dos mais polêmicos jornalistas brasileiros) e O sequestro dos uruguaios (Operação Condor – Uma reportagem dos tempos da ditadura), de Luiz Cláudio Cunha. São dois grandes momentos da vida brasileira: no primeiro, o jornalismo em tempos emoldurados pelo golpe militar; no segundo, a específica estupidez das ditaduras em nuestra America. COMENTE! » |
(ENTRE PARÊNTESES)
Nas arquibancadas, assistindo a fumacinhas negras e brancas, torcedores verde-amarelos de eventos vaticanos lamentam o resultado do Habemus papam, como se fosse um jogo em La Bombonera: Argentina 1 x 0 Brasil. “Só nos faltava mesmo um papa argentino!”, lamentou-se um dos meus amigos mais pessimistas. Mas pior seria se pior fosse: dizem que o novo sumo não se chamou Maradona II porque Pelé, ao perceber a tendência, ameaçou fazer haraquiri na Praça de Maio. Entende?
Levando duas malas de livros, Bibi Ferreira embarca para Nova Iorque, quando abril chegar. A artista vai comemorar o aniversário de 90 anos com uma apresentação no Lincoln Center, com ingressos disputadíssimos: a espevitada Jane Fonda (foto), que não é boba, reservou camarote no ano passado. A mala é de obras literárias, filosóficas e algumas partituras, publicações de que Bibi não se separa, textos que ela quer ter ao alcance da mão em qualquer tempo, em qualquer lugar. Uma curiosidade sobre a filha de Procópio Ferreira: estreou no palco com apenas 20 dias de nascida, em 1922, na peça Manhã de sol, no colo da madrinha Abigail Maia, mulher Oduvaldo Viana, padrinho do bebê. _______________
Matrícula negada em colégio paulista Com cerca de oito anos, Bibi começa a trabalhar na companhia do pai famoso e aos nove, por ser filha de artistas, tem sua matrícula negada no tradicional Colégio Sion, de São Paulo. Mas Procópio responde à altura: manda a filha para a escola em Londres, onde ela também estuda teatro. Em 1936, outra vez no Brasil, participa de filmes, como atriz e cantora, monta sua própria companhia (por onde passam Cacilda Becker, Maria Della Costa, Sérgio Cardoso e Henriette Morineau) e não para mais: canta, representa, produz. Uma das primeiras mulheres a dirigir teatro no Brasil, fez tevê, mas não novela. Aqui, um corte de show da Globo, em 1992, comemorativo dos 50 anos da artista.
Não seria uma simples porta fechada que iria impedir o amigo do alheio a contemplar o reduto da boemia, ou o espaço sagrado da mais fina flor “cachacistica” itabunense.
Se não deixa entrar por bem, pela porta da frente, já que dos fundos não há, que o telhado sirva de caminho. Qual não teria sido a decepção do visitante ao descobrir que o “tombamento” não foi feito de forma física, o que o fez para reparar a displicência dos homenageantes.
Além do mais, umas duas doses de batidas e trezentas pilas desocupadas não fazem mal a ninguém. Nada que não seja recuperada com o passar do tempo.
Pois é, meu caro Ousarme, o Flávio Tavares e seu filho Camilo Tavares pesquisaram sobre a influência norte-americana no golpe civil-militar de 64 e todas as tramas de bastidores que alimentaram a quartelada.
O material gerou o documentário “O Dia que durou 21 anos”, dirigido pelo Camilo, que começa a ser exibido e eu estou ansioso pra assistir.
O documentário conta com a divulgação de documentos, depoimentos e entrevistas esclarecedoras sobre o período em que os milicos aterrorizaram a nação. É esperar pra ver. Estou no aguardo. Abraços.
Vai ver que os arrombadores pensaram que o “tombamento” do ABC da Noite o tornou um bem público, e aí já viu o que fazem com o dinheiro público neste país, não é?
Uns arrombam cofres, outros desviam o dinheiro usando de sutilezas,outros superfaturam obras, outros entram pelo telhado, enfim, são vários os caminhos dos senhores ladrões.
Não seria uma simples porta fechada que iria impedir o amigo do alheio a contemplar o reduto da boemia, ou o espaço sagrado da mais fina flor “cachacistica” itabunense.
Se não deixa entrar por bem, pela porta da frente, já que dos fundos não há, que o telhado sirva de caminho. Qual não teria sido a decepção do visitante ao descobrir que o “tombamento” não foi feito de forma física, o que o fez para reparar a displicência dos homenageantes.
Além do mais, umas duas doses de batidas e trezentas pilas desocupadas não fazem mal a ninguém. Nada que não seja recuperada com o passar do tempo.
Pois é, meu caro Ousarme, o Flávio Tavares e seu filho Camilo Tavares pesquisaram sobre a influência norte-americana no golpe civil-militar de 64 e todas as tramas de bastidores que alimentaram a quartelada.
O material gerou o documentário “O Dia que durou 21 anos”, dirigido pelo Camilo, que começa a ser exibido e eu estou ansioso pra assistir.
O documentário conta com a divulgação de documentos, depoimentos e entrevistas esclarecedoras sobre o período em que os milicos aterrorizaram a nação. É esperar pra ver. Estou no aguardo. Abraços.
Vai ver que os arrombadores pensaram que o “tombamento” do ABC da Noite o tornou um bem público, e aí já viu o que fazem com o dinheiro público neste país, não é?
Uns arrombam cofres, outros desviam o dinheiro usando de sutilezas,outros superfaturam obras, outros entram pelo telhado, enfim, são vários os caminhos dos senhores ladrões.